O mês de Abril se aproxima de seu fim. Hoje, estou sentindo um misto de sentimentos e sensações, alguma alegria, um bocado de irritação e bastante tédio. De notícias de destaque nesse mês, temos aí o prosseguimento da Crise Econômica e uma sensação de que as coisas pararam um pouco de piorar por aqui - quem sabe até melhorem nesse trimestre ainda - a descida ladeira abaixo da Folha, a covardia da mídia corporativa em cima de Dilma, a crise no STF que se agrava, enfim. Muita coisa tosca, mas, acima de tudo, muita coisa previsível.
Lembro quando houve o debate acalourado entre o Joaquim Barbosa e Gilmar Mendes; muitos leitores na caixa de comentários do Nassif já insinuavam coisas como "esperem amanhã para ver a cobertura que o 'PIG' vai fazer, vão descer a lenha em Barbosa". Pessoalmente, não gosto de usar o termo 'PIG' por achar ele simplista demais e mesmo sendo crítico da mídia corporativa, também não achei que as coisas fossem acontecer exatamente desse modo.
No outro dia, qual não foi a minha surpresa ao entrar em determinados sites, blogs e portais ou abrir a página de determinados jornalões ou semanários e me deparar com isso daí mesmo, a tentativa de desconstrução do ethos do Ministro Barbosa de uma maneira bem tosca, bem previsível. Não é apenas a mídia fazendo política, é a mídia fazendo política de uma maneira muito pouco sofisticada, democrática ou sensata, defendendo posicionamentos tacanhos e figuras questionável.
Não é uma crítica ao fato dela ter se inserido no jogo político, mas o de tê-lo feito de uma maneira absolutamente questionável. A estratégia que a mídia corporativa está fazendo uso é terrível, se ela der errado num primeiro momento é o equivalente a ser atropelado por um trem, se der certo, dará errado no curto prazo. É um fenômeno que eu denominaria por venezuelificação midiática, ou seja, o uso do rebaixamento da linguagem e de táticas incendiárias e alheias à ética para insuflar um sentimento anti-democrático na população e assim realizar algum projeto político que lhe seja simpático.
Isso me deixa entediado. É um discurso que foge ao racional por completo.
quinta-feira, 30 de abril de 2009
Colo Colo 0x1 Palmeiras
Não gosto de ser comentarista de resultado feito, mas não tive tempo de postar nada sobre os vários jogos que iriam acontecer hoje. Foi uma noite de quarta maravilhosa para quem gosta de futebol. O Palmeiras, por sua vez, tinha uma missão praticamente impossível no Chile. Tinha mais time, mas jogava fora e sequer tinha a vantagem do empate. Mais que isso, jogava contra o time que lhe dera uma pancada de 3x1 no jogo do turno da primeira fase. Este era, sem dúvida, o grupo da morte. O Palmeiras fora derrotado pela LDU em Quito (normal), mas a derrota pro Colo Colo no Palestra determinava que o time não poderia mais perder se quisesse se classificar. Depois vieram uma vitória espetacular contra o Sport no Recife, mas empatou em casa contra o brasileiro. Venceu a LDU no Palestra. Nesse ingrato jogo de hoje, venceu o Colo Colo com um jogador a menos depois de ter metido duas bolas na trave e, detalhe, venceu com um único gol, de fora da área de Cleiton Xavier, aos 42 minutos do segundo tempo - precisa de mais? Pela primeira vez no ano, o Palmeiras venceu um jogo verdadeiramente decisivo. Esse tipo de classificação é um verdadeiro estímulo na hora do mata-mata.
quarta-feira, 29 de abril de 2009
A Folha e a Carta de Dilma
Enquanto a gripe suína faz vítimas pelo mundo e gera cada vez mais pânico - como se não bastasse a Crise Mundial -, alguns órgãos de mídia parecem tomados por um verdadeiro espírito de porco que somado à sua habitual sutileza paquidérmica, provocam engulhos.
O desenrolar do caso da falsa ficha da Ministra Dilma Rousseff é tosco. A Folha, como se não bastasse o escândalo da Ditabranda, publicou uma reportagem que expõe a luta armada contra a ditadura fora de seu contexto histórico, fazendo, ainda por cima, uma acusação contra uma ministra de Estado que, por coincidência, será candidata à presidência é questionável, mas se amparar em uma ficha do DOPS flagrantemente falsa é o cúmulo da desonestidade intelectual.
Como discorreu hoje em seu blog, Luís Nassif expôs as duas possibilidades lógicas para aquela ficha: Ou foi escrita em computador ou em máquina de escrever elétrica. No DOPS não havia nem um nem outro. A falsificação, por sua vez, pode ter se originado de algum site de extrema-direita apologista da ditadura militar, mas até agora não se sabe ao certo. A alegação da Folha, esdrúxula, é de que não se podia verificar a falsidade da ficha ou não. Na dúvida, o jornal optou por fazer a acusação. Para completar o trabalho, Dilma escreveu uma carta ao ouvidor do jornal denunciando isso e ela não foi sequer publicada. Enfim, a Folha fez barba, cabelo e bigode e completou um perfeito trabalho anti-jornalístico. Brilhante. O fato é que o tiro saiu pela culatra novamente.
Sobre a Folha ter um candidato favorito à presidência, nada contra, é pleno direito dela, mas não assumir isso, é criticável. Agora, agir como veículo de oposição é imoral, pois consiste em um claro desvirtuamento da função jornalística em prol do sectarismo político - como, diga-se de passagem, é fenômeno recorrente pelo mundo e em nosso país como já abordado neste espaço. Fazê-lo do modo que está sendo feito, aí, meu arguto leitor, já é esculhambação além de ser uma faca de dois gumes: Ou é um tiro que vai sair pela culatra ou, se der certo, vai dar errado porque seria a conquista de um objetivo político via insuflamento pára-golpista - à venezuelana, para ser mais claro -, o que gera um evidente e perigoso bumerangue.
O desenrolar do caso da falsa ficha da Ministra Dilma Rousseff é tosco. A Folha, como se não bastasse o escândalo da Ditabranda, publicou uma reportagem que expõe a luta armada contra a ditadura fora de seu contexto histórico, fazendo, ainda por cima, uma acusação contra uma ministra de Estado que, por coincidência, será candidata à presidência é questionável, mas se amparar em uma ficha do DOPS flagrantemente falsa é o cúmulo da desonestidade intelectual.
Como discorreu hoje em seu blog, Luís Nassif expôs as duas possibilidades lógicas para aquela ficha: Ou foi escrita em computador ou em máquina de escrever elétrica. No DOPS não havia nem um nem outro. A falsificação, por sua vez, pode ter se originado de algum site de extrema-direita apologista da ditadura militar, mas até agora não se sabe ao certo. A alegação da Folha, esdrúxula, é de que não se podia verificar a falsidade da ficha ou não. Na dúvida, o jornal optou por fazer a acusação. Para completar o trabalho, Dilma escreveu uma carta ao ouvidor do jornal denunciando isso e ela não foi sequer publicada. Enfim, a Folha fez barba, cabelo e bigode e completou um perfeito trabalho anti-jornalístico. Brilhante. O fato é que o tiro saiu pela culatra novamente.
Sobre a Folha ter um candidato favorito à presidência, nada contra, é pleno direito dela, mas não assumir isso, é criticável. Agora, agir como veículo de oposição é imoral, pois consiste em um claro desvirtuamento da função jornalística em prol do sectarismo político - como, diga-se de passagem, é fenômeno recorrente pelo mundo e em nosso país como já abordado neste espaço. Fazê-lo do modo que está sendo feito, aí, meu arguto leitor, já é esculhambação além de ser uma faca de dois gumes: Ou é um tiro que vai sair pela culatra ou, se der certo, vai dar errado porque seria a conquista de um objetivo político via insuflamento pára-golpista - à venezuelana, para ser mais claro -, o que gera um evidente e perigoso bumerangue.
segunda-feira, 27 de abril de 2009
35 anos da Revolução dos Cravos
"Há diversas modalidades de Estado: os estados socialistas, os estados corporativos e o estado a que isto chegou! Ora, nesta noite solene, vamos acabar com o estado a que chegámos. De maneira que quem quiser, vem comigo para Lisboa e acabamos com isto. Quem é voluntário sai e forma. Quem não quiser vir não é obrigado e fica aqui."
(Salgueiro Maia, Capitão de Abril).
Quase me ocorre uma falha imperdoável: Por pouco me esqueço de registrar que hoje, 27 de Abril, comemora-se trinta e cinco da Revolução dos Cravos, evento histórico pelo qual foi posto abaixo a Ditadura Salazarista em Portugal. É verdade que Salazar já havia morrido anos antes, mas ele deixara seu inequívoco legado; um regime ditatorial fascista, uma guerra colonial interminável, infernal e implacável, uma metrópole empobrecida e emburrecida e, sobretudo, o isolamento português da Europa.
Foi nesse cenário árido e áspero que foi se solidificando o núcleo duro do qual decorreria a Revolução. O país estava inquieto e esse desconforto aturdia os mais variados setores da sociedade - e ia para além dela, não olvidando que o Partido Socialista foi fundado na Alemanha, sob as bençãos do poderoso SPD, por inúmeros intelectuais exilados pelo regime no continente. Em Portugal por mais que seja relevante as ebulições entre os operários e nas universidades - principalmente nas Faculdades de Direito de Lisboa e Coimbra -, o setor chave foi o Exército, principalmente entre os capitães, muitos dos quais tinham conhecido o horror da Guerra Colonial nos anos anteriores. Foi o Movimento das Forças Armadas que encabeçou a conspiração e desencadeou o golpe que poria abaixo o Estado Novo depois da Grândola Vila Morena, senha nº2 da Revolução, ter sido tocada em rede nacional.
Os fascistas caíram, o país passou pelo duro processo revolucionário até a promulgação da Constituição Portuguesa de 1976, uma das Cartas modernas mais belas. Portugal, a duras penas tornara-se uma Democracia e iniciaria, dali há poucos anos, o processo de integração à União Europeia, o que resultou nos anos 80 e 90 num processo que apesar de seus altos e baixos conduziu o país a uma melhora considerável na sua qualidade de vida.
O Portugal de hoje é, no entanto, um país com problemas. Haveria motivos para se comemorar, ainda, a Revolução dos Cravos? Só um parvo ou um fascista diria que não, mas não resta dúvida que não há como fazê-lo sem ser criticamente; o governo liderado por José Sócrates do PS é mais um exemplo da esquerda estilo New Labour e isso não é nenhuma novidade, afinal, o ilustre premiê daquele país não esconde sua profunda admiração por uma figura como Blair. Por outro lado, o PSD, raro exemplo de agremiação social-democrata que só o é de nome - onde foi que já ouvimos isso antes? -, vive uma crise pesada. O país, pelo seu lado, está estagnado. Que dizer do futuro?
Atualizado em 10 de Maio de 2009
Quase me ocorre uma falha imperdoável: Por pouco me esqueço de registrar que hoje, 27 de Abril, comemora-se trinta e cinco da Revolução dos Cravos, evento histórico pelo qual foi posto abaixo a Ditadura Salazarista em Portugal. É verdade que Salazar já havia morrido anos antes, mas ele deixara seu inequívoco legado; um regime ditatorial fascista, uma guerra colonial interminável, infernal e implacável, uma metrópole empobrecida e emburrecida e, sobretudo, o isolamento português da Europa.
Foi nesse cenário árido e áspero que foi se solidificando o núcleo duro do qual decorreria a Revolução. O país estava inquieto e esse desconforto aturdia os mais variados setores da sociedade - e ia para além dela, não olvidando que o Partido Socialista foi fundado na Alemanha, sob as bençãos do poderoso SPD, por inúmeros intelectuais exilados pelo regime no continente. Em Portugal por mais que seja relevante as ebulições entre os operários e nas universidades - principalmente nas Faculdades de Direito de Lisboa e Coimbra -, o setor chave foi o Exército, principalmente entre os capitães, muitos dos quais tinham conhecido o horror da Guerra Colonial nos anos anteriores. Foi o Movimento das Forças Armadas que encabeçou a conspiração e desencadeou o golpe que poria abaixo o Estado Novo depois da Grândola Vila Morena, senha nº2 da Revolução, ter sido tocada em rede nacional.
Os fascistas caíram, o país passou pelo duro processo revolucionário até a promulgação da Constituição Portuguesa de 1976, uma das Cartas modernas mais belas. Portugal, a duras penas tornara-se uma Democracia e iniciaria, dali há poucos anos, o processo de integração à União Europeia, o que resultou nos anos 80 e 90 num processo que apesar de seus altos e baixos conduziu o país a uma melhora considerável na sua qualidade de vida.
O Portugal de hoje é, no entanto, um país com problemas. Haveria motivos para se comemorar, ainda, a Revolução dos Cravos? Só um parvo ou um fascista diria que não, mas não resta dúvida que não há como fazê-lo sem ser criticamente; o governo liderado por José Sócrates do PS é mais um exemplo da esquerda estilo New Labour e isso não é nenhuma novidade, afinal, o ilustre premiê daquele país não esconde sua profunda admiração por uma figura como Blair. Por outro lado, o PSD, raro exemplo de agremiação social-democrata que só o é de nome - onde foi que já ouvimos isso antes? -, vive uma crise pesada. O país, pelo seu lado, está estagnado. Que dizer do futuro?
Atualizado em 10 de Maio de 2009
domingo, 26 de abril de 2009
Islândia e a Vitória da Esquerda
A Crise Econômica Mundial se mostra como o primeiro grande advento do processo de Globalização. Ela é, sobretudo, um grande ponto de convergência que decorre do processo de mundialização dos mercados capitalistas - uma consequência natural desse sistema de produção como já anteviu, muito antes de nós, Marx. O mundo, muito provavelmente, não acabará, no entanto, depois dela haverá um novo equilíbrio no globo.
Como eu tenho batido na tecla literal e insistentemente, ela operará mudanças mais profundas em especial, no continente europeu. Isso não é pouco. A Europa do pós-Muro de Berlim é um continente onde velhas barreiras e muros políticos desabam a cada dia, mas, paradoxalmente, é um lugar onde velhas certezas - e a velha segurança - misteriosamente acabaram; a social-democracia com a qual sonhavam os jovens que botaram o bolchevismo abaixo no leste europeu é disfuncional e inoperante em relações às demandas do mundo em globalização. A situação do leste após o fim do socialismo era caótica, depois se reverteu, implicou em avanços e agora as coisas voltam a ficar tensas.
A pequena Islândia, no alto de seus 300 mil habitantes, é um caso sui generis (como esse blog abordou em seus primórdios): Mais conservador dentre os países nórdicos, a ilha desfez o sistema social-democrático comum aos Estados dessa região nos anos 80 e ingressou numa viagem neoliberal como poucos; a experiência desregulamentatória fez com que o país, habitual líder do ranking de IDH nos últimos anos, fosse abalado de maneira decisiva por essa Crise. O governo de direita tombou e a Social-Democracia, depois de décadas, voltou ao poder num governo interino, ainda por cima com uma primeira-ministra assumidamente lésbica. Há poucas horas, a imprensa internacional anuncia a vitória da coalização entre social-democratas e verdes. A esquerda, praticamente varrida do poder na ilha, volta à baila de vez.
Seus desafios não serão pequenos; como eu coloquei, no atual momento, o consenso que guiou a esquerda europeia ocidental por muito tempo está em xeque. Na Islândia, ele fracassou já nos anos 80 e é daí que surgiu o espaço para o projeto neoliberal de Daniel Oddson. O país, por outro lado, está novamente falido depois de uns vinte anos de prosperidade ilusória que se assentou sobre a base movediça de um sistema financeiro desregulamentado - ao menos, pelo Estado. Seja como for, a coalizão liderada por Johanna Sigurdardottir teve mais da metade dos votos e terá o desafio de elaborar novas saídas. A importância em números é pequena. Ainda assim, a simbologia da vitória é enorme: Uma coalizão de esquerda liderada por uma lésbica assumida em meio a uma Europa em crise que se vê às voltas com o fantasma da intolerância e do ódio. Aguardemos.
Como eu tenho batido na tecla literal e insistentemente, ela operará mudanças mais profundas em especial, no continente europeu. Isso não é pouco. A Europa do pós-Muro de Berlim é um continente onde velhas barreiras e muros políticos desabam a cada dia, mas, paradoxalmente, é um lugar onde velhas certezas - e a velha segurança - misteriosamente acabaram; a social-democracia com a qual sonhavam os jovens que botaram o bolchevismo abaixo no leste europeu é disfuncional e inoperante em relações às demandas do mundo em globalização. A situação do leste após o fim do socialismo era caótica, depois se reverteu, implicou em avanços e agora as coisas voltam a ficar tensas.
A pequena Islândia, no alto de seus 300 mil habitantes, é um caso sui generis (como esse blog abordou em seus primórdios): Mais conservador dentre os países nórdicos, a ilha desfez o sistema social-democrático comum aos Estados dessa região nos anos 80 e ingressou numa viagem neoliberal como poucos; a experiência desregulamentatória fez com que o país, habitual líder do ranking de IDH nos últimos anos, fosse abalado de maneira decisiva por essa Crise. O governo de direita tombou e a Social-Democracia, depois de décadas, voltou ao poder num governo interino, ainda por cima com uma primeira-ministra assumidamente lésbica. Há poucas horas, a imprensa internacional anuncia a vitória da coalização entre social-democratas e verdes. A esquerda, praticamente varrida do poder na ilha, volta à baila de vez.
Seus desafios não serão pequenos; como eu coloquei, no atual momento, o consenso que guiou a esquerda europeia ocidental por muito tempo está em xeque. Na Islândia, ele fracassou já nos anos 80 e é daí que surgiu o espaço para o projeto neoliberal de Daniel Oddson. O país, por outro lado, está novamente falido depois de uns vinte anos de prosperidade ilusória que se assentou sobre a base movediça de um sistema financeiro desregulamentado - ao menos, pelo Estado. Seja como for, a coalizão liderada por Johanna Sigurdardottir teve mais da metade dos votos e terá o desafio de elaborar novas saídas. A importância em números é pequena. Ainda assim, a simbologia da vitória é enorme: Uma coalizão de esquerda liderada por uma lésbica assumida em meio a uma Europa em crise que se vê às voltas com o fantasma da intolerância e do ódio. Aguardemos.
sábado, 25 de abril de 2009
Estaduais: Reta Final
Corinthians x Santos é a decisão do Campeonato Paulista, onde, respectivamente, se enfrentam a equipe mais coesa do torneio e o time que deu o arranque na reta final. Os santistas hão de exclamar que isso lembra o Brasileirão de 2002, quando o time fez algo parecido e ganhou do poderoso Corinthians de Parreira. Naquele ano, a geração de Robinho e Diego despontava no Santos. Nesse ano de 2009, no Paulistão, o Santos foi o time que mais oscilou, mas acabou chegando lá. O Corinthians, por outro lado, foi pragmático ao extremo, é a melhor defesa do torneio, único invicto, quando deu pra ganhar, ganhou, quando havia risco de perder, se defendeu - e me parece ser o time mais focado nesse estadual - que venceu pela última vez em 2003. Sou completamente insuspeito para falar bem do Corinthians, mas o fato é que Mano Menezes deve levantar a taça, jogando ali bonitinho com o regulamento debaixo do braço.
Botafogo x Flamengo decidem o Campeonato Carioca. A distância e o falta de tempo não me ajudam muito a ter uma noção exata do que se passa no Rio. Do que eu vi esse ano, o Flamengo parece ter o melhor elenco do estado na atualidade, mas sofre com as inconstâncias próprias de seu treinador que por todos os lugares onde passou alternou do besta ao bestial. O Botafogo é a cara de Ney Franco, quietinho, arrumadinho e pragmático, mas lhe falta mais brilho, tanto é que sofreu uma bisonha eliminação nas mãos do Americano na Copa do Brasil. Time por time, o Flamengo vence. Momento por momento também daria Flamengo. Ainda assim, tenho um palpite que vai dar Botafogo.
Atlético MG x Cruzeiro fazem a melhor decisão do Campeonato Mineiro em anos, afinal, fazia tempo que os dois grandes de Minas estavam tão bem ao mesmo tempo. A volta de Leão para o Galo só ilustra a tremenda burrice que foi não ter ficado com ele no ano do centenário; esse ano com o retorno de Éder Luís e o reforço dos ex-são paulinos Júnior e Diego Tardelli somado ao ex-palmeirense Lopes dão uma força considerável para ao alvinegro. O x da questão é o Cruzeiro também evoluiu brutalmente do ano passado pra cá. A fase de Ramires é espetacular e o negócio envolvendo Kléber foi seguramente um dos melhores feitos nessa temporada - senão o melhor. Repito: Aqui, os dois fatores que me atrapalham para analisar o futebol do Rio também valem, mas eu ousaria em apontar um ligeiro favoritismo para o Cruzeiro, mas com certeza não será fácil - mais que isso, pelo que eu vi de futebol esse ano, ousaria em dizer que essa vai ser a melhor final dentre as três que eu abordei nesse post.
sexta-feira, 24 de abril de 2009
Futebol e Racismo na Europa
Há alguns dias, Michel Platini, ex-craque francês, carrasco brasileiro na Copa de 86 e atual presidente da UEFA, órgão que dirige o futebol europeu, fez uma proposta interessante: Paralisar por dez minutos as partidas em que alguma torcida proferir ofensas racistas de alguma natureza e só retoma-la quando a normalidade voltar ao estádio. A idealização dessa medida se dá em um momento em que a intolerância é cada vez mais presente no futebol europeu.
Curiosamente, o futebol europeu é uma verdadeira Babel; atuam nele jogadores latino-americanos, norte-americanos, africanos, asiáticos bem como os próprios europeus hoje, com o advento da União Europeia, atuam muitas vezes em algum outro país da comunidade continental que não o seu de origem. Como se não bastasse, toda uma geração de filhos de imigrantes já começa a despontar no futebol europeu enquanto nacionais; boa parte da Seleção Francesa é composta por negros, nascidos na África e criados na França ou mesmo já nascidos no país.
O que teria então a ver futebol europeu e racismo? Nada. O futebol, seja na Europa ou em qualquer outra parte do mundo, conserva um incontido caráter cosmopolita integrando negros, brancos e asiáticos. O fenômeno que se vê na Europa não é, de maneira alguma, futebolístico, mas sim social e político. Ele contamina os mais variados setores da população e, por óbvio, se adentra no meio futebolístico, esse inequívoco fenômeno de massas. Do mesmo modo em que a violência urbana se reflete no nosso futebol por meio da inflitração de gangues nas torcidas, o mesmo se dá na Europa com seus racistas.
Como esse blog já dissertou longamente há pouco tempo, a situação da Europa não é boa. O continente está estagnado economicamente, será um dos mais afetados pela Crise e o somatório disso com o esgotamento das forças políticas, à direita e à esquerda, gera um terrenos fértil para a intolerância e para a xenofobia. De Moscou até Lisboa, de Helsinki até Atenas, grupos neonazistas são formados por jovens que se reúnem para massacrar minorias - especialmente imigrantes. Mesmo dentre os setores médios da população, cresce um discurso fácil e demagógico onde imigrantes e minorias de um modo geral são apontadas como os culpadas pela situação do continente.
Nesse contexto, o futebol não pode nem deve se omitir. A UEFA, enquanto instituição máxima do futebol europeu, não pode se eximir de fazer o que puder contra isso. No entanto, não será a sua mui valorosa iniciativa, por si só, que mudará o panorama. Desse modo, que ela seja entendida - e tomada - como um pontapé inicial para poder virar esse jogo e que do conhecimento das limitações de seu poder surjam medidas práticas em parceria com os governos nacionais e com a UE.
Curiosamente, o futebol europeu é uma verdadeira Babel; atuam nele jogadores latino-americanos, norte-americanos, africanos, asiáticos bem como os próprios europeus hoje, com o advento da União Europeia, atuam muitas vezes em algum outro país da comunidade continental que não o seu de origem. Como se não bastasse, toda uma geração de filhos de imigrantes já começa a despontar no futebol europeu enquanto nacionais; boa parte da Seleção Francesa é composta por negros, nascidos na África e criados na França ou mesmo já nascidos no país.
O que teria então a ver futebol europeu e racismo? Nada. O futebol, seja na Europa ou em qualquer outra parte do mundo, conserva um incontido caráter cosmopolita integrando negros, brancos e asiáticos. O fenômeno que se vê na Europa não é, de maneira alguma, futebolístico, mas sim social e político. Ele contamina os mais variados setores da população e, por óbvio, se adentra no meio futebolístico, esse inequívoco fenômeno de massas. Do mesmo modo em que a violência urbana se reflete no nosso futebol por meio da inflitração de gangues nas torcidas, o mesmo se dá na Europa com seus racistas.
Como esse blog já dissertou longamente há pouco tempo, a situação da Europa não é boa. O continente está estagnado economicamente, será um dos mais afetados pela Crise e o somatório disso com o esgotamento das forças políticas, à direita e à esquerda, gera um terrenos fértil para a intolerância e para a xenofobia. De Moscou até Lisboa, de Helsinki até Atenas, grupos neonazistas são formados por jovens que se reúnem para massacrar minorias - especialmente imigrantes. Mesmo dentre os setores médios da população, cresce um discurso fácil e demagógico onde imigrantes e minorias de um modo geral são apontadas como os culpadas pela situação do continente.
Nesse contexto, o futebol não pode nem deve se omitir. A UEFA, enquanto instituição máxima do futebol europeu, não pode se eximir de fazer o que puder contra isso. No entanto, não será a sua mui valorosa iniciativa, por si só, que mudará o panorama. Desse modo, que ela seja entendida - e tomada - como um pontapé inicial para poder virar esse jogo e que do conhecimento das limitações de seu poder surjam medidas práticas em parceria com os governos nacionais e com a UE.
quarta-feira, 22 de abril de 2009
A Intervenção do Ministro Barbosa
Agora há pouco, o Ministro Joaquim Barbosa se insurgiu com uma coragem e franqueza como há muito tempo não via nesse país. O Ministro se insurgiu contra Gilmar Mendes e a forma lamentável como ele vem conduzindo a nossa Suprema Corte. Foi brilhante. Há pouco mandei esse e-mail parabenizando-o. Faça o mesmo. O e-mail do Ministro é gabminjoaquim@stf.gov.br.
Minhas Congratulações
Excelentíssimo Ministro Joaquim Barbosa,
Prometo ser breve e franco.
Enquanto cidadão e estudante de Direito, confesso que me encontrava deprimido, já há muito, com o nosso Judiciário, em especial, com nossa Suprema Corte. Deprimido a ponto de não ter mais estímulo para continuar estudando e, simplesmente, não conseguir vislumbrar meu futuro profissional na área. Além de todos os problemas de nosso país, confesso que os rumos que traçavam para nossa Suprema Corte - os quais me indignavam e me afligiam profundamente - eram uma das principais causas da minha frustração.
Era paradoxal; se de um lado, finalmente via o avanço de nossa democracia formal e a possibilidade de consolidação do nosso STF no papel que cabe a uma Suprema Corte em um regime democrático, do outro, via esse momento histórico ser desperdiçado por conta da atuação indigna de muitos dos ministros da referida Corte, o que, ainda por cima, vinha acompanhado de um silêncio ensurdecedor e insuportável por parte de seus pares. Acima de tudo, causava-me espécie - como ainda me causa - a conduta do excelentíssimo Ministro Gilmar Mendes e a forma como ele vinha presidindo a referida Corte - ignominiosamente, sem dúvida.
Qual não foi a minha surpresa ao ver há pouco, no blog do renomado jornalista Luís Nassif, a providencial - e histórica - intervenção de Vossa Excelência no que toca a conduta pouco adequada do Ministro Mendes enquanto presidente de nossa - nossa - Suprema Corte. Peguei-me surpreso, positivamente surpreso, como há muito não me sentia. Faço de vossas palavras as minhas. Compartilho de vossa indignação. Mais do que isso: Vossa atitude me encantou e provou que há uma luz no fim do túnel. Meus parabéns, senhor Ministro. Meus parabéns.
Abraços fraternais
Atualização de 23/04 às 17:30 Além do e-mail divulgado acima, na verdade, do gabinete do Ministro, também existe esse: mjbarbosa@stf.gov.br. Ademais, a repercurssão hoje foi forte. A reação de Gilmar Mendes não tardou e os ministros que participaram daquela sessão plenária se reuniram por três horas a portas fechadas para decidir o que fazer. Informes apontam que Mendes desejava uma punição dura para Barbosa e alguns ministros como Menezes Direito e César Peluzo o apoiaram. Outro grupo integrado pelo Ministro Ayres Britto defendeu uma nota de repúdio sobre o que aconteceu, mas não concordaram com a citação do nome do Ministro Barbosa nem apoiaram uma punição - e essa posição aparentemente foi vitoriosa. O Ministro Barbosa manteve sua posição. Os setores de sempre da mídia da mantiveram o discurso de sempre a favor de Mendes hoje. O ar no Supremo, por certo, está irrespirável hoje, mas uma coisa é certa; nada voltará a ser como antes. A crise suscitada pela maneira como Gilmar Mendes vem presidindo a mais alta corte do país não parará por aí. Nunca antes o STF esteve numa situação tão frágil e isso é simplesmente terrível para o país. Outros desdobramentos virão, por certo. Estejamos atentos.
Minhas Congratulações
Excelentíssimo Ministro Joaquim Barbosa,
Prometo ser breve e franco.
Enquanto cidadão e estudante de Direito, confesso que me encontrava deprimido, já há muito, com o nosso Judiciário, em especial, com nossa Suprema Corte. Deprimido a ponto de não ter mais estímulo para continuar estudando e, simplesmente, não conseguir vislumbrar meu futuro profissional na área. Além de todos os problemas de nosso país, confesso que os rumos que traçavam para nossa Suprema Corte - os quais me indignavam e me afligiam profundamente - eram uma das principais causas da minha frustração.
Era paradoxal; se de um lado, finalmente via o avanço de nossa democracia formal e a possibilidade de consolidação do nosso STF no papel que cabe a uma Suprema Corte em um regime democrático, do outro, via esse momento histórico ser desperdiçado por conta da atuação indigna de muitos dos ministros da referida Corte, o que, ainda por cima, vinha acompanhado de um silêncio ensurdecedor e insuportável por parte de seus pares. Acima de tudo, causava-me espécie - como ainda me causa - a conduta do excelentíssimo Ministro Gilmar Mendes e a forma como ele vinha presidindo a referida Corte - ignominiosamente, sem dúvida.
Qual não foi a minha surpresa ao ver há pouco, no blog do renomado jornalista Luís Nassif, a providencial - e histórica - intervenção de Vossa Excelência no que toca a conduta pouco adequada do Ministro Mendes enquanto presidente de nossa - nossa - Suprema Corte. Peguei-me surpreso, positivamente surpreso, como há muito não me sentia. Faço de vossas palavras as minhas. Compartilho de vossa indignação. Mais do que isso: Vossa atitude me encantou e provou que há uma luz no fim do túnel. Meus parabéns, senhor Ministro. Meus parabéns.
Abraços fraternais
Atualização de 23/04 às 17:30 Além do e-mail divulgado acima, na verdade, do gabinete do Ministro, também existe esse: mjbarbosa@stf.gov.br. Ademais, a repercurssão hoje foi forte. A reação de Gilmar Mendes não tardou e os ministros que participaram daquela sessão plenária se reuniram por três horas a portas fechadas para decidir o que fazer. Informes apontam que Mendes desejava uma punição dura para Barbosa e alguns ministros como Menezes Direito e César Peluzo o apoiaram. Outro grupo integrado pelo Ministro Ayres Britto defendeu uma nota de repúdio sobre o que aconteceu, mas não concordaram com a citação do nome do Ministro Barbosa nem apoiaram uma punição - e essa posição aparentemente foi vitoriosa. O Ministro Barbosa manteve sua posição. Os setores de sempre da mídia da mantiveram o discurso de sempre a favor de Mendes hoje. O ar no Supremo, por certo, está irrespirável hoje, mas uma coisa é certa; nada voltará a ser como antes. A crise suscitada pela maneira como Gilmar Mendes vem presidindo a mais alta corte do país não parará por aí. Nunca antes o STF esteve numa situação tão frágil e isso é simplesmente terrível para o país. Outros desdobramentos virão, por certo. Estejamos atentos.
O Desastre Mexicano e a Política Brasileira Para a América Latina
Há sete anos atrás estávamos às voltas com a eleições gerais, Lula já liderava, Roseana estava fora do páreo, Ciro e Garotinho protagonizavam pré-candidaturas de centro-esquerda e Serra carregava o estandarte - ou quem sabe o fardo - de pré-candidato da situação. Dentre os muitos debates travados naquela época vou me focar em um: O que os candidatos pensavam da política externa para a América Latina. Mais que isso, vou me focar no que pensavam Lula e Serra, futuros concorrentes no segundo turno. Se de um lado tínhamos Lula propondo o fortalecimento do Mercosul e uma maior integração econômica e política entre os países latino-americanos, do outro, havia Serra defendendo o afastamento brasileiro do Mercosul para que assim o país pudesse fazer "pactos bilaterais" - seja lá o que isso significasse- ao mesmo tempo em que defendia as negociações para a ALCA.
Sim, meu caro leitor, você deve até ter esquecido da ALCA, afinal, ela, felizmente, não aconteceu. Tratava-se a famigerada Área de Livre Comércio das Américas, projeto elaborado em Washington durante o governo Clinton que preconizava nada mais, nada menos que a criação de um área de livre comércio no continente tendo os EUA como seu núcleo. Em 2002 já havia algo do gênero em funcionamento no continente: O NAFTA, a Área de Livre Comércio da América do Norte, que reunia EUA, Canadá e México. Naquela altura do campeonato, também já era patente o fracasso do modelo para os sócios minoritários do pacto, em especial, para o México, único país em desenvolvimento associado que atrelara definitivamente seu destino ao do seu grande irmão do norte. Isso teve desdobramentos futuros e é o que me prestarei a analisar em seguida.
Cá em Pindorama, Serra buscava apresentar de uma maneira razoável seus planos de adesão à ALCA. Isso se devia ao mal-estar surgido à época e à reação dos movimentos sociais. Não ficava bem parecer um entreguista às portas de uma eleição presidencial, mas também não era possível jogar numa luta de lixo toda uma forma de se fazer política de relações exteriores consolidada nos dois mandatos de FHC: Surgia então a história de negociar com dureza, de que eles tinham mais a temer do que nós e coisas do tipo. Pura demagogia. No entanto, em momento algum Serra se propôs a romper com a política externa pouco criativa de FHC, seu feitiche em se limitar ao eixo euro-americano e sua má vontade em avançar com o que tinha sido iniciado lá atrás por Sarney e Alfonsín - que havia sido relegado ao segundo ou terceiro plano tanto por ele quanto por Menem, em prol de manter relações carnais com os EUA.
Lula, em sentido contrário, manteve o posicionamento firme em prol do Mercosul e da América Latina. O resto da história já conhecemos, Lula venceu e em seu governo tivemos o fortalecimento da integração latino-americana, em especial, sul-americana, como vemos tanto pela criação da UNASUR - que recém-surgida já conseguiu dirimir a crise boliviana - quanto o incremento do comércio do Mercosul, a adesão da Venezuela entre tantas outras coisas. É provável que sem o Brasil nada disso tivesse ido adiante, seja pela dimensão econômica, populacional ou territorial do país em relação ao continente.
Voltemos ao México. O país em 2002 já estava sob a égide do NAFTA há oito anos, era governado por Vicente Fox, um ex-executivo da Coca-Cola naturalmente pró-americano que tocava uma política de relações exteriores não muito diferente daquela que Serra trazia incutida em seu conteúdo. O governo Fox se arrastou até 2006, sem maioria parlamentar e com baixa popularidade. Enquanto os países da América do Sul se articulavam e se integravam com maior ênfase, o México ficava na dependência dos rumos da economia americana. Uma gripe em Buffallo poderia se tornar uma pneumonia em Puebla. Mais do que isso, os mexicanos ainda tinham - e têm - de enfrentar a concorrência dos produtos chineses que infestam a economia americana e concorrem com os produtos mexicanos.
Naquele ano de 2006, venceu as eleições presidenciais mexicana um correligionário de Fox, Felipe Calderón frente ao esquerdista López Obrador. Uma eleição no mínimo controversa. Obrador ocupava as dianteiras das pesquisas há muito e de repente acabou derrotado por uma margem considerável, até que de recontagem em recontagem acabou derrotado por 0,56% dos votos. Para a sorte de Calderón, ele não era de esquerda, logo, sua curiosa vitória não provocou comoção na mídia do continente.
Hoje, ano de 2009, em plena Crise Mundial, mais especificamente com o aprofundamento da crise na economia americana, o México se encontra numa situação desoladora: O país foi ao FMI pedir a bagatela de 47 bilhões de dólares emprestados. As causas disso são bem simples, a economia americana em crise significa uma economia mexicana em uma crise maior ainda, logo, a desconfiança quanto ao seu futuro gera uma brutal desvalorização do Peso Mexicano e, por conseguinte, a queima de boa parte das reservas monetárias do país.
Paradoxalmente, a diplomacia brasileira conseguiu, ao longo do Governo Lula, expandir e distribuir o comércio brasileiro pelo mundo. Mesmo que o país tenha sofrido o impacto da Crise num primeiro momento, ele acabou absorvendo pela não dependência do país em relação a um único outro país ou a um único outro bloco. Como se não bastasse, nesse exato momento, o Brasil está às portas de emprestar dinheiro para o FMI. Isso, reitero, não foi aleatório, Lula cometeu acertos e erros, mas os primeiros prevalecem sobre os segundos e a diplomacia nacional é, sem dúvida, a maior - e melhor - prova disso. Isso, no entanto, poderia ser diferente na medida que o nosso PSDB compartilha aspirações não muito diferentes dos líderes mexicanos e sua visão tacanha de como inserir seu país no mundo.
Sim, meu caro leitor, você deve até ter esquecido da ALCA, afinal, ela, felizmente, não aconteceu. Tratava-se a famigerada Área de Livre Comércio das Américas, projeto elaborado em Washington durante o governo Clinton que preconizava nada mais, nada menos que a criação de um área de livre comércio no continente tendo os EUA como seu núcleo. Em 2002 já havia algo do gênero em funcionamento no continente: O NAFTA, a Área de Livre Comércio da América do Norte, que reunia EUA, Canadá e México. Naquela altura do campeonato, também já era patente o fracasso do modelo para os sócios minoritários do pacto, em especial, para o México, único país em desenvolvimento associado que atrelara definitivamente seu destino ao do seu grande irmão do norte. Isso teve desdobramentos futuros e é o que me prestarei a analisar em seguida.
Cá em Pindorama, Serra buscava apresentar de uma maneira razoável seus planos de adesão à ALCA. Isso se devia ao mal-estar surgido à época e à reação dos movimentos sociais. Não ficava bem parecer um entreguista às portas de uma eleição presidencial, mas também não era possível jogar numa luta de lixo toda uma forma de se fazer política de relações exteriores consolidada nos dois mandatos de FHC: Surgia então a história de negociar com dureza, de que eles tinham mais a temer do que nós e coisas do tipo. Pura demagogia. No entanto, em momento algum Serra se propôs a romper com a política externa pouco criativa de FHC, seu feitiche em se limitar ao eixo euro-americano e sua má vontade em avançar com o que tinha sido iniciado lá atrás por Sarney e Alfonsín - que havia sido relegado ao segundo ou terceiro plano tanto por ele quanto por Menem, em prol de manter relações carnais com os EUA.
Lula, em sentido contrário, manteve o posicionamento firme em prol do Mercosul e da América Latina. O resto da história já conhecemos, Lula venceu e em seu governo tivemos o fortalecimento da integração latino-americana, em especial, sul-americana, como vemos tanto pela criação da UNASUR - que recém-surgida já conseguiu dirimir a crise boliviana - quanto o incremento do comércio do Mercosul, a adesão da Venezuela entre tantas outras coisas. É provável que sem o Brasil nada disso tivesse ido adiante, seja pela dimensão econômica, populacional ou territorial do país em relação ao continente.
Voltemos ao México. O país em 2002 já estava sob a égide do NAFTA há oito anos, era governado por Vicente Fox, um ex-executivo da Coca-Cola naturalmente pró-americano que tocava uma política de relações exteriores não muito diferente daquela que Serra trazia incutida em seu conteúdo. O governo Fox se arrastou até 2006, sem maioria parlamentar e com baixa popularidade. Enquanto os países da América do Sul se articulavam e se integravam com maior ênfase, o México ficava na dependência dos rumos da economia americana. Uma gripe em Buffallo poderia se tornar uma pneumonia em Puebla. Mais do que isso, os mexicanos ainda tinham - e têm - de enfrentar a concorrência dos produtos chineses que infestam a economia americana e concorrem com os produtos mexicanos.
Naquele ano de 2006, venceu as eleições presidenciais mexicana um correligionário de Fox, Felipe Calderón frente ao esquerdista López Obrador. Uma eleição no mínimo controversa. Obrador ocupava as dianteiras das pesquisas há muito e de repente acabou derrotado por uma margem considerável, até que de recontagem em recontagem acabou derrotado por 0,56% dos votos. Para a sorte de Calderón, ele não era de esquerda, logo, sua curiosa vitória não provocou comoção na mídia do continente.
Hoje, ano de 2009, em plena Crise Mundial, mais especificamente com o aprofundamento da crise na economia americana, o México se encontra numa situação desoladora: O país foi ao FMI pedir a bagatela de 47 bilhões de dólares emprestados. As causas disso são bem simples, a economia americana em crise significa uma economia mexicana em uma crise maior ainda, logo, a desconfiança quanto ao seu futuro gera uma brutal desvalorização do Peso Mexicano e, por conseguinte, a queima de boa parte das reservas monetárias do país.
Paradoxalmente, a diplomacia brasileira conseguiu, ao longo do Governo Lula, expandir e distribuir o comércio brasileiro pelo mundo. Mesmo que o país tenha sofrido o impacto da Crise num primeiro momento, ele acabou absorvendo pela não dependência do país em relação a um único outro país ou a um único outro bloco. Como se não bastasse, nesse exato momento, o Brasil está às portas de emprestar dinheiro para o FMI. Isso, reitero, não foi aleatório, Lula cometeu acertos e erros, mas os primeiros prevalecem sobre os segundos e a diplomacia nacional é, sem dúvida, a maior - e melhor - prova disso. Isso, no entanto, poderia ser diferente na medida que o nosso PSDB compartilha aspirações não muito diferentes dos líderes mexicanos e sua visão tacanha de como inserir seu país no mundo.
terça-feira, 21 de abril de 2009
Lula, a Realpolitik e o Maranhão
Como foi amplamente noticiado, o TSE cassou o mandato do governador do Maranhão, Jackson Lago, inimigo político de José Sarney - nosso ilustrissímo ex-presidente, literato reconhecido e atual chefe do legislativo. O ocorrido se dá na esteira das cassações e possibilidade de cassações de governadores por esse nobre Tribunal. Esse episódio - assim como o de Cássio Cunha Lima na Paraíba - revela as fragilidades e incongruências da nossa legislação eleitoral que, ironia das ironias, remonta ao tempos da Ditadura Militar.
Simultaneamente, ele suscita o sentido vago de certos dispositivos constitucionais como aquele fala sobre a realização de novas eleições em caso de vacância - pois é, a vagueza do sentido da vacância . O TSE resolveu entender que cassação não gera vacância, resolveu anular a votação de Lago no primeiro turno - e não no segundo - e no fim das contas uma enorme coincidência acabou acontecendo: Roseana Sarney, filha de José Sarney, segunda colocada na última eleição para o governo do estado do Maranhão, foi empossada. Se você quiser entender melhor os detalhes jurídicos do acontecido, clique aqui e leia a maravilhosa caixa de comentários do blog do Idelber sobre o ocorrido.
Jackson Lago, no fim das contas, sempre foi um incomôdo ponto fora da curva desde que se elegeu. Derrotou não apenas a força dos Sarney no estado como também o próprio Lula na medida em que ele apoiou Roseana. A pergunta que não quer calar é qual seria o motivo de um homem de esquerda apoiar os oligarcas de um estado, mesmo havendo um candidato de esquerda capaz de vencer? Simples, porque o Maranhão pouco importa nessa estratégia, o que importa é o Senado onde o apoio de Sarney seria fundamental. O detalhe é que esse estado, governado há tanto tempo por esses mesmos oligarcas ostenta indicadores de qualidade de vida dentre os piores da Federação - na verdade, melhores apenas que os de Alagoas. Apoiar esses oligarcas significa sacrificar esse estado como um peão num jogo de xadrez.
Nas palavras de Henry Kinssinger, realpolitik é uma política de relações exteriores baseada em cálculos de poder e no interesse nacional. Isso poderia ser transposto para o plano interno como uma política baseada em cálculos de poder com foco na conquista da hegemonia política para a realização de um determinado projeto. Seria, na melhor das hipóteses, como trair a Ética para depois salva-la ou, como preferem alguns, se mover por uma ética de ação e não por uma ética de consciência - como diria Weber. Esse humilde blogger que vos escreve, no entanto, duvida da validade disso no longo prazo, política não se limita à Ética, mas também não prescinde dela, não há duas éticas e há limites bem claros no jogo de alianças.
Os julgamentos do TSE têm uma natureza bem discricionária dada a imprecisão da nossa legislação. O que aconteceu com Lago esconde muitos interesses invisíveis, porém evidentes. Por ora, a atuação desse excelso pretório eliminou uma figura incômoda para o jogo do poder, mas no longo prazo abriu uma caixa da pandora onde eleições podem começar a ser decididas no tapetão e não mais nas urnas. Isso entra no âmbito do recente - e voraz - avanço do Judiciário em nosso país como também gera um perigoso precedente que pode ser usado contra o próprio PT daqui há pouco menos de dois anos. A Democracia saiu derrotada.
Simultaneamente, ele suscita o sentido vago de certos dispositivos constitucionais como aquele fala sobre a realização de novas eleições em caso de vacância - pois é, a vagueza do sentido da vacância . O TSE resolveu entender que cassação não gera vacância, resolveu anular a votação de Lago no primeiro turno - e não no segundo - e no fim das contas uma enorme coincidência acabou acontecendo: Roseana Sarney, filha de José Sarney, segunda colocada na última eleição para o governo do estado do Maranhão, foi empossada. Se você quiser entender melhor os detalhes jurídicos do acontecido, clique aqui e leia a maravilhosa caixa de comentários do blog do Idelber sobre o ocorrido.
Jackson Lago, no fim das contas, sempre foi um incomôdo ponto fora da curva desde que se elegeu. Derrotou não apenas a força dos Sarney no estado como também o próprio Lula na medida em que ele apoiou Roseana. A pergunta que não quer calar é qual seria o motivo de um homem de esquerda apoiar os oligarcas de um estado, mesmo havendo um candidato de esquerda capaz de vencer? Simples, porque o Maranhão pouco importa nessa estratégia, o que importa é o Senado onde o apoio de Sarney seria fundamental. O detalhe é que esse estado, governado há tanto tempo por esses mesmos oligarcas ostenta indicadores de qualidade de vida dentre os piores da Federação - na verdade, melhores apenas que os de Alagoas. Apoiar esses oligarcas significa sacrificar esse estado como um peão num jogo de xadrez.
Nas palavras de Henry Kinssinger, realpolitik é uma política de relações exteriores baseada em cálculos de poder e no interesse nacional. Isso poderia ser transposto para o plano interno como uma política baseada em cálculos de poder com foco na conquista da hegemonia política para a realização de um determinado projeto. Seria, na melhor das hipóteses, como trair a Ética para depois salva-la ou, como preferem alguns, se mover por uma ética de ação e não por uma ética de consciência - como diria Weber. Esse humilde blogger que vos escreve, no entanto, duvida da validade disso no longo prazo, política não se limita à Ética, mas também não prescinde dela, não há duas éticas e há limites bem claros no jogo de alianças.
Os julgamentos do TSE têm uma natureza bem discricionária dada a imprecisão da nossa legislação. O que aconteceu com Lago esconde muitos interesses invisíveis, porém evidentes. Por ora, a atuação desse excelso pretório eliminou uma figura incômoda para o jogo do poder, mas no longo prazo abriu uma caixa da pandora onde eleições podem começar a ser decididas no tapetão e não mais nas urnas. Isso entra no âmbito do recente - e voraz - avanço do Judiciário em nosso país como também gera um perigoso precedente que pode ser usado contra o próprio PT daqui há pouco menos de dois anos. A Democracia saiu derrotada.
segunda-feira, 20 de abril de 2009
Saldo dos estaduais
Queimei minha língua em São Paulo e no Rio. O Santos deu um baile no Palmeiras e o Corinthians fez o mesmo contra o São Paulo. O Botafogo não definiu o título.
É interessante ver como Neymar e Paulo Henrique entraram bem nesse time do Santos juntando-se a Madson, Rodrigo Souto e Kléber Pereira todos sob o comando do sóbrio Vagner Mancini - mesmo que tenha errado no prognóstico, não custa lembrar que eu elogiei esse time do Santos em um momento em que nem mesmo os santistas tinham coragem de fazê-lo. Do lado verde, Luxemburgo, em algum momento dessa temporada, perdeu o controle da situação assim como aconteceu no Brasileiro do ano passado. A equipe surpreendeu no comecinho, mas depois caiu de produção e o seu treinador sequer chegou a constatar ou admitir o problema até o momento fatídico da eliminação - que deve se repetir na Libertadores, a menos que ocorra um milagre.
Do lado corintiano, fica o elogio ao time mais focado desse torneio; mais do que qualquer um outro, o Corinthians quer vencer esse campeonato e a consistência que o time vem demonstrando nos clássicos esse ano (3 vitórias e 2 empates) assim como a força de sua defesa (16 gols sofridos em 21 jogos) são as credenciais para o seu favoritismo no melhor estadual em anos. Mano Menezes, por sua vez, repetiu o nó que deu em Muricy na Libertadores 07 quando treinava o Grêmio e por enquanto é o melhor técnico do torneio. Quanto ao São Paulo, o time fez um belo primeiro tempo, mas faltou a presença de um meia com brilho para simplificar o jogo e decidi-lo; por melhor que seja Hernanes, volante das antigas que sabe - e como - sair jogando, o fato dele - e não um meia de origem - jogar com a dez é sintomático. Ainda assim o tricolor é um dos três favoritos para o Brasileirão, torneio longo onde não há surpresa que tenha fôlego até o fim.
No Rio deu Flamengo, com um gol contra. Ainda assim, acho que o Botafogo é mais organizado e Cuca tem muito o que provar em horas de decisão, mesmo que tenha nas mãos um time melhor.
No Sul, o Inter, como era de se esperar, foi campeão ao vencer o segundo turno - 8x1 épico sobre o Caxias - eliminando a decisão, posto que ganhou o primeiro turno. Cá entre nós, olhem para o Inter: Esse time com D'Alessandro, Nilmar, Taison, Guiñazu, Kléber e Magrão é hoje, sem sombra de dúvida, o melhor do Brasil. Desde que venceu a Libertadores 06 em cima do São Paulo, o Inter levantou o caneco de todas as competições internacionais oficiais possíveis; além da Libertadores, venceu ao Mundial, Recopa Sul-Americana e a Sul-Americana do ano passado. Mas não venceu o Brasileiro; um vice controverso - e injusto - em 2005 e um vice inesperado em 06 quando se preparava para o mundial que seria campeão. Acho que esse ano, se não ocorrer um desmanche, pode ser a vez do Inter.
Em Minas, pra variar teremos Cruzeiro e Atlético-MG. Fazia tempo que os grandes de BH não montavam duas equipes tão boas ao mesmo tempo. Vai ser uma grande final, mas a raposa possui o favoritismo - aliás, eu veria o Cruzeiro como um dos favoritos até mesmo para o Brasileirão junto com Inter e São Paulo.
Em Pernambuco, o Náutico foi valente, lutou, mas só arrancou o empate contra o melhor time do Sport em muitos anos - relativamente o melhor da história, levando em conta onde chegou. A diretoria alvirubra contratou bem, mas os problemas para pôr os atletas em campo, a condição física de muitos deles e afins acabaram com qualquer possibilidade de título. O que será nesse Brasileirão? O Náutico vai precisar trabalhar duro para não passar o torneio inteiro lutando contra o rebaixamento. O Sport, se não for desmontado, briga para ficar entre os quatro.
É interessante ver como Neymar e Paulo Henrique entraram bem nesse time do Santos juntando-se a Madson, Rodrigo Souto e Kléber Pereira todos sob o comando do sóbrio Vagner Mancini - mesmo que tenha errado no prognóstico, não custa lembrar que eu elogiei esse time do Santos em um momento em que nem mesmo os santistas tinham coragem de fazê-lo. Do lado verde, Luxemburgo, em algum momento dessa temporada, perdeu o controle da situação assim como aconteceu no Brasileiro do ano passado. A equipe surpreendeu no comecinho, mas depois caiu de produção e o seu treinador sequer chegou a constatar ou admitir o problema até o momento fatídico da eliminação - que deve se repetir na Libertadores, a menos que ocorra um milagre.
Do lado corintiano, fica o elogio ao time mais focado desse torneio; mais do que qualquer um outro, o Corinthians quer vencer esse campeonato e a consistência que o time vem demonstrando nos clássicos esse ano (3 vitórias e 2 empates) assim como a força de sua defesa (16 gols sofridos em 21 jogos) são as credenciais para o seu favoritismo no melhor estadual em anos. Mano Menezes, por sua vez, repetiu o nó que deu em Muricy na Libertadores 07 quando treinava o Grêmio e por enquanto é o melhor técnico do torneio. Quanto ao São Paulo, o time fez um belo primeiro tempo, mas faltou a presença de um meia com brilho para simplificar o jogo e decidi-lo; por melhor que seja Hernanes, volante das antigas que sabe - e como - sair jogando, o fato dele - e não um meia de origem - jogar com a dez é sintomático. Ainda assim o tricolor é um dos três favoritos para o Brasileirão, torneio longo onde não há surpresa que tenha fôlego até o fim.
No Rio deu Flamengo, com um gol contra. Ainda assim, acho que o Botafogo é mais organizado e Cuca tem muito o que provar em horas de decisão, mesmo que tenha nas mãos um time melhor.
No Sul, o Inter, como era de se esperar, foi campeão ao vencer o segundo turno - 8x1 épico sobre o Caxias - eliminando a decisão, posto que ganhou o primeiro turno. Cá entre nós, olhem para o Inter: Esse time com D'Alessandro, Nilmar, Taison, Guiñazu, Kléber e Magrão é hoje, sem sombra de dúvida, o melhor do Brasil. Desde que venceu a Libertadores 06 em cima do São Paulo, o Inter levantou o caneco de todas as competições internacionais oficiais possíveis; além da Libertadores, venceu ao Mundial, Recopa Sul-Americana e a Sul-Americana do ano passado. Mas não venceu o Brasileiro; um vice controverso - e injusto - em 2005 e um vice inesperado em 06 quando se preparava para o mundial que seria campeão. Acho que esse ano, se não ocorrer um desmanche, pode ser a vez do Inter.
Em Minas, pra variar teremos Cruzeiro e Atlético-MG. Fazia tempo que os grandes de BH não montavam duas equipes tão boas ao mesmo tempo. Vai ser uma grande final, mas a raposa possui o favoritismo - aliás, eu veria o Cruzeiro como um dos favoritos até mesmo para o Brasileirão junto com Inter e São Paulo.
Em Pernambuco, o Náutico foi valente, lutou, mas só arrancou o empate contra o melhor time do Sport em muitos anos - relativamente o melhor da história, levando em conta onde chegou. A diretoria alvirubra contratou bem, mas os problemas para pôr os atletas em campo, a condição física de muitos deles e afins acabaram com qualquer possibilidade de título. O que será nesse Brasileirão? O Náutico vai precisar trabalhar duro para não passar o torneio inteiro lutando contra o rebaixamento. O Sport, se não for desmontado, briga para ficar entre os quatro.
domingo, 19 de abril de 2009
Cúpula das Américas
(Obama cumprimenta Chávez. Foto: AFP)
Está sendo realizada em Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago, a Cúpula das Américas, reunião da qual participam os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA). É uma reunião histórica, sem dúvida. É a primeira em que Obama participa como Presidente dos EUA e a primeira onde os países sul-americanos participam com alguma coesão em virtude da recém-formada UNASUR - que já foi capaz de resolver, por exemplo, a mais recente crise boliviana.
O único Estado do continente que não participa da reunião é Cuba pelo fato de ter sido expulsa da organização em 62 por enviar guerrilheiros para promover a Revolução na Venezuela. Ironia das ironias, mesmo que não tenha acontecido a Revolução naquela ocasião, décadas mais tarde, a Venezuela sob a liderança de Hugo Chávez romperia com os EUA e se tornaria o maior aliado de Havana no continente. Claro, os debates sobre a reinserção de Cuba no sistema panamericano é um dos temas centrais da cúpula.
Não sem motivo, a reunião se dá ainda sob a sombra do Governo Bush e suas consequências paradoxais; se por um lado bushinho fez uso do poder da superpotência americana em níveis máximos, interferindo com obstinação ímpar na política dos países do globo, por outro, ele acabou relegando a América Latina ao segundo ou terceiro plano, o que enfraqueceu - e muito - o discurso dos líderes pró-americanos da América Latina. Isso refletiu com muita força eleitoralmente.
O grau de influência dos EUA na região desabou. Na era Bush foram eleitos inúmeros governos progressistas no continente, em geral, entusiastas da integração latino-americana e cujo ânimo era o da não-subordinação a Washington como foi regra em praticamente em todo século 20º. Para complicar a situação, tais governos se saíram muito bem na gestão da economia e na condução da política externa, o que se materializa no fortalecimento da maioria deles no jogo de poder internacional.
Obama é um homem inteligente e sabe que não pode virar as costas para essa realidade e teimar em brigar com os fatos. Não que seja de sua índole, mas supondo que fosse, bancar golpes como forma de garantir governos amistosos, nos dias de hoje, tem consequências necessariamente negativas. Por outro lado, desprezar o continente, não significa que ele virá com o pires na mão pedir esmolas em Washington, muito pelo contrário, no máximo a China e a Rússia preencherão esses espaços e os países do continente aperfeiçoarão os mecanismos de integração como ocorreu no governo Bush.
Os Estados Unidos possuem hoje pouco mais de um quinto da economia mundial, isso é muito, mas ao mesmo tempo insuficiente para bancar um jogo de imposições - que, aliás, é bem caro e desde o fim da segunda guerra mundial tem feito o país ter uma proporção cada vez menor da economia mundial.
Temos também a importância incontestável do Brasil: Segunda maior economia do continente e nona maior do mundo, dono de uma diplomacia das mais habilidosas do globo que vem obtendo êxitos incríveis tanto dentro da América Latina quanto na liderança dos emergentes. O país é hoje um parceiro imprescindível para a estruturação do novo sistema multilateral que a conjuntura mundial demanda.
Por fim, temos Cuba que passa pelas maiores modificações internas em décadas. A Guerra Fria acabou e a ilha resistiu bravamente aos anos 90, período onde os EUA tiveram nas mãos o controle do Sistema Mundo. As medidas que Washington tomou para acabar com o sistema decorrente da Revolução Cubana por meio de chantagem e da pressão econômica fracassaram. Mesmo com o profundo impacto que a queda do bloco socialista gerou na economia cubana e a incomensurável pressão americana, Cuba vem se recuperando desde o fim dos anos 90 e tem crescido economicamente nos últimos anos. Mais importante do que isso, hoje boa parte de seu comércio exterior se dá com países latino-americanos e não lhe faltam governos amigos na região.
Os EUA não estão dispostos a levantar todas as barreiras contra o país, mesmo que Obama as tenha flexibilizado. Isso seria finalmente admitir a Revolução Cubana. Mas isso se tornará inevitável tão logo. Com disse Chávez sobre Obama, o líder americano tem uma oportunidade única. Isso aqui também é uma página à parte: O encontro de Obama com Chávez. O líder americano demonstrou o mínimo de racionalidade que faltou a seu antecessor e o líder venezuelano recebeu isso com o devido discernimento e ceticismo. Os EUA precisam da Venezuela e vice-versa, mas a época em que Washington controlava Caracas como se fosse sua colônia petrolífera se foram - mais precisamente no dia em que o golpe contra Chávez deu errado.
Enfim, há muitas variáveis em jogo, mas eu mantenho minha opinião de que Obama tem de aproveitar as oportunidades que tem nas mãos para construir um estrutura multilateral mais racional a começar pelo seu continente para depois fazer o mesmo com o mundo. Desperdiçar isso, equivale a continuar arcando com o ônus de ser um Império, o que tem apequenado o seu país. Querer compensar perda de poder econômico com aumento da força militar, como fez seu antecessor, não é racional e ao mesmo tempo é o melhor caminho para se jogar no abismo. Não há país no mundo hoje que saia mais fortalecido com a construção de um sistema internacional civilizado e eficiente do que os EUA, desperdiçar essas oportunidades históricas por conta de devaneios megalômanos no máximo destruirá o mundo ou, mais provavelmente, será o suicídio dos EUA enquanto país.
Está sendo realizada em Port of Spain, capital de Trinidad e Tobago, a Cúpula das Américas, reunião da qual participam os Estados-membros da Organização dos Estados Americanos (OEA). É uma reunião histórica, sem dúvida. É a primeira em que Obama participa como Presidente dos EUA e a primeira onde os países sul-americanos participam com alguma coesão em virtude da recém-formada UNASUR - que já foi capaz de resolver, por exemplo, a mais recente crise boliviana.
O único Estado do continente que não participa da reunião é Cuba pelo fato de ter sido expulsa da organização em 62 por enviar guerrilheiros para promover a Revolução na Venezuela. Ironia das ironias, mesmo que não tenha acontecido a Revolução naquela ocasião, décadas mais tarde, a Venezuela sob a liderança de Hugo Chávez romperia com os EUA e se tornaria o maior aliado de Havana no continente. Claro, os debates sobre a reinserção de Cuba no sistema panamericano é um dos temas centrais da cúpula.
Não sem motivo, a reunião se dá ainda sob a sombra do Governo Bush e suas consequências paradoxais; se por um lado bushinho fez uso do poder da superpotência americana em níveis máximos, interferindo com obstinação ímpar na política dos países do globo, por outro, ele acabou relegando a América Latina ao segundo ou terceiro plano, o que enfraqueceu - e muito - o discurso dos líderes pró-americanos da América Latina. Isso refletiu com muita força eleitoralmente.
O grau de influência dos EUA na região desabou. Na era Bush foram eleitos inúmeros governos progressistas no continente, em geral, entusiastas da integração latino-americana e cujo ânimo era o da não-subordinação a Washington como foi regra em praticamente em todo século 20º. Para complicar a situação, tais governos se saíram muito bem na gestão da economia e na condução da política externa, o que se materializa no fortalecimento da maioria deles no jogo de poder internacional.
Obama é um homem inteligente e sabe que não pode virar as costas para essa realidade e teimar em brigar com os fatos. Não que seja de sua índole, mas supondo que fosse, bancar golpes como forma de garantir governos amistosos, nos dias de hoje, tem consequências necessariamente negativas. Por outro lado, desprezar o continente, não significa que ele virá com o pires na mão pedir esmolas em Washington, muito pelo contrário, no máximo a China e a Rússia preencherão esses espaços e os países do continente aperfeiçoarão os mecanismos de integração como ocorreu no governo Bush.
Os Estados Unidos possuem hoje pouco mais de um quinto da economia mundial, isso é muito, mas ao mesmo tempo insuficiente para bancar um jogo de imposições - que, aliás, é bem caro e desde o fim da segunda guerra mundial tem feito o país ter uma proporção cada vez menor da economia mundial.
Temos também a importância incontestável do Brasil: Segunda maior economia do continente e nona maior do mundo, dono de uma diplomacia das mais habilidosas do globo que vem obtendo êxitos incríveis tanto dentro da América Latina quanto na liderança dos emergentes. O país é hoje um parceiro imprescindível para a estruturação do novo sistema multilateral que a conjuntura mundial demanda.
Por fim, temos Cuba que passa pelas maiores modificações internas em décadas. A Guerra Fria acabou e a ilha resistiu bravamente aos anos 90, período onde os EUA tiveram nas mãos o controle do Sistema Mundo. As medidas que Washington tomou para acabar com o sistema decorrente da Revolução Cubana por meio de chantagem e da pressão econômica fracassaram. Mesmo com o profundo impacto que a queda do bloco socialista gerou na economia cubana e a incomensurável pressão americana, Cuba vem se recuperando desde o fim dos anos 90 e tem crescido economicamente nos últimos anos. Mais importante do que isso, hoje boa parte de seu comércio exterior se dá com países latino-americanos e não lhe faltam governos amigos na região.
Os EUA não estão dispostos a levantar todas as barreiras contra o país, mesmo que Obama as tenha flexibilizado. Isso seria finalmente admitir a Revolução Cubana. Mas isso se tornará inevitável tão logo. Com disse Chávez sobre Obama, o líder americano tem uma oportunidade única. Isso aqui também é uma página à parte: O encontro de Obama com Chávez. O líder americano demonstrou o mínimo de racionalidade que faltou a seu antecessor e o líder venezuelano recebeu isso com o devido discernimento e ceticismo. Os EUA precisam da Venezuela e vice-versa, mas a época em que Washington controlava Caracas como se fosse sua colônia petrolífera se foram - mais precisamente no dia em que o golpe contra Chávez deu errado.
Enfim, há muitas variáveis em jogo, mas eu mantenho minha opinião de que Obama tem de aproveitar as oportunidades que tem nas mãos para construir um estrutura multilateral mais racional a começar pelo seu continente para depois fazer o mesmo com o mundo. Desperdiçar isso, equivale a continuar arcando com o ônus de ser um Império, o que tem apequenado o seu país. Querer compensar perda de poder econômico com aumento da força militar, como fez seu antecessor, não é racional e ao mesmo tempo é o melhor caminho para se jogar no abismo. Não há país no mundo hoje que saia mais fortalecido com a construção de um sistema internacional civilizado e eficiente do que os EUA, desperdiçar essas oportunidades históricas por conta de devaneios megalômanos no máximo destruirá o mundo ou, mais provavelmente, será o suicídio dos EUA enquanto país.
sábado, 18 de abril de 2009
Final de Semana de Futebol
Os estaduais se aproximam de seu desfecho e nesse final uma série de jogos importantes pode, inclusive, definir muitos deles. Vamos lá:
São Paulo,
Aqui, definem-se as semi-finais; os dois times que fecharam a primeira fase em vantagem, Palmeiras e São Paulo, perderam o jogo da volta por 2x1 e a vantagem de jogarem pelo empate. A verdade é que o Palmeiras tomou um vareio de bola do Santos na Vila, mas o alvinegro do litoral perdeu uma bela oportunidade de definir a classificação por ali mesmo. Enquanto o Santos, que como eu já adiantava no início da temporada, se mostra uma boa equipe e vem crescendo na temporada, o Palmeiras que pouco parecia que iria fazer nessa temporada, surpreendeu positivamente no início e depois surpreendeu negativamente. Ainda assim, uma classificação na bacia das almas do verde não seria impossível. No Morumbi, o São Paulo sem Rogério Ceni, tem a dura missão de ter que ganhar do Corinthians, coisa que ninguém conseguiu até agora no campeonato. Ok, o tricolor tem mais time, mas o alvinegro é seguramente o time mais aplicado e empenhado em vencer esse torneio, um belo desafio, mas também não é difícil imaginar aqui uma classificação do São Paulo.
Rio,
O Botafogo pode matar o campeonato caso vença o Flamengo. Historicamente, o Flamengo costuma levar a melhor nesse tipo de confronto, mas esse ano o Botafogo parece ser o time carioca mais arrumadinho do Rio e pode definir esse campeonato no domingo.
Minas,
Para variar uma final entre Cruzeiro e Atlético-MG se desenha no (belo) horizonte. Cruzeiro evoluiu muito do ano passado pra cá e é seguramente uma das três melhores equipes do país, especialemente pela fase de Kléber e de Ramires; pelos lados do Galo, a equipe também melhorou muito com o retorno de Leão e comandada por Diego Tardelli, Júnior e Éder Luís pode sim complicar para a raposa, ainda que seja uma missão muito difícil.
Rio Grande do Sul,
No Sul, o Inter de Tite que junto com o Cruzeiro e o São Paulo deve disputar o título do Brasileirão pode matar o campeonato na decisão do segundo turno contra o Caxias. Pode e muito provavelmente o fará, é uma das poucas equipes brasileiras que jogo um futebol que enche os olhos.
Pernambuco,
Náutico e Sport se confrontam domingo, nos Aflitos. O Sport levou o primeiro turno com um pé nas costas, no segundo turno ainda teve alguma pressão do Náutico que ganhou maior entrosamento depois de ter refeito a equipe em relação ao ano passado. O fato é os alvirubros precisarão ser heróicos esse domingo para vencer e assim evitar o título antecipado do rival, mas será uma missão muito difícil.
Aqui, definem-se as semi-finais; os dois times que fecharam a primeira fase em vantagem, Palmeiras e São Paulo, perderam o jogo da volta por 2x1 e a vantagem de jogarem pelo empate. A verdade é que o Palmeiras tomou um vareio de bola do Santos na Vila, mas o alvinegro do litoral perdeu uma bela oportunidade de definir a classificação por ali mesmo. Enquanto o Santos, que como eu já adiantava no início da temporada, se mostra uma boa equipe e vem crescendo na temporada, o Palmeiras que pouco parecia que iria fazer nessa temporada, surpreendeu positivamente no início e depois surpreendeu negativamente. Ainda assim, uma classificação na bacia das almas do verde não seria impossível. No Morumbi, o São Paulo sem Rogério Ceni, tem a dura missão de ter que ganhar do Corinthians, coisa que ninguém conseguiu até agora no campeonato. Ok, o tricolor tem mais time, mas o alvinegro é seguramente o time mais aplicado e empenhado em vencer esse torneio, um belo desafio, mas também não é difícil imaginar aqui uma classificação do São Paulo.
Rio,
O Botafogo pode matar o campeonato caso vença o Flamengo. Historicamente, o Flamengo costuma levar a melhor nesse tipo de confronto, mas esse ano o Botafogo parece ser o time carioca mais arrumadinho do Rio e pode definir esse campeonato no domingo.
Minas,
Para variar uma final entre Cruzeiro e Atlético-MG se desenha no (belo) horizonte. Cruzeiro evoluiu muito do ano passado pra cá e é seguramente uma das três melhores equipes do país, especialemente pela fase de Kléber e de Ramires; pelos lados do Galo, a equipe também melhorou muito com o retorno de Leão e comandada por Diego Tardelli, Júnior e Éder Luís pode sim complicar para a raposa, ainda que seja uma missão muito difícil.
Rio Grande do Sul,
No Sul, o Inter de Tite que junto com o Cruzeiro e o São Paulo deve disputar o título do Brasileirão pode matar o campeonato na decisão do segundo turno contra o Caxias. Pode e muito provavelmente o fará, é uma das poucas equipes brasileiras que jogo um futebol que enche os olhos.
Pernambuco,
Náutico e Sport se confrontam domingo, nos Aflitos. O Sport levou o primeiro turno com um pé nas costas, no segundo turno ainda teve alguma pressão do Náutico que ganhou maior entrosamento depois de ter refeito a equipe em relação ao ano passado. O fato é os alvirubros precisarão ser heróicos esse domingo para vencer e assim evitar o título antecipado do rival, mas será uma missão muito difícil.
sexta-feira, 17 de abril de 2009
A Ditabranda e a Caros Amigos
Depois de um bom tempo, comprei uma Caros Amigos. Essa edição traz uma boa cobertura sobre o horrendo caso Ditabranda - que esse blogger cobriu com tanto afinco que acabou sendo flagrado na foto de Capa da Revista em meio a manifestação. O que dá pra dizer diante de tantas críticas a mídia, é que essa revista fez um belissímo trabalho na análise dos fatos. Detalhe especial para o artigo de José Arbex Jr, "O Brasil em tempos de Cólera (ou: A Folha Vejou)" na página 20. Tive a oportunidade de assistir algumas aulas de análise conjuntural de Arbex na PUC-SP mês passado e lá ele já tinha trabalhado com as teses com as quais estruturou seu artigo - onde ele faz uma investigação das causas que levaram ao infame editorial da Folha buscando pistas na história política e social do Brasil nos últimos anos. Vale a pena dar uma conferida.
quinta-feira, 16 de abril de 2009
A Europa e a Crise Mundial
Prosseguindo o tour que esse blog anda fazendo pelo mundo em Crise, abordo hoje como anda a situação da Europa em meio a tudo isso. Vale dizer de antemão que ela não é nada boa. Não que isso seja alguma novidade, afinal, assistimos nos últimos tempos uma economia europeia estagnada mesmo num período de certa prosperidade econômica, agora com essa situação nada favorável da economia global, o que se vê é o agravamento dessa situação.
Mais do que uma crise econômica, é uma crise no sistema político-partidário. Como coloquei num comentário meu para o blog do Nassif que ele acabou dando destaque, a situação transcende a problemática econômica e se conecta ao beco sem saída da política europeia nos últimos anos; na Europa Ocidental, isso se manifesta com o fracasso dos partidos democratas-cristãos e da direita democrática de um modo geral somado a fragmentação e a confusão mental e a paralisia que domina a esquerda por aquelas bandas - isso é extremamente perigoso na medida em que fortalece cada vez mais movimentos radicais de extrema-direita em todos os países da região.
Por outro lado, na Europa Oriental, o sistema político-partidário forjado após o socialismo parece insuficiente e incapaz de responder as demandas desse período atual; Líderes reacionários e nem sempre idôneos que ainda por cima se mostram pouco interessados em avançar com um projeto europeu - e que sempre serviram muito mais ao interesse americano do que o da UE - dominam a cena local. Na pós-URSS, como já adiantei por aqui, a situação chega a ser mais dramática: Governos pouco democráticos e entusiastas de um nacionalismo bem arcaico operam numa verdadeiro campo minado étnico em uma situação de crise bem aguda: A Rússia deve perder por volta de 5% do seu PIB ano que vem, a Ucrânia, por volta de 9%.
No que toca mais especificamente a UE, a falta de coesão desse verdadeiro leviatã que representa um PIB maior que o americano (com 21,7% da economia mundial contra 20,6% dos americanos) é nítida; a falta de capacidade do bloco em lançar mão de ações integradas para combater a crise - somada ao instinto suicida de pular do barco de alguns líderes eurocéticos - pode levar a uma queda ainda maior da importância relativa da Europa em relação ao mundo e até mesmo a consequências perigosas como não é incomum por ali, infelizmente.
terça-feira, 14 de abril de 2009
O Crescimento de 2009
O Eduardo Guimarães fez uma postagem interessante chamada O crescimento em 2009 ainda é imprevisível (13/04/09) - só não linko o post em si porque não sei ou talvez não haja mesmo como linkar um post específico de um blog do UOL.
Ela trata, como o nome sugere, de uma crítica sobre a forma da divulgação da pesquisa Focus sobre o crescimento do Brasil nesse ano - a pesquisa em questão, aponta uma projeção de crescimento na casa de -0,3%. A pesquisa Focus, para quem não sabe, é uma estimativa baseada na conjuntura que os cabeças do mercado financeiro especulam para um ano no que toca crescimento, inflação e juros entre outros indicadores.
Por óbvio, a própria natureza da pesquisa já levanta dúvidas quanto a sua, digamos, cientificidade - não que este humilde escrevinhador que vos escrevinha acredite em neutralidade científica, claro que não, o fato é que ele simplesmente não considera a cientificidade dela pelo fato de como se deu sua estruturação e da provável finalidade incutida nela.
Mais adiante a situação piora: Os meios de comunicação estão divulgando a pesquisa como se fosse fato liquído e certo - o que nem mesmo se ela tivesse uma consistência científica razoável poderia ser feito. A explicação disso? Claro, aquilo que eu já adiantei no que toca a crise e o Brasil, ou seja, o uso político-partidário que estão fazendo - e que por certo farão em maior quantidade e intensidade daqui para frente - da Crise Mundial. É um joguinho ratasqueiro de usar a crise como forma de atacar o governo Lula e evitar uma vitória de Dilma daqui a menos de dois anos.
Sobre o crescimento em si, só tendo uma bola de cristal para advinha-lo no momento. No entanto, se não surgir fato novo no quadro internacional, tenho sérias dúvidas que vá acontecer uma queda do PIB brasileiro.
Ela trata, como o nome sugere, de uma crítica sobre a forma da divulgação da pesquisa Focus sobre o crescimento do Brasil nesse ano - a pesquisa em questão, aponta uma projeção de crescimento na casa de -0,3%. A pesquisa Focus, para quem não sabe, é uma estimativa baseada na conjuntura que os cabeças do mercado financeiro especulam para um ano no que toca crescimento, inflação e juros entre outros indicadores.
Por óbvio, a própria natureza da pesquisa já levanta dúvidas quanto a sua, digamos, cientificidade - não que este humilde escrevinhador que vos escrevinha acredite em neutralidade científica, claro que não, o fato é que ele simplesmente não considera a cientificidade dela pelo fato de como se deu sua estruturação e da provável finalidade incutida nela.
Mais adiante a situação piora: Os meios de comunicação estão divulgando a pesquisa como se fosse fato liquído e certo - o que nem mesmo se ela tivesse uma consistência científica razoável poderia ser feito. A explicação disso? Claro, aquilo que eu já adiantei no que toca a crise e o Brasil, ou seja, o uso político-partidário que estão fazendo - e que por certo farão em maior quantidade e intensidade daqui para frente - da Crise Mundial. É um joguinho ratasqueiro de usar a crise como forma de atacar o governo Lula e evitar uma vitória de Dilma daqui a menos de dois anos.
Sobre o crescimento em si, só tendo uma bola de cristal para advinha-lo no momento. No entanto, se não surgir fato novo no quadro internacional, tenho sérias dúvidas que vá acontecer uma queda do PIB brasileiro.
segunda-feira, 13 de abril de 2009
Corinthians 2x1 São Paulo e as finais do paulistão
Ontem, o Corinthians venceu o São Paulo do único modo que o tricolor do Morumbi pode ser vencido num jogo sério: Fazendo gols inapeláveis que qualquer defesa do mundo, em qualquer época, tomaria. Mesmo saindo em desvantagem, o alvinegro venceu e assim como o Santos, reverteu a vantagem que era do adversário e também passa a jogar pelo empate no segundo jogo. No entanto, atentem para o seguinte: Nada está definido, muito pelo contrário. Corinthians e São Paulo permanece em aberto e se de um lado o tricolor terá a dura missão de ser o primeiro time a derrotar o Corinthians no campeonato, do outro o alvinegro terá a dura missão de não perder para o São Paulo num jogo sério, o que não tem sido fácil já há alguns anos. Do lado verde, a única coisa que pode ser dita é que se a derrota incontestável sofrida para o Santos tirou sua vantagem, por outro, há de se considerar que o alvinegro do litoral perdeu a chance de matar a semi-final logo de cara pelo futebol que jogou. Muricy já sentenciou: Palmeiras e São Paulo farão a final. Será?
domingo, 12 de abril de 2009
Santos 2x1 Palmeiras & Corinthians X São Paulo
Ontem o Santos jogou sua melhor partida no campeonato e bateu o Palmeiras na Vila Belmiro.
Vagner Mancini armou o time de uma maneira interessante, com Roberto Brum como um terceiro zagueiro junto com Fabão e Astorga, deixou Pará e Triguinho um pouco recuados e deu liberdade para o trio Rodrigo Souto, Madson e Paulo Henrique que, juntos, arrebentaram com o jogo; mesmo com o gol, se a situação física de Neymar estivesse melhor, talvez o placar tivesse sido mais amplo. Kleber Pereira é matador.
Do lado verde, não diria que Luxemburgo tomou um nó tático, mas que novamente enfiou os pés pelas mãos; o velho problema do posicionamento da zaga continua; a questão de Edmílson que, reitero pela milionésima vez, jogou bem nos primeiros jogos, mas vem se mostrando estranhamente perdido de uns jogos para cá e não se acha como zagueiro ao mesmo tempo que bate cabeça com Pierre quando vai pro meio. Aliás, o meio de campo novamente sentiu falta de um segundo volante para dar a saída de bola e mostrou pouca consistência - apesar de Cleiton Xavier sempre ter levado perigo na bola parada e Diego Souza ter feito o mesmo nos lances individuais; Fabinho Capixaba, novamente, foi um desastre e Armero não jogou o que pôde; Keirrison apesar do gol não fez muita coisa e as entradas de Marquinhos e Lenny depois não surtiu efeito.
Não há nada definido, mas o Santos deu um passo importante e o Palmeiras novamente se mostrou uma equipe inconstante.
No que toca Corinthians e São Paulo só vejo possibilidade para o alvinegro se Ronaldo arrebentar com o jogo de hoje e com o da semana que vem, se isso não acontecer, o São Paulo, germanicamente, vai eliminar o Corinthians.
Vagner Mancini armou o time de uma maneira interessante, com Roberto Brum como um terceiro zagueiro junto com Fabão e Astorga, deixou Pará e Triguinho um pouco recuados e deu liberdade para o trio Rodrigo Souto, Madson e Paulo Henrique que, juntos, arrebentaram com o jogo; mesmo com o gol, se a situação física de Neymar estivesse melhor, talvez o placar tivesse sido mais amplo. Kleber Pereira é matador.
Do lado verde, não diria que Luxemburgo tomou um nó tático, mas que novamente enfiou os pés pelas mãos; o velho problema do posicionamento da zaga continua; a questão de Edmílson que, reitero pela milionésima vez, jogou bem nos primeiros jogos, mas vem se mostrando estranhamente perdido de uns jogos para cá e não se acha como zagueiro ao mesmo tempo que bate cabeça com Pierre quando vai pro meio. Aliás, o meio de campo novamente sentiu falta de um segundo volante para dar a saída de bola e mostrou pouca consistência - apesar de Cleiton Xavier sempre ter levado perigo na bola parada e Diego Souza ter feito o mesmo nos lances individuais; Fabinho Capixaba, novamente, foi um desastre e Armero não jogou o que pôde; Keirrison apesar do gol não fez muita coisa e as entradas de Marquinhos e Lenny depois não surtiu efeito.
Não há nada definido, mas o Santos deu um passo importante e o Palmeiras novamente se mostrou uma equipe inconstante.
No que toca Corinthians e São Paulo só vejo possibilidade para o alvinegro se Ronaldo arrebentar com o jogo de hoje e com o da semana que vem, se isso não acontecer, o São Paulo, germanicamente, vai eliminar o Corinthians.
sábado, 11 de abril de 2009
Folha x Record
O meio das grandes corporações midiáticas reflete uma unidade ideológica tão coesa seja na escolha do "que" ou de "como" difundir a informação que um espectador ingênuo pode supor que os chefes de redação dos jornalões e os diretores dos telejornais sejam a mesma pessoa. Além de não existirem divergências ideológicas, também raramente assistimos a exposição de conflitos de qualquer natureza entre tais grupos, ou melhor, famílias - mas quando vemos isso, nos deparamos com algum imbróglio causado pela luta imediata pelo poder.
Recentemente, a jornalista da Folha Elvira Lobato divulgou por meio de uma série de reportagens a suposta ligação de igrejas evangélicas com o crime organizado, em especial com a lavagem de dinheiro. Em consequência disso, ela foi processada por vários fiéis da Igreja Universal em várias partes do país ao mesmo tempo. A Folha disponibilizou advogados e sua defesa se estruturou na alegação de litigância de má-fé. Desde então, a tensão entre a TV Record, de propriedade do mesmo de Edir Macedo, líder da IURD, e a Folha. Teria a Folha ofendido a honra dos fiéis da IURD ou teria ela divulgado fatos comprometedores? Mais que isso: O que teria motivado a Folha a fazer essas reportagens? O fato dela ser sócia de uma Globo que não engoliu até agora a Record News?
Retaliação para cá, retaliação para lá, a Record bateu no calcanhar de aquiles da Folha nesse momento: A ditabranda. Entrevistou torturados, mostrou vídeos da época, uma beleza. Entrevistou, inclusive, Ivan Seixas, que foi protagonista do de um dos episódios mais bizarros da época da ditadura. Ivan, para quem não sabe, foi preso aos dezesseis anos junto com seu pai, Joaquim Seixas, por conta do suposto envolvimento do Seixas pai com o assassinato do industrial Boilesen, presidente da Ultragas e financiador da famigerada Operação Bandeirante (OBAN), o ponto mais alto do terrorismo de Estado no Brasil; depois de um processo implacável de torturas, seu pai acabou morrendo, mas não sem antes os torturadores mostrarem para Ivan uma reportagem de um jornal indicando que seu pai havia morrido poucas horas antes disso de fato acontecer. O jornal: A Folha Tarde, de propriedade do Grupo Folha, conhecido na época como o "diário oficial da OBAN" porque gozava de informação privilegiada da referida operação decorrente, quem sabe, de uma eventual simpatia que seus proprietários nutriam em relação a tudo aquilo.
Essa reportagem do Jornal da Record, claro, tem muito pouco de defesa da Democracia e muito mais de uma manifestação daquilo que pode se tornar mais comum nos anos que virão: O aumento do conflito entre grupos de mídia decorrente do aumento de poder político deles. O que aconteceu aqui foi o uso puramente seletivo da verdade; tais fatos foram trazidos à luz porque convinham para Record, assim como as reportagens da senhora Lobato eram convenientes naquele momento. É a boa e velha luta pelo poder, mas numa perspectiva onde sequer cabe a máxima de que os fins justificam os meios; aqui, os fins, por eles próprios, já invalidam os meios sejam eles quais forem. É uma briga que eu, pessoalmente, declino em apoiar alguém.
Recentemente, a jornalista da Folha Elvira Lobato divulgou por meio de uma série de reportagens a suposta ligação de igrejas evangélicas com o crime organizado, em especial com a lavagem de dinheiro. Em consequência disso, ela foi processada por vários fiéis da Igreja Universal em várias partes do país ao mesmo tempo. A Folha disponibilizou advogados e sua defesa se estruturou na alegação de litigância de má-fé. Desde então, a tensão entre a TV Record, de propriedade do mesmo de Edir Macedo, líder da IURD, e a Folha. Teria a Folha ofendido a honra dos fiéis da IURD ou teria ela divulgado fatos comprometedores? Mais que isso: O que teria motivado a Folha a fazer essas reportagens? O fato dela ser sócia de uma Globo que não engoliu até agora a Record News?
Retaliação para cá, retaliação para lá, a Record bateu no calcanhar de aquiles da Folha nesse momento: A ditabranda. Entrevistou torturados, mostrou vídeos da época, uma beleza. Entrevistou, inclusive, Ivan Seixas, que foi protagonista do de um dos episódios mais bizarros da época da ditadura. Ivan, para quem não sabe, foi preso aos dezesseis anos junto com seu pai, Joaquim Seixas, por conta do suposto envolvimento do Seixas pai com o assassinato do industrial Boilesen, presidente da Ultragas e financiador da famigerada Operação Bandeirante (OBAN), o ponto mais alto do terrorismo de Estado no Brasil; depois de um processo implacável de torturas, seu pai acabou morrendo, mas não sem antes os torturadores mostrarem para Ivan uma reportagem de um jornal indicando que seu pai havia morrido poucas horas antes disso de fato acontecer. O jornal: A Folha Tarde, de propriedade do Grupo Folha, conhecido na época como o "diário oficial da OBAN" porque gozava de informação privilegiada da referida operação decorrente, quem sabe, de uma eventual simpatia que seus proprietários nutriam em relação a tudo aquilo.
Essa reportagem do Jornal da Record, claro, tem muito pouco de defesa da Democracia e muito mais de uma manifestação daquilo que pode se tornar mais comum nos anos que virão: O aumento do conflito entre grupos de mídia decorrente do aumento de poder político deles. O que aconteceu aqui foi o uso puramente seletivo da verdade; tais fatos foram trazidos à luz porque convinham para Record, assim como as reportagens da senhora Lobato eram convenientes naquele momento. É a boa e velha luta pelo poder, mas numa perspectiva onde sequer cabe a máxima de que os fins justificam os meios; aqui, os fins, por eles próprios, já invalidam os meios sejam eles quais forem. É uma briga que eu, pessoalmente, declino em apoiar alguém.
quinta-feira, 9 de abril de 2009
Tensões na Moldávia
É provável que você nunca tenha ouvido falar da Moldávia na sua vida. Ela é uma ex-república soviética de quatro milhões de habitantes que hoje possui um PIB per capta miserável de pouco menos de US$ 3.000,00 (em valores reais de 2008) e o mais baixo índice de desenvolvimento humano de toda a Europa - menor, por exemplo, que o da Bolívia. Seu povo fala majoritariamente o moldávio, uma variante dialetal do romeno - no entanto, em certos enclaves como a Transdniestria vivem russos étnicos, ucranianos e moldávios pró-Rússia quase que na mesma proporção populacional e por isso tal região mantém uma independência de facto auxiliada pela Rússia numa situação não muito diferente da Ossétia do Sul e da Abkhazia. Como se não bastasse, uma parcela considerável da população economicamente ativa vive fora do país.
Politicamente, o Partido dos Comunistas é hegemônico na Moldávia- o que talvez seja um caso único nas ex-RSS - e em sua oposição encontram-se o Partido Liberal e o Partido Liberal-Democrático. O x da questão é que os comunistas se mantém no poder aqui por um simples fato: Eles são a única força política que mantém o país unido frente as tensões secessionistas tanto à leste, no Transdniester, quanto à oeste, na fronteira com a Romênia onde apologistas do pan-romenismo defendem que o país seja fundido à Romênia - e dentre os entusiastas do fim da Moldávia via romenificação estão muitos liberais, daí a fragilidade política dos dois partidos que se identificam como tal: Como vencer uma eleição em um país que você aberta ou veladamente pensa em pôr fim?
É nesse clima político que foram realizadas eleições parlamentares na Moldávia, o que implicou em nova vitória dos comunistas que obtiveram mais da metade dos votos e que levando em conta a clásula de barreira ficaram com 60 das 101 cadeiras do parlamento - o que é importantíssimo para eleição do Presidente da República, que precisa ser referendado por 61 deputados. Segundo observadores da UE e de inúmeras organizações internacionais, as eleições transcorreram normalmente, no entanto, do resultado das urnas irrompeu uma verdadeira revolta principalmente por parte de jovens, o que tem causado distúrbios violentos em todo o país.
O que explicaria isso? Como vimos recentemente, ocorreram na Ucrânia e na Geórgia ditas "revoluções", no entanto, qualquer exame mediano da forma como elas se deram aponta não apenas para o apoio como o financiamento dos EUA que, fazendo uso de demagogos bem financiados (como Yushchenko e Yulia Timoshenko na Ucrânia e Saakashivili na Geórgia), usaram da insatisfação popular contra os velhos e incompententes líderes pró-Rússia para enfraquecer a influência do Kremelin na região. No caso da Moldávia, no entanto, líderes ocidentais não estão aparecendo na Televisão para questionar a validade das eleições como também não há uma liderança clara a frente das ações recentes em Chisnau. Seria isso uma nova tática do Ocidente?
Para complicar, os comunistas moldávios não podem ser classificados exatamente como apoiadores de Moscou como suscita a própria questão da Transdniestria, onde eles se encontra em lado oposto ao do Kremelin. No máximo, eu poderia dizer que eles ajudam a refrear o avanço do Ocidente à leste. Por outro lado, se os russos tem interesse na Transdniestria, seja como parte do território - como enclave tipo Khaliningrado - ou como Estado fantoche, tenho minhas dúvidas sobre o desejo dos líderes romenos em ficarem com o "resto", dadas as próprias limitações econômicas de Bucareste, ainda mais nesse cenário de Crise Mundial.
Dessa forma, a situação mais do que confusa é complexa, afinal, ela reflete várias coisas ao mesmo tempo: A disfuncionalidade do capitalismo naquele país; o vácuo político pós-URSS que ali, como nas demais ex-RSS, se materializa na não-criação de instituições no lugar das que tombaram há quase vinte anos; a bomba-relógio étnica presente em todo território da ex-URSS; o desejo dos jovens da região em verem algo melhor, ainda que não tenham a menor ideia de como fazer isso. O caso Moldávio, portanto, não pode ser ignorado na medida em que, à sua maneira, ele expressa mais do que a problemática da ex-URSS, mas sim aquilo que está dando errado e o que pode dar errado na Europa dos anos vindouros...
atualização - 10/04 às 13:51 - Acabo de receber notícias sobre protestos na Geórgia exigindo a demissão do Presidente da República, Mikheil Saakasvlli. A acusação diz respeito a fraudes eleitorais, desrespeito aos direitos e garantias fundamentais entre outras coisas. Saakashvili, assim como os atuais líderes ucranianos, é fruto da desastrosa estratégia da administração Walker Bush em apertar o cordão sanitário que envolve a Rússia; basicamente, a burlesca revolução rosa que o colocou no poder transformou Tblisi em um posto avançado dos interesses anti-russos, energéticos e de fornecimento de contingente militar para o Ocidente, em especial, para os EUA - ver envio de tropas georgianas para o Iraque. Em troca, as forças armadas georgianas receberam treinamento e armamento americano via Israel. Mas Saakashvili se enganou com o poder ganho e cometeu uma ação pueril ao tentar assumir o controle da Abkhazia e da Ossétia do Sul, sofrendo uma vergonhosa derrota para Moscou - muito provavelmente no intuito de desviar o foco da opinião pública de seu país sobre os problemas de seu governo, o que, na verdade, acabou o enfraquecendo mais ainda. É muito provável que depois de ter se provado pouco confiável, Washington esteja pouco disposta em mantê-lo no poder - principalmente agora que a administração Obama visa diminuir a tensão com os russos. Esperemos e vejamos, prometo um post em breve e repito: Olho na região pós-soviética.
atualização - 10/04 às 13:51 - Acabo de receber notícias sobre protestos na Geórgia exigindo a demissão do Presidente da República, Mikheil Saakasvlli. A acusação diz respeito a fraudes eleitorais, desrespeito aos direitos e garantias fundamentais entre outras coisas. Saakashvili, assim como os atuais líderes ucranianos, é fruto da desastrosa estratégia da administração Walker Bush em apertar o cordão sanitário que envolve a Rússia; basicamente, a burlesca revolução rosa que o colocou no poder transformou Tblisi em um posto avançado dos interesses anti-russos, energéticos e de fornecimento de contingente militar para o Ocidente, em especial, para os EUA - ver envio de tropas georgianas para o Iraque. Em troca, as forças armadas georgianas receberam treinamento e armamento americano via Israel. Mas Saakashvili se enganou com o poder ganho e cometeu uma ação pueril ao tentar assumir o controle da Abkhazia e da Ossétia do Sul, sofrendo uma vergonhosa derrota para Moscou - muito provavelmente no intuito de desviar o foco da opinião pública de seu país sobre os problemas de seu governo, o que, na verdade, acabou o enfraquecendo mais ainda. É muito provável que depois de ter se provado pouco confiável, Washington esteja pouco disposta em mantê-lo no poder - principalmente agora que a administração Obama visa diminuir a tensão com os russos. Esperemos e vejamos, prometo um post em breve e repito: Olho na região pós-soviética.
Sport 0x2 Palmeiras
Depois do vexame diante do Colo Colo em pleno Palestra Itália - do qual esse humilde escrevinhador que vos fala foi testemunha -, o Palmeiras viajou para Recife com a obrigação de vencer para não se ver vergonhosamente eliminado da Libertadores ainda em sua primeira fase. Foi pra lá e venceu.
Não diria que o time verde tenha jogado um futebol brilhante, ao contrário, até o lance do primeiro gol, o Sport era melhor e chegava com perigo obrigando Marcos a fazer boas defesas - novamente Edmílson parecia perdido em campo, os dois zagueiros, Maurício Ramos e Danilo batiam cabeça, Fabinho Capixaba continuava mal e Armero não conseguia arrancar. No meio, Pierre sozinho na marcação tinha problemas e as jogadas só surgiam em arrancadas individuais de Diego Souza. O Sport, por sua vez, ciscava bastante, mas não conseguia produzir o equivalente ao seu volume de jogo, em parte pela má partida de seus alas, Moacir e Durval, algo mortal quando se joga no 3/5/2.
Isso até o gol verde; um contra-ataque, falta em Keirrison, falta batida, bate e rebate o Palmeiras retoma a bola e falta de novo. Cleiton Xavier bate a falta com a qualidade que lhe é peculiar, a bola viaja na área sobre pra Maurício Ramo que manda ela pro gol - e Keirrison de sopetão enfia uma bola que fatalmente entraria para o gol. Assim, o time paulista melhora e se impõe em campo dominando o jogo até o fim do primeiro tempo.
Na segunda etapa, o Sport retoma o domínio, Vanderlei saca Willians e põe Ortigoza e depois fecha o time tirando Keirrison para pôr Sandro Silva para marcar junto com Pierre, Edmílson vira zagueiro de vez, Cleiton Xavier vira meia único e centralizado para armar para Diego Souza e Ortigoza no ataque. Num contra-ataque, Diego Souza leva toda zaga do Sport e faz um belo gol. O Sport ainda teve chances, mas Marcos, o melhor em campo, mostrou altivez e qualidade neste que foi o seu 50º jogo na Libertadores e manteve o placar.
Enfim, nada definido nesse grupo; Sport e Colo Colo lideram com seis pontos contra três pontos de Palmeiras e LDU, mas terão de enfrenta-los fora de casa na próxima rodada (LDU x Colo Colo e Palmeiras x Sport), sendo que não será impossível todos ficarem com seis pontos até lá. Eis o grupo do morte.
Não diria que o time verde tenha jogado um futebol brilhante, ao contrário, até o lance do primeiro gol, o Sport era melhor e chegava com perigo obrigando Marcos a fazer boas defesas - novamente Edmílson parecia perdido em campo, os dois zagueiros, Maurício Ramos e Danilo batiam cabeça, Fabinho Capixaba continuava mal e Armero não conseguia arrancar. No meio, Pierre sozinho na marcação tinha problemas e as jogadas só surgiam em arrancadas individuais de Diego Souza. O Sport, por sua vez, ciscava bastante, mas não conseguia produzir o equivalente ao seu volume de jogo, em parte pela má partida de seus alas, Moacir e Durval, algo mortal quando se joga no 3/5/2.
Isso até o gol verde; um contra-ataque, falta em Keirrison, falta batida, bate e rebate o Palmeiras retoma a bola e falta de novo. Cleiton Xavier bate a falta com a qualidade que lhe é peculiar, a bola viaja na área sobre pra Maurício Ramo que manda ela pro gol - e Keirrison de sopetão enfia uma bola que fatalmente entraria para o gol. Assim, o time paulista melhora e se impõe em campo dominando o jogo até o fim do primeiro tempo.
Na segunda etapa, o Sport retoma o domínio, Vanderlei saca Willians e põe Ortigoza e depois fecha o time tirando Keirrison para pôr Sandro Silva para marcar junto com Pierre, Edmílson vira zagueiro de vez, Cleiton Xavier vira meia único e centralizado para armar para Diego Souza e Ortigoza no ataque. Num contra-ataque, Diego Souza leva toda zaga do Sport e faz um belo gol. O Sport ainda teve chances, mas Marcos, o melhor em campo, mostrou altivez e qualidade neste que foi o seu 50º jogo na Libertadores e manteve o placar.
Enfim, nada definido nesse grupo; Sport e Colo Colo lideram com seis pontos contra três pontos de Palmeiras e LDU, mas terão de enfrenta-los fora de casa na próxima rodada (LDU x Colo Colo e Palmeiras x Sport), sendo que não será impossível todos ficarem com seis pontos até lá. Eis o grupo do morte.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Dilma e a Folha
De novo sou obrigado a voltar ao debate sobre a crise na mídia. A bola da vez é uma bisonha teoria tecida pela Folha sobre o passado da Ministra Dilma Rousseff na luta armada - acusações estranhas e desconexas sobre uma série de coisas, todas assentadas em informações supostamente prestadas pelo cientista político Antonio Roberto Espinosa. Detalhe: Espinosa alega que houve distorção de boa parte do que ele disse e ainda por cima desafia o jornal a publicar a entrevista que ele deu na íntegra como ilustra Idelber Avelar em seu blog e como repercute nosso amigo Eduardo Prado em seu Conversa de Bar.
Somado a isso, o jornal ainda entrevistou a Ministra e, numa boa, acabou por comprometer mais ainda sua tese na medida que Dilma, sempre sensata e precisa, acabou por inverter o jogo como ilustra com propriedade Mauricio Caleiro em seu blog - principalmente no momento em que lembra o "ato falho" cometido pelo referido jornal há pouco tempo. Acusações como o fato de que seu grupo planejava sequestrar o ex-ministro Delfim Neto ou que ela teria delatado colegas - o que para infelicidade do Senador Agripino Maia não aconteceu.
Isso aqui é só mais um exemplo daquilo que eu não me canso de repetir: A mídia ganhou poder político e hoje tem a capacidade de estabelecer narrativas e não apenas publicar as narrativas que outros setores produzem. No caso em tela, no entanto, a Folha o faz com a sutileza paquidérmica própria de Otavinho no seu ímpeto em derrotar o PT custe o que custar - o que dificilmente cola no Brasil contemporâneo, onde pouco a pouco o coronelismo é varrido, mas talvez ache alguma ressonância na São Paulo de hoje, que vive algo muito parecido com o que foi 68 para os franceses, só que ao contrário.
Somado a isso, o jornal ainda entrevistou a Ministra e, numa boa, acabou por comprometer mais ainda sua tese na medida que Dilma, sempre sensata e precisa, acabou por inverter o jogo como ilustra com propriedade Mauricio Caleiro em seu blog - principalmente no momento em que lembra o "ato falho" cometido pelo referido jornal há pouco tempo. Acusações como o fato de que seu grupo planejava sequestrar o ex-ministro Delfim Neto ou que ela teria delatado colegas - o que para infelicidade do Senador Agripino Maia não aconteceu.
Isso aqui é só mais um exemplo daquilo que eu não me canso de repetir: A mídia ganhou poder político e hoje tem a capacidade de estabelecer narrativas e não apenas publicar as narrativas que outros setores produzem. No caso em tela, no entanto, a Folha o faz com a sutileza paquidérmica própria de Otavinho no seu ímpeto em derrotar o PT custe o que custar - o que dificilmente cola no Brasil contemporâneo, onde pouco a pouco o coronelismo é varrido, mas talvez ache alguma ressonância na São Paulo de hoje, que vive algo muito parecido com o que foi 68 para os franceses, só que ao contrário.
domingo, 5 de abril de 2009
Campeonato Paulista: O desfecho da 1ª fase
Acabou agora há pouco a primeira fase do campeonato paulista. No fim das contas nada imprevisível: Como eu já alertava lá atrás, os quatro grandes passaram adiante. Há dez rodadas atrás, se tivesse de apostar sobre quem e como estaria na segunda fase, a única coisas que daria errado era que eu imaginaria o Corinthians em segundo e o São Paulo em terceiro - quando na verdade acabou sendo o contrário. Vejamos como ficam os jogos das semi-finais:
Palmeiras x Santos
Na primeira fase foi um 4x1 para o Palmeiras. Hoje, o confronto quase não se repete porque o Santos entrou por um triz ao mesmo tempo em que faltou muito pouco para o Palmeiras perder a primeira posição. Do que se pode falar sobre ambos na primeira fase, o Palmeiras teve um início arrasador e parecia que ia assegurar a primeira colocação com uma ou duas rodadas de antecedência, mas a equipe caiu de produção nas rodadas finais e acabou garantindo o primeiro lugar, sem depender de outros resultados, apenas no segundo tempo da vitória suada de hoje contra o Botafogo-SP; o Santos alternou bons e maus momentos ao longo de campeonato e conseguiu a classificação só hoje, nas bacia das almas, com uma vitória apertada contra a Ponte em Campinas (3x2). A vantagem aqui fica para o Palmeiras, muito embora eu duvide que isso vá ser tão fácil quanto na primeira fase. O elenco verde é melhor e ainda pode jogar com o regulamento debaixo do braço - a esperança santista repousa, justamente, no fato do Palmeiras estar jogando simultaneamente a Copa Libertadores, por exemplo, um mau resultado contra o Sport no Recife pode "contaminar" o time verde para a disputa do estadual.
São Paulo x Corinthians
Na primeira fase 1x1. O tricolor começou o torneio com o freio de mão puxado, mas na reta final, germanicamente - como lhe peculiar - foi ganhando partidas e a vitória no clássico contra o Palmeiras o colocou na briga pelo título. Hoje, por detalhes, não mordiscou a primeira posição; o Corinthians, por sua vez, é o único invicto do torneio, mas empolgou pouco ao longo do torneio. Mostrou empenho, raça e disciplina, mas só mereceu um pouco de atenção nos jogos em que Ronaldo atuou com minímas condições. Portanto, suas esperanças moram no trinômio Ronaldo/dez operários/torcida. O São Paulo é um time tática e tecnicamente mais equilibrado e só perde essa vaga se for dia de Ronaldo, o que não é nem um pouco improvável, mas resta saber como está a condição física do fenômeno - ainda assim eu apostaria no tricolor.
A Crise e a Rússia
A Rússia, mais do que qualquer um dos outros BRIC's, foi afetada por essa crise mundial, para ser mais exato, ela foi atropelada por ela. A situação até o terceiro trimestre do ano passado era de um país que crescia há quase nove anos a taxas de aproximadamente 7%, possuia reservas em dólar consideráveis além de petroléo e gás - produtos que batiam preços recorde no mercado internacional - e que se não chegava ao protagonismo mundial de outrora, ao menos, voltava a fazer frente aos grandes do continente europeu. Não olvidando ainda que depois de anos de vexaminosas operações militares, seja contra afegãos ou chechenos, o país retomou o controle estratégico do Cáucaso e ainda deu um baile militar na Geórgia no caso da Abkhazia e da Ossétia do Sul. De repente, não mais do que repente, as coisas começaram a dar errado e a queda em espiral dos preços dos hidrocarbonetos revelou incongruências e fragilidades da economia daquele país. A que se deveria isso?
Para tanto, resta-me começar do começo. Basicamente, a URSS que nasceu em 1924 era um país agrário com algumas indústrias concentradas em alguns pólos específicos, mas, sobretudo, era um país arrasado pela Primeira Guerra Mundial e pelo processo revolucionário. A União Soviética não tinha nada, não produzia nada, era um Império Russo reduzido a um oitavo do PIB e sem nenhum poder sobre a Polônia. Curiosamente, poucos anos mais tarde, ela mandava cachorros, homens e satélites artificiais para o espaço, como explicar isso?
O fato é que o modelo de capitalismo in vitro que Stalin criou já no fim dos anos 20, era tão desumano quanto eficiente do ponto de vista material: O Estado enquanto grande empresa - e por meio de uma política violentamente autoritária - se apoderou da mais-valia produzida às custas da exploração sistetemática de trabalhadores rurais e urbanos que, por sua vez, era destinada à produção tecnológica, ao desenvolvimento extensivo da indústria - em especial para a bélica e aeroespacial.
Politicamente o país estava em frangalhos nos anos 50, não esquecendo o morticínio de 1914 até 24, nos anos 30 a ditadura stalinista varreu do mapa muitas das melhores mentes daquele país e, para completar a o desastre, a Segunda Guerra se encarregou de terminar o serviço deixando um rastro não menos cruento. Não havia, portanto, qualquer canal democrático capaz de canalisar essa produção tecnológica para o uso comunitário; o parque industrial russo voltava a sua carga para a indústria bélica e para indústria aeroespacial para agradar burocratas militares e exaltar o espiríto patriótico. Enquanto isso, o país não conseguia resolver os problemas de segurança alimentar e não fabricava bens de consumo razoáveis - aliás, Nikita foi defenestrado justamente pela oposição da burocracia militar aos seus planos de expansão da fronteira agrícola.
O país, claro, entrou em um período de desaquecimento do crescimento já nos anos 60, que se agravou nos anos 70 e se tornou em colapso nos anos 80, diante da debilidade de um Gorbatchiov em realizar as reformas econômicas necessárias ou ao menos manter o controle do país - leia-se, no entanto, que queda no PIB mesmo só veio a se registrar no período de Gorbatchiov. Enquanto Gorby fracassa, figuras bizarras como Boris Yeltsin travam uma luta pouco anamidora nos bastidores que resulta na vitória do segunda e na quarta hecatombe que aquele país viveu no século 20º: A queda do socialismo e a fragmentação da URSS.
O país, claro, entrou em um período de desaquecimento do crescimento já nos anos 60, que se agravou nos anos 70 e se tornou em colapso nos anos 80, diante da debilidade de um Gorbatchiov em realizar as reformas econômicas necessárias ou ao menos manter o controle do país - leia-se, no entanto, que queda no PIB mesmo só veio a se registrar no período de Gorbatchiov. Enquanto Gorby fracassa, figuras bizarras como Boris Yeltsin travam uma luta pouco anamidora nos bastidores que resulta na vitória do segunda e na quarta hecatombe que aquele país viveu no século 20º: A queda do socialismo e a fragmentação da URSS.
Discuta-se sob o ângulo ou perspectiva que se quiser, mas não há como pensar que as reformas produzidas por Yeltsin possam ter sido positivas: Ele permitiu o loteamento das estatais soviéticas nas mãos de jovens burocratas que tão logo se tornaram bilionários - e com isso, houve uma catástrofe humanitária, haja visto que os sistemas de saúde e previdência soviética estavam atrelados às estatais -, defendeu a Democracia tão somente quando esta lhe foi favorável, quando não, agiu stalinisticamente e mandou bala usando as Forças Armadas - que lhe foram fiéis do início ao fim do governo, entre outras tantas coisas.
Diante do desastre da era Yeltsin, os oligarcas forjados durante seu período no poder precisavam elaborar uma solução que salvasse o país que eles tanto lutaram para rapinar, mas cujo produto do roubo viraria ouro de tolo caso não achassem uma solução capaz para a governança; é aí que surge uma aproximação entre o grupo de Moscou e o de São Petersburgo, que culmina com a ascenção ao poder do grupo de reformistas vindo da Faculdade de Direito de São Petersburgo - antiga Leningrado -, de onde vieram Putin e mais recentemente Medvedev.
O governo Putin foi marcado pela volta não somente de algum tipo de projeto de nação como da construção de uma nova narrativa nacional baseada nas glórias do período soviético sob uma perspectiva nacionalista e também de uma revalorização do período Tzarista; também há de se ressaltar o redesenho da estrutura militar do país, pelo uso da alta do preço dos hidrocarbonetos como forma de reconstruir a Rússia e, sobretudo, pela maneira como ele criou uma espécie de modus vivendi para a oligarquia russa, pondo de certa forma ordem na casa e - defenestrando figuras Berezovsky e Khodorkovsky. Por outro lado, seu governo marcou um recuo nos avanços das liberdades individuais e coletivas bem como deu no surgimento de algo nefasto, que eu diria ser a prima-irmã da Democracia Relativa de Geisel: A Democracia Controlada.
Curiosamente, após dois mandatos presidenciais, ninguém quis endossar um terceiro mandato para Putin sob o risco de sofrer críticas do Ocidente, lá colocaram o jovem Dmitri Anatolievich Medvedev, Professor de Direito Civil de São Petersburgo, intelectual, uma figura sem muito carisma, mas com alguma competência administrativa - alguém que seria visto como razoável por aqueles que votaram em Alckimin na última eleição presidencial. Putin foi honrosamente eleito deputado como cabeça de lista de seu estranho partido, o Rússia Unida e foi referendado como Primeiro-Ministro. Enfim, a história da águia bifronte, nunca fez tanto sentido.
Das demais forças políticas russas, temos um cada vez mais insignificante e caricatural Partido Comunista da Federação Russa liderado pelo tosco Guennadi Ziuganov, os Nacionalistas liderados pelo folclórico Vladimir Zhirinovsky - uma espécie da Afanásio Jazadi russo - e coisas como o Partido Nacional-Bolchevique de Eduard Limonov - será que essa gente nunca leu o Manifesto do Partido Comunista para entender que ser nacionalista e comunista é contraditório?
Portanto, é nesse ambiente que a Rússia foi acertada bem no meio pelo trem-bala de Crise; entre os erros que foram cometidos estão a não construção de um sistema financeiro nacional sólido ao mesmo tempo em que o orçamento nacional foi baseado numa perspectiva onde o preço dos hidrocarbonetos se manteria alto. Ledo engano. Por ora, o impacto da Crise na Rússia seria o seguinte: Uma queda do PIB entre 4,5% e 5,6%, o que certamente gerará tensões políticas como não se via há muito tempo naquele país. Mais que isso, serão tensões que podem provocar mudanças muito profundas mesmo, mas eu não sei se elas serão para melhor...
quinta-feira, 2 de abril de 2009
Crise Mundial e a importância dos BRIC's
Logo após a queda da União Soviética e do bloco socialista, o nosso porvir estava traçado de forma irremediável e previsível segundo proclamavam os grandes ideólogos daquele momento: A História acabara e em virtude disso a luta de classes era coisa do passado, o Estado de bem estar social uma peça de museu na medida em que os governos não eram mais necessários e as empresas resolviam tudo, o G7, sob as bençãos dos EUA – o país que mandava porque voava mais alto e por isso via mais que os outros – se sentava à mesa e resolvia as questões do mundo enquanto os países de terceiro mundo deveriam se livrar de suas estatais ao mesmo tempo em que poderiam, quem sabe, dolarizarem suas economias.
Enquanto esses dogmas e tantos outros eram espalhados aos quatro cantos nos anos 90, a China e a Índia experimentavam um crescimento econômico respeitável; devido as profundas mudanças que permearam a China anos antes, seus habitantes experimentaram uma abertura econômica cada vez maior sob a égide de um capitalismo de Estado eficiente que enquanto gerava – e gera – um crescimento econômico gigantesco, também produzia – e produz - uma exploração pesada da mão-de-obra, do meio ambiente e da comunidade de um modo geral, ainda que tenha resultado no enriquecimento material e a melhora em algum grau da qualidade de vida de toda a população; os indianos que nunca experimentaram um socialismo formal como os chineses, mas adotavam um sistema de capitalismo estatizado altamente ineficiente, passou a elaborar saídas com a dinamização deste, sem, no entanto, abrir mão de um projeto de país ou sucumbir ao mercadismo ratasqueiro – realizando, por exemplo, um grande avanço na área de indústria e de serviços. China e Índia, permanecem crescendo bem até os dias atuais.
Do outro lado, Brasil e Rússia viviam momentos opostos a China e Índia; enquanto o nosso país vivia, desde os governos Collor e FHC, o desmonte do tripé clássico de sua economia (capital privado nacional/capital estatal/capital estrangeiro) se desequilibrar fortemente com os processos de privatização e uma abertura tresloucada que falia a indústria nacional – resultando em taxas de crescimento econômico anêmicas -, a Rússia, após o fim da URSS passava por um processo seguramente mais severo que o Brasil no que toca privatização de estatais – a famosa terapia de choque de Gaidar/Yeltsin – e ainda sofria um desmonte da sua rede de proteção social, o que implicou numa queda violenta da qualidade de vida no país, tendo, inclusive a expectativa de vida desabado ferozmente no período – e aqui, mais do que baixo crescimento econômico, viu-se uma depressão.
As coisas em ambos mudaram por meio de trocas de postos; Vladimir Putin, um ex-burocrata da KGB, professor de Direito Internacional em São Petersburgo é alçado pela oligarquia formada nos primeiros anos de capitalismo russo para salvar o país que eles usaram como instrumento de enriquecimento e agora poderia virar simplesmente pó – some-se isso a alta nos preços internacionais dos hidrocarbonetos e a Rússia de Putin experimentou um crescimento considerável, dentro de uma lógica de política nacional e com uma organização ainda que primitiva, mas superior ao que foi o infantilismo de Yelstsin; No Brasil, a eleição de Lula em 2002 resultou em uma síntese entre o sistema herdado com um retorno mínimo ao planejamento, à política nacional, a uma política externa mais independente e de certa maneira àquilo que denominamos por desenvolvimentismo com o PAC – resultando no fato de que o país passou, ao menos, a crescer no ritmo da economia mundial, enquanto sua média no anos 90 era de apenas 66% da média mundial.
O fato é que desses processo que surgiu o conceito de BRIC – o grupo dos mais expressivos países em desenvolvimento, denominado por conta das iniciais de Brasil, Rússia, Índia e China; em 2008, segundo dados do CIA World Factbook utilizando os dados do Programa de Comparação Internacional do Banco Mundial para se efetuar o cálculo da Paridade de Poder de Compra, constata-se que a economia dos quatro alcançou aproximadamente 21,7% da PIB mundial, o que é extremamente relevante se pensarmos que o PIB dos EUA fechou o mesmo ano girando em torno de 20,6% do PIB do mundo enquanto o da UE bateu em 21,1% . Em suma, a fantasia do G7 resolvendo os problemas do mundo foi por água abaixo, daí a importância realização de encontros de um G20: Não é mais possível sequer imaginar um debate sobre os problemas do mundo sem a presença dos principais países em desenvolvimento.
Mas nem tudo são flores; se os quatro terminaram 2008 ainda com um bom crescimento econômico, é bom não esquecer que já no final do ano eles sentiram os efeitos da crise e em 2009, o ritmo de todos eles cairá; ainda assim, o Brasil deve manter-se pouco acima da média mundial ao passo que China e Índia devem se manter crescendo acima da média mundial – a China deve crescer esse ano por volta de 6,5%, muito pouco para os 9% ou 10% dos últimos anos, mas certamente algo espetacular nesse não muito admirável mundo novo. O que preocupa aí - e muito - é a Rússia; a queda do preço dos hidrocarbonetos teve um impacto pesado sobre a economia do país e o governo se mostra mais paralisando na gestão dos efeitos da crise do que a média – fala-se em um queda entre 5,6% e 4,5% do PIB do país, o que pode ter um impacto político significativo e gerar tensões perigosas na região pós-soviética, ainda mais se ponderarmos que os seus vizinhos também estão com profundos problemas. Em breve, falarei mais da Rússia e da Índia, na medida em que já tratei de Brasil e China, por ora, deixo essa vista panorâmica da situação.
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