sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O PMDB Pós-Quércia & Kassab

Temer e Kassab em encontro já este ano --  Fernando Pereira/Secom
No começo dos anos 80, uma briga de foice se instalou dentro do PMDB de São Paulo: O partido, uma artificialidade criada em 1965 pela Ditadura Militar que tomou o poder em 64 para ser sua oposição oficial - e assim lhe dar legitimidade -, via-se rachado por uma disputa entre Orestes Quércia e sua ala paulistana formada por gente como Franco Montoro, Mário Covas, Fernando Henrique Cardoso e José Serra. Quércia, um político campineiro cujas vitórias nos anos 70 foram um marco na quebra da hegemonia dos apoiadores da Ditadura no estado - forçando o Regime, diante da perda de apoio eleitoral, a mostrar sua cara -, liderava um largo esquema político no interior com algumas ramificações na capital, baseado num estilo de política personalista e eloquente. Enquanto isso, seus rivais defendiam um estilo de política institucionalista e discreto, eram céticos quanto a aproximação do partido junto a antigos quadros arenistas e tinham um projeto de poder claro, embora dentro das regras da estrutura do partido. Montoro disputou a indicação para ser cabeça de chapa nas eleições para governador de 82 com Quércia - que antes de perder a quebra de braço, aceitou ser candidato a vice -, eis que a chapa venceu a eleição, mas Quércia foi antes de um vice, o pior opositor de Montoro. E o cabo de guerra continuou até Quércia se tornar ele mesmo o governador - eleito em 86, sucedendo Montoro -, assumindo assim o controle total da máquina, o que forçou seus rivais a saírem do partido e fundarem uma nova agremiação chamada, por sinal, PSDB. O resto da história é conhecida, o PSDB toma o lugar que antes era do PMDB, seja por seus méritos eleitorais ou pela maneira como o segundo murcha devido a liderança centralista de Quércia - que, no entanto, permanece incólume na liderança estadual do partido até a sua morte, nos fins do ano passado. Como dizia na ocasião do falecimento de Quércia lá no João Villaverde, o desaparecimento de Quércia era um momento histórico, dado que Michel Temer estava prestes a assumir a vice-presidência da República pelas negociações todas com o PT em nível nacional e, mesmo que nunca tenha disputado o poder dentro do PMDB em nível estadual, agora ele via a possibilidade de reorganizar a agremiação em São Paulo, trazendo quadros que Quércia afastava: Um alvo certo de assédio era o prefeito paulistano, Gilberto Kassab (DEM) - quem, insisto, trata-se de um político com senso de oportunidade único e uma incrível consciência de suas limitações -, que ganharia espaço, largando o engessante esquema do PSDB-DEM por uma legenda nacionalmente poderosa que, vejam só, poderia muito bem recepcionar o centrão paulista, difuso hoje numa série de partidos menores - e Kassab teria a oportunidade única de ser a face pública do partido, enquanto Temer regeria a orquestra nos bastidores. As negociações para tanto, pelo visto, seguiram quentes nos primeiros dias de 2011 e já são públicas. Na prática, isso seria a criação de uma nova força no estado, conservadora, fisiológica - e, pelo segundo motivo, tendente a se apresentar como uma terceira via entre PT e PSDB, o que não é verdadeiro. Se os desacertos internos de PSDB e PT produziram a desastrosa eleição de Kassab em 2008 na capital - seja porque ele soube jogar com os rachas do primeiro ou porque os rachas do segundo inviabilizaram uma candidatura competitiva -, hoje, enquanto os tucanos parecem cada vez mais reféns políticos do atual mandatário, no processo de sucessão da Prefeitura, os petistas seguem titubeantes. Enquanto o PSDB degringolou de vez enquanto uma legenda conservadora e sem criatividade, o PT de São Paulo padece de um arranjo interno ruim para o partido - o que limita sua força eleitoral e política -, o que agora se soma ao fato do risco claro de surgimento de um grande consórcio fisiológico - e de Kassab se tornar um interlocutor importante, um fiel da balança na disputa pelo poder no estado, o que é o inverso dos bons ventos que pareciam soprar na São Paulo do fim dos anos 90, quando PT e o PSDB de Covas inviabilizaram o Malufismo.

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