O Brasil é um país muito complexo, não apenas pelo seu tamanho populacional e territorial, mas também por suas peculiaridades históricas e econômicas que se expressam uma profunda heterogeneidade étnica e uma distribuição territorial extremamente desequilibrada - assim como a própria existência de uma desigualdade econômica muito forte entre as regiões. Em um país como os Estados Unidos que, em que pese toda sua diversidade, é muito mais homogeneo que o nosso, as diferenças regionais já produzem enormes diferenças de perspectivas nas eleições, imagine só aqui. Entender o comportamento médio dos eleitores das variadas regiões brasileiros, é fundamental para antever o andamento da campanha para as eleições do fim do ano e também compreender o debate nacional em toda sua complexidade.
As regiões Nordeste e Norte do país, historicamente as mais pobres e desiguais, submetidas ao coronelismo descarado, assistiu depois de 1988, uma série de avanços econômicos e políticos que se retroalimentam e provocou uma enorme mudança na forma de ver as eleições e mesmo de praticar a cidadania. O sucesso das políticas do Governo Federal na região, seja a política de desenvolvimento mesmo ou as políticas sociais, ainda que longe do esperado, produziram avanços sem par na história recente do Brasil. O eleitorado submetido à vassalagem de tiranetes locais, geralmente partidários de agremiações conservadoras, para conseguir assistência hospitalar, acesso à luz elétrica ou, até mesmo, alimentos, de repente se viu diante de programas republicanos de inclusão social e desenvolvimento econômico - e, novamente, em que pese as críticas que possam ser feitas, eles inauguram uma nova forma de tocar tais políticas.
A nova perspecitiva majoritária dos eleitores do Norte-Nordeste se relaciona a uma defesa de um Estado social-desenvolvimentista e republicano que não se vê, majoritariamente, representado pelo PSDB e seu social-liberalismo demasiadamente provinciano (leia-se: paulista) - como, na verdade, nunca se viu, haja vista que era o esquema político de Antônio Carlos Magalhães e do ex-PFL para quem o Governo FHC terceirizou a administração da região. Em que pese todas as diferenças regionais nessa enorme faixa de terra, a convergência em torno dessas linhas gerais é muito massificada e profunda, o que representa um sério perigo para a candidatura Serra e um ponto para Dilma (ou mesmo Marina na Amazônia) e demais candidatos mais à esquerda.
Isso poderia ser contrabalanceado pela enorme popularidade que o PSDB tem em São Paulo, principalmente no interior, onde se tornou o partido das lideranças da cidades pequenas e médias do interior - lugares onde, na maior parte das vezes, a incapacidade dos demais partidos em entenderem as realidade locais cria um hegemonia artificial -; mesmo que se verifique nas regiões metropolitanas do estado - ou mesmo em cidades maiores do interior - onde há uma organização maior dos partidos que se opõem ao projeto tucano - principalmente por parte do PT -, não há uma ação contra-hegemônica suficientemente estruturada para vencer o enraizamento da ideologia tucana nos meios de comunicação e na burocracia do estado. Trocando em miúdos, a incompetência da oposição somada à capacidade tucana de ocupação de determinados espaços nevrálgicos - muito menos sua capacidade projetiva que é facilmente desconstruível - em São Paulo produz um cenário favorável a uma provável candidatura Serra no fim do ano.
O Centro-Oeste é uma região profudamente difusa, até pela natureza de seu crescimento econômico nos últimos anos, marcado por um avanço muito rápido e até voraz do agronegócio, o que dá um ar de imprevisibilidade do eleitorado - o câmbio desvalorizado, no entanto, pode provocar danos consideráveis a economia de certas regiões, o que pode se reverter negativamente para a candidatura Dilma, mas não necessariamente. O Distrito Federal, que é uma realidade à parte naquela região, tende a não referendar o PSDB, até pela tragédia Arruda, mas nada é tão certo quanto parece em relação àquele peculiaríssimo ente federado.
O que decidirá mesmo as eleições presidenciais desse ano será, sobretudo, o que vai ocorrer em Minas, Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro - em especial nos dois primeiros, haja vista que o Rio, levando consigo o Espiríto Santo, tende a não votar no PSDB e se soma ao eleitorado do Norte-Nordeste. Isso, portanto, obrigará Serra a ir particularmente bem em São Paulo e não apenas vencer nos dois primeiros estados, mas sim vencer bem
O Rio Grande do Sul, mesmo tendo um eleitorado menor do que o Rio de Janeiro, acaba sendo um centro de irradiação que influencia o voto de Santa Catarina e no Paraná (exceto no norte daquele estado) - e lá, o desastre Yeda é um balde de água fria no PSDB, o que somado com a aliança do PT com o PMDB, deixará o candidato tucano sem palanque, pelo menos dos dois partidos com chances reais de conseguir o governo do estado. Pesa em toda a região Sul, entretanto, o mesmo fenômeno que se opera no Centro-Oeste no que concerne ao câmbio devido a dependência de regiões inteiras da atividade agroexportadora ou da exportação industrial, o que cria focos de insatisfação que favorecem discursos conservadores, ainda que os programas sociais e a estabilidade econômica ajudem a absorver o impacto.
Em Minas, um estado onde o PSDB é particularmente mais forte do que no Sul - e não apenas uma opção mais aceitável para os conservadores no que envolve a polítca nacional -, vê-se a influência pesada do nevismo nesse movimento - o que dá uma característica muito diferente do que em São Paulo, onde o tucanismo não é personalista, mas apenas faz uso, temporariamente de certas personalidades; ainda assim certos bordões como "choque de gestão" são comuns em ambos os estados - e uma força maior do PT do que em São Paulo - apesar do racha. O Ponto é que a candidatura Dilma une os eleitores/militantes do PT mineiro e, ao mesmo tempo, o golpe desferido por José Serra contra a candidatura de Aécio
pode ter consequências mais graves do que se imagina contra o governador paulista, mas isso é uma hipótese ainda a se avaliar.