Eu já dissertei sobre a complexa relação entre violência e criminalidade por aqui e agora, diante dos dados do aumento da criminalidade no estado de São Paulo, me ocorreu de retomar brevemente a questão. O Governo Serra, por sua vez, alega que os reflexos da Crise Mundial somados a greve da polícia no ano passado colaboraram para isso, o que no mínimo é curioso, afinal, se existe um fator que fundamenta a alta popularidade do Governo Lula é, justamente, ter feito o país passar incólume pela Crise Mundial - em suma sem geração de desemprego ou queda de renda salarial compatível ao tamanho do estrago.
Aliás, a questão de culpar a greve da polícia civil pelo aumento da violência merece um parágrafo à parte; greve de servidores públicos é coisa mais comum do mundo, ainda mais num estado que os remunera relativamente tão mal quanto São Paulo - em relação até mesmo à baixa burocracia das secretarias e ao setor privado -, o fato é que o Governo Serra tem uma responsabilidade aguda em tudo isso na medida que que negociou tão mal que chegou a provocar uma guerra entre as duas polícias; Serra descumpriu a palavra de dialogar com as lideranças grevistas e aunda mandou a Polícia Militar "conter" os grevistas, o que resultou numa óbvia agressão dos PM's em relação aos grevistas, policiais. Dali em diante, se ter duas polícias já era esquizofrênico, ter duas polícias com os ânimos acirrados entre si, praticamente desfez o aparato policial, o que conjugado com a dinâmica de desagregação social do estado - mascarada pela repressão policial em larga escala -, agravou a situação.
Evidentemente, o fenômeno da criminalidade não pode ser reduzido aliás, merece um olhar muito para além do penalismo e requer uma olhar antropológico e sociológico, mas aqui não há como buscar na externalidade da Crise Mundial as causas para o atual momento; as causas econômicas para tanto se encontram muito mais no processo de desindustrialização da região metropolitana de São Paulo e de uma industrialização massiva do interior, ambas desacompanhadas de políticas públicas tanto para redistribuir renda quanto para criar saídas para amortecer o impacto de mudanças sociais tão bruscas - como manda o receituário básico de qualquer Capitalismo de Estado minimamente funcional.
Eu poderia dizer que o colapso do aparato policial foi positivo para trazer à tona essa realidade que estava mascarada e não tardaria e explodir, mas o fato é que aí entra minha velha crítica ao catastrofismo: Pessoas de verdade estão morrendo em maior proporção devido a tudo isso, portanto, não é engraçado ou desejável.
O desmonte do aparato policial nas sociedade contemporâneas deve estar em compasso com a construção de pesado investimento social em educação, saúde e moradia, pois essa tarefa demanda a a neutralização das consequências que a lógica burguesa vende como as causas quem justificam essa a ideologia policial perante a sociedade, isto é, a chamada "violência urbana" que vitima tantas pessoas e provoca forte comoção social - e está ligada com a desagregação social, ainda que as pessoas e mesmo os trabalhadores não percebam isso; evidentemente, o que está em jogo é a manutenção da ordem política estabelecida como as constantes ações violentas contra os movimentos sociais provam.
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