domingo, 29 de janeiro de 2012

Aniversário de Três Anos d'O Descurvo

O Tapete Voador de Vasnetsov


Hoje, este blog completa três anos. De 2009 para cá muita coisa aconteceu, foram anos intensos sob o efeito de uma crise global que mudou profundamente nossas certezas. Se os nossos pais viveram em um mundo disputado por dois projetos de futuro, hoje vivemos em um no qual não há mais projeto algum - o que é terrível na medida em que isso se deu pelo fracasso recíproco de ambas as vias, mas ironicamente permite à nossa geração, pela primeira vez em séculos, operar uma verdadeira transformação.

Esses três anos também equivalem à boa parte da minha estadia na graduação - que se encerra este ano, ou seja, até Dezembro, estarei definitivamente no mundo cão. O que eu escrevi por aqui retrata, portanto, o meu amadurecimento pessoal, político e intelectual. Isso sem falar nos bons encontros que ele me proporcionou e me proporciona. Não à toa, eu tenho uma inegável e profunda relação afetiva com este espaço. É um dos poucos lugares onde eu consigo dar vazão à minha potência produtiva e onde eu consigo ser feliz.

O blog segue (bem) acompanhado por sua pequena e fiel multidão de leitores/comentaristas, registrando aumentos constantes de movimento a cada ano, o que me anima a continuar produzindo firme por aqui, superando todos os sacrifícios que um blogueiro precisa fazer - seja no que diz respeito à própria sustentabilidade de um espaço autoral e que não resulta em retornos financeiros, ou mesmo naquilo que concerne ao desafio constante de manter a crítica afiada e, ao mesmo tempo, escrever para mais e mais pessoas.  

Neste último ano, acompanhamos atentamente a revoada de movimentos libertários pelo mundo, a começar pela Revolução dos Jasmins na Tunísia, que derrubou o ditador Ben Ali e serviu como pedra de toque para a chamada Primavera Árabe e, dali, para o movimento global Occupy. Ditaduras aparentemente inatingíveis caíram, mas foi mais do que isso: a própria tirania em si mesma foi posta em xeque. 

Enquanto isso, no plano interno, assistimos ao primeiro ano do pós-Lula, ainda que nas mãos de uma adversária direta da ditadura, trata-se de um verdadeiro corte histórico: pela primeira vez somos governados por uma mulher, pela primeira vez a governança se debate com a ascensão efetiva de setores que estavam incluídos marginalmente na nossa sociedade. A radical mudança no plano interno brasileiro choca-se com a mudança extrema no plano global e as consequências são imprevisíveis.

2012 começa com uma virada. Seja à reação aos ventos da liberdade ou uma nova etapa do capitalismo global: lembremos que a crise eclode no mercado imobiliário americano, um dos principais pilares do New Deal: A implosão do mercado imobiliário americano deflagra uma crise que é ao mesmo tempo macroeconômica - falência de bancos, imobiliárias e seguradoras - e social - milhões de pessoas correndo o risco, ou mesmo perdendo, de perder sua casa.  A crise é na Vida, não simplesmente no "econômico" ou no "social".



No Brasil, em ano de eleições municipais, não existe pauta mais nacional do que a questão local da moradia. Embora não tenhamos vivido uma experiência semelhante à da construção do sistema imobiliário americano, que ora morre, assistimos à nossa falta de política para a área explodir simultaneamente ao estouro da bolha que os nossos irmãos do norte criaram para dar conta do mesmo problema.   


Tanto é que a dois meses temos nos debruçado sobre essa problemática. O post mais lido do Ano III foi, precisamente, Dez Mentiras que Cercam o Pinheirinho, curiosamente, o mais recente deles - e o que mais gostei de escrever, ainda que diga respeito a um evento que eu preferia que não tivesse acontecido.


Portanto, o Ano IV deste blog, se inicia voltado para a cidade - como ambiente de coexistência primeiro e central da nossa cultura, naquilo que ela se entrecruza com a atual crise global, usando isso como artifício para desdobrar os binarismos local-global, dentro-fora, micro-macro e outros tantos. Segue aí a lista de posts mais lidos no Ano III segundo as estatísticas do blog:


Dez Mentiras que Cercam o Pinheirinho (Janeiro de 2012)
A Revolução Árabe: Líbia (Fevereiro de 2011)
O Corpo, a Mulher e o Egito (Novembro de 2011)
O Verdismo e o Nosso Tempo (Fevereiro de 2011)
O Papel dos Intelectuais no Contemporâneo (Outubro de 2011)
 A Tragédia do Rio (Abril de 2011)
Em Defesa do Pinheirinho (Janeiro de 2012)

O Google, o Facebook e o Twitter, nessa ordem, foram as maiores fontes de tráfego para cá, como é natural que seja. Na blogosfera, aqueles que mais enviaram público para cá foram o saudoso Biscoito Fino e a Massa de Idelber Avelar - e recentemente seu blog no portal da Revista Fórum, Outro Olhar -, o blog do João Villaverde e o Quadrado dos Loucos do Bruno Cava. 


É isso, minha gente, vamo que vamo.

10 comentários:

  1. Meus parabéns, Hugo. Aprecio muito os seus escritos, continue o bom trabalho!

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  2. Hugo,

    parabéns pelo trabalho. Sigo leitor assíduo, sempre impressionado pela qualidade dos textos e pela profundidade reflexiva em alguém tão jovem.

    Espero que o blog siga firme por mais longos anos. A blogosfera anda encarecida de bons espaços de análise, e o Descurvo tem sido um oásis em meio à mediocridade.

    Abraço,

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    1. Valeu, André. E a leitura assídua é recíproca, meu querido.

      abraço

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  3. Parabéns, Hugo! Apesar de sua humildade, construiu um dos melhores espaços na blogosfera brasileira nesses últimos anos.

    Abraços!

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    1. Obrigado, Luis, grande parte disso se deve a participação de vocês!

      abraço

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  4. Desde aquele café no apê 34 da Rua Augusta, ocasionado pela ideia de reunião de tweeters do Murilo, passei a ler quase que diariamente o blog. A crítica aqui é certeira. Produção intelectual autêntica e autônoma. Vida longa ao Descurvo!

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    1. Valeu, Rafa. A leitura também é recíproca. Aliás, muito bacana aquele dia. Precisamos marcar outros cafés para trocar ideia com o pessoal!

      abração

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