Portanto, é preciso muito ceticismo na avaliação desse tipo de pesquisa: Considerar de antemão a inexistência de neutralidade delas e investigar os pressupostos políticos e econômicos por detrás da sua elaboração e publicação são fatores essenciais nesse processo. Tais empresas de avaliação da "opinião" - e não de conhecimento das pessoas são influenciadas, em um primeiro momento, por seus próprios interesses políticos e econômicos estritos - a preferência sim por um dos candidatos - e pela necessidade de sobrevivência no ramo, o que as pressiona por outro lado para a divulgação de pesquisas mais ou menos fidedignas - em suma, é mais comum a indução dos entrevistados do que a fraude propriamente dita.
Tais pesquisas servem para o sistema como oráculos: Se por um lado, elas podem ser um instrumento de influência da massa desorganizada no período pré-eleitoral, por outro, elas são importantes fontes de informação que ajudam o sistema a traçar, com a devida certeza e antecipação, o seu modus vivendi com os grupos que tem chances reais de ocuparem o poder político. Nesse clima particularmente agitado pela proximidade da campanha para a Presidência da República, a mais recente pesquisa eleitoral causa furor e se torna o grande ponto para o debate - principalmente, pelo fato da candidata governista, Dilma Rousseff, ter registrado novo crescimento.
É um cenário muito complexo, para além das pesquisas eleitorais, temos um quadro em eleições presidenciais, de 89 para cá, no qual a esquerda jamais teve menos do 30% dos votos. Por outro lado, desde que Lula ficou a frente de Brizola naquele pleito, temos um quadro no qual o PT domina o setor de esquerda (o que se comprova também nas eleições parlamentares) e, depois de 2002, passou a absorver grande parte do eleitorado centrista - evidentemente Lula é maior eleitoralmente do que o PT, uma distorção possível dos sistemas presidencialistas, mas isso não quer dizer que o PT seja pequeno, muito pelo contrário, ele foi o partido com a maior votação direta para a Câmara em 2006 e segunda maior nas municipais de 2008.
Nesse momento, Dilma, representa tanto a sucessão de Lula quanto a candidatura do PT. José Serra, seu adversário, mesmo tendo origens na esquerda, está firmemente aliado com a direita e detém ao seu favor praticamente a unidade desses votos. As pesquisas de opinião, em sua sutil metafísíca, apontam, por sua vez, para uma altissíma popularidade do atual presidente, o que pode fazer a diferença na disputa do eleitorado centrista - as duas eleições de Lula foram fruto de um consenso entre a esquerda e e parte do centro, expressa pela mistura de uma política social-democrata com retoques desenvolvimentistas; tais pesquisas sobre sua popularidade, portanto, apontam para a manutenção desse consenso, o que é amplamente desfavorável para Serra.
Nesse ponto, boa parte das pesquisas eleitorais do ano passado que apontavam para Serra com uma considerável vantagem, tinham omitidas na sua publicação pela mídia corporativa o fato de que poucos entrevistados manifestavam a sua intenção de voto - e muitos dos que se manifestavam, o faziam mediante o estímulo, ou seja, depois da leitura dos nomes dos possíveis candidatos. Levando em consideração que o eleitorado que tende a estar mais mobilizado um ano antes das eleições é, justamente, o de oposição, tínhamos uma situação pouco esclarecedora.
O que temos assistido nos últimos meses é o crescimento da candidatura Dilma, o que revela uma aproximação das pesquisas de opinião sobre as eleições 2010 com as congenêres sobre a avaliação do atual mandatário - confirmando uma tendência como aponta um post do blog do Azenha: Dilma detinha 17% em dezembro e agora tem 27%, a proporção diante da manifestação bruta de intenção de voto foi de 22,07% para 34,6% - haja vista que em Fevereiro 78% dos entrevistados se manifestaram contra 77% em Dezembro. A candidata governista tem agora o eleitorado consolidado da esquerda e possívelmente alguns eleitores centristas - dado o fato de que Marina Silva ainda rouba votos à esquerda.