Jo Davidson, enviado por Roosevelt para esculpir busto de Getúlio 1939 |
Disso decorre uma eleição peculiar, tensa, delicada e ao mesmo tempo pouco animada -- embora certamente mais mobilizadora do que se supunha de antemão. A discussão, contudo, entre o petismo e o anti-petismo, isto é, entre a aliança policlassista, pluripartidária e desenvolvimentista versus a ortodoxia privatista e conservadora capitaneada, desde 1994, pelo PSDB. Algo quer seria Dilma versus Aécio hoje.
Marina Silva surgiu como elemento novo, ainda que menos inovadora do que, talvez, tenha sido sua campanha em 2010. E em vez de disputar os sentidos -- e o destino -- do Lulismo do qual veio, Marina preferiu se apresentar como síntese da polaridade ou, em outros momentos, como melhor nome da oposição liberal -- e talvez tenha pago por isso, perdendo a dianteira da corrida presidencial e, segundo os principais institutos de pesquisa, até a vaga em um eventual segundo turno.
Marina Silva surgiu como elemento novo, ainda que menos inovadora do que, talvez, tenha sido sua campanha em 2010. E em vez de disputar os sentidos -- e o destino -- do Lulismo do qual veio, Marina preferiu se apresentar como síntese da polaridade ou, em outros momentos, como melhor nome da oposição liberal -- e talvez tenha pago por isso, perdendo a dianteira da corrida presidencial e, segundo os principais institutos de pesquisa, até a vaga em um eventual segundo turno.
E Dilma, é certo, lidera. Se isso parecia obviedade há um ano e meio, desde Junho de 2013, se tornou enigma. Depois das mega-manifestações, veio uma recuperação parcial nos fins do ano passado, seguida por nova queda às vésperas da Copa do Mundo e, novamente uma recuperação -- que foi eleitoralmente interrompida com o retorno de Marina Silva para o jogo, até ocorrer uma nova recuperação de Dilma, numa resposta que talvez nem ela, nem seu partido, fossem capazes de crer.
O mito de Dilma Rousseff, a presidenta não-política e não-afetiva que se sustenta em meio às mais diversas adversidades, parece se explicar pela ideia de que ela é fiadora da justiça social na economia em crise e, também, por contraste, pela falta de quem se mostre capaz de supera-la. Se é certo que os estrategistas do governo superestimaram a popularidade da presidenta -- o que se mostrou claro nos últimos meses, mas apenas confirma o que falávamos desde seu primeiro ano -- o mesmo se pode dizer dos adversários dela, em sentido inverso, que não só a subestimaram como a subestimam. A dimensão verdadeira de Dilma, parece certo, reside em um ponto além das duas ilusões de ótica.
Dilma surge se afirma no imaginário brasileiro como uma espécie de Thatcher trabalhista. Para alguns, ela é a guardiã indomável das conquistas sociais, para outros, um mal necessário. Mas a melhor palavra para entender o Brasil de hoje é, certamente, o adjetivo que lhe melhor lhe cabe: trabalhista. E o tal trabalhismo, como herança do recorte à esquerda de Getúlio Vargas, é literal. Muito antes do PT, ela esteve junto com Brizola na construção do PDT, o que seria o campo getulista democrático. E como o PDT, ela crê na condução desde cima, evolucionista, planejada. O que lhe vale não poucos atritos com o PT -- e também a reedição de velhos dramas inerentes ao velho getulismo.
Se a História, a esfera mais irônica da vida humana, pregou mais uma de suas peças ao fazer o trabalhismo voltar por dentro do PT -- que nasceu, afinal de contas, para redimir os erros do Partidão e do movimento revolucionário brasileiro --, mais curioso ainda é ele ter pela frente o único e último resquício genético da UDN, inclemente e moralista opositora de Getúlio: o PSB onde Marina veio parar é, pois, o racha à esquerda do partido de Lacerda e Jânio, o que não impediu aquela agremiação de se aliar com sua antiga matriz em outros momentos. Já o fato do PSDB de Aécio, nascido como cisão à esquerda do PMDB, ser na prática contrário à social-democracia que traz no nome, talvez resida mais precisamente no campo do sarcasmo: e é aliado ao conservadorismo mais radical que se encontra o ex-governador mineiro.
O confronto em jogo é dos mais delicados. Mas se ele encontra em 2014 uma trincheira aparentemente quente, é certamente a partir de 2015 que tudo tende a ficar mais grave. A economia de crise que se tornou regra geral do mundo, sob a falsidade de uma "crise econômica" -- que deixou de se prolongar para, ela própria, se tornar meio de explorar riquezas -- avança. E avança sobre o Brasil. Tampouco Aécio consiga retornar o Brasil para o pré-Lulismo, como talvez pretenda, ou Marina tente pôr em prática seu novo projeto. Dilma, por sua vez, terá de enfrentar a situação junto e acima dos setores que lhe sustentam.
P.S.: Darei votos animados e convictos para o Adriano Diogo (1368) como deputado federal e para deputado estadual ao Renato Simões (13813); Suplicy, obviamente, para o Senado (131).
Dilma surge se afirma no imaginário brasileiro como uma espécie de Thatcher trabalhista. Para alguns, ela é a guardiã indomável das conquistas sociais, para outros, um mal necessário. Mas a melhor palavra para entender o Brasil de hoje é, certamente, o adjetivo que lhe melhor lhe cabe: trabalhista. E o tal trabalhismo, como herança do recorte à esquerda de Getúlio Vargas, é literal. Muito antes do PT, ela esteve junto com Brizola na construção do PDT, o que seria o campo getulista democrático. E como o PDT, ela crê na condução desde cima, evolucionista, planejada. O que lhe vale não poucos atritos com o PT -- e também a reedição de velhos dramas inerentes ao velho getulismo.
Se a História, a esfera mais irônica da vida humana, pregou mais uma de suas peças ao fazer o trabalhismo voltar por dentro do PT -- que nasceu, afinal de contas, para redimir os erros do Partidão e do movimento revolucionário brasileiro --, mais curioso ainda é ele ter pela frente o único e último resquício genético da UDN, inclemente e moralista opositora de Getúlio: o PSB onde Marina veio parar é, pois, o racha à esquerda do partido de Lacerda e Jânio, o que não impediu aquela agremiação de se aliar com sua antiga matriz em outros momentos. Já o fato do PSDB de Aécio, nascido como cisão à esquerda do PMDB, ser na prática contrário à social-democracia que traz no nome, talvez resida mais precisamente no campo do sarcasmo: e é aliado ao conservadorismo mais radical que se encontra o ex-governador mineiro.
O confronto em jogo é dos mais delicados. Mas se ele encontra em 2014 uma trincheira aparentemente quente, é certamente a partir de 2015 que tudo tende a ficar mais grave. A economia de crise que se tornou regra geral do mundo, sob a falsidade de uma "crise econômica" -- que deixou de se prolongar para, ela própria, se tornar meio de explorar riquezas -- avança. E avança sobre o Brasil. Tampouco Aécio consiga retornar o Brasil para o pré-Lulismo, como talvez pretenda, ou Marina tente pôr em prática seu novo projeto. Dilma, por sua vez, terá de enfrentar a situação junto e acima dos setores que lhe sustentam.
P.S.: Darei votos animados e convictos para o Adriano Diogo (1368) como deputado federal e para deputado estadual ao Renato Simões (13813); Suplicy, obviamente, para o Senado (131).
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