sexta-feira, 1 de janeiro de 2010
Dia da Confraternização Universal
Primeiro de Janeiro de 2010. Teremos um ano (muito) quente pela frente. O Mundo, não nos enganemos, ainda ferve com os efeitos da crise econômica e disso emergirá uma nova ordem, uma nova correlação de forças que dificilmente será estável - o capitalismo global não deixa de ser Capitalismo, portanto, ele não perdeu suas principais características como seu caráter contraditório e sua natureza assentada numa forma de exploração permanente.
O que está em jogo agora é que não há mais contradições nacionais, elas são globais - assim como não há exploração circunscrita ao espaço nacional - elas estão integradas a um teia global, a uma divisão global do trabalho - e não mais internacional, o Estado-nação perdeu sua centralidade e de estrutura necessária para sustentar os diversos sistemas capitalistas, ele se tornou apenas um instrumento para sustentar o sistema capitalista.
Nesse contexto, boas perguntas podem ser feitas, antes de pensar onde estamos - duvido muito que em terra firme -, por que não perguntar onde estávamos e porque estávamos? Situar-se é uma tarefa difícil dentro de um sistema no qual onde tudo é precário e provisório. Ainda assim, é uma tarefa necessária e possível, na qual recorrer ao exame da História nunca é demais.
Onde nós estávamos há um ano atrás? Não seria na época em Israel bombardeava de maneira inclemente a Faixa de Gaza? A guerra como o negócio que sustenta um poderoso oligopólio, a guerra como meio de sustentação para grupos políticos, a guerra real virtualizada e tornada um produto da indústria midiática global. O imperialismo cultural do ocidente em forma bélica disfarçado de cosmopolitismo.
Onde nós estávamos há dez anos atrás? Na posse de Vladimir Putin na Rússia, quando o controverso político russo - a ponte entre a antiga KGB, os oligarcas e o Estado - teve sua liderança outorgada pelo seu desastroso sucessor. Aliás, em 2009, foi-se o tragicômico Yegor Gaidar, ministro de Estado catastrófico de catástrofes mil da Rússia, papagaiador da escola austríaca - convertido depois de ter largado o métier de burocrata por força dos fatos.
Que fazíamos há um ano no Brasil? Não se contorciam as nossas vísceras de medo sobre o que a Crise Mundial nos provocaria? E não é que a tal divisão global do trabalho somada às políticas do atual governo superaram tudo tão estranhamente rápido? Onde estávamos há dez anos? Por certo, quebrados por uma crise muito menor do que essa.
De um modo ou de outro, certas contradições ainda envolvem o nosso meio, afinal, há mais de vinte anos nos vemos às voltas com a construção de uma síntese decorrente da tensão dialética entre a ordem jurídica modernosa de 88 e o nosso caquético sistema político. Em suma, uma coisa não anulou a outra, talvez tenhamos mudado tudo sem mudar nada com momentos de mais ou menos aperto, somente.
Em 2010 a História continuará a rolar - ao contrário do que diziam aqueles que espalhafatosa e prematuramente anunciavam sua morte - talvez de um modo mais agitado: O que será do mundo pelos próximos dez ou quinze anos se desenhará com a poeira que baixará este ano da crise mundial e o que será do contraditório Brasil sairá da escolha popular, ao final do ano, entre o partido da ordem e o partido do progresso - e creio que Benjamin tremeria diante de um cardápio desses.
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