(foto retirada daqui, afinal, o riso é a melhor saída de vez em quando)
Morreu Erasmo Dias, militar, político e figura emblemática da Ditadura Militar - seja por ter sido um de seus mais convictos apoiadores ou por ter sido um dos principais artífices da doutrina de segurança pública do Regime. Erasmo, no entanto, ganhou notoriedade por ter comandado a invasão da PUC de São Paulo no ano de 1977 - uma retaliação da Ditadura ao Movimento Estudantil que visava reorganizar a União Nacional dos Estudantes e realizava um ato público em frente à universidade.
A PUC foi invadida e mensagens subversivas encontradas nos devidamente destruídos centros acadêmicos - como "por uma nova constituinte" ou "democracia já" - foram exibidas como troféus de batalha e, ao mesmo tempo, prova da justiça da causa e nobreza da missão. Isso foi, sem dúvida, um dos eventos mais relevantes da história do Movimento Estudantil nacional e também um ponto de inflexão na história da PUC que, naqueles duros tempos, ousava não apenas ser democrática e livre internamente como também er o principal ponto resistência à Ditadura e luta pela Democracia na Academia.
Tive uma professora que esteve presente no dia da invasão e assegura que foi uma das coisas mais horríveis que ela presenciou: A violência das tropas atacando a todos, as bombas, o desespero de muitos estudantes que se jogaram dos andares superiores e o ataque a biblioteca - com esse último ato, Erasmo conseguiu a proeza de concordar com Rosa Luxemburgo no que toca à frase Socialismo ou Barbaríe, mas, claro, ele optou pelo o lado oposto ao da pensadora polonesa.
No fim das contas, tem horas que a gente esquece que existiram - e ainda existem - figuras como essa no nosso meio. É inacreditável a negação sistemática da verdade que eles cometem e como - esse daí, por exemplo - repetiram tantas vezes as suas mentiras que se tornaram parte da ficção doentia que ajudaram a elaborar: Erasmo jamais se arrependeu do que fez e manteve exatamente a mesma retórica dos anos 70. Enfim, já foi tarde.
Já foi tarde, muito tarde! Que sua morte tenha sido dolorosa e que ele sofra pela eternidade pelos crimes que cometeu!
ResponderExcluirA PUC está em festa!
É verdade, temos motivos particulares para estar em festa - ainda que com a vergonha de saber que a última invasão da tropa de choque foi arquitetada de dentro; antes tínhamos uma Ditadura para nos oprimir, hoje, nós mesmos nos oprimimos.
ResponderExcluirHugo,
ResponderExcluirBelo post. Quando estive na PUC para um congresso, o ano passado, fiquei imaginando como deve ter sido horrível a repressão ali, naquele espaço sem escapes, relativamente estreito e cheio de declives.
O Nassif uma vez postou sobre a reação da então reitora, que teria negado a mão estendida de Erasmo para ajudá-la a sair e a quem ele teria se dirigido dizendo: - "Não se preocupe que o Estado paga os estragos", ouvindo como resposta algo como: - "Há coisas que o dinheiro não paga".
Um abraço,
Mauricio.
Hugo,
ResponderExcluirFaço minhas as suas palavras: Já foi tarde!
Maurício,
ResponderExcluirSim, foi horrível. Hoje mesmo, estava no CA de manhã conversando com uma ex-aluna - dos tempos da invasão - e ela me contava sobre a brutalidade da invasão e do estudante que foi morto na invasão do nosso CA - e os militares ainda deixaram o violão do CA partido ao meio e pendurado no teto.
E, sim, a geografia da PUC tornou ajudou as tropas invasoras a ferirem mais pessoas e gerarem mais pânico.
Aliás, a reitora em questão é Nadir Gouvêa Kfouri, ainda viva, que, sem qualquer sombra de dúvidas, foi uma das pessoas mais honradas a ter dirigido uma grande universidade brasileira em todos os tempos.
abraços
Eduardo, sim, meu velho, já foi tarde e respondeu por quase nenhum dos muitos crimes que cometeu.
ResponderExcluirO Coronel Erasmo Dias em 1977,apenas estava cumprindo a lei,quando invadiu a PUC, na função de Secretário da Segurança Pública.A ação era necessária,pois atos públicos estavam proibidos pelo sistema legal da época.Houve violência da polícia, mas à ação dos estudantes, que não eram santos,correspondeu uma reação.
ResponderExcluirAnônimo,
ResponderExcluirMuito espirituosa a piada. Os nazistas também alegavam que só estavam cumprindo a Lei. Antes de mais nada, convém considerar que a Lei não pode ser cumprida irracionalmente, afinal, ela é apenas um meio - político, aliás - do Direito ser concretizado e sua validade se fundamenta, antes de mais nada, na legitimidade do processo que a produziu - tanto no aspecto político quanto filosófico.
O debate em questão, no entanto, nem é tão profundo. Se considerarmos que a História começou no Primeiro de Abril de 64, realmente, Erasmo Dias cumpria a Lei. Não é o caso, convenhamos. O Brasil vivia sob a sombra de um Golpe de Estado em 64 que resultou em uma ditadura. Toda aquela legislação não era, portanto de Direito, pois decorria de um ato político contra o Direito e a Democracia que se concretizou em contrariedade à Lei vigente. Quem desrespeitou a Lei, portanto, foram Erasmo e seus chefes e Erasmo não pode ser apontado como mero cumpridor de ordens, pois era um dos ideólogos do regime. A ação era necessária para manter a exceção e sendo a exceção um erro, ela era errada também. Sobre os estudantes não serem santos, eu concordo, eles eram apenas humanos.
Hugo,
ResponderExcluirVocê é muito educado. Se o comentário acima é mesmo uma piada, ela é tão ruim que o autor nem teve coragem de assinar.
A Wikipédia já traz um verbete atualizado sobre o Erasmo Dias que na primeira linha o apresenta assim: " foi um historiador (que vergonha ter esse cara como colega!), jurista, militar (coronel) e político brasileiro (...)". _ E depois da referência a operação que o tornou famoso, a invasão da PUC: "Foi também professor licenciado de economia. Trabalhava com uma empresa de segurança que treina vigilantes particulares e exerceu o cargo de vereador na cidade de São Paulo até 2004.".
Fico triste por esses caras (ainda tem muitos deles vivos, por enquanto) conseguirem votos para se elegerem a cargos públicos e mais triste ainda pelos alunos que o tiveram como professor. Também fico temeroso pelos vigilantes treinados na empresa dele, dado o conceito que ele tinha sobre o que é segurança.
Fuçando pela internet encontrei a reprodução no Blog do Centro dos Estudantes de Santos e Região de uma entrevista feita ao Jornal A Tribuna em 18 de Novembro de 2007 em que ele diz que as mortes de as mortes de Wladimir Herzog e Manuel Fiel Filho ocorreram por "excesso de zelo".
E ainda tem quem o defenda!
Foi tarde maldito
ResponderExcluirPois é, Edu, pensei em dar uma resposta diferente, mas não vou me nivelar moralmente a esse tipo de gente. É como está no post:
ResponderExcluir"É inacreditável a negação sistemática da verdade que eles cometem e como - esse daí, por exemplo - repetiram tantas vezes as suas mentiras que se tornaram parte da ficção doentia que ajudaram a elaborar"
Enfim, nem o argumento do legalismo está a favor deles e ainda assim eles repetem essas insanidade como papagaios. Isso está fora do campo da Sociologia ou da Ciência Política, diria que repousa no campo da Psicologia Social mesmo.
abraços
A questão é que a esquerda na época não tinha apoio popular, grande parte da população brasileira apoiou o regime militar. E muitos até hoje tem saudades daquela época. Erasmo Dias estava sim cumprindo ordens, mas se o governo fosse outro, se fosse um governo bolivariano de esquerda e o Erasmo fosse o chefe de polícia responsável para reprimir os estudantes burgueses e contrarevolucionários da PUC?
ResponderExcluirCarlos,
ResponderExcluirChantagem moral aliada à futurologia 'e se isso e se aquilo?' simplesmente não funciona. Vide o papelão do Otavinho no affair ditabranda.
Carlos,
ResponderExcluirSem sofismas, por favor. Se os militares tivessem apoio da maioria da população brasileira, não precisariam ter dado um Golpe de Estado nem teriam criado...como era o nome mesmo? Ah, senadores biônicos! A História se faz de fatos, não de elocubrações. Argumentar desse modo é como dizer que "eu robei o carro porque se não tivesse feito, a esquerda teria roubado!". Genial, né? A questão é, onde está o vínculo fático disso? Em lugar algum, por certo.
Desde os anos 30 com o Plano Cohen setores da direita tentavam criar um álibi para justificar o autoritarismo - apontando o dedo no nariz dos outros -, mas isso nunca passou de um fantasma ao meio-dia cínico e mal-intencionado. Erasmo, reitero, cumpria ordens assim como os carrascos nazistas também cumpriam - e ainda ajudou a contruir boa parte da doutrina que fundamentava tais ordens, o que o muitos carrascos nazistas não faziam.
Curiosidades e ligações perigosas de Erasmo 'prendo e arrebento' Dias:
ResponderExcluir- Nas últimas (ou penúltimas? Não me lembro direito...) eleições eu vi uma filipeta dele para deputado estadual. Dizia a singela frase "um homem honesto", anexa a uma foto tão simpática quanto esta. Qualquer pesquizazinha básica no oráculo revela a quantidade de vezes que o açougueiro da PUC foi deputado estadual e federal.
- Minha mãe conheceu as filhas dele no segundo grau, no famoso Colégio Canadá de Santos. E tem um amigo do meu pai que foi vizinho dele. Brr!