Há poucos dias, José Serra foi anunciado candidato a prefeito de São Paulo. Isso, a despeito do estardalhaço todo da mídia, não é novidade alguma, muito pelo contrário, novo é agir como se isso fosse algo surpreendente: os candidatos do PSDB à prefeitura de São Paulo se resumem a Serra e Alckmin - assim mesmo, alternadamente - desde 1996.
Aliás, pulando 1998 - quando o falecido governador Mário Covas disputou e conseguiu sua reeleição - são Serra e Alckmin os únicos dois nomes que se revezam na disputa da prefeitura de São Paulo, do governo paulista e da Presidência da República. Tirando o governo do estado, onde os tucanos sempre têm vencido, os fracassos se somam em nível federal e, na capital bandeirante, só houve sucesso em 2004, com o próprio Serra.
O PSDB perdeu a oportunidade de se renovar, que fosse, pelo menos em seus nomes. Tudo seguiu o mesmo enredo, Aécio segue sem fazer oposição, a conversa em São Paulo continua a passar pelas duras negociações de bastidores entre Serra e Alckmin - e, no fim das contas, FHC precisa sair do descanso para resolver a confusão de alguma (ou qualquer) forma.
E Serra sai para disputa com sentimentos conflitantes. Já declarou, à boca pequena, que sua candidatura é um problema - uma bifurcação que aponta para uma derrota vergonhosa ou uma vitória de pirro que o afastaria de Brasília -, às vezes se anima com a possibilidade de que, com uma eventual vitória, possa tomar impulso para disputar com Aécio a indicação presidencial para 2014 e, não raro, solta que pode terminar no PSD de Kassab, caso vença e não lhe apoiem dentro do PSDB na disputa pela Presidência.
Talvez esse seja um dos casos mais emblemáticos do exaurimento do arranjo política do pós ditadura - ou melhor, daquele nascido de sua oposição e afirmado com sua queda. Sobre esse processo, basta ver todo o protagonismo, nas negociações pré-candidatura, de uma figura torpe como Kassab - um prefeito que não conseguiu cumprir metas elementares de governo - para se ter ideia do estado de coisas em que vivemos.
Existe, no caso paulistano, um jogo de fundo muito mais interessante do que as curiosas composições, recomposições e decomposições partidárias: é a questão da gestão dos espaços públicos e a relação da especulação imobiliária com isso. Uma candidatura, em um cenário hipercompetitivo como esse, custa caro. E qual o preço que cobrarão esses prestativos financiadores?
Nesse jogo, a figura de Serra, um sujeito marcado pelo gosto de destruir correligionários e a ambição sem limites, só torna mais desagradável o que já não era bom. Criticar Serra não pode ser um subterfúgio para uma crítica a esse processo em geral, mas não pode deixar de ser feito.
P.S.: Serra tecnicamente ainda não é o candidato do partido. Ele passará por uma prévia para legitimar seu nome, mas já sabemos o resultado disso.
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