quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Sucessão Paulistana: O Processo Interno do PT

Lula e Haddad (foto: Alan Marques/Folhapress)


O Partido dos Trabalhadores chegou ao seu auge na capital paulista no início deste século: Detinha a Prefeitura da cidade com Marta Suplicy, o que resultou em dividendos eleitorais no plano das eleições gerais, como se pode ver pelos resultados de 2002. Mas já ali, alguma coisa não estava certa, o que veio a ficar exposto na reeleição fracassada de Marta.

Era evidente o racha do partido assim como o afastamento dele da intelectualidade e, ainda, um relacionamento problemático com os movimentos sociais - sobre o último ponto, saía a atuação direta e orgânica na periferia, sobretudo com os movimentos de moradia, e surgiu um estranho fisiologismo. 

A difícil relação de Marta com os outros setores do partido não apenas lhe custou a reeleição como ressuscitou Serra em 2004. Sua candidatura equivocada em 2008 custou bem mais do que isso, ajudando a dar sobrevida ao DEM e ainda protelando a (necessária) renovação do partido em São Paulo.

O quadro que se desenhava até bem pouco não era nada animador. As velhas lideranças petistas construíram uma estrutura poderosa e começavam a monopolizar as candidaturas para o governo do estado e para a Prefeitura da Capital. De repente, as coisas começaram a tomar um tom curioso, que se resumia no "Marta ou Mercadante".

O velho Lula, que sempre apostou no campo majoritário na politica paulista e paulistana, viu o tamanho do seu erro quando ele foi exposto violentamente este ano: a indicação de Palocci para a Casa Civil de Dilma foi, de longe, sua pior aposta em anos.

Nesse sentido, a aposta em Haddad foi uma (grata) surpresa. Por um lado, seu ministro da educação é um verdadeiro encantador de serpentes: consegue se manter à esquerda no partido sem se isolar, coisa que José Eduardo Cardozo não conseguiu. Por outro lado, Lula ousou e apostou alto e certo.

Lula se deu conta do enorme potencial desperdiçado do PT paulistano. Por mais que o país venha se descentralizando, São Paulo não só é - como continuará a ser - a maior cidade brasileira por muitas décadas ainda. O preço de adular velhos aliados não competitivos eleitoralmente  é ser complacente com uma decadência que pode, é claro, atingir o partido em escala nacional.

A insistência de Marta em pautar sua candidatura é um erro. A bem da verdade não é bom para sua própria carreira nem para o partido. Ela é uma figura importante no Senado, mas que tem uma grande rejeição junto ao eleitorado paulistano - pelos motivos certos e errados - e não é capaz de aglutinar o partido e o eleitorado dele, nem mesmo sua própria corrente, em torno de si.

É bom recapitular uma coisa, as duas gestões petistas na pauliceia se encaminharam de formas diferentes: é verdade que ambas colocaram em prática bons projetos e não conseguiram ter um fecho administrativo que desse coesão à gestão, só que Erundina deixou sementes, Marta não.

Explico-me: a periferia, por conta de Erundina, ficou menos distante socialmente da urbe; a resultante daquela tensão de forças foi que aquelas regiões pobres passaram a ser vistas enquanto parte da Capital, embora como um parte menor - coisa que não eram até ali.

E grande parte da resistência contra o Malufismo nasceu das sementes plantadas por Erundina. Com Marta não, o partido saiu menor e mais desunido, passivo diante da escalada de Serra.  

As demais candidaturas, as de Zarattini e Tatto - ambos ex-aliados de Marta - não são viáveis seja em qual aspecto for. Por isso, meu ânimo com a candidatura Haddad. Não apenas porque as outras opções não são boas neste momento, mas porque, ainda por cima, ele agrega muita coisa.

Haddad é, hoje, o nome petistas mais competitivo para as próximas eleições e, mais importante do que isso, de fazer uma campanha programática da qual será possível plantar novas sementes. E caso vingue, de conseguir fazer a gestão que São Paulo precisa, dando o fecho que faltou às gestões de Erundina e Marta.

O atual ministro da educação tem Lula e Dilma juntos a seu favor. Terá, por conta disso, uma votação expressiva na periferia - que não à toa deu um voto de confiança para o petismo -, mas tem condições de ganhar votos nos bairros mais ricos porque é capaz de animar a intelectualidade de esquerda - e reaproximar muita gente importante.

Dos outros partidos, infelizmente, nada de animador aparece, confirmando a triste sina da política paulistana dos últimos anos. Um PSDB sem projeto nem prumo, um Chalita neo-governista, um PSOL distante demais do debate público e preso a disputas intestinas dignas de Movimento Estudantil.

Nesse sentido, resta torcer pelo bom senso no processo interno de escolha do PT mais do que nunca. Que se reconheça a necessidade de renovação - que atende pelo nome de Fernando Haddad agora - e que se coloque o bem do partido -e, afinal de contas, da cidade - à frente de vaidades pessoais. 



11 comentários:

  1. Em tempo - que hipóteses você arrisca para o ódio genocida do eleitorado paulistano contra Marta e Mercadante? Sempre que saio perguntando, só ouço ódio, nunca argumentos. Quase como se eles fossem criminosos por serem petistas. Mas por que eles, tão especificamente?

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  2. Bem, HWB, existe um rancor profundo de certo setor da direita paulistana contra qualquer política de esquerda - ainda mais petista -, um fenômeno massivo, irracional e perigoso. Contra Marta e Mercadante as coisas se agravam pelo estilo deles fazerem política - e certas arestas que eles têm junto à própria esquerda.

    abraço

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  3. Alguma idéia para o ministério da educação, caso o Haddad saia para se candidatar?

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  4. Nenhuma ideia, Ândi. Provavelmente, alguém próximo de Haddad - ou, no mínimo, de sua perspectiva de política educacional -, haja vista que ele sairia por cima do ministério.

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  5. pq ninguém comenta as greves universitárias e as fundações para privatizar a saúde em HUs. agora a gente vai ter que engolir esse privatizador da saúde? ou senão PSDB na cabeça. não tem candidato melhor?

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  6. Anônimo, "ninguém comenta" não é verdade. Já trabalhei uma das problemáticas da Educação Brasileira recentemente, num post sobre a roda-viva que o Ministro participou na FADUSP, na qual eu o questionei pessoalmente sobre a problemática da implementação do Prouni.

    O fato é que a gestão de Haddad na Educação marca uma retomada do caráter público das universidades e, ao mesmo tempo, a tentativa de dar alguma função social para o passivo de universidades privadas que ele herdou. Além disso, há um profundo esforço na melhoria da gestão da Educação, com uma integração de políticas entre União, estados e municípios.

    É claro que existem problemas. Um deles, que nenhum processo de expansão é indolor, como nos aponta o exemplo das federais. Mas é fato que a educação melhorou muito, não só em termos formais, como num aspecto histórico.

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  7. Aliás, as greves nas Federais tinham desaparecido no Governo Lula. Voltaram com força esse ano. Acho que já são mais de dois meses de paralisação. E não houve mudança substancial de lá pra cá, que eu saiba. Curioso...

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  8. A mudança substancial, Ândi, é que o governo determinou que os docentes obedeçam a proporção de estudantes/professor do Primeiro Mundo. Existe alguma reivindicação salarial que é legítima, mas existe muito de um aristocratismo acadêmico mesmo - o que não se confunde com luta contra a mercantilização, são fenômenos diferentes, ambos nocivos, mas opostos na maneira como eles se realizam.

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  9. Bem lembrado pelo colega acima, as greves federais haviam acabado na era Lula, ele realmente deu o que podemos falar de uma bela moral para esses trabalhadores, Sra. Dilma, não desonre sua escola!!

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  10. Huguinho, sobre a escolha do candidato a prefeito do PT, também acho que o Haddad seria um bom nome (melhor do que a Marta ou Mercadante). Apesar de parte significativa da militância PTista de São Paulo ser favorável à Marta, acreditava que o apoio de Lula à pré-candidatura do Haddad seria mais que suficiente para consagrá-lo candidato (vamos combinar que não há possibilidade de oposição ao Lula dentro do PT nos dias de hoje). Mas depois da divulgação da ultima pesquisa da Folha de São Paulo, o que vc acha? Quer dizer, mostrar a Marta com aquela vantagem pode levar o próprio Lula a mudar de ideia não?
    Que impacto vc acha que essa pesquisa pode ter para a definição do candidato?

    Abraço!

    Ivan de Sampaio.

    P.s: Huguinho, reparei que meu blog não está na sua lista de blogs... voltei a publicar faz um mês mais ou menos... acho que vc nem reparou...ehehehehe

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  11. Ivan,

    Estou com o tempo reduzido neste momentoi e não poderei dar uma resposta tão aprofundada como deveria - inclusive, teria postado sobre o tema -, mas lembre-se de três coisas daquela pesquisa: A rejeição de Marta é maior do que as intenções de voto para ela, existe o histórico dela ter liderado e refugado em 2008 e, sobretudo, que os eleitores paulistanos declararam que a pessoa que elas mais vão ouvir para decidir seu voto é, quem diria, Luis Inácio Lula da Silva - e ele junto com Dilma influenciam mais de 60% do eleitorado paulistano neste momento. O candidato de ambos, a saber, é Haddad.

    Embora essa pesquisa tenha sido demonstrada como um fato político pró-Marta, uma leitura correta dela, aponta em outra direção - e tal engano não me parece à toa, uma vez que isso está conectado com a dinâmica da atual disputa interna do PT.

    Abraços

    P.S.: Vou readiciona-lo à lista tão logo.

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