Economia e Política Internacionais
É verdade que a poeira ainda não abaixou por completo em relação à Crise Econômica Mundial, mas muita coisa já está suficientemente claro. Em primeiro lugar, a atual Crise põe termo àquela espécie de análise econômica assentada unicamente na lógica matemática - e com pretensões pitonísticas; se uma coisa que o atual momento provou, é que qualquer coisa cabe numa planilha de cálculos, nem é preciso omitir variáveis para se dirigir um resultado desejado, basta dar o peso necessário para elas de modo a chegar ao ponto pretendido - e mesmo partindo da premissa de uma postura ética do analista, essa própria metodologia se esvazia numa economia mundial cada vez mais complexa, na qual o exercício de chegar a formulações razoáveis depende cada vez mais de especulações filosóficas que podem, eventualmente, usar o instrumento matemático, mas que não se limitam a isso de modo algum como também não podem ignorar as relações de poder.
O Capitalismo Global, por sua vez, se vê às voltas com a necessidade premente de uma reorientação; se ele nasce na esteira do fim da URSS, momento no qual o Estado-nação deixa, definitivamente, de ser a estrutura necessária para a manutenção do Capitalismo - para ser tão somente o instrumento necessário para seu desenvolvimento -, agora ele se vê diante de uma realidade na qual tais instrumentos só são eficazes caso sejam (a)suficientemente grandes para dirimirem certas contradições tóxicas e, por outro lado, (b) sejam capazes de se integrarem cada vez mais, apontando, quem sabe, para a consolidação de uma superestrutura global que consiga ser capaz de suporta-lo enquanto sistema. Em suma, se a Crise Mundial aponta para o fracasso de um sistema econômico mundial sem organismos políticos capazes de normatizar o sistema - deixando, assim, tal normatização para as redes de trabalho formadas pelos agentes de mercado ao sabor do momento e dos interesses -, por outro lado, ela também apontou o fracasso do chamado "Estado mínimo", como os resultados econômicos provam: Estados grandes e intervencionistas como Brasil e China se saíram relativamente bem, enquanto EUA, Rússia e México comeram poeira.
Há também dois marcos muito pesados: Japão e a União Europeia, dois modelos econômicos de sucesso construídos na esteira da reorientação do Capitalismo mundial do pós-Guerra, tombaram. Envelhecimento da população, dificuldade em se desgarrar do cobertor e das estruturas americanas, ausência de ideias e um vácuo de lideranças, pôs dois dos maiores centros de poder - econômico, mas não político no caso do primeiro e cada vez menos no caso do segundo - do mundo em dilemas que transcederam ao atual momento. A UE, modelo particularmente bem-sucedido de planificação continental na história humana, não consegue, no entanto, se livrar das histerias nacionalistas sempre que se vê diante de uma crise e não consegue produzir um consenso necessário para o aprofundamento político necessário ao processo.
Dos Bric's, a China emerge fortalecida da Crise, mantendo sua alta taxa de crescimento em um ano no qual teve de fazer uma realocação pesada do direcionamento de sua produção, sendo obrigada, a toque de caixa, a fortalecer o mercado interno diante do diminuição do mercado externo - que garantia uma política tão cômoda à tecno-burocracia que controla o país. Por outro lado, a Crise também mostrou o quanto as fissuras políticas do país ainda graves, no momento crítico da crise, as tensões no Xinjigang mostraram a falta de coesão do país e a incapacidade hegemônica no Estado chinês, incapaz de gerar mecanismo de controle mais sofisticados do que velho uso da força. A Índia prosseguiu crescendo a despeito da Crise Mundial e, tranquilamente, vai se tornando peça-chave para o jogo de poder no oriente. A Rússia, por sua vez, deu mostras de fragilidade, o grande pacto entre os oligarcas que forjou o putinismo no fim dos anos 90 já havia mostrado certo abalo quando o grande gerente do projeto foi rebaixado a primeiro-ministro e terminou, em plena crise de hegemônia, atropelada pela Crise, seja pelo sistema financeiro primitivo ou pela sua extrema dependência da exportação de hidrocarbonetos.
O Brasil é um dos Estados que emerge vitorioso dessa conjuntura. Foi afetado agudamente pelos efeitos da Crise Mundial por quatro meses, mas depois do abalo começou a registrar recuperação já em abril. O emprego e a renda salarial foram pouco afetados e se recuperarão até o final do ano, o crescimento restará freiado pela debaclé do mercado externo, mas retomará seu ritmo ano que vem. Também consolidou seu posicionamento no exterior. No fim das contas, o país conseguiu aproveitar parte das oportunidades que a divisão global do trabalho poderia já lhe dava antes, mas que não conseguia fazer uso por conta da não resolução de certas contradições em suas superestruturas. Ainda resta com muitas contradições em aberto, mas o efeito da recuperação depois de anos de estagnação econômica tem um peso relevante.
Na América Latina, vitórias dos setores progressistas se concatenam da Bolívia ao Uruguai, incertezas predominam no Chile. Cuba mantém um plano de abertura e sua posição se altera no continente graças certa realocação de forças, mas o grande fato do continente, acabou sendo o golpe em Honduras, no qual nos vimos novamente às voltas com a figura do Golpe Militar.
Brasil
Como dito, o ano se iniciou debaixo da sombra da Crise. A oposição, seja o bloquinho de direita, seja a esquerda - notadamente o PSOL - apostaram no catastrofismo e no fracasso do Governo. Como toda tática catastrofista, os riscos são imensos, se tudo errado, basta pôr a culpa no seu adversário, mas resta a dura missão de governar, se não der, o impacto político negativo é normalmente muito grande. É sabido que a direita brasileira tem, unicamente, projeto poder e ao rufar tambores nesse sentido, apenas desviou o foco e se deu mal. Aquilo que está à esquerda do PT, por sua vez, não tem uma projeto coeso e unificado, concordam apenas naquilo que discordam em relação aos últimos vinte anos e para superar isso, apostaram naquilo que é consensual em seu meio: A oposição a Lula - e também se deu mal, como seu peso eleitoral é pequeno, isso já se refletiu, por exemplo, na atitude do PSOL não lançar candidatura própria e apoiar Marina Silva.
O Governo Lula, por sua vez, não conseguiu dirimir as contradições sociais centrais da nossa sociedade, mas conseguiu superar um momento consideravelmente complicado, o que, colocado em perspectiva com o primeiro biênio do Segundo Mandato, acabam se materializando numa popularidade absurdamente alta de Lula. Some isso ao fortalecimento do Brasil no plano internacional e temos premiações como de Homem do Ano pelo Le Monde e a aclamação do líder brasileiro também no exterior. Isso teve um impacto muito forte na direita que, apoiada pela mídia corporativa, antecipou o clima eleitoral e partiu para o ataque de forma pesada, baixa e, até o momento, ineficaz.
No espaço da oposição quem se fortaleceu como líder, usando-se do cargo de governador de São Paulo e da sua habitual tática de esmagamento de rivais dentro do próprio partido, foi José Serra. Apoiado por parte do grande capital paulista, pelo oligopólio midiático e pelas oligarquias rurais, ele venceu a tensão interna no partido contra o governador mineiro Aécio Neves, mas agora, graças a manobra final de seu adversário, terá de decidir a eleição - enquanto isso, Aécio vai para uma segura candidatura para o Senado e dará tanto apoio a Serra quanto o segundo deu a Alckmin em 2006, planejando emergir do processo como o novo líder da direita.
Por ora, Serra lidera as pesquisas eleitorais, o que é normal no Brasil, afinal, o eleitorado que normalmente declara intenção de voto um ano antes é aquela parcela que já está mobilizada, nomeadamente a oposição - se Serra detém 38% das declarações de intenção de voto, não é motivo para comemorar, afinal, trata-se da quantidade de votos que a direita - entenda-se, militantes ativos e simpáticos aos seus ideais - tem no Brasil mais os votos de alguns poucos centristas. Conjugando isso à popularidade de Lula, o governador paulista aparece numa liderança ainda instável como Marta Suplicy esteve nas eleições municipais de 2008 em São Paulo.
Muita água há de rolar em 2010, mas em 2009 O PT saiu no lucro como nos dois anos anteriores. Lula, aliás, bem mais do que o seu partido.
Mídia
Com a expansão da Internet no Brasil, processo que se radicalizou nos últimos anos, as relações entre os cidadãos e a mídia se alterou brutalmente. Se em 2007 a blogosfera se afirmou como um canal importante, em 2010 ela terá um peso extremamente grande sobre as eleições gerais. A mídia corporativa tradicional, por sua vez, experimenta um período de decadência acentuado, onde não apenas sua credibilidade caiu como também surgiram meios para que as pessoas possam denunciar e se insurgir contra isso. O editorial da ditabranda Na Folha de São Paulo e a consequente reação a ele - organizada quase que exclusivamente dentro da Internet - são provas desses novos tempos. Por outro lado, o advento do Twitter foi um ponto a se notar, modificando, inclusive, as relações dentro da blogosfera, tornando a difusão de informação mais rápida, mas deixando em consequência, o espaço para debates e discussões mais rarefeito.
Esporte
Em ano intermediário entre Olímpiadas e Copa do Mundo, a grande novidade ficou por conta da vitória do Rio de Janeiro na disputa para sediar as Olimpíadas de 2016, o que fará com que o Brasil sedie as duas principais competições esportivas do planeta em dois anos - a Copa do Mundo de Futebol será sediada aqui em 2014 - tal como aconteceu com os EUA em 1994/96 - Copa do Mundo e depois com as Olimpíadas de Atlanta.
No futebol, Dunga surpreeendeu e, discretamente, com uma seleção cada vez mais estrangeira na residência, Classificou o time antecipadamente para a Copa da África em primeiro lugar, na esteira de bons resultados, inclusive do título na Copa das Confederações.
Entre os clubes, o Barcelona conseguiu seu primeiro título mundial, batendo o melhor time em décadas do Estudiantes de La Plata - que, por sua vez, havia superado, com certa injustiça, o Cruzeiro na Libertadores. No Brasil, os dois principais campeonatos nacionais foram vencidos pelas duas principais torcidas, a Copa do Brasil ficou com o Corinthians enquanto o Brasileirão ficou com o Flamengo - sendo que o último acabou com um jejum de 17 anos.
Curiosamente, o Internacional de Porto Alegre, em pleno do seu centenário, acabou acumulando o vice de ambos os torneios. O Vasco ressuscitou das cinzas e venceu a Série B. O São Paulo, mesmo sem títulos, prosseguiu sua trajetória de bons resultados e estará na Libertadores novamente em 2010. A parceria do Palmeiras com a Traffic novamente foi um fiasco, desta vez, não veio um título sequer e a refugada na reta final do Brasileiro deste ano poderá consequências negativas para 2010.
Concluindo
2010 será, por certo, um ano mais agitado, com a Copa do Mundo e as Eleições gerais mobilizando o cardápio dos fatos e factóides relevantes. Espero que estejamos juntos lá, debatendo e questionando as coisas aqui n'O Descurvo.
Hugo,
ResponderExcluirUma bela síntese deste ano que termina.
Pois, é! 2010 promete!