sábado, 6 de março de 2010

Panorâmica sobre as Eleições 2010

Depois de alguns dias bem sobrecarregados com a calourada na PUC, volto à labuta aqui no bom e velho Descurvo (uma dureza, sem dúvida, seja organizar as palestras quanto trabalhar na festa de recepção). No entanto, o curso das coisas na cena política brasileira se modificou muito pouco de lá para cá. A crise na candidatura Serra se comprovou com as pesquisas apontando tanto o crescimento da candidatura Dilma quanto mais queda sua - e, como se não bastassem todos esses problemas, o seu maior aliado, o DEM, viu sua situação piorar seja pela decisão do STF que manteve Arruda preso quanto pela declaração infeliz do Senador Demóstenes Torres sobre a escravidão no Brasil (como até a Folha deu) numa audiência sobre cotas étnicas. 

Agora, Serra tenta se apresentar, sem muito sucesso, como um candidato propositivo, coisa da qual se absteve há tempos, preferindo se omitir dos grandes temas nacionais e se apoiar na retórica antilulista da mídia corporativa - que de tão paranóica e maniqueísta, se perde em seus próprias excesso de tal modo que nem consegue mais pautar qualquer espécie de crítica ao governo atual por falta de credibilidade (a velha síndrome de Pedro e os lobos). O Brasil está longe de ser o país que poderia ser, mas como a própria eleição de 2006 provou, com o fim do efeito pedra no lago, as coisas mudaram bastante nesse sentido; não há mais como apoiar uma candidatura na muleta midiática e dispensar a construção de uma substância programática - não, um novo Collor não teria chances hoje na medida em que mesmo um Serra perde terreno pela falta de conteúdo...

A aliança PT e PMDB prossegue se firmando duramente. Do ponto de vista eleitoral, será interessantíssimo porque dará muito tempo de TV para Dilma, ainda que as consequências disso serão imprevisíveis; uma coisa é o PMDB como um aliado informal no Congresso, outra é ele muito possivelmente com um vice. Isso muda completamente as coisas, ao mesmo tempo em que a dependência do PT em relação aos partidos menores diminui, por outro, ele terá de dividir uma boa cota de ministérios realmente importantes - bem, a maioria dos ministérios pouco importa mesmo -, o que traz dúvidas acerca do que pode acontecer - afinal, de lá pra cá, o PMDB ainda não forjou um programa sólido ou algo parecido. Como ocorrerá essa divisão em um eventual governo Dilma depende muito também do que acontecer nas eleições parlamentares, que no Brasil são sempre uma incógnita.

Ademais, a aliança PT/PMDB produzirá impactos mais imprevisíveis nas correntes mais à esquerda do primeiro e nas alas mais à direita do primeiro - que, curiosamente, entrarão em confilito no Rio Grande do Sul no embate entre Tarso Genro e José Fogaça. O que acontecerá com correntes como a Mensagem de Tarso Genro e José Eduardo Cardozo no PT e que diabos se dará com o PMDB serrista são boas perguntas a serem feitas - assim como o que acontecerá com o PSDB caso o partido não leve a Presidência novamente.


2 comentários:

  1. Acho que Serra, diferente do Collor, não é um cara sem conteúdo. Só preferiu não apresentar muito conteúdo por hora. Se ele quiser, pode mudar isso em uma eventual campanha.

    Acho que as chances eleitorais dele dependem de quão "anti-lula" ele desejar parecer.

    Não dou como certa a aliança PT-PMDB, muita água vai passar sob a ponte.

    E o PSDB deve ter mais medo de perder o governo de SP do que de não chegar à presidência.

    Aliás, fora o RJ, tem algum estado onde vai haver coligação PT-PMDB para o governo?

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  2. André,

    Talvez tenha ficado ambíguo, mas eu não disse que Serra não tenha conteúdo (daí o "mesmo um Serra"), mas que ele fez uma opção tática cômoda de não apresentar nada para não se compromoter literalmente terceirizando o discurso político para a mídia corporativa. Será que dá tempo agora?

    Sobre a aliança PT/PMDB, depois da celébre aclamação de Dilma no Congresso do PT com a presença de Temer e tudo, acho altamente improvável que isso não saia - a menos que aconteça um fato novo - nos estados, pode ser que isso ocorra no Paraná, Minas, Rio e talvez na Bahia. Em São Paulo não dá para saber qual vai ser o interesse de Quércia no momento e em Pernambuco e no Rio Grande do Sul isso não é apenas impossível como improvável.

    Um abraço

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