domingo, 13 de dezembro de 2009

Os Desdobramentos da Crise do DEM

(imagem retirada daqui)

O DEM é uma longa e confusa história: Ele se chamava até bem pouco tempo PFL, uma cisão do PDS, nome que a ARENA tinha assumido no final dos anos 70 - e essa última agremiação, por sua vez, era o partido oficial da Ditadura Militar criado para reunir os apoiadores do regime quando o ato institucional nº2 pôs fim aos partidos existentes dando origem a um artificial bipartidarismo. Em suma, ele nasce daquela agremiação que deveria ser a base parlamentar do regime na farsa institucional decorrente do Golpe de 64.

O
PFL nasce pelas mãos de alguns nomes como ACM, Jorge Bornhausen e Marco Maciel, todos apoiadores da Ditadura do início ao fim e democratas de última hora, produzindo uma cisão no PDS só mesmo quando o barco afunda ao apoiar a candidatura de Tancredo pelos motivos errados. Eles indicam Sarney como vice e, depois da fatalidade da morte do titular, ganham mais ainda com a transição - especialmente no que toca tudo que envolve as concessões de telecomunicações -, gravitaram em torno de Collor e depois ganharam ainda mais em cima do Governo FHC, atingindo seu auge político.

O partido, se declarando cinicamente como centrista, toca adiante uma política de decididamente de direita, que não é exatamente um último eco do Brasil velho, mas sim ele próprio em pessoa, se representando e lutando para garantir que as mudanças inerentes ao caminhar da história e às demandas da política não o alterem em essência. Isso explica a sua adesão à Nova República e depois ao Tucanismo, em todas as ocasiões subvertendo as instituições e anestesiando o potencial transformador presente no fim da Democracia ou mesmo na eleição de FHC - como se fosse um gramscianismo de sinal invertido.

O fato é que a desgraça do partido começa com certas atribulações no segundo mandato de FHC, quando desentendimentos com os tucanos suscita que o PFL ficaria relegado a uma posição de permanente coadjuvante na coalizão governista - que naquele momento, ainda por cima, já sofria os efeitos da reprovação popular em decorrência de seus fracassos econômicos. Além, claro de controvérsias internas sobre o lançamento ou não de candidato próprio para a presidência e a própria sabotagem da candidatura presidencial de Roseana Sarney em 2002. O apoio de sorriso amarelo do partido, rachado, a Serra resulta numa diminuição na sua bancada no Congresso e depois o mesmo se vê em 2006.

Claro, o maior golpe ao PFL foi o desmonte do esquema político de ACM no nordeste com a derrota do candidato do próprio na Bahia e de seus asseclas pelo nordeste, o que força o partido a uma modificação meramente estética, seja com a mudança de nome ou com a tática de alçar seus nomes jovens - ou nem tanto - na linha de frente do partido. Aí, surge o DEM, primeiro partido a não ter partido no nome desde a volta do pluripartidarismo (79) e não ter um acrônimo como sigla, mas suas inovações param por aí. Isso também não evita a profunda derrota eleitoral do partido nas municipais de 2008, onde tirando a vitória bisonha de Kassab em São Paulo - por questões conjunturais e a própria incompetência petista.

Agora, o escândalo de José Roberto Arruda, governador do Distrito Federal - e único governador eleito pela legenda em 2006 - é mais uma pancada na agremiação; Arruda contava com uma boa avaliação ao mesmo tempo em que articulava uma série de esquemas que agora vieram à tona e comprometem muito mais do que a sua administração isoladamente, mas também a cúpula do seu partido, - assim como os nomes de Michel Temer e do próprio Serra que estava articulando a presença de Arruda como o seu vice na eleição presidencial de 2010.

Isso paralisa o DEM às portas de 2010; longe de mim acreditar que tudo será solucionado ou que as devidas punições serão realizadas, mas em parte, algumas cabeças irão rolar - de um modo como não aconteceria há dez anos atrás - e isso terá sim um ônus político pesado para o DEM, haja que vista que esse escândalo forçará seu principal aliado, o PSDB, a repensar sua política de alianças, um desastre já que a agremiação demista anda a reboque dos tucanos em boa parte do centro-sul do país. Isso trará dificuldades para os interesses do Brasil velho, há tempos dependente de uma aliança com certos setores da burguesia brasileira organizados em torno do PSDB.

As chances de um Arruda vice de Serra foram para o vinagre, sendo que a própria cabeça do governador do DF rolou dentro do partido - mesmo sob as ameaças de levar muitos dirigentes demistas junto, o que já está se confirmando - e, pelo andar da carruagem, isso também tornará praticamente impossível a presença de outro demista na chapa de Serra, o que não acaba com o descalabro dela, mas ajuda a freia-la. Isso é bom para a democracia brasileira.

Um comentário:

  1. Gosto de visitar as discussões daqui.
    Não sei se voce visita o blog
    http://www.rudaricci.blogspot.com/
    mas lá também tem discussões interessantes, como:
    "Ainda sobre o raquitismo da direita brasileira"
    []
    André

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