quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

São Marcos se Aposenta


E ontem, encerrou a carreira Marcos, o maior ídolo palmeirense desde a Academia, goleiro do Penta e não só o maior goleiro que eu vi jogar, mas também uma figura rara em tempos bicudos: São Marcos foi o último ídolo comum a todas as torcidas que se tem notícia. Não, não é só de excelência técnica e lealdade ao seu clube que tratamos quando falamos sobre ele, é de algo que supera isso em muito. Marcão conseguiu desenvolver uma ética dentro de campo, com sua simplicidade, franqueza e garra que o fazia ser essa figura - e não um consenso fabricado pela indústria do marketing futebolístico, tão falso quanto são os garoto-propaganda do Joga Bonito. Qual outro ídolo rival, ainda mais com histórico de seu algoz, tem o respeito de uma torcida como a corintiana quanto Marcos? Podemos enumerar pouquíssimos ao longo da História, talvez Pelé e gente desse mesmo quilate. Nos últimos tempos, certamente ninguém. E a carreira de Marcos foi um mar de emoções. De grande responsável pelo maior título palmeirense, a Libertadores de 99, à tristeza da final do mundial contra o Manchester United - e os anos inglórios pelos quais o alviverde ainda passa. Das defesas impossíveis que tiraram do Corinthians a Libertadores tanto em 99 quanto em 2000 até as contusões sem fim, não hesitando em ir a campo com dor nos últimos anos. Goleiro do Penta, porque foi bancado por um gaúcho teimoso devido apenas e tão somente às suas qualidades - e não por sua evergadura política de bastidores, proteção da CBF ou de algum grande patrocinador como os nossos últimos guarda-redes. A primeira vez que vi São Marcos jogar foi em um de seus primeiros jogos como titular - à época, substituindo o épico Veloso - lá pelos idos de 96, naquela máquina que Luxemburgo montou: uma vitória de 4x0 sobre o Botafogo de Ribeirão Preto, com direito à penâlti defendido. Aquele jogo, como costumam ser os jogos da nossa meninice, nunca me saiu da cabeça, e talvez por isso não tenha me desesperado, como a torcida se desesperou, quando soube-se que Veloso não poderia jogar o mata-mata da Libertadores de 99, contundido que estava. E ele não me decepcionou. Assistir a aposentadoria de Marcos me dói , é sinal que o tempo passa - cada vez mais rápido do que antigamente até. De repente, o templo do Palestra, onde eu o vi jogar tantas vezes, já foi demolido para a construção de uma Arena - que não terá o privilégio de tê-lo em seu gramado. É a vida, envelhecer é também ver seus ídolos se aposentando. Obrigado, obrigado mesmo, São Marcos.


2 comentários:

  1. Vai-se talvez o último dos jogadores realmente identificados com a paixão que a torcida brasileira tem por seu time. Perto do Marcos fica ainda mais transparente a falsidade das declarações de amor que tantos outros jogadores fazem a seus times. Não se trata de questionar a qualidade desses jogadores, mas sim o teatro grotesco que eles e os dirigentes fazem em nome de alimentar a paixão do torcedor apenas porque ela representa dinheiro no bolso deles.

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  2. Sim, Paulo. Marcos não foi apenas um grande jogador sob critérios de excelência técnica - afinal, ser craque craque exige muito mais do que isso -, mas pela função simbólica que ele desempenhava - e que transcendia o Palmeiras e se espraiava por todo futebol. No fim das contas, ele era um contraponto curioso, quase como um jogador das antigas perdido no tempo, ao mundo dos holofotes e do marketing futebolístico.

    abraço

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