A multidão lota a estação |
É a última - ou, conforme se veja, a primeira - parada da Linha Rubi da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM) - um segmento da antiga Santos-Jundiaí - que tem como outro extremo a Estação da Luz. Ontem, ela foi palco da maior revolta registrada contra a pane no sistema elétrico daquela linha que pôs abaixo o seu funcionamento: os passageiros, revoltados, arrebentaram a estação provisória, um arremedo de obra - cuja acessibilidade é zero - levantado rapidamente, e sem muito zelo, enquanto a velha estação passa por reformas.
O resultado do episódio de ontem é a expressão do descaso pelo qual os usuários daquela linha - em geral, trabalhadores sub-remunerados que se deslocam para o Centro de São Paulo, a quarenta quilômetros de distância, todos os dias: panes na rede elétrica (embora menores do que esse, mas também incômodos), obras nas linhas que acontecem durante o horário de funcionamento (inclusive o horário de pico), problemas com os trens e toda sorte de acidentes (como a colisão de trens, ano passado, na Barra Funda).
Mesmo a aquisição de novos trens, pelo então governador José Serra, foi problemática: pois isso precedeu o investimento nos trilhos - o que força novas obras para adapta-los às máquinas adquiridas - e, sobretudo, a reconstrução da carreira dos funcionários da CPTM, além de uma necessária reforma na organização geral da linha. Enfim, foi como comprar uma frota de ônibus espetacular para rodar em ruas sem asfalto, dirigidos ainda por motoristas sem perspectiva salarial ou profissional.
Os problemas da CPTM já estavam bem claros ano passado, quando uma paralisação dos ferroviários, há quase um ano, deixou a região metropolitana de São Paulo um dia sem trens. Além da falta de planos para reformar, o secretário dos transportes Saulo de Castro Abreu Filho - ex-secretário de segurança pública nos tempos dos ataques do PCC - ainda demonstra uma insensibilidade crônica pelos problemas tópicos que surgem, sobretudo os de ordem laboral.
A revolta de ontem - que importou em destruição das catracas e da improvisação toda -, foi, portanto, o fecho de um estado de coisas que dá o norte para entender a situação dos trabalhadores em São Paulo: banidos para uma periferia distante, deslocam-se entre trinta e cinquenta quilômetros diariamente para trabalhar, circulando nas áreas nobres uniformizados e enquadrados, em um processo que os aparta - econômica, moral ou psicologicamente - da fruição do espaço urbano que sustentam - em um grau particularmente perverso, até mesmo para a catástrofe urbanística nacional.
Embora se pudesse dizer que surpreendeu a contraditória agilidade do Estado quando o assunto é enviar a tropa de choque ou, ainda, reconstruir o (arremedo) de estação em tempo recorde - como se não tivesse acontecido rigorosamente nada -, a verdade é que tudo isso é bastante óbvio. Os trens de São Paulo, com sua belíssima tarifa de R$ 3,00 por cabeça - e um bilhete único de estudante, na capital, que sequer vale durante as férias escolares - são uma fonte de arrecadação preciosa - e em dinheiro vivo - da qual não se deixa nem o bagaço - e ainda que isso atenda a toda sorte de interesses espúrios, é uma política desgraçadamente fracassada na medida que gera um profundo prejuízo graças a perda de produtividade.
Ainda assim, o suplício da viagem de trem alude a algo que, talvez, o sistema não prescinda: a humilhação e destruição física diária como forma de se ensinar a obedecer. Mesmo que isso signifique a perda de energia dos trabalhadores, talvez compense chegar a tanto para torna-los mais bovinos. Mas há um limite. Ontem, ele chegou: na poesia muda que se constrói em meio à polifonia do vagão lotado - que, como diz uma pichação sagaz na Barra Funda, sempre tem o seu lado de navio negreiro - fez-se a resistência.
Esse pessoal fez o que eu tenho vontade de fazer quase todos os dias. Parabéns pra eles!
ResponderExcluirMuito bom o texto, cara.
como pode um terminal feito nas coxa , cade o dinheiro que foi enviado para o termino do terminal e por fim entra em reforma um terminal , fizeram um meia boca , mais nada acomteceu de melhoria ,uma cidade que so vem a crescer . em 2008 havia 200 mil eleitore agora ja passam de 230 e niguem faz nada a onde os moratense iram parar , uma cidade cercada de monopolio..
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