Que tal um Rizoma?* |
Bacana começar o ano e ter material para socializar por aqui sobre gente do porte de um Negri ou de um Viveiros de Castro - é procurando por esse tipo de coisa que você percebe o quanto a Internet é incrível, a possibilidade de encontrar artigos e, sobretudo, arquivos de vídeo é simplesmente fantástica e eu, por mais que esteja habituado com essa joça toda, não deixo de me surpreender. O blog, por suas próprias potencialidades lógicas, acabou se desdobrando em direções magníficas: De um mero espaço para compartilhar pitacos e coisas várias para uma rede colaborativa de informação, cuja capacidade tem abarcado a enorme necessidade de análise crítica na forma e intensidade que o nosso tempo demanda. É claro que por mais que a blogosfera seja maravilhosa, é fato que se trata de um elemento instrumental e, mesmo que ele traga consigo certa função que permite desviar de problemas como hierarquização e controle, ele não deixa de ser tal e qual uma faca (de dois gumes) na mão desses magníficos símios que nós somos. Os rumos da blogosfera nesses tempos pós-modernos e pós-lulistas são curiosos, ao mesmo tempo em que me choco com o delírio paranoico puro de um lado, me deparo com belos espaços de crítica refinada que vão se afirmando ou nascendo. Do primeiro caso, falo, claro, de blogueiros "do bem" que, por conta do episódio daqueles tweets verdadeiramente estúpidos contra Dilma, estão se aproveitando do ensejo para propor que encaremos o AI-5 digital "de forma desapaixonada" - cujos riscos, como bem nos aponta o excelente post do José Paulo Remor, são enormes - ou mesmo, de outros tantos, que a cada vez que tentam debater o feminismo aparecem com um termo machista novo ou destilam ódio e anti-intelectualismo. Do segundo caso, me refiro a espaços privilegiados como o Godot não virá da Aline - por posts como esse ou esse, para não fuçar nos arquivos dela - ou ao Quadrado dos Loucos do Bruno Cava - que descobri há poucos dias - e por conta disso, tive oportunidade de ler coisas como isso ou isso -, isso para não tornar a repetir o nome que consta na lista de blogs ali do lado. Ainda assim, eu prefiro ser otimista e as coisas novas que eu estou encontrando, ainda fazem isso valer a pena. Enfim, para encerrar essas divagações, vou me apoderar de uma ideia do Bruno: Sejamos anti-anti-intelectuais, por favor.
*tanto a origem da figura quanto para mais explicações, ver o volume 1 de Mil Platôs.
Penso que uma das coisas mais importantes da internet é o que você ressaltou quanto ao acesso a materiais que certamente ficariam mais restritos a determinado grupo de pessoas e também sei que da mesma forma que encontramos coisas boas podemos encontrar coisas das mais arcaicas e preconceituosas...Enfim, mais que ser contra anti-anti-intelectuais, penso que a possibilidade de ideias novas e conceitos reformulados e ainda teorias poderem passar a ser de domínio comum, "dessacralizando" algumas ciências e posicionamnetos que muitas vezes são deixadas num discurso meramente tecnico, para não compreensão das "massas" é o que realmente me apaixona neste vasto campo da blogsfera e da internet como um todo.
ResponderExcluirBeijo.
Sim, Mayara, a blogosfera tem essa potência enorme, de repente podemos estar compartilhando textos e ideias com gente do outro lado do mundo, debatendo, analisando, não dá para esse pessoal ficar nessa pilha, isso é inadmissível - mas olhemos o lado bom da coisa.
ResponderExcluirbeijos
Eu já fui mais entusiasta da internet, em especial da blogosfera, já fui mais seduzida pelas possibilidades de debate e de relacionamentos que acabaram se mostrando decepcionantes. claro que cada um tem uma experiência, constrói relações diferentes e, afinal, eu mesma conheci gente que até hoje cultivo entre os melhores da minha vidinha. além do fato de saber que há sempre gente nova, e os círculos vão se movendo, alargando e blá.
ResponderExcluirtambém olho com um pouco de desconfiança pra uma postura intelectualizada, sobretudo aqui na internet, pq já vi o que aconteceu na academia: o isolamento, a distância que minha faculdade tinha não apenas do mundo mas de outros meios acadêmicos, outras faculdades. mas enfim, é melhor isso do que nenhuma profundidade, nenhuma capacidade crítica, ou aquelas discussões que parecem panfletos de banca de jornal.
eu vou repetir aqui o que disse no meu blog, eu fico até meio constrangida em receber um elogio assim, tão bacana, pq eu acho que não é o caso. minhas pretensões na blogosfera quase acabaram em 2009, e em 2010 eu só voltei pq escrever é uma paixão, ainda mais se o assunto é literatura e cinema, algo que eu faria mesmo que ninguém no mundo me lesse. mas obrigada, de verdade, hugo. fico honrada.
beijos
aline,
ResponderExcluirQué isso, eu é que agradeço a visita.
Sobre a questão da intelectualidade, temos debatido bastante isso por aqui. Como tratava com o Euclides lá no post sobre o Negri, sim, a condição de intelectual - isto é, de prezar a intelecção - reserva ao sujeito um caminho constantemente perigoso em relação ao qual é necessário escapar à esterilidade das torres de marfim várias para não se perder numa, digamos, endogamia.
Por outro lado - e é isso que eu trato neste post em específico -, não é aceitável que no lugar de um debate sobre a condição intelectual e o seu papel, se converta essa figura em um fantasma - como tem feito, de forma recorrente, certo blogueiro notório. O convite que eu fiz no final deste post, então, é por um anti-anti-intelectualismo, embora não tivesse problemas de puxar algo em favor do intelectualismo no momento oportuno - afinal de contas, como o próprio caso prova, intelectualismo e arrogância não se confundem.
E continue blogando, você nos faz um bem danado e ainda há tanta coisa a descobrir por aqui...
beijos
Essas ondas de anti-intelectualismo são comuns. Vocês devem conhecer o "Caso Sokal":
ResponderExcluirhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Sokal
http://en.wikipedia.org/wiki/Fashionable_Nonsense
Recentemente o psicólogo canadense Steven Pinker veio apimentar ainda mais isso com seu (péssimo) livro "Tábula Rasa".
O recorrente nesses ataques é o alvo, sempre as ciências humanas, que se colocam no papel de questionar a própria razão, como bem fez a Escola de Frankfurt.
Enfim, entendo que exista um certo anti-academicismo, mas quando isso vira fobia do próprio ato de pensar não dá para debater, seja qual for o assunto.
Abraços.
Só agora li o texto do Nassif.
ResponderExcluirEstá confirmado o caráter dele. Machista, covarde, autoritário, infantil e inúmeros outros adjetivos que sei que muitos concordarão, mas hesitarão em proferir.
Afinal, "quem xinga perde a razão". Como se a razão dependesse dos interlocutores...
Abraços.
Euclides,
ResponderExcluirCabem tantos adjetivos que eu preferi nem polemizar, por isso eu coloquei o foco desta conversa aqui no que aparece de bom por essas bandas.
abraços
Discussão pontual, Hugo. As liberdades intelectuais que chegam agora mais do que nunca através da internet tendem a democratizar o processo da formação de opiniões, mas também "democratizam" as escritas infantilóides.
ResponderExcluirNão querendo fazer autopropaganda, mas sim esticar o debate a "outras esferas", te recomendo um ensaio meu: http://tudoecritica.blogspot.com/, sobre a Crítica (foco em cinema) - ou o Estado dela na grande rede.
Belo blog, vou estar de volta sempre, agora. Abs!
Obrigado, Pedro, é sobre essa faca de dois gumes que eu me refiro, mas depende muito para que lado o negócio virar. A blogosfera brasileira é mais antiga do que parece, mas como espaço minimamente relevante de discussão, só a partir do governo do sapo barbudo mesmo - por questões econômicas, sociais e políticas -, mas mesmo que ela tenha em seu DNA ao que dificulte sua esterilização, isso não quer dizer que ela não possa ser esterilizada. Quando eu topo com manifestações cada vez mais esquisitas como essas - e um desejo de calar a crítica, pondo-a no mesmo patamar da intriga -, eu chego a ter medo mesmo.
ResponderExcluirabraços
só hj eu li o post que, creio, motivou sua crítica ao anti-intelectualismo. entendi melhor do que vc estava falando, então releve o comentário anterior. não tenho nenhuma intenção de dar respaldo a esta análise do blogueiro progressista para quem há um feminismo de salão e um feminismo prático, das ruas. eu até teria coisas a dizer sobre isso, mas como desconfio que o que o cara quer é só aporrinhar, e não discutir os limites e os problemas do feminismo, não vem ao caso o que eu penso sobre isso.
ResponderExcluirbeijos.
Tranquilo, aline, eu entendi o que você quis dizer. Mas também não acho que vale a pena questionar o que foi dito, antes de mais nada e para quem tiver paciência, é necessário questionar a postura dele, de resto, eu prefiro olhar para o que há de bom por essas bandas.
ResponderExcluirbeijos
Hugo, o pior de tudo é ter que começar a duvidar do caráter da pessoa. Porque poderíamos relevar certas considerações feitas no calor da discussão, mas o comentário bisonho foi feito após muito tempo para "reflexão". Deprimente.
ResponderExcluirCajueiro
Cajueiro,
ResponderExcluirA demorada reflexão para alguns produz posicionamentos ponderados, para outros, apenas revela o caráter. Jogo duro, jogo duro.
abraços