quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

O Futebol e o Espetáculo: Ronaldinho Gaúcho

Ronaldinho no Flamengo
Este blogueiro que vos escreve já gostou tanto de futebol, mas tanto, que é até difícil dizer. Hoje, não muito. Sim, um pouco do meu desgosto tem a ver com as desditas do bom e velho Palmeiras - não tanto pelas derrotas, mas pela maneira particularmente tristes como elas se sucederam nos últimos anos -, mas o desânimo tem muito mais a ver com dinâmica do futebol mundial nos últimos anos e, em particular, do brasileiro. Muitas coisas colaboram para isso, desde o derretimento do futebol numa massa pastosa e indeterminada à luz de holofotes tantos até a degeneração do craque em celebridade e garoto-propaganda que (eventualmente) joga bola, passando, ainda, por uma imprensa esportiva que cansa (e como). Boa parte dos jovens craques brasileiros, nascidos e crescidos numa época em que os "empresários" controlam o mundo da bola e o grande objetivo é jogar num clubegrandedaeuropa - que, não raro, se torna um clube da segunda divisão italiana que lava dinheiro para máfia -, se perderam ainda tão novos e hoje fazem bons comerciais de Televisão, mas não conseguem construir uma carreira minimamente estável. Um grande exemplo da nossa época é Ronaldinho Gaúcho. Era para ter se tornado um dos nossos grandes, mas se apequenou (e como) num mundo de glamour, altos salários e paparicação sem limites; depois de grandes temporadas no Barcelona, refugou vítima do próprio ego, se omitiu de responsabilidades, desapareceu numa Copa do Mundo na qual tinha tudo para brilhar e diminuiu no próprio futebol de clubes. Eis que depois de uma mal-fadada ida para a Itália, ele reaparece num verdadeiro leilão, onde seu irmão-agente - o equivalente contemporâneo da mãe de miss - o oferece para clubes ávidos por darem satisfações às suas torcidas, tudo em troca de um salário maior do que aquele que ele ganhava no Milan. De repente, todos ganharam o que queriam, Ronaldinho volta a ficar em evidência e irá ganhar um baita salário no Flamengo, enquanto dirigentes de Palmeiras e Grêmio se mostraram pró-ativos. Um grande espetáculo midiático que, naturalmente, não garante nenhum espetáculo futebolístico futuro - como tem sido a tônica da carreira do meia gaúcho nos últimos anos. Torço para que ele dê certo na Gávea, apesar de duvidar que isso aconteça - e se acontecer, tenho dúvidas que isso seja minimamente duradouro -, mas não tenho como não ficar feliz por ele não ter ido para o Palmeiras...

8 comentários:

  1. Hugo tô te seguindo no twitter, estou como @mruivones....Não sei ainda como funciona aquela coisa, mas enfim...uahsuahushua
    E espero que nunca tenha me servido uma dose com cuspe dentro...
    beijo

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  2. Você sempre foi tão boazinha quando veio aqui, Mayara, imagine se eu faria isso - eu sou botequeiro meio Moe, sou mau, mas tenho coração ;-)

    beijo

    P.S.: Tô te seguindo lá agora - e que legal, você também tem um blog!

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  3. HUGO, EU TAMBÉM PENSO DESSA MANEIRA E TAMBÉM PAREI DE GOSTAR DE FUTEBOL DEVIDO A ISSO QUE VC COLOCOU.
    A FICHA REALMENTE CAIU PARA MIM ,NO EPISODIO "ADRIANO SEU SETE CARROS E A LOIRA FAZENDO CHTAGEM PARA PEGAR UM".EU PENSEI NA HORA: POR QUE UM "SOCIALISTA" COMO EU,ESTÁ FAZENDEO TEXTO EM DEFESA DE TODA ESSA DINAMICA?
    APARTIR DAI, AS COISAS FICARAM MAIS DESANIMADORA E HOJE ESTÁ NO LIMITE. E LOGO EU QUE MAIS NOVO SEMPRE CRITIQUEI OS CARAS SEM GOSTO PELO FUTEBOL,SEM PAIXÃO POR UM CLUBE OU ATÉ A TROCA DESSA PAIXÃO DE UM PELO OUTRO.TUDO ISSO ERA UMA COISA HORRIVEL PARA MIM.MAS ACABEI SENDO E FAZENDO O QUE A HÁ TEMPO EU CONDENAVA.
    AINDA TORÇO,MAS NÃO EMPOLGO MAIS E NÃO DEIXO LEVAR PELA EMOÇÕES COMO ANTES.
    FIQUEI DECEPCIONADO PELA IDA DE rg PARA O FLAMENGO.
    ABS!

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  4. Sim, Sturt, isso enche. É um processo lento que começa ali no fim dos anos 80 com o Ricardo Teixeira na CBF e segue. A verdade é que o futebol ficou cada vez mais chato com tudo isso, seja por esse calendário modorrento - o que é esse banho-maria do pontos corridos, por favor? - ou por esses "craques" - e como é difícil se identificar com caras como Ronaldinho, Adriano, Neymar e afins, não?

    abraços

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  5. Acompanho seu blog há pouco tempo,desde meados de outubro.Parabéns pelos textos.
    Como você,adorava futebol.Aliás,adorar é pouco.Era doente.Via tudo quanto era tipo de jogo,não apenas do meu clube de coração,por sinal a nova casa do objeto do presente post.Era daqueles que via até VT de jogo que já sabia o resultado.E assistia também os programas de debate esportivo.Minhas paixões sempre foram política,futebol e música (rock).
    Mas de uns tempos pra cá meu interesse pelo esporte bretão diminuiu drasticamente.Minha mulher até estranha!Nem jogo tenho assistido e uma das poucas coisas que ainda me dão prazer em futebol é ver o Barcelona de Messi jogar.O Barça sim merece que percamos duas horas de nosso dia em frente da TV.Quem viu o último clássico contra o Real Madrid entende o que estou falando.
    A imprensa esportiva,com raríssimas exceções,a maioria delas na ESPN Brasil,é uma afronta à inteligência com sua profusão de lugares comuns.A cobertura que ela faz do andamento das obras nos estádios para a Copa de 2014 é um manual de como não deve se comportar a imprensa em geral.Acrítica e engolindo o discurso oficial.Com exceção da ESPN Brasil,nenhum veículo critica o fato de se investir recursos públicos na construção de estádios.Em um país com tantas carências,como mostram os recentíssimos episódios das chuvas no Rio e em SP,é um crime o governo,em qualquer das esferas,colocar um mísero centavo de real na construção de modernas arenas.Some-se a isso o fato de que passado o evento a maioria delas se transformarão em elefantes brancos.
    E os jogadores?Eles são tudo menos jogadores.São produtos de marketing e que,como você definiu magistralmente,nas horas vagas entram em campo com a camisa dos clubes que lhes pagam.
    Como sou um otimista,torço pra que Ronaldinho me dê motivos para acompanhar mais de perto o mais querido do Brasil.

    Gabriel Braga

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  6. Obrigado, Gabriel e sinta-se à vontade para comentar quando quiser. Minhas experiências e minhas impressões são parecidas com a sua mesmo. Sobre esses espetáculos esportivos globais, eu sempre fui cético. Eles valem à pena desde que você consiga usar isso para incentivar o esporte de base junto de alguma maneira, mas isso seria uma quebra de paradigma muito forte - e difícil - em relação ao que se tornaram a Copa e as Olimpíadas desde o fim da Guerra Fria. De repente, o país-sede da Copa e a cidade-sede das Olimpíadas tornam-se grandes cenários e nada mais.

    Eu não acho que por conta da existência dessa dinâmica os países em desenvolvimento deveriam abrir mão de candidaturas, mas penso que seria sensato eles se candidatarem se isso tiver como servir de gancho para uma série de outras medidas. Não me parece o nosso caso, nem me parece o caso carioca ou o paulista. Não se discute política urbanística no Brasil, existe um discurso naturalizado com uma versão mais ou menos humana dependendo do partido - e da região - e se toca a obra, o que é desalentador.

    E se o jornalismo em si está em crise, a imprensa brasileira agoniza - a esportiva, em particular, que desde os anos 90 se tornou de vez uma espécie de segunda divisão, agoniza ao quadrado. Durma-se com esse barulho.

    abraços

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  7. A verdade é que o torcedor brasileiro é motivado pela paixão que sente pelo seu clube e que, se vc abre bem os olhos, percebe que essa paixão virou uma vaca leiteira para um sistema completamente corrupto que vai das divisões de base até os jornalistas e a TV. Lá pela quinta "grande contratação" que beijou o escudo e jurou que sempre torceu pelo seu time e seis meses depois foi embora no que deveria ser um escândalo se os jornalistas esportivos não fossem apenas um bando de "cheer leaders" desse circo a gente cansa de fazer papel de palhaço. Eu cansei. De qualquer maneira é realmente espantoso ver uma geração incrivelmente talentosa de jogadores só conseguirem uma pálida cópia falsa das glórias do passado. Estamos condenados à nostalgia.

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  8. Paulo,

    Eu procuro escapar à melancolia em relação aos tempos idos - não da nostagia, mas, digamos, de um certo nostalgismo -, ainda que seja difícil demais não se pegar suspirando em relação a épocas que eu nem vivi - mas que eram tão mais legais. E o futebol está muito chato porque ele foi fagocitado pelo espetáculo, o que o fez perder o significado enquanto esporte. Acho que ainda há coisas legais (poucas, mas existem), mas não estou muito disposto a dar murros em ponta de faca indefinidamente, é tudo tão previsível, não é mesmo? Acho que mudanças poderão ocorrer nos próximos anos, na medida em que o espetáculo eurocentrado do futebol irá, obrigatoriamente, ter a sua órbita alterada pela grave crise europeia. Mas isso não quer dizer que mude para melhor. Nem quer dizer que o fundo do poço é só um pouco mais embaixo para o nosso futebol. É por isso que eu enfrento com certo sarcasmo o anti-dunguismo de tempos recentes: Tudo bem, pesemos virtudes e defeitos do ex-comandante da Seleção, mas certamente não é o Dunga o culpado pelo nosso estado de coisas futebolístico - ainda que o mesmo não se possa dizer do jornalista com dedo em riste que consente com as causas da problemática.

    abraços

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