terça-feira, 14 de julho de 2009

Giro Rápido por um Mundo em Crise

Em Honduras, os golpistas prosseguem no poder. O Direito, como o seu próprio nome sugere, é aquilo que é próprio daquilo que é reto, ou seja, aquilo que está alinhado com o ideal. Se há o ideal ou se existem vários ideais é um debate longo que atormenta o Homem há muito. O fato é que há uma determinada ordem em Honduras que ao ser ameaçada resultou no golpe, ou seja, na instalação da exceção para reconduzir o país àquilo que é considerado ideal por sua classe dominante e que, ao meu ver, passa longe de ser reto: É o permanente oblíquo ao qual também estamos submetidos. Bem se sabe que a exceção vira regra pela força normativa dos fatos; posse vira propriedade - e os desbravadores do oeste estadunidense hão de concordar comigo - e tirania vira governo legítimo - como tenta repetir a oligarquia hondurenha repetindo seus pares latino-americanos - pela impossibilidade das coisas voltarem ao status quo ante pelo passar do tempo. Ironicamente, ao se digitar "presidente interino de Honduras" no Google se faz descobertas interessantes sobre a cobertura dada pela mídia corporativa ao evento.

Mais do que expor as nossas fraturas ainda expostas a crise hondurenha expõe também as dos nossos ricos irmãos do norte, que tem em Obama o necessário negociador para alterar a estratégia americana, o homem a quem foi imputado o dever de ceder o menor número de anéis possíveis em troca dos dedos que estão sob pungente ameaça: Ao mesmo tempo em que ele condenou o golpe publicamente e depois interrompeu o envio de verbas para os gloriosos programas de cooperação com Honduras, sabe-se agora que
o embaixador americano em Tegucigalpa se reuniu com os conspiradores às vésperas do golpe, o que suscita sérias dúvidas acerca do que se passa nos corredores escuros de Washington e quais serão os rumos de sua política de exceção for export tão necessária para manter a estabilidade interna diante das contradições inerentes ao seu sistema. Até que ponto a CIA se autonomizou como deu a entender um maledicente Chávez?

Do outro lado do mundo, a situação no Xinjiang pemanece tensa; ela expõe tanto os impactos da crise na China quanto a sua própria fragilidade que mora justamente no fato de ser um país étnica e socialmente fragmentado. As elites do país, que concentraram a renda decorrente do boom econômico dos últimos trinta anos de forma brutal, se vê às voltas com a necessidade de ceder os anéis, mas nunca parece disposta a tanto. Por outro lado, o fato do primeiro-ministro turco ter apontado o dedo para os chineses denunciando um suposto genocídio
me parece um tanto irônico.

Na Europa, o centro-direitista polonês
Jerzy Buzek é o novo Presidente do Parlamento Europeu e o primeiro europeu oriental a ocupar o cargo. O Parlamento Europeu, por sua vez, criou uma comissão permanente para tratar da Crise Mundial - medida um tanto pirotécnica, afinal o problema econômico do continente é muito mais embaixo; um capitalismo que fracassou já no início do século 20º, duas guerras mundiais que eclodiram de seu interior, o fogo-fátuo da social-democracia, o socialismo centralista e sua inevitável queda, o desmonte da social-democracia com a globalização. É um esgotamento de modelos conjugado a um vazio criativo.



4 comentários:

  1. Hugo,

    Como comentei aqui mesmo no seu blog, a posição norteamericana sobre o golpe hondurenho revelou-se suspeita desde os primeiros momentos de contra-reação, e agora essas suspeitas tornam-se ainda mais intensas (o Argemiro Ferreira escreveu um excelente post detalhando esse processo. Se você me permite divulgar, o link é http://argemiroferreira.wordpress.com/2009/07/11/a-diplomacia-sinuosa-dos-eua-em-honduras/).
    Aliás, como a escalada de violência no Afeganistão e no Paquistão demonstra, a tal política do "soft power" de Obama parece se revelar cada vez mais um jogo de cena para se contrapôr, perante a opinião pública mundial, aos desatinos dos dois governos Bush, mas que, na prática, conserva a essência dos métodos imperialistas que historicamente caracterizam a política externa - pública ou através das "agências secretas" - norteamericana.

    Já essa ascensão - agora institucional - da direita na Europa parece-me não apenas preocupante, mas contraditória, por ocorrer logo após uma crise que, em última análise, foi causada pela extrapolação do "lassez faire" financeiro que sempre foi bandeira da direita. Vivemos uma época estranha.

    Um abraço.

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  2. Maurício,

    Sim, sim, eu lembro. Aliás, aquele episódio rocambolesco do pouso de Zelaya foi um indicativo de que havia algo errado nisso tudo.

    Obama não foi eleito para pôr o imperialismo americano abaixo, mas para fazer um recuo estratégico e readequa-lo a uma realidade os EUA possuem uma proporção cada vez menor da economia mundial e dá mostras de limitações. Mesmo para isso, a negociação não é fácil dados os interesses envolvidos no jogo - e possíveis bolas nas costas também.

    No caso europeu, me parece haver uma crise muito profunda da esquerda local; uma parte caiu na cantilena da social-democracia e não sabe - nem quer - explicar o que aconteceu agora, outra parte caiu na conversa do stalinismo e na negação continuada. A direita tem sabido trabalhar com os preconceitos e temores do cidadão médio - e, claro, é preciso considerar que quanto pior, pior.

    abração

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  3. Bastante irônico o Erdogan ter apontado o dedo mas, de fato, o que ocorre no Xinjiang é sim genocídio. Uma política de limpeza étnica, de aculturação, de destruição da identidade Uigur. Eu comentei no blog tb dessa irnoia do Erdogan, hehe!

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  4. Raphael,

    Eu qualificaria o que ocorre em Xinjiang como expressão de violência estatal-totalitária e não como genocídio, mas reconheço que se trata de uma questão bastante polêmica.

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