quinta-feira, 24 de maio de 2012

Greve no Metrô: o Choque de Trens (e de Gestão)

Equipes de Socorro cuidam dos feridos depois da colisão de trens/AE
São Paulo esteve paralisada ontem: foi o enésimo colapso nos transportes públicos dos últimos dois anos, também conhecido como terceiro governo Alckmin. Os metroviários interromperam suas atividades em consequência de dois choques, o primeiro, "de gestão" - que se opera há anos -, e resultou tanto na estagnação salarial  da categoria quanto em cortes de investimento perigosos e o outro,, o físico entre dois trens do metrô na estação Vila Carrão (zona leste de São Paulo, linha Barra Funda-Itaquera) - que serviu de estopim para o movimento grevista dos metroviários e suas reivindicações de melhoria salarial e de condições de trabalho.

Pois bem, no ano passado, assistimos à paralisação dos ferroviários da CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos), pelos mesmíssimos motivos, quais sejam, falta de reajustes salariais - mesmo reposição da inflação - e investimentos, o que foi debelado com uma proposta de aumento - mas que não resultou em nada concreto em termos de melhoria das condições de operação e serviço, como provam tanto o choque entre trens na estação da Barra Funda, poucos meses depois, quanto o colapso da Linha Rubi este ano. 


Agora, com o acidente da semana passada, os protestos dos metroviários e a paralisação de ontem, chegamos à paralisia: greves de metroviários tendem a ser mais potentes do que as dos ferroviários, uma vez que a dos primeiros incide sobre uma malha altamente concentrada dentro do centro expandido de São Paulo, o que torna a substituição por outros transportes (carro ou ônibus) inviável, literalmente paralisando a cidade. 


A intenção original do movimento grevista - liberar, à francesa , as catracas no dia de ontem - acabou frustrada por uma decisão do Tribunal Regional do Trabalho, estranhamente cumprida pelos grevistas, que terminaram por paralisar suas atividades do modo convencional - a abertura das catracas, na prática, só oneraria o Estado explorador e não os usuários, mas é certo que a retaliação em cima disso seria muitíssimo mais dura do que a da atual greve, já que o peso seria maior.


Mesmo considerando que a volta de Alckmin ao Palácio dos Bandeirantes seria marcada, inevitavelmente, por uma paralisia crônica, a indicação de Saulo de Castro Abreu Filho, ex-secretário de segurança pública nos tempos dos ataques do PCC, para a Secretaria dos Transportes não deixou de ser surpreendente: mal-sucedido em sua própria área, certamente não seria em uma outra que desconhece que ele teria melhor sorte. O misto de trapalhadas, incapacidade negocial e quetais de Saulo somam-se à política de cortes de investimentos em tempos de crise de Alckmin, o que faz a situação beirar o desastre. Conjugado com o desgoverno Kassab, também conhecido como longo desgoverno Serra, em São Paulo e temos o retrato do caos.


Em suma, o que São Paulo vive é um exaurimento causado, ele mesmo, por um programa suicida de gestão executado por gestores pouquíssimo capazes. É quase uma somatória soviética, só que do outro lado do espectro político (se é que isso interessa). 


A interrupção da greve e a retomada do trabalho pelos metroviários, há poucas horas, não são, nem de longe, a saída efetiva para a crise. Tampouco, podemos ver essa questão desconectada do eixo que passa pela questão habitacional e de segurança, isto é, todo o nexo de relações concernentes à gestão dos espaços urbanos em São Paulo, cujo aparelhamento pela tecnocracia empresarial resulta em um quadro de efervescência permanente: houve uma hipertrofia tão violenta dos mecanismos de governamentalidade, em um sentido contemporâneo e liberalíssimo, que ela própria se esgotou em um vazio de desgoverno caracterizado por apagões e travas de toda sorte. 


O desafio posto, sem dúvida, é enormíssimo, pois ainda que toda a parasitagem se articule graças aos atuais ocupantes do governo estadual e municipal da capital, não resta dúvida que todos esses esquemas podem sobreviver, perfeitamente, a derrotas eleitorais e se realinharem, compondo com as novas forças. É preciso criar meios efetivos para neutralizar o processo ele mesmo.



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