sexta-feira, 16 de abril de 2010

As Pesquisas, de Novo

O debate eleitoral prossegue sendo pautado pelas pesquisas e pelo tapetão. O grande ponto que eu vejo é: Existe uma elefantíase da importância das pesquisas, já não é de hoje, no debate eleitoral no Brasil. O ponto peculiar, diz respeito às peculiaridades da campanha deste ano; a disputa acirrada entre o Lulismo e o anti-Lulismo personificado por Serra antecipou em um ano o debate e produziu intrigas particularmenente mais quentes do que a média. Isso faz com que a figura as pesquisas, essa figura tão onipresente, ganhassem uma nova figura.

O raciocínio é simples: Lula é enormemente bem avaliado - seja pelos seus êxitos ou pela incapacidade da oposição em pautar propostas que lhe superem - e isso significa transferência sim de voto para seu candidato. O ponto é que no Brasil, como em qualquer outro lugar, há um ano das eleições, o candidato da oposição tende a aparecer bem colocado nas pesquisas  porque é seu eleitorado que está mais mobilizado, quando as eleições se aproximam, aí as coisas costumam se desenhar, muito em virtude de como os eleitores veem o governo em exercício. 

Como normalmente, o eleitor brasileiro é bastante complacente com a situação nos planos estadual e nacional, então as coisas sempre são complicadas para o candidato oposicionista. Basta ver que a única mudança de rumo numa eleição presidencial que nós já aconteceu por aqui foi em 2002, quando o projeto tucano já estava à deriva há pelo menos dois anos. Serra foi o candidato ali e a diferença entre aquela situação e essa pode ser resumida numa definição apócrifa que eu pesquei lá no blog do João Villaverde: "Em 2002, [Serra] era continuidade tentando mostrar que não era. Agora, não é continuidade tentando mostrar que é".
  
Para demonstrar um exemplo às avessas, lembremos da derrota de Marta Suplicy (PT) em São Paulo para o situacionista Kassab. Uma conjuntura muito parecida, onde ela disparou, mas não conseguiu converter sua liderança inicial em uma liderança real - em suma, não consegiu, discursivamente, provar para os eleitores porque eles deviam mudar o voto e perdeu.

Voltando ao caso em questão, temos duas polêmicas centrais: A do caso da pesquisa do Datafolha que apresentava um crescimento de Serra do nada, o que foi recebido com frieza pelos próprios jornalistas da Folha, para ser logo desmentido pela pesquisa Vox Populi e, finalmente, ser soterrada como um mero ponto fora da curva pela mais recente pesquisa CNT/Sensus - contra a qual, os tucanos entraram na justiça. 

No primeiro caso, eu levantei suspeitas sobre a efetividade da primeira pesquisa porque ela não se encaixava com sua própria pesquisa espontânea, com a de avaliação do Governo Lula e com a opinião dos colunistas da Folha. No caso atual, a tendência que vem desde Dezembro do ano passado apenas se consolidou mais, só que o fato dela ter demonstrado empate entre os dois principais candidatos gerou um impacto moral sobre o PSDB. Resultado: Nova ação tucana na Justiça. 

Isso nos traz ao outro problema, a problemática sobre a justiça eleitoral, algo frucral numa Democracia. Temos um Código Eleitoral antigo, uma legislação confusa e uma estruturação mais confusa ainda na Justiça Eleitoral - tanto é que as regras mudam a todo momento. O caso assustador que aconteceu com Jackson Lago no Maranhão não sai da minha cabeça, por exemplo.

Em suma, o que deveria ser um debate eleitoral, se tranforma num show de horrores onde as pesquisas e o tapetão substituem mesmo o debate raso da democracia representativa clássica. Nesse sentido, o PSDB se supera e colabora para esvaziar mais ainda - e até sabotar - o andamento das coisas, perto disso, o exaurimento do debate interno no PT - e consequentemente do externo - parece fichinha.

Atualização de 18/04: Saiu o resultado da pesquisa Datafolha indicando Serra com 10 p.p. a frente de Dilma. As pesquisas posteriores, do Vox Populi e da CNT/Sensus, mostraram uma movimentação de crescimento da candidata petista no que resultou no empate dela com Serra, transformando em ponto fora da curva a tendência de crescimento sustentada pela penúltima pesquisa Datafolha - e vimos nas páginas da Folha uma desqualificação prévia e posterior de ambas as pesquisas, o que é muito estranho e inédito na história de pesquisas eleitorais no país. Agora, essa nova pesquisa Datafolha indica a tendência de sua última. Se o resultado da anterior já era muito estranho, essa é mais ainda, afinal, dúvidas interessantes sobre sua metodologia já estão sendo levantandas. A chance de um erro ou manipulação na última Datafolha é real, agora, ao repetir a tendência com uma metodologia questionável, sabemos que ou alguém está errando feio ou usando o potencial inerente às pesquisas eleitorais: Provocar comportamentos de manada e esvaziar o debate político.

2 comentários:

  1. Pois, é, Hugo,

    Como você já havia previsto aqui n'O Descurvo tempos atrás, esta será uma das campanhas presidenciais mais sujas e aéticas da nossa história recente e a manipulações dos resultados das pesquisas eleitoriais por institutos de pesquisas é sinal de que entramos numa luta de "vale-tudo". Pior, até, porque mesmo no Vale Tudo há regras e golpes baixos não são permitidos.

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  2. Edu,

    Desde 1989 não tínhamos uma campanha tão disputada, mas ao mesmo tempo ela será a campanha mais conservadora de todos os tempos - no bom e no mau sentido, especialmente no segundo - e, sim, suspeito que virá ser uma das mais sujas mesmo. Confesso que esperava uma coisa até pior - ou talvez já esteja tão saturado de ver o descalabro geral da República que já esteja dormente.

    um abraço

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