Tirone é abraçado por seu vice, Frizzo -- GazetaEsportiva.net |
Ontem, Arnaldo Tirone, candidato da oposição, venceu as eleições para a Presidência do Palmeiras. Além das datas das eleições atrapalharem o Palmeiras historicamente, dessa vez, as coisas ainda correram de um modo bem atribulado, em grande parte por conta do profundo racha interno e, claro, da grave situação do clube em virtude da degeneração da gestão Beluzzo - certamente um homem de ideias e que ama o Palmeiras, um boa praça que consegue ser amigo de José Serra e sócio de Mino Carta ao mesmo tempo, mas que fracassou rotundamente como dirigente de futebol, quando era a última esperança de um clube marcado pela pequenez e falta de criatividade de seus dirigentes. A eleição do Professor Beluzzo, há dois anos atrás, aconteceu sob o apoio da imprensa esportiva e de palmeirenses influentes, o que serviu para vencer maiores resistências internas. Só que em matéria de política, vencer uma eleição é sempre mais fácil do que governar: E Beluzzo pagou caro, colocou o coração de torcedor na reta e tomou decisões erradas, hesitou em outros momentos e não esperava a armadilha que já estava preparada lá atrás por seus advesários, caso sua gestão falhasse. Perdeu dinheiro, a saúde e o sossego. Com a situação rachada, o irascível Palaia insistindo numa candidatura sem justificativa ou sentido só por odiar Paulo Nobre - o candidato de Beluzzo e, sim, o melhor nome da disputa -, Tirone, ligado ao grupo de Mustafá Contursi, acabou vencendo o pleito - e bem. O novo presidente verde é filho de dirigente e alguém que frequenta o Palestra desde sempre no alto de seus sessenta anos, mas também é ligado a uma ala autoritária, sem criatividade e com pouca tesão por futebol que, finda a era Parmalat, transformou uma dos times que sempre lutava pelos principais títulos da temporada em um clube médio, incapaz de ganhar títulos e volta e meia correndo riscos de rebaixamento - quando não, caindo mesmo. Nada animador, claro. Ainda mais em um cenário de dívidas, falta de títulos e afins, as perspectivas não são boas para a gestão Tirone.
Esse processo inteiro, aliás, acende um debate fundamental: Como os clubes de futebol brasileiros são verdadeiras aristocracias; eles representam alguns milhões de torcedores, possuem alguns milhares de sócios, mas quem decide seu futuro é sempre uma pequena minoria de iluminados chamados conselheiros, cujos interesses e perspectivas quase sempre giram em torno da própria auto-reprodução o que, por vezes, está completamente descolado do que desejam os torcedores. Há quem pense que os nosso clubes de futebol funcionariam melhor se tornando corporações modernas, empresas com capital aberto na bolsa cuja administração seria feita por "profissionais", mas eu, particularmente, discordo: O significado que os clubes têm junto à nossa cultura, sendo partes integrantes da história de cidades e bairros inteiros, não é congruente com a impessoalidade do Capitalismo Financeiro, tampouco isso resolve, por si, problemas financeiros (como se empresas não quebrassem, nem pudessem ser corruptas...). O caminho seria o da democratização, por meio de uma política massiva voltada a agregar mais e mais sócios e, assim, fortalecer as instituições internas pela sua massificação - ampliando, assim, o próprio espectro eleitoral - além de proporcionar um meio de financiamento, digamos, mais republicano. Dentro desse cenário, o futuro do Palmeiras é particularmente preocupante, essas contradições comuns ao nosso futebol se manifestam de forma grave ali dentro, não é uma equipe com problemas ou um clube em má fase, trata-se de um clube em crise.
Primeiro sobre o Palmeiras: é difícil dizer se a eleição do Tirone será boa ou ruim, porque no futebol as coisas, mais do que nunca, as evidências não se cumprem sempre. Belluzo é um exemplo disso. Esperava-se muito dele, mas mostrou-se pior do que o que havia antes. Pelo menos para o futebol, que é o que acaba exposto. No Corinthians aconteceu o contrário. Eu cheguei a chorar o dia em que Andrés Sanchez foi eleito, e ele acabou sendo melhor presidente do que eu poderia esperar. Não que eu não enxergue todos os absurdos que continuam acontecendo no Parque São Jorge.
ResponderExcluirMas há uma coisa que pode alentar os corações palestrinos. A agora situação novamente, que até ontem era oposição, é tão sua como oposição quanto é como situação. Dessa forma, é mais fácil buscar uma unidade em prol do clube com eles na situação do que na oposição.
Ou seja, a longo prazo é ruim mesmo. Perpetrar esse poder "oligarquico" no clube é antidemocrático, antiquado e maléfico. Mas a curto prazo os torcedores podem acabar tendo o que comemorar.
Agora gostaria de comentar sobre o que disse de democratização e massificação. Ok, concordo em tese, sempre fui a favor da democracia que é o melhor caminho para evolução contínua, ainda que a passos lentos. Mas tomo como exemplo o que acontece hoje no Corinthians. Reformaram o estatuto, as eleições voltaram para as mãos dos sócios, o que é ótimo, ninguém discorda. Aí veio o processo de massificação, que acabou acontecendo de forma orientada. Grupos com propósitos bem delineados, e com discurso bem conduzido, passaram a levar e conquistar sócios, e hoje formam um poder perigoso dentro do clube.
O problema é esse. Clubes desse tamanho, com tanta grana envolvida, como é no futebol no Brasil, quando abrem suas portas, tem como primeiros visitantes os corruptos sanguessugas.
Desculpa por ter me alongado. Parabéns pela análise precisa, profunda e imparcial.
Obrigado, Ândi. De fato, Andrés se saiu melhor do que encomenda e é, hoje, o grande dirigente paulista - pesados prós e contras, claro.
ResponderExcluirMas sobre o Palmeiras, vai aqui uma singularidade do clube que é importante saber: Não são poucos os conselheiros que veem o futebol como apenas uma parte do que é o Palmeiras, alguns talvez vejam a SEP como um grande clube social a serviço da vanguarda da colônia; por outro lado, muitos dos que se opõem a esse pessoal não passam de super-corneteiros que não tem qualquer responsabilidade - enfim, servem como um fantasma cômodo para essa gente. Nem preciso dizer o quanto a torcida odeia a turma do freio de mão puxado com o futebol, justamente, a turma de Mustafá.
A esperança era que Beluzzo furasse essa dicotomia - e as negociações para a sua vitória passaram por uma pressão bem externa - e promovesse uma reforma administrativa, mas ele falhou porque agiu como torcedor e porque, afinal de contas, achou que o jogo de bastidores extra-Palestra que o elegeu também serviria para gerir o clube, mas enganou-se. O rescaldo é ruim porque voltamos à estaca zero de um caminho que precisa ser trilhado: Uma reforma profunda do Palmeiras, cujo fim é, sem dúvida, transforma-lo num clube de massas em estrutura, o que não significa renegar as origens, mas sim deixar de se ver como uma espécie de Portuguesa (com o devido respeito à Lusa).
Tirone, por sua vez, tem uma biografia alentadora, é literalmente um palmeirense de berço, mas seu staff político, apesar de contar com pessoas razoáveis como Roberto Frizzo, tem problemas e por isso havia uma torcida por Paulo Nobre - basta ler o artigo do Mauro Betting a respeito que está linkado neste post.
De fato, você tem razão quanto aos riscos à democratização de um clube de massas, mas como você deve concordar, é melhor do que oligarquia. E eu acrescento, melhor do que a empresa - e o modelo S.A. é o mais arriscado de todos eles, sem dúvida.
abraços