(imagem retirada daqui)
Que o governo atual conseguiu bons resultados na economia, não resta dúvida. Ele rompeu com a mesmíce dos anos 90, quando o Governo FHC optou por uma estabilização do país por meio de uma ancoragem cambial e monetária desconectada de uma política fiscal séria ao mesmo tempo em que tocou um projeto de privatizações de índole duvidosa - cujos defensores defendem pela ótica de como serviços como telefonia, por exemplo, se tornaram imensamente mais acessíveis, escondendo, no entanto, que seus valores são muito mais caros do que a média mundial. Depois da quebra dos anos 90, passaram a pensar numa política fiscal, numa mudança do sistema cambial (ainda que este último tópico se deva mais à pressão dos nossos credores do que qualquer outra coisa).
A desvalorização do valor do Real - moeda brasileira desde de 1994 - foi uma consequência direta das condições macroeconômicas do período somada à especulação selvagem - o câmbio livre é a lei do mais forte, ou melhor, de quem tá mais reservas. Isso, lateralmente, produziu um impacto positivo ao possibilitar o crescimento das nossas exportações - travadas naquele momento por uma cotação completamente desvinculada da realidade -, o que por si só não dizia muita coisa. Se o Governo Lula tem algum grande mérito, sem dúvida, foi a habilidade da nossa diplomacia comercial conseguir acesso a novos mercados para além do eixo EUA-UE, em especial, aportando em mercados que experimentavam um crescimento radical (na Ásia) bem como fortaleceu a integração latino-americana como ninguém.
Em cima de superávits gigantescos na balança comercial, somadas às políticas de responsabilidade fiscal - de conotação contraciclíca, o que garantiu a estabilidade nos anos das vacas gordas e a manutenção da vida durante a crise -, o Brasil se viu diante do melhor cenário em décadas. Foi em cima dessa conjuntura que o PAC foi construído: Uma política dura de aceleração do crescimento bancada e coordenada pelo Estado, o que somada às políticas redistributivas, produziu um novo cenário interessante. O Governo, entretanto, passou batido pela questão cambial: Não construímos ao longo do tempo uma política estratégica para a área e continuamos funcionando de acordo às intemperíes do mercado. A valorização da moeda nacional ocorrida há quatro anos atrás, interferiu pouco na economia real devido ao crescimento dos precessos das commodities - ainda que tenha provocado um impacto acentuado em umas determinadas regiões exportadoras, em especial do ramo calçadista e têxtil.
No atual momento da economia mundial, no entanto, retraiu-se no ano passado, o que provocou, por tabela, queda no processo das commodities. O governo americano, tendo em vista a crise, ajusta sua moeda - por sinal, a moeda hegemônica - de modo a acertas suas próprias contas, o que joga uma pressão gigantesca sobre as demais economias - a europeia, principalmente, mas não a chinesa, que mantém sua moeda atrelada ao dólar -, o que, graças ao nosso modelo de sistema cambial, produz uma deformação com a valorização demasiada da moeda nacional. Por outro lado, outro fator não menos importante, que é a taxação dos juros de curto prazo (mediante a taxa SELIC), ainda que encontre números mais razoáveis do que no governo anterior, permanece em patamares elevados (8,75% ao ano), o que ajuda a esfriar a demanda ao mesmo tempo em que atrai capital especulativo que ajuda a "valorizar" o câmbio.
Atualização 17/03 às 19:56: O João Villaverde acaba de anunciar a manutenção da taxa de juros em 8,75% a.a.. Dos males o menor, mas ainda um problema grave.
Hugo,
ResponderExcluir... e pensando no Banco Central, quem afia de mais a faca corre o risco de cortar a mão.
Na mosca, Edu.
ResponderExcluirÓtimo texto, Hugo.
ResponderExcluirO BC divulga logo logo a Selic, com o mercado rachado entre alta de 0,5% e manutenção dos 8,75%. Continuo, enfático, defendendo que é precipitado elevar a Selic agora. Vamos ver.
Obrigado pelo link, meu caro.
Abração
O que é triste, não é meu caro? Ainda que já tenhamos vivido dias muito piores no que concerne a política macroeconômica, não dá pra engolir uma taxa de juros nesse patamar em um país que fechou 2009 com um crescimento de -0,2% e uma inflação de pouco mais de 4%. Não houve nível de aquecimento que justificasse esses patamares e não há nível de aquecimento justificável sequer para a manutenção dessa taxa. O impacto disso sobre o câmbio é, aliás, um abacaxi horrível dada a conjuntura mundial - e traçar um projeto claro de política cambial é obrigação dos candidatos e essencial para o país.
ResponderExcluirUm abraço
P.S.: Você leu a entrevista do Bresser na edição da semana de 10 de Março da CartaCapital? Acho que algumas bolas que ele levanta ali dariam boas pistas para isso.
Se vivemos, meu caro, se vivemos. No período entre 1992 e 1998, nossa taxa de juros média foi algo entre 25% e 30% ao ano. Hoje, ver a Selic em 8,75% ao ano parece até paraíso.
ResponderExcluirEstamos longe, bem longe da civilização. Mas o fato de o BC não ceder tão facilmente aos apelos do mercado financeiro já é uma ótima notícia.
Pode durar pouco, já aviso cara. O BC deve subir a Selic em fins de abril, mesmo que os índices de inflação venham calminhos em março e abril. A pressão do mercado, por meio dos juros futuros, vai estar pesada contra o BC.
Abração
P.S. Li sim. Ele fez o apanhado das ideias que solta nas colunas na Folha ou quando dá entrevistas ao Valor. A questão do déficit corrente, alargado pelo câmbio (afundado pelos juros, veja a ciranda) é um ponto que Bresser acerta.