segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O Aniversário de São Paulo

Hoje, São Paulo completa 456 anos de idade e não há o que comemorar. Choveu e, para variar, inúmeros bairros ficaram debaixo d'água, aconteceram desabamentos, o transporte público parou ou ficou lento e o trânsito ficou um caos. O problema não é apenas o ridículo de uma cidade desse porte simplesmente parar quando chove forte, mas sim o singelo fato de que pessoas de verdade vão morrer e outras tantas ficaram desabrigadas.

A cidade é um caos urbano. O crescimento maluco do pós-guerra movido à política econômica pau-na-máquina dos militares se concretizou por uma industrialização anormal, a doutrina de privilegiar o transporte individual em detrimento do público e no acúmulo dos trabalhadores em verdadeiros anéis de pobreza estabelecidos na pereferia do município. Some-se isso a intrincada rede de corrupção enraizada na administração pública e temos a expressão do caos.

Se até os anos 80, ainda residia a ilusão de uma vida digna no coração dos milhões de trabalhadores imigrantes que ajudaram a construir a cidade, depois disso, a desagregação social atingiu patamares inacreditáveis. A favela deixou de ser um local de moradia precário, porém temporário para se tornar uma campo de concentração perpétuo. Os aluguéis nos bairros proletários se tornaram impagáveis. Quando a desindustrialização precoce decorrência lógica do processo de industrialização anormal, os políticos ainda vendiam a ilusão de "trazer mais indústrias".

Nesse sentido, setores da esquerda paulistana foram fundamentais na organização de movimentos de moradia. Em geral, falávamos daqueles setores que giravam em torno da esquerda católica que ajudou a fundar o PT e, em menor grau, setores da esquerda uspiana. Mesmo sendo pouco, foi com o apoio desses setores que Luiza Erundina venceu as prévias do PT, contra os interesses da cúpula do partido, derrotando, vejam só, o hoje psolista Plínio de Arruda Sampaio, então candidato da Articulação - numa época em que as bases do PT ainda tinham forças para peitar a cúpula do partido, logo mais, isso mudaria. Erundina ainda venceria Paulo Maluf, a encarnação da direita paulistana, nas eleições municipais.

Claro, Erundina nunca foi perdoada por setores importantes do seu partido. Isso fez uma diferença muito grande quando ela era massacrada pela direita paulistana durante o seu governo - e muitos dos seus correligionários simplesmente não descruzavam os braços, exceto quando era para brigar internamente. A falta de cola administrativa de sua gestão, o jogo baixo dos seus adversários e a falta de coesão interna do partido abriu espaço para a volta da direita no poder, mais especificamente do malufismo - com efeito, um desastre.

Os anos 90 foram um desastre. Sob a égide de Maluf, a corrupção grassava na prefeitura enquanto um modelo urbanista fracassado e já ultrapassado - mas interessante para alguns oligopólios - era mantido. Some isso ao desmonte promovido pelo Governo FHC e por Covas no Governo Estadual - que diagnosticava bem os problemas de São Paulo, mas fracassava nas medidas - e o PIB da maior cidade do país, inclusive, caiu em números absolutos, o desemprego cresceu exponencialmente junto com a pobreza, a miséria e a violência. O terror só piora quando Maluf ainda faz sucessor e elege Celso Pitta na esteira da inépcia da esquerda local. Durante o Governo Pitta, a tragédia ganhou aspectos de comédia.

O PT municipal só ressucitou à luz do descalabro. A atuação corajosa de um José Eduardo Cardozo na Câmara foi fundamental na confrontação que resultou na derrota do malufismo, a duras penas no ano 2000, quando uma certa Marta Suplicy passa para o Segundo Turno contra Maluf e o derrota com o apoio do PSDB covista - talvez no último gesto político de relevo de Covas, que viria a morrer meses mais tarde em 2001.

O Governo Marta foi um misto de boas políticas sociais, a velha falta de coesão administrativa do PT paulistano e certos exageros e imprudências. Isso custou a derrota petista em 2004 para um Serra, disposto a usar aquela eleição como um trampolim para seu renascimento político - o que implicaria na sua volta ao jogo da disputa pela Presidência da República, o que se confirmou.

Curiosamente, Serra vence com um vice desconhecido, um obtuso deputado do ex-PFL chamado Gilberto Kassab que herda quase que um mandato inteiro, quando Serra, naturalmente, pula do barco e vai disputar o Governo do estado - saindo-se bem-sucedido novamente, pelo menos do ponto de vista eleitoral. Kassab toca mantém certas características do Governo Marta, pára outras e as contradições essenciais do município continuam sendo mais do que empurradas com a barriga: Elas são acirradas.

Kassab derrota uma desgastada Marta e um decrépito Alckimin graças a mais um jogada de mestre de Serra que assim afirmou sua liderança dentro do partido. A história daí em diante, você já deve conhecer. Enquanto os confrontos eleitorais entre os partidos burgueses se segue, a população vive mal. Hoje, 57% da população gostaria de se mudar. Só agora, tanto tempo depois, as pessoas descobrem que Kassab é um mal prefeito.

A cidade é isso, uma pequena quantidade de bairros burgueses e pequeno-burgueses, mantidos pelos trabalhadores que moram em bairros decadentes na periferia - ou mesmo na hiperperiferia da região metropolitana. A cultura é uma cópia do mass culture global e uma tentativa de réplica da erudição europeia. São Paulo incomoda porque ainda tem potencial de ser algo melhor, mas não é e só será quando a ideologia bandeirante - o processo bárbaro, incessante e imoral de civilização - for superada.



 

19 comentários:

  1. O Bolo do Bixiga

    Eu sou defensor do Bolo do Bixiga no aniversário da cidade de São Paulo, atendendo o projeto ” Bolo no Prato “. Por fim no avançar e atacar o Bolo. Abaixo a selvageria. A nossa querida São Paulo precisa dar bons exemplos para a sua gente e para o povo do Brasil. Eu sou uma das pessoas que lutam pelo projeto ” BOLO NO PRATO “. Parabéns São Paulo.
    Monsueto Araujo de Castro

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  2. Como sempre, Hugo, um belo texto. Escreva mais meu caro :-)
    Abração

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  3. Obrigado, João, passei uma semana distante por total falta de tempo mesmo.

    um abraço

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  4. Tudo começou em 2004, quando a Marta recusou o apoio do PMDB em 2004 e colocou o Rui Falcão como vice.

    Com o tempo de TV e a maquina do PMDB, a Marta teria massacrado o Serra, que consequentemente não seria governador em 2006, perdendo provavelmente para alguém do PT, tipo o Marcadante. Nessa realidade alternativa, a Marta teria eleito o Rui Falcão como Prefeito em 2008 e estaria hoje disputando com o Governador Mercadante a vaga de candidata presidencial...

    Acho que estou vendo muito Lost...

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  5. Hugo,

    Conhecendo a história de São Paulo e o modo como ela se transformou numa das quatro maiores metrópoles do mundo, é de admirar que o caos urbano não seja ainda maior.

    Em relação a política esta é uma cidade conservadora, uma característica não apenas dos bairros burgueses, mas também da periferia pobre. Pode ser impressão minha, mas me parece que esse conservadorismo vem aumentando, ou pelo menos está se tornando mais explícito.

    De qualquer forma eu percebo um engajamento maior no que toca a produção e a identificação cultural, principalmente entre os jovens da periferia. Tem um outro olhar sobre a cidade se consolidando não só nas bordas da cidade, mas também no centro, que se esta abandonado é pelo setor público, pois os "novos paulistanos" _ de origem nordestina, mineira, boliviana _ estão se apropriando desse espaço que foi abandonado pelos ditos "paulistanos tradicionais".

    Não sei se São Paulo vai conseguir ser uma cidade melhor ou pior do que é hoje, mas a emergência de uma nova classe média que não é nem quatrocentona, nem italiana, vai imprimir outra cara esta cidade. Quem sabe ela não fica mais alegre e plural e menos sisuda e conservadora.

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  6. Taquaral,

    O Governo Marta foi um colcha de retalhos que unia boas medidas, mal atadas, um pouco de paralisia e uma certa inabilidade política de se dirigir às pessoas - um cadinho de arrogância sim que servia de matéria-prima para o estereótipo que a direita fazia dela. Também faltou fazer uma política de bases mais coesa na periferia. Tudo isso fez com que ela chegasse fraca para enfrentar um moribundo Serra - naquele momento, não ter aceitado o apoio do PMDB pode ter sido um erro, mas acho que pelas circunstâncias, ter precisado disso já era um sintoma que ela estava derrotada (ou pelo menos é essa a avaliação que eu faço do PMDB paulista pós-Quércia).

    abraços

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  7. Edu,

    Eu não considero São Paulo conservadora, na verdade, eu a vejo como uma cidade profundamente dinâmica, mas é esse dinamismo - bastante selvagem, diga-se - que é o problema. É aquilo que eu chamei de "ideologia bandeirante - o processo bárbaro, incessante e imoral de civilização".

    No que toca à política, existe um equilíbrio muito grande entre os espectros políticos, mas o problema é o que há de fundo: A direita local é muito impregnada de uma "fazer tudo a qualquer custo", o que é particularmente temerário numa cidade tão grande e complexa; por outro lado, a esquerda está distante do povo e gasta energias demais em disputas internas em vez de bater de frente com a direita ou simplesmente ir até a periferia fazer trabalho de base - como só a esquerda católica fez de forma sistemática até hoje.

    Acho que essa transformação pode acontecer, mas depende da resolução de alguns pontos que me preocupam particularmente, São Paulo se aproxima daquela grande tragédia do Século 21º que é a convergência dos problemas sociais com os ambientais e o ponto que enrosca é a questão da moradia. Se um pacto não for produzido nesse sentido, a oxigenação que pode ser sim produzida por esses setores não chegar a tempo. Acompanho isso com certa angústia, no entanto.

    um abração

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  8. Hugo,

    Acho que essa "trágica convergência dos problemas sociais com os ambientais" já é uma realidade há algum tempo. Um bom tempo, diga-se. A maior parte da água que abastece a região metropolitana vem de fora, e e mesmo as fontes já disponíveis não são suficientes. Algumas regiões do estado correm inclusive o risco de desabastecimento porque suas águas são desviadas para abastecer a metrópole. Fora isso, ainda temos o problema do lixo. Um problema que vem sendo empurrado com a barriga pelas últimas administrações. Outro dia li na Folha de S. Paulo que 70% do lixo recolhido na coleta seletiva, que deveria seguir para a reciclagem, é despejado em aterros junto com o lixo comum. É uma pena não ter o link para postar aqui.

    A convergência se dá nas inundações que destroem o patrimônio de milhares de famílias todos os anos, isso quando não tira a vida de muitos. As vítimas, quase sempre, são famílias de baixa renda. Soma-se isso a contaminação do solo e do lençol freático pelo lixo jogado nos aterros, das águas da superfície pelo despejo de esgoto e do ar pela fumaça dos veículos e pela poeira formada por terra, mas também por todo tipo de fuligem. De todas, essa poluição é a mais democrática, por atinge a todos, independente da classe social.

    A questão da moradia é um problema sério que ainda vai levar muito tempo para ser resolvido. Mas nestes ponto eu acho que o pior já passou. Quando era criança havia alguns terrenos de chácaras abandonadas, Durante os anos 80 praticamente todos foram invadidos e se tornaram favelas. Primeiro com barracos de pau ou zinco, depois alvenaria. Hoje todas as casas, apesar não contar com nenhum planejamento urbano (algumas mal recebem a luz do Sol), são atendidas por rede de água, luz e esgoto, além de telefone e, em algumas partes, TV à cabo ( se bem que, neste último caso, a maior parte é gato). A maioria dos meus alunos ano passado vinham dessas favelas.

    É claro que esse não é a realidade de todos os assentamentos irregulares da região metropolitana, mas pelo menos a velocidade com esses "bairros" aparecem diminuiu sensivelmente. Em boa medida pela queda nas migrações. Nos últimos trinca anos, entre 1980 e 2010 a população da cidade de S. Paulo terá aumentado em três milhões de habitantes. Pouco, se considerarmos que a população simplesmente dobrou de tamanho entre 1970 e 1980. 10 anos!

    Se a situação não é ainda pior, o que é quase um milagre, é porque o brasileiro é dotado de uma incrível capacidade de adaptação. Tudo bem. Pode soar como ufanismo, mas só isso explica São Paulo ainda ser habitável, ainda que no limite do insupostável, mas habitável.

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  9. continuação...

    O que as cidades da região metropolitana precisam agora, é acelerar os programas de reurbanização de favelas. Algumas iniciativas nesse sentido já estão sendo feitas, mas o ritmo é muito lento. Infelizmente, embora beneficie muitas famílias, esses programas tem por finalidade utilizados mais como servir como vitrine eleitoral que resolver o problema da habitação na cidade ou no estado.

    Agora, uma coisa é certa. Não tem como resolver o déficit de moradias em São Paulo sem causar impactos ambientais. Mais casas e apartamento significam mais áreas impermeabilizadas o que aumenta os riscos de enchentes. Sem conta transporte coletivo, mais ruas, mais carros, menos áreas verdes. Em São Paulo as melhorias sociais referentes a habitação ainda precisaram ser debitadas na conta do meio-ambiente. O que os paulistanos precisam fazer é privilegiar políticas de redução de danos, mas não há como evitá-los.

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  10. Edu,

    Eu não estou tão otimista quando a situação de moradia. A população de sem-tetos é muito grande no Centro e existe uma enormidade de prédios abandonados naquela região, uma anomalia inflada pela institucionalização da especulação imobiliária durante o Governo Kassab - a situação é bastante tensa, leia o capitulo 2 do Dossiê de Denúncia de Violação dos Direitos Humanos no Centro de São Paulo, ele aborda muito bem a questão de moradia no Centro.

    Quanto a periferia, precisamos ter cuidado. A população favelada de São Paulo, não estpa diminuindo, muito pelo contrário. Concordo contigo quanto ao fato de que a favela de hoje não é pior do que a favela de ontem e atribuo isso há dois fatores centrais: (a) A favela não é mais vista como uma moradia temporária, as pessoas que moram lá, sabem que não vão conseguir pagar aluguel em um lugar melhor nem comprar uma casa, por isso elas investem na melhoria dos seus barracos; (b) O crescimento econômico dos últimos anos, especialmente no que toca o aumento da renda salarial e o crescimento do emprego, aumentou os meios da classe trabalhadora favelada em fazer essas melhorias.

    Para além disso, o crescimento da população favelada nas cidades da Região Metropolitana não é nada pequeno. É a chamada hiperperiferia e se distribui pelos extremos norte (Francisco Morato, Franco da Rocha e Caieiras), Leste (Ferraz e Poá), Sul (Diadema, Mauá, Rio Grande da Serra, Ribeirão Pires e as periferias do ABC) e Oeste (Carapicuíba e a periferia de Osasco). Especialmente na zona norte, o crescimento populacional em péssimas condições foi severo nos últimos vinte anos. Ainda assim, essa realidade interfere diretamente no município de São Paulo porque praticamente todas essas pessoas dependem da Capital.

    A resolução de décadas de péssimo planejamento urbano e administrativo passa sim pelo crivo do Prefeitura, mas não apenas por ela: É necessário uma política integrada entre os municípios que poderia ser coordenada pelo governo do estado, mas levando em consideração a paralisia da qual ele sofre há décadas - e na atual administração - não há o que esperar dele nesse atual momento.

    Por outro lado, as modificações necessárias nas políticas públicas locais envolvem uma alteração paradigmática muito complexa e eu não vejo nenhum setor da esquerda partidária fazendo uma discussão suficientemente séria sobre isso. O que existem são, na verdade, setores da sociedade civil organizados em movimento travando uma luta inglória e até desarticulada contra esse descalabro. Por outro lado, há uma omissão da intelectualidade paulistana - essa pálida espécie em extinção, vítima da própria covardia - em relação a esse estado de coisas. Acho que ainda temos saídas, mas não dentro dessa lógica viciada atual.

    abraços e obrigado pelo debate, meu velho

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  11. Mas as imagens de satélite mostram que as favelas na capital estão diminuindo SIM! A periferia está "desinchando" nos últimos 10 anos aponta o Seade, e diz que a queda da migração devido à descentralização industrial é o principal motivo.
    Quem conheceu a periferia paulistana à uns 20 anos atrás percebe a diferença. Predominava na época um cenário de África sub-saariana com alguns oásis de prosperidade. Hoje, 80% dos distritos periféricos são predominante de CLASSE-MÉDIA. Esta transformação é nítida em distritos como S.Miguel, Ermelino, Jaçanã, Pirituba, Sacomã, Cidade Dutra e muitos outros. A população de SP está estagnando diz o IBGE, e com isso fica mais fácil das verbas públicas atenderem à demanda existente, pois o orçamento cresce muito mais do que a população... Vejo um ótimo futuro para SP, independente de quem esteja no governo.

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  12. Anônimo,

    Não é bem isso, meu caro, A própria secretária municipal de habitação de São Paulo diz o contrário: As favelas crescem num ritmo duas vezes superior do que a população não favelada. Em termos de política de moradia do muncípio, a nota é zero, basta ver o desastre das inundações na Zona Leste recentemente e a hecatombe do Centro; a situação melhorou nos quesitos emprego e renda porque a economia tem crescido nos últimos anos gerando empregos e aumentos salariais - bem como os programas sociais do Governo Federal tem arrefecido o grau de miséria do pessoal. Crescimento populacional estagnado ou não não faz diferença, o que muda as coisas é ter política de desenvolvimento econômico e social que absorva quem está num determinado ambiente. O "ótimo futuro" de São Paulo só vai ocorrer às custas de muita organização e políticas sérias de moradia, para o meio-ambiente e uma articulação intermunicipal de peso tendo em vista o fenômeno de conurbação.

    um abraço

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  13. Ô Hugo, você está confundindo as coisas... Está se referindo ao crescimento VEGETATIVO. Óbvio!!! Em qualquer comunidade carente, as pessoas tem mais filhos que na cidade "formal". Mas se estão diminuindo EM ÁREA (Imagens de satélite/Inpe)é porque muitos estão acendendo à classe-média e outros estão voltando para a terra natal, isto é fato!!! Até mesmo o crescimento vegetativo nas favelas, que ainda é alto, está caindo também. Pesquise junto ao Seade! E mais... Neste momento, cerca de 500 mil pessoas vivem em comunidades que estão em processo de urbanização ou remoção. Isto também tem um peso!

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  14. Permita-me mais uma observação Hugo!
    Eu só acredito no atual projeto habitacional da capital pois houve união entre governos municipal, estadual e federal, o que é raro... A coisa só chegou à este ponto lamentável porque lá atrás muitos políticos desonestos, em troca de votos, incentivaram as ocupações irregulares. E claro! fora os sucessivos planos econômicos fracassados que só fez aumentar a população miserável no país e sua migração para as grandes cidades...

    Obrigado!!!

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  15. Anônimo n.1,

    Sua argumentação é falaciosa. Não é normal a população favelada crescer, você está naturalizando a existência de uma hecatombe como a favela; pior, supondo que a sua hipótese de que a área favelada diminuiu e que a população favelada cresceu, logo, temos uma piora na situação porque temos mais gente pobre vivendo em um espaço menor.

    anônimo n.2

    O fenômeno de favelização se liga a um processo de industrialização tardio, atabalhoado, onde uma enorme massa camponesa foi empurrada para as cidades para servir de bucha de canhão dos industriais, ganhando pouco, sem moradia e com a própria eficácia dos seus direitos trabalhistas ferido de morte pelo advento da ditadura militar, que fechou os sindicatos. Isso se deveu a uma aliança entre a oligarquia rural, ciosa por expulsar toda uma massa camponesa que lhe era economicamente inútil, mas poderia ser um belo foco de pressão político, e de uma burguesia industrial que necessitava de mais oferta de mão-de-obra para ampliar a mais-valia. Onde toda essa gente iria se instalar? Em algum espaço imaginário, onde não incomodassem a população "de bem"? Ainda que determinados políticos demagogos tenham ganhado com esse processo, não se pode confundir um efeito lateral com a causa do processo, sob pena de esquecer o que provocou - e está provocando - toda essa problemática.

    de nada

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  16. Ô Hugo, a área ocupada por favelas na Capital caiu de 31km2 para 23km2 entre 2000 e 2008(Inpe). Isto bate com os dados do Seade que aponta queda na taxa de fecundidade, principalmente (pasme!) na periferia de 2,5 para 1,8 que bate com o Mapa de Favelas da Sehab - de 2018 comunidades para 1636 nos últimos 10 anos. E tudo isso bate com o Relatório da ONU que afirma que a população favelada nos países emergentes, incluindo o Brasil, diminuiu...
    O crescimento vegetativo nas favelas é alto mas já foi bem maior, por isso o adensamento (puxadinhos) tende à estabilizar e a área à diminuir.
    À 20 anos o Brasil era pobre (ou 3o mundo), hoje é emergente. Natural que os indicadores sociais tenham tendência de melhora!

    Obrigado!!!

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  17. Anônimo,

    A população favelada bem como as favelas diminuíram no Brasil, no entanto, o caso paulista, como a própria secretária metropolitana de habitação admite, é bem diferente disso. Veja, você está confundindo a diminuição da população favelada no Brasil com a diminuição da área ocupada por favelas em São Paulo - em suma, se você tem o dado de que caiu a área ocupada por favelas e a secretaria de habitação paulistana tem o de que a população favelada aumentou, então temos, por um silogismo simples, que a densidade populacional das favelas aumentou, o que não me parece bom. Ademais, mesmo que a renda dos trabalhadores continue aumentando, isso não fará diferença se não houver políticas púlicas de reestruturação urbanística - de caráter democrático e não gentrificador -, a questão da favela não melhorará a reboque do crescimento do salário, muito pelo contrário, ela servirá como elemento limitador da produtividade do trabalho e, portanto, como cerceador do próprio crescimento econômico.

    De nada!!!

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  18. Eu entendi sua colocação Hugo, e até concordo! Em metrópoles enormes e complexas como São Paulo e Rio, ainda vai demorar um pouco para a população favelada diminuir em números absolutos e percentuais, mas o primeiro passo é elas pararem de se expandir e pelo menos em SP isto já ocorre. No Rio elas continuam crescendo também em área. Vai demorar até mais do que aqui, mas há um "teto" para isto. Apesar dos maus políticos Hugo, tem muita gente boa na política partidária ou engajados em ONGs, interessados no progresso social do país e implementação de políticas ambientais. E já não são "gatos pingados" como outrora.

    Grato!

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  19. Pois é, mas a população favelada de São Paulo não está diminuindo, esse é o ponto que eu insisto. Não sou tão otimista quanto você, meu caro Anônimo, para mim as políticas públicas ainda são muito insuficientes, o pouco que se faz a respeito são as obras do PAC no Rio, o que ainda sim traz uma coisa meio "mão pesada" do Estado tocando obras, quando na verdade, o que se exige é algo mais profundo e cirúrgico. Não é nem tanto um problema de maus políticos, mas sim de uma forma de uma maneira de se organizar politicamente falha que é capaz de barrar a própria competência e as melhores boas intenções - muitas vezes, por exemplo, o Ministério Público tem uma atuação interessante em relação as causas ambientais, mas se esquece das pessoas, o que revela uma falha muito grave que é a desvinculação perene entre o social e o ecológico, um grave equívoco que provocou grande parte desse desastre que vivemos. A própria ideia de progresso muitas vezes serve para que essas populações sejam atropeladas. Não estamos fritos, ainda, mas algo de novo precisa ser feito, porque senão é nos deparamos com um gargalo verdadeiramente grave.

    de nada

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