(foto retirada daqui)
No último post, narramos a as causas e as razões por detrás da greve dos professores em São Paulo - bem como a nova reação desmedida da Polícia Militar frente a esse tipo de situação, que apesar de ser fato recorrente na história bandeirante, vem ganhando na atual gestão ares cada vez mais apocalípticos. Agora, no entanto, eu me presto a investigar o outro lado da história - afinal, toda história tem dois lados, como ensina qualquer bom manual de jornalismo -, ele é o do Governador Serra.
Basicamente, os problemas de São Paulo são conhecidos por todos, a dupla Quércia e Fleury simplesmente faliu o estado justo num momento onde isso não poderia acontecer: Quando a desindustrialização do estado se aproximava por conta da própria forma que ele foi implementado (artificialmente e de maneira concentrada geográfica), o que exigiria do governo do estado políticas complexas de articulação no sentido de amortecer esse impacto e construir novas saídas.
Verdade seja dita, Covas pegou um estado em uma situação catastrófica, mas o ajuste que promoveu, longe de marcar uma reversão nesse processo, nada mais foi que mais um clássico choque de gestão tucano, onde serviços essenciais como educação e saúde foram sucateados ao mesmo tempo em que nada se fez em relação à desindustrialização, tomado como um fenômeno normal dos nossos tempos. Ainda assim, o PSDB paulista sob o manto de Covas, ainda nutria certos pudores e fios éticos, o que fora perdido rapidamente após sua morte e a ascenção de seu vice, Alckmin, ao governo do estado, o que marcou uma guinada à direita do partido.
Enquanto Alckmin se embrenhava em terras nunca antes visitadas por ele - por uma terra chamada Brasil -, Serra abandonava a Prefeitura de São Paulo após breve governo de um ano para alçar voos maiores no Palácio dos Bandeirantes. Se até os anos 90 Serra era um político tucano notadamente mais à esquerda dos seus confrades - se opondo ao malanismo -, a derrota para Lula em 2002 operou verdadeiras mudanças na sua estratégia: O seu retorno a cena política se deu com uma aliança mais à direita contra o Governo Marta e o seu salto para o Governo do estado se deu, todo o tempo, com alianças carnais com o que restava do malufismo no estado.
Durante os três anos e três meses de seu governo, Serra não resolveu nenhum dos problemas que herdou: Ao contrário, a política de sucateamento da educação e da saúde persistem, as políticas para o transporte público continuam andando a passos de tartaruga - e o máximo que se pode dizer, é que ele acabou se beneficiando da retomada do crescimento econômico do país, onde a indústria paulista voltou a funcionar (em grande parte pelo boom de crescimento econômico no Nordeste).
Nos grandes conflitos vistos no seu período, ele agiu da pior forma possível: Na greve da polícia civil, ter mandado a PM reprimir o confronto foi, no mínimo, temerário. Na USP, a invasão da tropa de choque foi só um capítulo no seu histórico de interferência: Ano passado, ele indicou o candidato menos votado para Reitor, repetindo o gesto de Paulo Maluf nos tempos da ditadura, o que foi bisonho - principalmente porque falávamos de uma lista triplície onde não havia sequer um nome reformista. Na greve dos professores que está em curso, além da postura autista frente a reivindicações legítimas, o uso desmensurado da força contra os manifestantes revela não apenas uma postura pouco democrática como também burra, que acende um sinal amarelo: Como Serra irá lidar com negociações muito mais complexas do que essa pelo país e fora dele?
A resposta de Serra em relação ao que aconteceu foi bastante simples: As manifestações dos professores pelo estado foram mero "trololó". Na visão de Serra, seja por paranoia ou dissimulação, as manifestações contra seu governo são ilegítimas, todas "politicamente motivadas", o que justificaria o uso de força policial: Isso tem sim o seu aspecto cínico, mas não há como desconsiderar que, mesmo por uma perspectiva maquiavélica, haveria outros meios de se resolver essa situação; como bem suscitou André Kenji, dar um pequeno aumento para desmobilizar o movimento seria bem mais eficaz do que isso - sim, seria.
Isso aponta, além de tudo, para uma falta de vínculo dele com a realidade, onde as demandas sociais e políticas são reduzidas a meros empecilhos visando lhe impedir de chegar à Presidência da República, o que somado ao apoio canino da grande mídia, lhe autorizaria a fazer o que bem quiser, porque estararia respaldado para tanto pela manchete de amanhã - e o seu governo estaria autonomizado do elemento povo, uma benção possibilitada pelo sistema de mídia corporativa atual que tem de ser mantido, custe o que custar.
Por fim, não tenho como não relacionar o modo como Serra qualificou a manifestação a um outro trololó, na verdade, um vídeo russo que o Luís Henrique me enviou há um tempo e que virou uma verdadeira febre na Internet: Trata-se de uma obra aparentemente nonsense do cantor sovietico Edvard Khil que, na verdade, é um baita protesto político de um artista que teve a letra de uma música sua praticamente toda censurada e, para satirizar os censores, cantou a única parte que não lhe foi proibida, resultando num grande trololó ao longo de todo vídeo. Serra, por vias tortas, acertou dessa vez, mas enquanto ataca de crítico às avessas, o governador prossegue sua greve que já dura três anos, dois meses e 28 dias.
Atualização de 28/03 às 20:01: E antes que eu não perca a deixa, até agora nada se resolveu quanto ao mistério da foto. Só causa espécie que o Ministério Público Estadual, que se mobilizou tão arduamente para impedir a mobilização dos professores, nada tenha feito para investigar a existência de policiais infiltrados.
Atualização de 28/03 às 20:01: E antes que eu não perca a deixa, até agora nada se resolveu quanto ao mistério da foto. Só causa espécie que o Ministério Público Estadual, que se mobilizou tão arduamente para impedir a mobilização dos professores, nada tenha feito para investigar a existência de policiais infiltrados.
O trololó do Serra lembra a famosa pérola do Maluf, "As professoras não são mal remuneradas, são é mal casadas". O contexto é (quase) o mesmo.
ResponderExcluirps: Quem diria, o próprio Edvard Khil responde aos fãs do vídeo!
Pois é, Luis, até nisso o Serra está se aproximando mais do Maluf...E uma simpatia só esse Khil, hein?
ResponderExcluir