quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Por um Projeto de Urbanidade: As Enchentes e o Belas Artes

O Belas Artes em 1971
No post anterior, discutíamos o problema das enchentes em São Paulo. Ele é gravíssimo, em poucos dias de chuva - para falar a verdade, depois das primeiras chuvas realmente fortes de todo o Verão -, o resultado são bairros inteiros da Capital alagados, represas abrindo suas comportas, cidades da Grande São Paulo na mesma situação - e outras tantas isoladas por conta da inundação das cidades vizinhas -, inúmeros desabrigados e mortos.  A cobertura jornalística vista desde a publicação do post anterior até agora é pífia, voltada à isenção dos aliados políticos das empresas de mídia e à espetacularização da tragédia para ganhar audiência - o que, por consequência lógica, esconde as causas. Onde é que estão os bons debates sobre a política urbanística das grandes cidades brasileiras? Ou isso seria arriscado demais porque obrigaria a contar a perigosa história que trata, no fim das contas, da materialização geométrica, concreta e mais visível da política econômica, que é a política urbanística? Certamente. 

O outro episódio tão paulistano que reflete a mesma problemática é o fechamento do Cine Belas Artes. Falamos de um cinema de arte com quase sete décadas de vida que está às portas do fechamento por conta de um entrave burocrático quanto à renovação do aluguel, causada pelas dificuldades do dono do cinema em arrumar patrocínio - o que foi resolvido, mas cuja demora provocou a negativa da renovação por parte do dono do prédio. Existem possíveis saídas jurídicas para o caso, mas o cerne da questão é como a atual gestão municipal reproduz essa política urbanísitica tradicional, mostrando um desdém total pela proteção do patrimônio cultural do município - público por excelência e, para além dos locais físicos em que se manifesta, diz respeito a uma construção imaterial e coletiva de afetos (de tão boas lembranças para mim, que assisti ao Segredo de Seus Olhos lá não tem nem um ano...). De repente, o fato desse espaço desaparecer não é encarado, simplesmente, como um problema. Muito embora durante a gestão petista de Marta Suplicy leis de incentivo a esse tipo de atividade tenham sido aprovadas, infelizmente, elas não contemplaram a proteção legal permanente para esses espaços - talvez por não terem antevisto corretamente os riscos de uma velha concepção de cidade retomar o controle da administração pública e simplesmente ignorar a importância da própria cultura, como se vê agora com o inefável Kassab

Sim, no Brasil leis precisam ser redigidas sempre baseadas na pior expectativa possível de entendimento judicial e execução de políticas públicas futuras

Há quem tenha uma fé cega no mercado e ache que ele resolverá tudo no fim das contas, o que é completamente falso, o máximo que teremos de retorno são as gigantescas salas de cinema de shoppings e seus blockbusters americanos. Há quem pense, pela esquerda, que os recursos públicos não devam ser mobilizados em prol de uma empresa privada, o que é um equívoco muito grande: Confunde-se, assim, a ficção jurídica da propriedade com a função do empreendido junto à coletividade, compactuando com o fechamento de um espaço localizado em um local de fácil acesso, que cobra preços baratos e cuja existência histórica é parte do patrimônio imaterial do município - falo daquilo que diferencia um monte construções de concreto e aço ordenados de uma cidade. 

A ligação entre os dois episódios está, justamente, em um problema que transcende, até mesmo, às críticas aos mandatários tradicionais que ocupam o poder reproduzindo políticas segregativas e desumanas - e forças analogamente reacionárias fora dele -, mas que pode ser definida no seguinte questionamento: Nossas cidades funcionam como e para quem? Essa indagação não é menor nem menos importante do que pensar sobre as abstrações da economia política manifestadas na elaboração da política econômica, mas sim uma forma de enxergar o mesmo processo por outro ângulo. É sair da aritmética para a geometria para falar  do mesmo. Pensemos nisso agora.

31 comentários:

  1. Olha Hugo, pode me chamar de bolchevique, comedor de criancinha ou coisa pior, mas esse problema só se resolve na marra: expropriar as centenas de milhares de residências vacantes em virtude da especulação imobiliária e oferecê-las aos cidadãos pobres que vivem em áreas de risco.

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  2. Luís,

    Na marra ou com carinho, a especulação imobiliária é vergonhosa em São Paulo e, apesar de existirem leis e programas vários, o negócio só se resolve com uma atuação mais, por assim dizer, "pró-ativa" da administração paulistana mesmo. O que não dá é para carinhosamente esquecer do problema.

    abraços

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  3. Obrigado, Tsavkko e fique à vontade para linkar.

    abraço

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  4. Olá, Hugo!
    Conheci seu blog através do blog do Idelber Avelar e gostei bastante. Este post das enchentes e do Belas Artes está sensacional. Mas acredito q o momento de se tentar protestos ou medidas legais para salvar o Belas Artes já passou faz tempo. O lendário cinema da Consolação acabou há muitos anos, e o que está lá agora é só um arremedo triste e mau administrado que não fará falta. Olha só a foto do post: estava passando Alexander Nevsky! Qual foi a ultima vez que passou Eisenstein lá? As Salas Unibanco e o Cinesesc dão mais espaço ao cinema de arte do que o Belas Artes atual, e o Unibanco da Augusta, com as bancas de livro e DVD e os botecos em volta, é um substituto muito mais digno da mítica "fila do Belas Artes"

    Veja bem, isso que eu disse não vai contra nada da idéia central do seu excelente post. Apenas acho que os problemas que você apontou mataram o B. Artes há muitos anos. Este que esta fechando agora é só um zumbi.

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  5. Olá, Daniel, obrigado. Eu entendo o que você quer dizer, mas mesmo com todos os problemas - do cinema mundial, inclusive -, eu ainda defendo um pequeno esforço para que o Belas Artes continue a existir. Por mais problemas que existam, não creio que seja o fechamento que vá resolver algo, aliás, o impacto disso, por si só, para a memória histórica e a cultura do município não é nada bom - em outras palavras, eu prefiro um Belas Artes "zumbi" (embora tenha dúvidas quanto à aplicação desse adjetivo aqui) do que uma loja qualquer ali. E que o episódio sirva para um resgate histórico do que ele foi e do que ele significou!

    abraços

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  6. 1) O Kassab é o retrato perfeito da "elite branca e perversa" de São Paulo. Inclusive, não dá a mínima para arte em geral. Para ele, a cidade funciona para catapultar especulação imobiliária. Arte? Há. Como disse o Amiano Marcelino (o blogueiro, bem entendio), não precisarmos "justificar" investimento estatal na arte faz parte dos 2% que nos torna diferentes dos primatas. Assim, o Kassab faz São Paulo mais próxima do Moe do que da Lisa.
    2) Você sabe quantos economistas da Escola de Chicago são necessários para trocar uma lâmpada?
    Não vale procurar a resposta no Economist Jokes. :-)

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  7. Euclides F. Santeiro Filho13 de janeiro de 2011 às 11:12

    "Há quem pense, pela esquerda, que os recursos públicos não devam ser mobilizados em prol de uma empresa privada, o que é um equívoco muito grande[...]"

    Você não pode dizer que é um equívoco muito grande algo que depende apenas de ponto de vista. Nos sites do Tsavkko e do Thiago eu fiz uma pergunta fundamental que não foi respondida: quem determina o que é patrimônio cultural da cidade? Quem sabe o que é bom para todo mundo? Isso é paternalismo.

    Abraços.

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  8. Pois é, HWB, a sacada do Amiano é muito boa mesmo - e acrescentamos aqui, é o que diferencia uma obra excêntrica de concreto armado e aço de uma cidade. E Kassab é um pseudo-cérebro de um sistema que precisa ser tornado acéfalo para atender a certos interesses.

    abraços

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  9. Euclides,

    Na verdade, eu posso, tanto que escrevi isso mesmo - mas eu não disse que é uma questão de ponto de vista, mas que pontos de vista podem levar a enxergar a questão de forma ilusória, principalmente, pelo lugar onde eles se situam em relação ao Corte.

    Cá no meu humilde entendimento, patrimônio cultural não é fruto de uma determinação coletiva ou individual, mas uma construção histórica de uma certa coletividade, que se estrutura em torno de referências físicas - museus, cinemas, praças etc -, mas que a elas une memórias e outros afetos vários que lhe dão um significado - logo, uma funcionalidade singular e que extravasa sua reles significação física. Não é uma questão de bom ou mau, mas uma inscrição nossa enquanto coletividade na existência. Também não vejo a cultura como o intocado ou o estático, mas não é nem essa a questão aqui, simplesmente, eu se propôr o fechamento de um espaço como esse está se cessando, por meio de um corte, uma possibilidade de produção de cultura - e sua própria transformação, por tabela.

    Isso tudo difere do próprio reconhecimento daquilo enquanto tal pela coletividade que o criou, o que varia de acordo como atuam os mecanismos de repressão sobre os indivíduos. Em outras palavras, não é a memória coletiva que nos é imposta pelos mecanismos de veridicção, isso não seria necessário, mas sim os cortes que estruturam o esquecimento de parte dela tal como é necessário ao Poder - e falo da anestesia em relação ao meio que necessariamente fazemos - fizemos e faremos - parte.

    Concluindo, a pergunta a ser feita não é por que alguém ou algo estão lembrando a importância do Belas Artes, mas por que alguém ou algo querem que se esqueça dele - e em último caso, onde isso implicaria numa medida totalizante, onde aquilo não ser significativo diretamente para mim enquanto indivíduo torna-o imediatamente ruim para todos?

    abraços

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  10. Euclides F. Santeiro Filho13 de janeiro de 2011 às 17:26

    Hugo,

    Que você pode, pode, assim como eu posso dizer que VOCÊ está equivocado. Mas não está.
    Porque eu que disse que é uma questão de ponto de vista. E é. Assim sendo, não há equívoco, mas perspectiva, opinião.

    O que quem defende a intervenção estatal está alegando é que o BA é patrimônio cultural - o que você chama de "construção histórica de uma certa coletividade". Hugo, o que significa isso?
    Alguém ergue um espaço, seja iniciativa privada ou pública, e esse espaço é ou não utilizado, é ou não reconhecido como relevante para usuários e simpatizantes.

    Independentemente dos afetos das pessoas, o que mais interessa quando se trata de dinheiro público é um apelo coerente com a atuação do Estado na coletividade. Num Estado ausente até em prioridades, é constrangedor sugerir sua intervenção num espaço que fundamentalmente atende um público de alto poder aquisitivo, um público que pode buscar alternativas para suprir sua ânsia cultural.
    Além do mais, sua posição no caso BA é contraditória com seu post anterior, onde você critica o modo como se estabeleceu o planejamento urbano da cidade, pensando num grupo privilegiado em detrimento da coletividade - usou como exemplo o trânsito, vias construídas pensando em carros.

    "[...]a pergunta a ser feita não é por que alguém ou algo estão lembrando a importância do Belas Artes, mas por que alguém ou algo querem que se esqueça dele[...]"

    Primeiro que, novamente, você está deliberando o que deve ou não ser feito, como fez no caso do estabelecimento do que é ou não patrimônio. Isso desrespeita parâmetros básicos quando se trata de posições antagônicas que tratam de interesses alheios.
    Segundo que está insinuando que alguém quer o esquecimento do espaço, algo que minha imaginação, por mais pessimista que seja, não produziu ante esse debate.

    "[...]onde isso implicaria numa medida totalizante, onde aquilo não ser significativo diretamente para mim enquanto indivíduo torna-o imediatamente ruim para todos?[...]"

    Essa sim é uma pergunta invertida, porque eu jamais disse que se eu não ligo ninguém deve ligar. O que eu disse é que se um grupo específico liga e resolve transformar isso em apelo geral, está maquiando a realidade em benefício próprio, fazendo malabarismo intelectual para defender um interesse particular como se ele fosse "o certo a ser feito em absoluto". A pergunta coerente e que respeita o bom uso do dinheiro público é: onde aquilo ser significativo diretamente para alguns enquanto indivíduos torna-o imediatamente bom para todos?

    Abraços.

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  11. Euclides,

    Existem algumas coisas que precisam ser pontuadas aqui, uma delas, que me saltou aos olhos é: Onde é que os frequentadores do Belas Artes, por um acaso, são necessariamente "um público de alto poder aquisitivo"? Estamos falando de um cinema que custa menos do que multiplex qualquer, se localize numa área central e oferece filmes que não passam em qualquer lugar. Se o público tem uma renda maior do que a média não é por culpa de um cinema que exibe filmes de arte em condições acessíveis, mas apesar do cinema oferecer isso e nessas condições. Ir por essa linha é criar um fantasma que representa o frequentador, mas isso não se sustenta faticamente.

    E esquecimento sim, meu caro. É isso que está posto aqui desde o começo. Por que um cinema com quase sete décadas de existência não é importante? Ou por que a memória - e toda memória é afetiva - histórica não é importante para a existência de uma cidade? Eu não estou disposto a andar em círculos, mas por que um espaço vivo não tenha de ser lembrado? Sim, isso é coadunar com o esquecimento dele - que não é uma relíquia, mas um espaço vivo.

    Ademais, e me desculpe, mas se você viu alguma contradição entre este post e o outro, você não entendeu nada dele - ou quem sabe de ambos: Um projeto de uma cidade humana que sirva às pessoas enquanto suas partícipes passa pela tomada de medidas quanto ao material e ao imaterial dela. Cultura é serviço de primeira necessidade sim, do contrário se cai nesse vazio desumano e cinza que algumas pessoas tentam transformar São Paulo (às vezes com êxito).

    E a última questão posta, cai no vazio comum do enviesamento: Medidas de caráter público não são medidas que, necessariamente, precisem favorecer absolutamente a todo corpo social - mas sim favorecem a coletividade em sua pluralidade, imaginar que o dinheiro público só devesse ser gasto no que é necessidade imediata de todos por inteiro seria supor que dinheiro público não fosse gasto em nada, posto que essa situação é não só inexistente como aí sim, totalizante.

    Supor que dinheiro público que não é gasto com o meu interesse, individual e imediato, atenta contra mim é um autismo social tremendo, um cartesianismo extremado, no qual não há possibilidade de se reconhecer no Outro. Ainda mais falando numa situação em que o que está em jogo não é nem mesmo investir dinheiro ali, mas apenas proteger esses espaços de rompantes egóicos de proprietários de prédio - na medida em que a própria Prefeitura, por meio de sua Secretaria de Cultura, trabalhar na intermediação de patrocínio privado (ou até constituir um fundo municipal para isso), mas mesmo que isso implicasse me investimento, seria de salutar importância saber porque isso seria desnecessário.

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  12. Euclides F. Santeiro Filho13 de janeiro de 2011 às 19:54

    Bom, já não dá mais para debater e eu não vou perder meu tempo. Entro nos blogs, tento debater no mesmo nível proposto pelos donos e comentaristas, mas já vi que sempre vou sair perdendo. Além de eu não ter um entorno na blogosfera para sair em minha defesa, sempre serei acusado de troll e coisas do tipo, afinal, sou eu o comentarista aqui e não o autor.

    Caso você baixe o tom e a vaidade, topo continuar debatendo.
    Sugerir "autismo social" e "cartesianismo extremado" só porque discordamos, amigo, é muito. Enquanto eu elogiava tudo era lindo, bastou eu discordar uma vez e recebo essas pedradas?

    Você fez boas análises de situações específicas, mas ante esse seu comportamento, vejo que ainda tem muito o que amadurecer intelectualmente para debater em termos mais globais. Porque sequer responde minhas perguntas, dialoga com um interlocutor imaginário que diz coisas que eu jamais disse.

    Incrível! Não dá para esperar nada de ninguém mesmo. Está ficando muito previsível essa blogosfera, endossando porque a humanidade é o que é...

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  13. Euclides,

    Querido, você já entrou nesse debate solando com um "isso é paternalismo", eu não reclamei como não reclamo de jogo duro - a menos que ele exceda o tolerável -, mas isso não quer dizer não vá endurecer também - muito embora meu segundo comentário tenha sido numa boa, ainda que a resposta para ele tenha ido um tanto adiante. Eu costumo economizar adjetivos por aqui, mas é tudo ao gosto do freguês. Ou conversamos como cavalheiros ou jogamos duro e não reclamamos. Imaginário, por ora, é o frequentador do Belas Artes que você pintou, mas sem maiores ressentimentos, por favor :-)

    abraços

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  14. Euclides F. Santeiro Filho14 de janeiro de 2011 às 02:55

    Já que ao gosto do freguês, com muitos ressentimentos (e muito a dizer).
    Porque, entre outras coisas, "seu segundo comentário não foi numa boa" e a resposta para ele "não foi um tanto adiante".

    Não sou seu "querido" e nem pretendo ser. Não vim ao mundo para fazer amigos, para precisar sem endossado por terceiros.
    Falo o que penso ser o mais inteligente e arco com o ônus disso, doa em quem doer, inclusive em mim.

    Vou te dar uma aulinha (é, assim mesmo, sem humildade e falsa polidez) a respeito de tudo isso que estamos discutindo. Também darei uma aulinha de como sua intelectualidade não é clandestina, mas sim pseudo.
    Será essa, definitivamente, minha última participação comentando em blogs. Sinta-se "lisonjeado" como meu desestímulo derradeiro nessa empreitada inócua na busca por gente que se banca como realmente é.

    Começo, para "deleite" dessa pseudo-intelectualidade, citando Alexander Soljenítsin, seu Arquipélago Gulag, livro que descreve uma truculência de esquerda que começa a fazer muito sentido em minha inocente cabecinha:

    "In 1949 some friends and I came upon a noteworthy news item in Nature, a magazine of the Academy of Sciences. It reported in tiny type that in the course of excavations on the Kolyma River a subterranean ice lens had been discovered which was actually a frozen stream—and in it were found frozen specimens of prehistoric fauna some tens of thousands of years old. Whether fish or salamander, these were preserved in so fresh a state, the scientific correspondent reported, that those present immediately broke open the ice encasing the specimens and devoured them with relish on the spot."

    Essa "heresia" cometida por alguns presentes na escavação é um bom começo para minha aula. Para eles, a descoberta pré-histórica não passava de alimento, era apenas para os escavadores que aquilo era um "patrimônio cultural". Tudo dependia de um ponto de vista, mas, para alguns burgueses metidos a dizer o que é mais valoroso, a descoberta era histórica e maior do que "a mera fome de uns populares locais".
    Essa "agenda da humanidade" sempre foi definida por uma classe: a elite. Ela sempre diz o que "é bom para todos".
    Hum, será que é isso que está acontecendo no caso do fechamento do BA? Veremos...

    Vou me ater a sua participação nesse debate, embora tenha que citar algumas outras pontualmente. Demonstrarei, empiricamente, como você é mau leitor do texto alheio (algo que imputou a mim) e conceitualmente mal embasado sobre o cerne da discussão.

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  15. Euclides F. Santeiro Filho14 de janeiro de 2011 às 02:55

    Você, no último comentário dirigido a mim, fala de um suposto "jogo duro" referindo-se a eu ter dito que era paternalismo determinar o que era patrimônio cultural de uma cidade sem considerar a opinião da maioria.
    Veja bem, nem mesmo a opinião da maioria estabelece em absoluto nada, mas dentro dos limites de uma convivência em grupo, é a forma mais democrática NO CASO EM QUESTÃO.

    Bom, primeiro que essa minha crítica não pode ser desvinculada daquilo que ela faz menção a:

    "Há quem pense, pela esquerda, que os recursos públicos não devam ser mobilizados em prol de uma empresa privada, o que é um equívoco muito grande[...]"

    Quando uma pessoa diz que algo é um equívoco muito grande, ela tem que demonstrar com argumentos isso. Os seus foram:

    "[...]função do empreendido junto à coletividade[...]
    [...]espaço localizado em um local de fácil acesso, que cobra preços baratos e cuja existência histórica é parte do patrimônio imaterial do município[...]"

    Bom, você precisa PROVAR que o BA é um "patrimônio imaterial do município" não só DIZER que é; você precisa, após provar isso, relacionar tal prova com a necessidade absoluta de uma intervenção estatal na manutenção de uma iniciativa privada.

    Mas, voltando às suas respostas para mim, vejamos qual seu foco após minha crítica inicial. Em vez de fazer o que te ensinei aí acima, você preferiu estabelecer outra verdade sem justificativa:

    "[...]a pergunta a ser feita não é por que alguém ou algo estão lembrando a importância do Belas Artes, mas por que alguém ou algo querem que se esqueça dele - e em último caso, onde isso implicaria numa medida totalizante, onde aquilo não ser significativo diretamente para mim enquanto indivíduo torna-o imediatamente ruim para todos?"

    Pior do que isso, criou um espantalho na argumentação, porque, como deixei bem claro no outro comentário, nunca disse que o BA não era significativo para mim, nem que se não fosse todos deveriam pensar igual a mim.

    No meio disso tudo, ainda tergiversou para tentar explicar como se forma um "patrimônio", que ele é uma "construção histórica".
    Bom, eu tentei fazer você explicar com mais competência o que era a tal "construção histórica", mas seu penúltimo comentário, fruto de vaidade e imaturidade, pautou-se em menosprezar minhas críticas e criar novos espantalhos.
    E, só para não passar em branco, "construção histórica" só pode ser "construída" por seres conscientes. Minha pergunta é: "quem são tais seres?". Você abstraiu e disse que ela "não é fruto de uma determinação coletiva ou individual". Oras, sem a determinação de um agente, seja ele participante direto ou não no estabelecimento existencial do que será analisado, seja ele coletivo ou individual, não existe "patrimônio cultural".
    O valor da vida humana alheia como direito é uma "construção histórica", mas parece que alguns assassinos não concordam com isso, porque são agentes interessados que não estabeleceram nem determinaram o que era ou não direito; o valor da vida animal como secundário em relação aos nossos interesses enquanto espécie racional é uma "construção histórica", estabelecida por nossos ancestrais e de nenhuma maneira determinada como "patrimônio cultural" em absoluto. Por isso existem grupos lutando contra o abuso impingido aos animais, seja através de experiências científicas ou no mero abate indiferente ao sofrimento não-humano das indústrias têxteis, alimentícias e outras mais.
    Usei um exemplo "do mal" e um exemplo "do bem" propositalmente, para mostrar de maneira clara que determinar qual "construção histórica" é ou não "patrimônio cultural" depende da valoração de agentes interessados.

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  16. Euclides F. Santeiro Filho14 de janeiro de 2011 às 02:57

    Falemos, agora, em detalhes sobre o seu penúltimo comentário.

    Primeiro diz que "o público do BA não é NECESSARIAMENTE de alto poder aquisitivo". Quanta desonestidade intelectual!
    Não, Hugo, NECESSARIAMENTE ele não é, mas NA VIDA PRÁTICA, NA REALIDADE, ELE É. Imaginário, portanto, é o frequentador do BA que VOCÊ pintou.

    Depois pergunta "por que um cinema com quase sete décadas de existência não é importante?".
    E quem disse que ele não era? Eu não fui. Se o BA é "um espaço vivo" como você diz, significa que ele pode morrer, Hugo, que sua importância pode ir pro espaço, que ele pode não fazer mais sentido.

    Mas, para variar, esse é só um dos aspectos do debate que está sendo distorcido e que não diz sobre o todo.
    Manter ou não o BA "vivo" não é a questão, mas COMO se dará essa manutenção.

    Depois dessa sua pergunta para um debatedor imaginário que não via importância na existência do BA, você diz:

    "[...]se você viu alguma contradição entre este post e o outro, você não entendeu nada dele - ou quem sabe de ambos: Um projeto de uma cidade humana que sirva às pessoas enquanto suas partícipes passa pela tomada de medidas quanto ao material e ao imaterial dela. Cultura é serviço de primeira necessidade sim, do contrário se cai nesse vazio desumano e cinza que algumas pessoas tentam transformar São Paulo (às vezes com êxito)."

    Me chama de mau leitor sendo um? Irônico. Mas não, não sou mau leitor nesse caso.
    Porque o que eu disse é que você postou isso:

    "[...}uma cidade construída para automóveis e indivíduos, dentro de uma perspectiva de atomização, cujo propósito é o de reproduzir o jogo do grande capital."

    Se você não consegue ver que pedir intervenção pública para o não fechamento de um cinema privado QUE ATENDE UM PÚBLICO DE ELITE é "reproduzir o jogo do grande capital", quem não entende o próprio texto - ou faz malabarismos para mudar sua interpretação - é você. Além do mais, nunca insinuei que um "projeto não passava por medidas quanto ao material e ao imaterial".
    Só que construir uma cidade para carros e indivíduos e intervir garantindo cultura para quem já tem acesso, só podem ser coisas distintas em termos de lógica para um observador interessado.

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  17. Euclides F. Santeiro Filho14 de janeiro de 2011 às 02:58

    "Medidas de caráter público não são medidas que, necessariamente, precisem favorecer absolutamente a todo corpo social - mas sim favorecem a coletividade em sua pluralidade, imaginar que o dinheiro público só devesse ser gasto no que é necessidade imediata de todos por inteiro seria supor que dinheiro público não fosse gasto em nada, posto que essa situação é não só inexistente como aí sim, totalizante."

    Onde eu disse que NECESSARIAMENTE precisam favorecer todo o corpo social? O que eu disse em resposta a uma pergunta determinista sua, foi:

    "[...]onde aquilo ser significativo diretamente para alguns enquanto indivíduos torna-o imediatamente bom para todos?"

    "Patrimônio cultural" não tem que ser bom para A MAIORIA, endossado por ela, ao menos?
    Repare que eu só troquei algumas palavras na sua frase original para demonstrar sua lógica inválida - por isso o TODO estava lá, não porque algo tenha que ser bom para todos para existir, obviamente. Basta ver a intenção de minha inversão na sua indagação e me ler com mais cuidado que é fácil perceber isso.
    É NO CASO DE UMA ALEGAÇÃO DE QUE ALGO É UM PATRIMÔNIO CULTURAL QUE FAZ SENTIDO A OPINIÃO DA MAIORIA. Ninguém está sugerindo absurdos como cancelar um atendimento público de saúde na Zona Norte porque eu moro na Zona Sul - esse seu tipo de inferência lógica, em frases como:

    "[...]imaginar que o dinheiro público só devesse ser gasto no que é necessidade imediata de todos por inteiro seria supor que dinheiro público não fosse gasto em nada[...]"

    só demonstram sua imaturidade intelectual. O fechamento do BA não se enquadra nessa abordagem, porque ele não "desfavorece a coletividade nem a pluralidade", mas sim UM BANDO DE BURGUESINHO MAL ACOSTUMADO A PERDER COISAS. Existem trocentos cinemas NA MESMA REGIÃO que atendem esse público. Nenhum direito vai ser extirpado de alguém, como bem disse a Aline no blog do Tsavkko.

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  18. Euclides F. Santeiro Filho14 de janeiro de 2011 às 02:59

    Aliás, Aline que você trata com deferência distinta da que me trata, pois ela pensa bem parecido comigo e não recebe patadas grotescas como as que recebi. Para olhos com má vontade e transbordando de vaidade, trechos como esse:

    "[...]cabe à sensibilidade de cada um[...]"

    poderiam significar que ela está dizendo que pessoas com sensibilidade mais apurada sabem quão absurdos são os argumentos usados para quase que implorar uso indevido do Estado. Mas não, ela só está sendo simpática (embora você não tenha respondido à colocação dela que menciono) e eu "jogando duro". Não vi também você reagir da mesma maneira que reagiu à minha participação a essa frase do Thiago Beleza:

    "Não sei onde vc vive ou qual a sua realidade, mas imaginar que ela se extenda a toda a cidade de SP é, no mínimo, inocente."

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  19. Euclides F. Santeiro Filho14 de janeiro de 2011 às 03:00

    Voltando à nossa interação, não só é paternalismo decretar o que é ou não "patrimônio cultural" como é de uma perspectiva histórica pueril.

    "Querido", a tradição oral foi varrida pro cantinho da história com o surgimento da literatura, do rádio, da TV, DO CINEMA e da internet. Será que a figura do contador de histórias, personagem tão presente em agrupamentos humanos sem tais tecnologias, não era um "patrimônio cultural" que salas de cinema como as do BA ajudaram a tornar menos importante?
    Não que eu ache que por isso o cinema deva ser destruído e salas de cinema devam sumir do mapa. Mas, só para constar, o cinema enquanto ferramenta de expressão cultural é uma vírgula na história da humanidade, em nada mais relevante do que uma pintura rupestre, um artesanato, uma dança ao redor da fogueira e quaisquer outras expressões culturais que sequer foram conhecidas por nós.
    Para que fique bem claro, não estou dizendo que tais coisas não são relevantes historicamente e culturalmente, nem que você não as defende enquanto patrimônio que precisa ser preservado. O que estou dizendo é que coisas perdem espaço e ganham espaço sem deixarem de ser historicamente relevantes. O que não dá é para se agarrar na tradição para choramingar a chegada do novo - e o novo pode ser desagradável para alguns.
    Sem comparações desproporcionais, apenas para lembrar como certos "libertários" não percebem lapsos direitistas, ao que se refere à primeira letra da TFP mesmo?
    TRADIÇÃO! Porque é isso que parte de seus membros quer manter, uma tradição patriarcal, machista, elitista, racista, autoritária e burguesa. Qualquer mudança que vá contra os afetos dos que criam esse tipo de grupo é malvista. Soa algum sino na sua cabeça? Duvido.

    O Alex Castro bem analisou esse melindre de alguns com a chegada de novos tempos:

    http://www.interney.net/blogs/lll/2010/12/16/chorando_os_dinossauros/

    http://twitter.com/alexcastrolll/status/25243886607667201

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  20. Euclides F. Santeiro Filho14 de janeiro de 2011 às 03:00

    E olha que nem digo que esses tempos chegaram para o BA, porque provavelmente ele só será deslocado geograficamente. Nem isso é certo.
    Mas caso tivessem chegado, a última coisa que se esperaria de alguém que se denomina intelectual era essa postura metafísica no meio de tantas citações de Marx.

    Agora vem sua ofensa pseudo-polida:

    "Supor que dinheiro público que não é gasto com o meu interesse, individual e imediato, atenta contra mim é um autismo social tremendo, um cartesianismo extremado, no qual não há possibilidade de se reconhecer no Outro."

    Sugerir que alguém é "autista social" e "cartesiano extremado" exige uma demonstração mais elaborada do que a sua. Você, como provei, só se preocupou em refutar coisas que eu não disse e tentar justificar intervenção estatal que, independentemente da forma:

    "Ainda mais falando numa situação em que o que está em jogo não é nem mesmo investir dinheiro ali, mas apenas proteger esses espaços de rompantes egóicos de proprietários de prédio - na medida em que a própria Prefeitura, por meio de sua Secretaria de Cultura, trabalhar na intermediação de patrocínio privado (ou até constituir um fundo municipal para isso), mas mesmo que isso implicasse me investimento, seria de salutar importância saber porque isso seria desnecessário."

    só é interessante nesse caso para quem DE FATO não "se reconhece no Outro".
    Não te conheço, não sei qual seu padrão de vida, suas origens, mas acho que você estuda na PUC, é isso? (ProUni creio, já que se diz morador de periferia). Talvez os ares desse ambiente perfumado de burguesia não estejam lhe fazendo bem. Ou será que estão encorpando uma visão de mundo que já considerava com a mesma inteligência "o Outro", o que não tem acesso à cultura e que está pouco se lixando pro fechamento de um cinema de rico?

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  21. Euclides F. Santeiro Filho14 de janeiro de 2011 às 03:01

    Esforce-se o quanto quiser, elabore uma tese de doutorado a respeito, receba um dez com louvor do ilustre quadro acadêmico e você ainda assim estará errado defendendo intervenção do Estado nessa história.
    Porque uma coisa é defendê-la assumindo que está mantendo uma lógica de exclusão social, reconhecendo estar pensando com a cabeça de um privilegiado; outra coisa é querer provar que "é um equívoco" discordar disso, mesmo que o único "patrimônio" indiscutível a ser preservado é o financeiro do dono do cinema, cinema que deve ser uma de suas várias fontes de renda.

    E, aproveitando o ensejo, já que nunca me responderam quem estabelece o que é "patrimônio cultural", posso ajudar nessa resposta.

    Quem é que cria um sistema de ensino com disciplinas (olha só que nome horrível para as matérias!) a serem obrigatoriamente cursadas, quem diz que sem isso a pessoa terá menores chances na vida, que estará praticamente excluída do mercado de trabalho ou ganhará menos? Adivinha só? A ELITE.

    A escola, bem como a academia, e uma instituição burguesa por e para ela, e é por isso que cotas causam o mimimi que causam. O sistema público de ensino fundamental tornou-se uma porcaria porque, com a formação dos Estados modernos, a educação que antes (antes?) era privilégio de alguns passou a ser um direito que tinha que ser garantido a todos. Assim sendo, o número de escolas cresceu junto com a população, de maneira inversamente proporcional à qualidade do ensino. Ensino que foi garantido à elite deslocando os alunos ricos - que com a mudança tinham que conviver em demasia com o povão - para as escolas particulares, únicas capazes de preparar com maior eficiência alguém para cursar uma universidade. Por isso as boas universidades continuaram públicas, dado que sucateando o ensino da população mais carente, as coisas ficavam nos seus devidos lugares. Só que como o andar do mundo não é decidido numa mesa (ao contrário do que pensam alguns adeptos de teorias da conspiração), como nada é perfeitamente teleológico, em dados momentos surgem conflitos de interesses, como as cotas raciais, por exemplo. E qual a resposta da elite? Dizer que isso é racismo às avessas. Pior é ver gente do povão que, graças àquela mesma educação de má qualidade, é induzida a concordar com essa manipulação absurda.

    Acho que ninguém que conheço iria negar ser o acesso à educação um "patrimônio cultural", já não posso dizer o mesmo quanto a ser um BOM patrimônio, da forma que se estabelece.

    Na verdade, ninguém precisa ou "desprecisa" de educação formal para ser um ser humano satisfeito e capacitado, mas do jeito que a realidade se apresenta, controlada por grupos com forte poder econômico, ou você se submete ao "patrimônio cultural" imposto ou as coisas ficarão difíceis para você. Você poderá até chegar à presidência da república e conseguir transformações sociais significativas (lembra do nada perfeitamente teleológico?), mas sempre dando prioridade aos "direitos" de quem determinou tais "direitos" como fundamentais, embora eles sempre tenham sido privilégios.

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  22. Euclides F. Santeiro Filho14 de janeiro de 2011 às 03:02

    Boa sorte no seu conflito existencial (ou nas suas certezas bem fundamentadas).
    Eu já consegui olhar no espelho e reconhecer que sou um braquelo babaca e privilegiado, que fica teclando de madrugada num notebook enquanto tem gente indo dormir para acordar daqui a algumas horas e carregar saco de cimento nas costas, ganhando uma miséria e sendo tratado como lixo.
    Mas fazer o que, né? Isso não é culpa minha ou de quem fica pedindo "apenas" a preservação de um "patrimônio". "Patrimônio" que na verdade, na verdade, é APENAS UMA FONTE DE LAZER QUE NÃO PODE SER USADA POR ESSA GENTE QUE NASCE PRA DORMIR POUCO, TRABALHAR MUITO E QUASE NÃO SONHAR. E isso, Hugo, não é uma historinha projetada numa tela branca: é a condição da maioria da humanidade.

    Abraços, "querido". Por algumas boas análises pontuais suas, pensei que nossa interação virtual fosse ser amistosa e produtiva ante críticas e discordâncias mútuas.
    Acontece que para quem não insiste em viver na "fofosfera", a vida só reserva surpresas desagradáveis.
    Fique à vontade para usar quantos adjetivos quiser. Eu banco quem sou. Por isso caio fora, de uma vez por todas, dessa armadilha que é ir em direção ao que você chama de "única postura aceitável do intelectual em nosso tempo". Prefiro a solidão das "torres de marfim acadêmicas" do que solidão acompanhada.

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  23. Sim, você é isso daí mesmo: "um braquelo babaca e privilegiado, que fica teclando de madrugada num notebook" e eu sou um imigrante nordestino que vive na periferia de São Paulo e, em período de aulas, dorme quatro ou cinco horas por dia para conseguir fazer uma faculdade. Não vai ser a sua "valentia" expressa por essa gritaria toda que vai me meter medo. Para gente como eu, a diferença entre enchente ou não enchente é correr riscos reais - assim como a diferença de um cinema como o Belas Artes fechar é ter um espaço acessível a menos onde eu posso escapar a diarreia mental da cultura de massa. Simples assim. Os teus últimos comentários ficam aí para mostrar a que você veio. Mas já aviso: Não volte mais aqui mesmo.

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  24. Euclides F. Santeiro Filho15 de janeiro de 2011 às 12:52

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  25. Na real, cara: Fui ao Biscoito e falei para não me citar ou se dirigir a mim, mas já que o fez, que parasse com aquela postura lamentável lá. E aqui você não comenta mais mesmo como já pontuei, não há nenhuma inverdade nisso. A caixas são abertas para concordâncias, discordâncias e adendos, mas isso dentro de um clima de respeito entre os frequentadores e até, quem sabe, comigo mesmo - e não o faz pelo que disse, mas pela retórica belicosa que resolveu adotar, que não está em conformidade com esse espaço. O Descurvo é um ambiente coletivo que, por sinal, está sob minha responsabilidade, não a casa de ninguém nem um palco para se fazer catarse às custas de agressões gratuitas e/ou vitimizações. Se quiser fazer o que bem entende, abra seu próprio blog e arque com as consequências. Aqui, reitero, você não é mais bem-vindo.

    É a última vez que pronuncio sobre isso.

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  27. Nossa, que horror. Comentaristas psicopatas? Não dá nem para entender a razão da braveza do moço Euclides. E ele fala tanta bobagem sobre patrimônio histórico e preservação que nem precisa responder nada a ele para que ele fracasse no debate.

    Hugo, gostei do que você disse ao resonder meu comentário. Também espero que este episódio sirva para resgatar a importância que o Belas Artes já teve.

    Mas considero este arremedo de Belas Artes que lá está tão danoso para a memória paulistana quanto seria se tivéssemos uma loja, lanchonete ou igreja instaladas no mesmo espaço.

    São Paulo já perdeu o Belas Artes há anos. Um passo importante para recuperá-lo seria livrá-lo da péssima administração que ele tem agora, e que o levou a uma situação onde o cinema, tal como está, MERECE ser fechado. Este fechamento realmente não resolveria nada, mas o pessoal da distribuidora Pandora, que é dona do cinema, não pode administrá-lo "nas coxas" e depois contar com a nostalgia dos cinéfilos para manter o cinema aberto.

    Se todos estes movimentos pela permanência forem bem sucedidos, espero que se transformem em movimentos pela troca dos administradores do BA. São Paulo não merece este BA que aí está.

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  30. Daniel: Não sei que causa psicológica ou política motivam uma pessoa a fazer isso, mas não me interessa, isso aqui é assunto encerrado. O blog tem regras e pronto. Quem quiser as descumpra, mas esteja certo que é melhor não voltar que terá comentários excluídos sumariamente - e o pior é que sempre quem ameaça não voltar, volta, como nos ensina o velho Idelber, mas aqui, já era. Por ora estou fazendo um favor ao apagar suas postagens.

    Sobre o Belas Artes, acho válida sua ponderação, as uma coisa não exclui a outra.

    abraços


    E, Euclides/Troll (e essa é a última vez que me dirijo a você aqui): Se o Daniel falou alguma coisa que te incomodou se reporte a ele. Mas não aqui. Aqui você está fora, eu não tenho nada para falar contigo e você não tem comigo. Simples assim.

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