domingo, 3 de julho de 2011

A Europa e os Rumos do FMI pós-Strauss-Kahn

DSK sai da cadeia em companhia de sua esposa - EFE
Dominique Strauss-Kahn, tipico socialista europeu dos dias atuais, poderia ser definido como alguém disposto a dar uma vocação social ao "sonho" europeu, nada mais. Isso talvez não seja novidade alguma, afinal, ao que me conste o termo socialista já andava batido desde os tempos de um certo Manifesto, quando já restava plenamente naturalizado - e domesticado - nos salões da Velho Mundo - talvez depois disso tenha retomado algum tom perigoso até retornar à inofensividade. Pois bem, DSK era até bem pouco dirigente maior do Fundo Monetário Internacional (FMI). Aquele órgão, uma das pernas do sistema financeiro internacional do pós-guerra, instituição gêmea-siamesa do Banco Mundial, normalmente dirigida por europeus, enquanto o outro ficava sob o comando nominal de um americano.

O "até bem pouco" poderia ser traduzido por "até um escândalo sexual de proporções catastróficas" em Nova Iorque, quando ele foi acusado de ter abusado de Nafissatou Diallo, camareira de um hotel da rede francesa Sofitel, o que o obrigou a se demitir do cargo pouco depois - o que além disso, também deve lhe custar a indicação do Partido Socialista para ser seu candidato presidencial no ano que vem. Nos últimos dias, o caso sofreu uma  profunda reviravolta, com incongruências surgindo no depoimento de Diallo, resultando na libertação de DSK que cumpria prisão preventiva. O processo ainda segue. 

Nós sabemos que em casos de crimes sexuais, não raro, a defesa tenta transformar o acusado em vítima - às vezes com a complacência do próprio Judiciário -, mas também sabemos que usar de escândalos sexuais para desacreditar figuras de relevo também não é prática estranha ao jogo pesado da grande política - Julian Assange que o diga. E DSK era um alvo considerável, seja por ser um possível (e forte) adversário do atual Presidente Nicolas Sarkozy ano que vem, quanto por poder ser uma pedra no sapato no comando do FMI - agora que essa instituição ganha importância estratégica para o continente europeu com a crise na sua periferia. No meio tempo, eleições foram realizadas para a direção do FMI, com a vitória, vejam só que coincidência, de uma ministra e correligionária de Sarkozy, Christine Lagarde.

Não é possível de nossa parte afirmar se DSK cometeu ou não o ato criminoso do qual ele é acusado, mas é fato que o episódio marca uma virada política substancial. Longe dele ser alternativa para qualquer coisa, mas a direita francesa que o sucede no comando do FMI, o é: sua posição - alinhada a de alemães, holandeses e demais vencedores do sonho europeu - é clara em esquivar a União Europeia de suas responsabilidades para com sua periferia e fazer com que países como Grécia, Portugal, Espanha e Irlanda arquem sozinhos com uma crise estrutural do bloco - tendo de se virar com empréstimos do FMI, cujas condições de pagamento, nós bem conhecemos cá em terras brasileiras. Isso serviria para o capital franco-germânico passar pela tempestade sem se molhar.

Tudo em política é uma questão de custo-benefício e de limites. A direita dos grandes países da Europa aposta que passar toda conta da crise para a sociedade civil grega - e mais tarde para algumas outras - é viável; a corda ficaria tensa, mas não estouraria e o custo da crise política e social interna seria não só suportável como também apontaria para a reprodução da prática, logo mais, em Portugal e Espanha. Para realizar isso, ela terá o comando do FMI agora perfeitamente alinhado. Pode até ser que a corda não estoure mesmo, ainda que as dúvidas sobre a viabilidade disso sejam cada vez maiores, mas mesmo assim o Euro e toda a estrutura podre do capitalismo financeiro continuarão lá: portanto, estamos diante de medidas de austeridade para, apenas e tão somente, chegar a uma saída paliativa na manutenção do status quo. 

O exaurimento de legitimidade da UE é uma realidade. Ora, o plano de resolver as contradições do sistema por meio de uma terapia de choque, que tem avançado como uma divisão de blindados, se assenta na expectativa da postura torpe dos partidos social-democratas se manter e, ainda, nada surgir das pressões nas ruas. O suspeito caso DSK caiu como uma luva para tudo isso poder ser levando a cabo, agora é preciso combinar com os russos...digo, com os gregos para tudo dar certo.



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