terça-feira, 26 de agosto de 2014

Cem anos de Palmeiras: Dá-lhe Porco!

A máquina de 1996: O Melhor Palmeiras que eu vi Jogar
O futebol e o Palmeiras apareceram cedo na minha vida. Ainda garotinho e recém vindo de Pernambuco para São Paulo, ouvia e via muito do mundo da bola em casa. Papai amava -- e ainda ama -- futebol, tinha até jogado no time amador da nossa vila natal, e mamãe adorava tudo aquilo. Lembro, como se fosse hoje, da vinheta tosca Futebol 92 passando na nossa primeira TV, um aparelho preto-e-branco que durou um tempão. Eram tempos bicudos na terra estranha, cinza e incompreensível onde eu fui parar. 

Meus pais torciam pelo Náutico na terra natal, mas adotaram um time novo na terra nova. Papai já gostava do Palmeiras, talvez desde sua primeira vinda para cá, no começo dos anos 80, mas depois aderiu de vez. E continua sendo um alvirrubro que adota o alviverde neste outro mundo pelos qual transitamos. Eu, ao contrário: gostava do Palmeiras, da cor do Palmeiras, do time do Palmeiras. 

Do Náutico, eu ouvia falar com respeito, mas era uma ideia tão distante quanto o lugar onde eu nasci -- e que, por vezes, eu confundia com outros lugares em São Paulo: perguntava para mamãe se um riacho, à beira da ferrovia Santos-Jundiaí, levava à Limoeiro, pois a vegetação e o riacho lembravam meu sítio natal, cuja memória, a bem da verdade, já ali era como o borrão de um sonho.  

E era o começo da Era Parmalat, quando as crianças se impressionavam com aqueles esquadrões e os velhos se reanimavam. Em 1993, os títulos voltaram ao Parque Antártica, mas para mim eram os primeiros títulos; o Verde tinha pouquíssimos torcedores jovens, a maioria dos adolescentes e jovens adultos eram são-paulinos e corintianos -- efeito da seca de títulos do Palmeiras dos anos 80, coisa que eu só fui saber que aconteceu depois, com certa surpresa. Torcer pelo Palmeiras era impressionante. 

Lembro daquele time estupendo, bi-campeão brasileiro e paulista de 1993-94, treinado por Luxemburgo e com craques como Edmundo, Evair, Zinho, Veloso e Mazinho. Adorava o Edmundo. Era um óbvio mau exemplo, um anti-herói, mas era ele que eu admirava. Porque além de craque, eu via sob aquela carapuça animalesca, talvez, um incompreendido. Isso na mesma época em que o Brasil levou o Tetra, quando todos diziam que o "Palmeiras era melhor do que aquele time que o Parreira levou para a Copa" -- muito embora, aquele time estivessem os nossos Zinho e Mazinho. E como eu odiei a derrota na final do Paulistão de 1995, com Viola comemorando como um porco o gol.

Mas eu lembro muito, com muito carinho mesmo, daquele time maravilhoso de 1996, que foi campeão paulista -- uma máquina, pensando bem, o melhor Palmeiras que eu vi jogar. Foi por conta do Paulistão de 1996 que entendi a geografia do estado de São Paulo: onde ficavam Ribeirão Preto, Araçatuba, Araraquara, Campinas...E como jogava aquele time. Eu nunca joguei bem, até gostaria de jogar melhor, mas não importava: era um nerd perna de pau, mas meu time era demais.

E veio a era Felipão, o futebol feio, só que duro na queda, que eu tantas vezes vi no Grêmio -- um adversário que eu adorava secar e, até mesmo, torcer eventualmente antes de Felipão virar sumidade para, recentemente, cair em desgraça. E tome disputas de títulos nacionais e internacionais. A Libertadores de 1999 com o coração saltando pela boca: sem Veloso, Marcos assumia o manto de goleiro e fazia milagres, sobretudo contra o Corinthians. A derrota para o Manchester United na final do Mundial, numa dessas ironias tristes, por conta de uma falha de Marcos. Depois, a derrota para o Boca, na final da Libertadores de 2000.

A Seleção de 2002, pentacampeã sob o comando de Felipão, além de São Marcos era a própria década de 1990 do Palmeiras: Roque Júnior, Cafu, Roberto Carlos, Júnior, Rivaldo, Edílson, Luisão -- os dois últimos bandeados para os lados do Parque São Jorge no final da década de 90, mas tá valendo. Ironias do destino, Edmílson, Lúcio, Juninho Paulista jogaram também no verde depois do Penta, talvez até Ronaldinho Gaúcho jogue. Ironia maior é que em 2002 caímos para a Série B. Efeito do fim da era Parmalat dois anos antes. Não foi acidente, mas o começo das dificuldades. 

Nos últimos tempos, algumas campanhas medianas até valeram vaga na Libertadores (2004, 2005 e 2008) e um quase rebaixamento em 2006. Só Luxa e Felipão foram capazes de ser campeões nos tempos de vacas magras. No título paulista de 2008, sob o comando de Luxemburgo com um time que tinha Valdivia, Marcos, Kleber e Diego Souza, vivemos um momento de quase voltar a deslanchar.

Era a época que eu entrei na Faculdade de Direito, justo na PUC, ali tão pertinho do Palestra. E foi aí que pela primeira vez eu fui ao estádio junto dos meus pais: justo para ver um jogo do Palestra contra o Náutico, 2x0 para o verde -- e foi a primeira, e única, vez que eu não comemorei um gol nosso. Mas foi mágico estar ali -- e mostrar para minha mãe o Marcos fazendo polichinelo enquanto o Palmeiras atacava. Foi nessa época que eu vivi a vida cá na terra dos bandeirantes como nunca.

Essa época acabou depois do time de 2008 ter sido mal desmontado. Belluzzo virou presidente, fez esforços, ma sé fato que a nova equipe montada para 2009, em meio a tantos acidentes de percurso, perdeu o Brasileirão mais ganho da história dos pontos corridos. Em 2010 Voltaram Felipão, Valdivia, Kléber e o velho Palestra Itália iria virar uma Arena para o centenário. Mas caímos ironicamente em 2012, depois de um título invicto na Copa do Brasil, quando finalmente parecia que o trabalho de Felipão ia engrenar. 

A volta do inferno da Série B e as patinadas que o time insiste em dar, ao lutar contra o rebaixamento em pleno ano do centenário, são dolorosas. Ainda há que se dar tempo para o Gareca, um sujeito de bom caráter que parece entender de futebol. E o diabo da Arena, pelo visto estará pronta tão logo. Ter sido palmeirense a vida toda, justo nessa época, foi experimentar a glória absoluta e a derrota mais profunda -- quase como numa mesma partida. Se o Palmeiras voltará a ter times à altura da sua história, só o tempo dirá. Mas aconteça o que acontecer, valeu e valerá a pena: eu nunca achei o riacho que me levaria de volta para casa, talvez porque tenha encontrado uma nova casa em meio a tudo isso. E o Palmeiras é uma das coisas que permite a isso fazer sentido.



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