sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A Crise Política Paulistana de Cada Dia

A polícia paulista e sua sutileza -- daqui
O verão paulistano está sendo um inferno, começou com uma alternância de muito calor com chuvas pesadas - com direito a enchentes e congestionamento na capital - , depois ficou só incrivelmente quente e, agora, as chuvas (e os problemas) voltaram. A cidade não aguenta mais uma tempestade qualquer, ela simplesmente pára, entra em colapso. Ao mesmo tempo que a construção de linhas do metrô segue lenta, as políticas para os trens metropolitanos são pífias e restritas a meros ajustes pontuais, enquanto a política para o sistema de ônibus merece todos os adjetivos pejorativos que se possa imaginar: Os reajustes anuais têm superado a inflação e a qualidade do serviço é horrível. Em uma cidade gigantesca, onde não há transporte férreo em todos os bairros, conviver com essa variável é pedir para que o trânsito pior a cada dia mais. Mas isso não é problema de Kassab, é nosso, afinal, até as pedrinhas da rua sabem que o improvável prefeito paulistano governa para o grande capital - as imobiliárias, as empresas de ônibus e quetais - assim como o faz, por sua vez, cinicamente. Por quais cargas d'água o menino Kassab abriria mão de todo cinismo do mundo? Acaso ele não teria crescido em um cenário no qual o fisiologismo grassa, não teria virado prefeito graças às frestas geradas pelas lutas ridículas por poder dentro PSDB  e, por fim, sempre tenha surfado na cômoda onda do antipetismo - e, por que não, tenha se valido o tempo todo dos tropeços do inepto PT paulistano? Kassab pode ser um catalisador importante, quem sabe também a melhor caricatura representativa, mas ele não é, nem em sonhos, a causa desse estado de coisas, mas sim um de seus muitos efeitos. Enfim,  não é questão de se ficar triste com Kassab na Prefeitura, mas sim com a conjuntura que o produziu; A crise política paulistana e paulista é tão grave que não obstante o fato dessa gestão aberrativa estar na Prefeitura da Capital, as forças políticas do estado seguem se estapeando por Kassab; por exemplo, o velho - e agora tão poderoso - Temer negociando sua entrada no PMDB paulista - que se encontra em vias de refundação - ou mesmo, que coisa, ver a hierarquia do PC do B defendendo publicamente um apoio à sua figura pessoal - longe de mim ser a velhinha de taubaté do marxismo-leninismo, mas isso daí também é demais para um partido que se intitula "comunista". Isso sem mencionar a luta de tucanos e demistas para mantê-lo "do seu lado" - como se o prefeito paulistano não esteja sendo coerente com lado no qual sempre esteve: O seu próprio. Nesse exato momento, irrompem protestos contra o aumento das passagens de ônibus e mais parece que o Egito é aqui, tanto menos pelo movimento revolucionário e tanto mais pela repressão policial. 

P.S.: Muito bom a bancada petista na Assembleia Legislativa ter pedido explicações a Alckmin, já não era sem tempo:


São Paulo, 18 de fevereiro de 2011 


Senhor Governador,                                                


No final da tarde de ontem, durante manifestação popular pacífica realizada defronte a Prefeitura Municipal de São Paulo, no centro da cidade para protestar contra o absurdo aumento no preço das passagens de ônibus, os manifestantes, dentre os quais alguns Parlamentares representantes do Poder Legislativo Municipal e Estadual, foram atacados com violência por policiais militares.                                               


Em razão desse injustificado e violento ataque, muitos manifestantes, inclusive Deputados e Vereadores , sofreram lesões corporais.                                               


Senhor Governador, é inadmissível que numa sociedade regida pelo estado de direito, a Polícia Militar reprima com essa truculência manifestações pacíficas.                                               


Entendemos que os policiais militares não agiriam com tanta violência,  sem terem recebido ordens superiores.                                               


Senhor Governador, como responsável pela segurança pública de todos os paulistas, Vossa Excelência não pode admitir que seus subordinados, integrantes da Polícia Militar, ao invés de garantirem a segurança do povo, contra ele invistam, colocando em risco a integridade física de todos.                                               


Isto posto, solicitamos de Vossa Excelência urgentes providências no sentido de determinar a imediata instauração de procedimentos administrativos e criminais no sentido de apurar não só quem deu a ordem para o violento ataque dos policiais militares aos manifestantes mas também identificar os policiais agressores.                                               


Certos de que Vossa Excelência adotará de pronto as providências solicitadas, apresentamos protestos de consideração e apreço.  


DEPUTADO ANTONIO MENTOR, Líder da Bancada do PT 


Excelentíssimo SenhorGeraldo Alckmin, DD. Governador do Estado 


São Paulo/SP 







6 comentários:

  1. Salve, Hugo,

    Convivi bastante tempo com a UJS no movimento estudantil (na década de 2000). Bem ou mal, preferia participar das chapas JPT-UJS do que o antilulismo rasteiro, o esquerdismo mais vago e chão, da "oposição à esquerda". O PCdoB tem sido um partido praticamente militarizado, à moda bolchevique. E assim codifica a luta política num jogo gramsciano hegemonia x contra-hegemonia (aliás vício também de boa parte do PT, como DS, Mov.PT etc). Em vez de contestar as regras do jogo, acham que primeiro tem que ganhá-lo, ocupar o poder, e uma vez lá mudam tudo. Dissociação de meios e fins, separação da revolução do futuro e do futuro da revolução. Esse jogo já nasce perdido, e essa aliança em SP apenas comprova isso. E do modo mais grotesco possível, porque nem se poderia dizer que estão "hegemonizando" a aliança. O PCdoB afastar-se do lulismo não sobrará nada de esquerda. É realmente tosco.
    Abraço!

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  2. Bruno,

    Eu estou no quarto ano da graduação no Direito e participei de forma ativa de, pelo menos, duas eleições do meu Centro Acadêmico: Ambas numa frente ampla de esquerda, embora com maioria pró-PSOL. Na primeira eleição, perdemos para a direita, na segunda, vencemos uma disputa contra a direita e também contra o pessoal da UJS-PT (mas com um pessoalzinho bem heterogêneo, parecia mais o PMDB dos anos 70). A gestão do CA, entretanto, foi problemática, o que reforça algo que a esquerda pró-Governo diz, não sem razão: Ele tem defeitos parecidos com o PT, mas lhe faltam as virtudes. Lidar com as diferenças de pensamento é uma delas. Toda diversidade é boa, desde que seja a diversidade ideal. Eu acabei rompendo com o pessoal no meio do ano e, este ano, a direita voltou.

    Sem muitas ilusões, ainda que tenha gente que odeie a UJS, eu acho que ela varia na mesma faixa da esquerda acadêmica partidarizada, embora eu ache ela um pouquinho pior do que a média. Sobre o gramscianismo, acho que foi uma ótima sacada sua: Gramsci, ainda? Incrível, não? O gramscianismo, que Negri conheceu tão bem nas suas consequências, diz muito sobre o que se tornou a Itália de hoje. Um amigo meu que andou frequentando algumas reuniões do PT, aliás, me falava que o pessoal montou um grupo de estudos pra ler Gramsci. Eu lhe respondi: Ainda? Mas o PC do B longe do PT será uma espécie de novo PPS, o que é uma jogada bisonha por qualquer aspecto que você olhe (até como blefe).

    abraços

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  3. Onde ha protesto, eu estou!=) http://tsavkko.blogspot.com/2011/02/brutalidade-policial-e-vitoria-dos.html

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  4. falando no PT paulista, nas eleições falei sinceramente pro Carlos: "olha, o Mercadante não tem cara de rico, nem de pobre... ele não tem cara de nada!". Carlos não ficou bravo e até complementou "... e também não tem cara de classe média."

    Eu sei que não se vota apenas pela cara, me refiro à identificação e confiança também: qual das classes diz "Mercadante é dos nossos"? Tem petista que joga um pouco com os ricos e pobres e acaba ganhando confiança dos 2, mas isso em casos de sucesso, já no insucesso...

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  5. Sim, Celião, mas acho que para além da imagem pessoal de Mercadante, existe um probleminha chave no PT paulista: A correlação de forças interna do partido não faz absolutamente nenhum sentido fora dele, isto é, quem ganhou a briga interna também não tem quadros expressivos para mobilizar a própria base, pense só para conseguir articular um acordo que viabilize uma candidatura majoritária - o que vai para além do próprio problema da centralização do poder. Nesse sentido, eu ainda acho que o Mercadante era o melhor nome possível dentro dessa situação, mas o fato de sua candidatura não ter sido lançada logo, destruíram suas possibilidades contra o recauchutado Alckmin. Mas a crise na política paulista é profunda, esperemos para ver os próximos passos disso, por ora, o PT é o partido que tem os melhores nomes, mas é preciso haver algum tipo de mobilização para emplacar um nome viável já para as eleições municipais do ano que vem e eu, cá do meu lado, espero que o instinto suicida do campo majoritário arrefeça.

    abraço

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