terça-feira, 30 de março de 2010

Reflexões sobre a Política em Tempos Pré-Apocalípticos

Enquanto a Rússia permanece em crise com a implosão do seu sistema político - o que se manifesta pela uso sistemático do terrorismo como instrumento de diálogo pelos mais variados setores (em que pese a inexistência de simetria entre as partes, pois uma delas é o Estado), ou seja, a violência enquanto linguagem -, cá no Brasil, São Paulo segue dias funestos depois da repressão à greve dos professores: O governador alega que a greve em questão foi "política" e, agora, seu partido, o PSDB, pretende entrar com uma representação contra a Apeoesp (Associação dos Professores do Estado de São Paulo) no TSE alegando "contrapropaganda eleitoral". 

Resta saber qual greve não é política, mas o governador, douto acadêmico e ex-militante da UNE, usa-se do ódio à Política - insuflado nos corações e mentes dos cidadãos durante décadas pelos nossos regimes autoritários - para, assim, lançar mão da medida mais manjada, dentre as medidas manjadas de governos autoritários frente a movimentos de reivindicação trabalhistas: A deslegitimação da figura do oprimido, ora organizado e reivindicante, por meio de uma espécie de ad hominen em massa.

A representação do PSDB no TSE, diga-se de passagem, seria trágica, se não fosse cômica - e esse pobre escrivinhador que vos escrivinha confessa que, após horas tentando descobrir se isso é fruto de má intenção pura ou de esquizofrenia, chegou a conclusão que tomara que seja má intenção, porque se alguém realmente acreditar nisso, é a deixa para se fugir para o Paraguai: A singela tese de contrapropraganda eleitoral é assaz curiosa e não deixa de entreter mentes desocupadas como a minha - se estamos todos vedados de falar mal do PSDB em público, só porque é ano eleitoral, não seria isso sim uma "contrapropaganda", ou melhor, uma propaganda do silêncio - igual o da Revolução Silenciosa que Serra promove na Educação Pública -? Preso por ter cachorro e preso por não ter cachorro? Se a manifestação é inválida porque o ano é eleitoral, em que pese quatorze anos sem aumento salarial real da categoria, deveriam então os professores se reservarem a fazer manifestações apenas em anos ímpares?

Se a Política continua viva na atuação dos professores em greve, da parte do governo do estado, ela só existe em um sentido perverso, perfeitamente possível e recorrente ao longo da História: Na sua autodestruição. Isso mesmo, a Política é uma esfera da convivência humana que não se realiza por si mesma - em que pese ser imprescindível - no máximo, servindo para traçar nortes; de modo direto mesmo, ela serve para se autosustentar; de modo prático, a única intervenção possível dela na realidade é por meio de sua autodestruição, pois aí acabam-se os nortes e sobram apenas os norteadores - como na Rússia, onde todos os lados possíveis estão matando e se matando por conta de um estado de coisas decorrentes aos mesmos anseios que motiveram a Revolução Russa: Liberdade civil e política, Igualdade Social e Igualdade entre as várias etnias; enfim, o trinômio que lá conseguiu engolir a Revolução com o maior potencial emancipatório já ocorrida na história humana.

Ao contrário do postulado de Von Clausewitz, a Guerra não é a continuação da Política por outros meios, mas uma inerência de sua implosão - e esse pensamento é a definição mais sintética, e profunda, do gigantesco equívoco que mergulhou a Europa, décadas mais tarde, em sangue e que ronda o mundo contemporâneo de forma insistente, quem sabe tentando nos vencer pelo cansaço, o que seria das melhores táticas para uma estratégia intrinsecamente suicida.

segunda-feira, 29 de março de 2010

Atentados suicidas no Metrô de Moscou [Atualizado]

(Foto retirada do NYT) 

Aconteceu hoje um atentado terrorista gravissímo no metrô de Moscou. Dúzias de pessoas morreram e segundo os informes do momento, trataram-se de ataques suicidas com alvos bem direcionados: Estações próximas às sedes de núcleos do poder russo como a FSB (sucessora da KGB) e o Ministério do Interior - em suma, a poucos quilômetros de distância do Kremlin. As evidências e o modus operandi apotam para terroristas do Cáucaso. Trata-se de mais um capítulo sangrento da relação entre o poder central russo e as províncias não-eslavas do Cáucaso, o que acumula centenas de milhares de mortos desde o fim da União Soviética - e ocorre simultaneamente a grave crise que vive o país, o mais atingido pela crise mundial dentre os membros do BRIC e que, ainda por cima, vive uma crise de hegemonia profunda, na qual assiste a crescentes manifestações da oposição, fenômenos em relação aos quais, os atentados não estão totalmente alheios. Estamos a espera de mais informações e da reação de Moscou a isso.

Atualização de 30/03/2010: Por ora, a desinformação reina numa Rússia onde o Estado, mais e mais, volta a controlar os meios de comunicação; as evidências continuam a apontar para os guerrilheiros tchechenos, mas há quem teça teorias de que isso poderia ter o dedo do governo central. Seja como for, o que aconteceu, no mínimo, será um pretexto cômodo para a escalada de autoritarismo que Putin tem promovido na Rússia; se durante seus anos na Presidência, seu governo foi caracterizado por seguir uma vertente nacional-desenvolvimentista um tanto extemporânea - mas não extremista -, os anos que se seguem ao movimento bizarro onde ele trocou de lugar com o seu primeiro-ministro - que, constitucionalmente, teria menos poderes do que ele, mas que na prática não é isso que se vê agora - apontam para uma degeneração aguda das liberdades individuais e políticas, o que tem sido alvo de protestos de grupos que vão dos anarquistas aos ultranacionalistas, passando pelos comunistas e liberais.

domingo, 28 de março de 2010

A Greve do Governador

 (foto retirada daqui)

No último post, narramos a as causas e as razões por detrás da greve dos professores em São Paulo - bem como a nova reação desmedida da Polícia Militar frente a esse tipo de situação, que apesar de ser fato recorrente na história bandeirante, vem ganhando na atual gestão ares cada vez mais apocalípticos. Agora, no entanto, eu me presto a investigar o outro lado da história - afinal, toda história tem dois lados, como ensina qualquer bom manual de jornalismo -, ele é o do Governador Serra.

Basicamente, os problemas de São Paulo são conhecidos por todos, a dupla Quércia e Fleury simplesmente faliu o estado justo num momento onde isso não poderia acontecer: Quando a desindustrialização do estado se aproximava por conta da própria forma que ele foi implementado (artificialmente e de maneira concentrada geográfica), o que exigiria do governo do estado políticas complexas de articulação no sentido de amortecer esse impacto e construir novas saídas.

Verdade seja dita, Covas pegou um estado em uma situação catastrófica, mas o ajuste que promoveu, longe de marcar uma reversão nesse processo, nada mais foi que mais um clássico choque de gestão tucano, onde serviços essenciais como educação e saúde foram sucateados ao mesmo tempo em que nada se fez em relação à desindustrialização, tomado como um fenômeno normal dos nossos tempos. Ainda assim, o PSDB paulista sob o manto de Covas, ainda nutria certos pudores e fios éticos, o que fora perdido rapidamente após sua morte e a ascenção de seu vice, Alckmin, ao governo do estado, o que marcou uma guinada à direita do partido.

Enquanto Alckmin se embrenhava em terras nunca antes visitadas por ele - por uma terra chamada Brasil -, Serra abandonava a Prefeitura de São Paulo após breve governo de um ano para alçar voos maiores no Palácio dos Bandeirantes. Se até os anos 90 Serra era um político tucano notadamente mais à esquerda dos seus confrades - se opondo ao malanismo -, a derrota para Lula em 2002 operou verdadeiras mudanças na sua estratégia: O seu retorno a cena política se deu com uma aliança mais à direita contra o Governo Marta e o seu salto para o Governo do estado se deu, todo o tempo, com alianças carnais com o que restava do malufismo no estado.

Durante os três anos e três meses de seu governo, Serra não resolveu nenhum dos problemas que herdou: Ao contrário, a política de sucateamento da educação e da saúde persistem, as políticas para o transporte público continuam andando a passos de tartaruga - e o máximo que se pode dizer, é que ele acabou se beneficiando da retomada do crescimento econômico do país, onde a indústria paulista voltou a funcionar (em grande parte pelo boom de crescimento econômico no Nordeste).

Nos grandes conflitos vistos no seu período, ele agiu da pior forma possível: Na greve da polícia civil, ter mandado a PM reprimir o confronto foi, no mínimo, temerário. Na USP, a invasão da tropa de choque foi só um capítulo no seu histórico de interferência: Ano passado, ele indicou o candidato menos votado para Reitor, repetindo o gesto de Paulo Maluf nos tempos da ditadura, o que foi bisonho - principalmente porque falávamos de uma lista triplície onde não havia sequer um nome reformista. Na greve dos professores que está em curso, além da postura autista frente a reivindicações legítimas, o uso desmensurado da força contra os manifestantes revela não apenas uma postura pouco democrática como também burra, que acende um sinal amarelo: Como Serra irá lidar com negociações muito mais complexas do que essa pelo país e fora dele?

A resposta de Serra em relação ao que aconteceu foi bastante simples: As manifestações dos professores pelo estado foram mero "trololó". Na visão de Serra, seja por paranoia ou dissimulação, as manifestações contra seu governo são ilegítimas, todas "politicamente motivadas", o que justificaria o uso de força policial: Isso tem sim o seu aspecto cínico, mas não há como desconsiderar que, mesmo por uma perspectiva maquiavélica, haveria outros meios de se resolver essa situação; como bem suscitou André Kenji, dar um pequeno aumento para desmobilizar o movimento seria bem mais eficaz do que isso - sim, seria. 

Isso aponta, além de tudo, para uma falta de vínculo dele com a realidade, onde as demandas sociais e políticas são reduzidas a meros empecilhos visando lhe impedir de chegar à Presidência da República, o que somado ao apoio canino da grande mídia, lhe autorizaria a fazer o que bem quiser, porque estararia respaldado para tanto pela manchete de amanhã - e o seu governo estaria autonomizado do elemento povo, uma benção possibilitada pelo sistema de mídia corporativa atual que tem de ser mantido, custe o que custar.

Por fim, não tenho como não relacionar o modo como Serra qualificou a manifestação a um outro trololó, na verdade, um vídeo russo que o Luís Henrique me enviou há um tempo e que virou uma verdadeira febre na Internet: Trata-se de uma obra aparentemente nonsense do cantor sovietico Edvard Khil que, na verdade, é um baita protesto político de um artista que teve a letra de uma música sua praticamente toda censurada e, para satirizar os censores, cantou a única parte que não lhe foi proibida, resultando num grande trololó ao longo de todo vídeo. Serra, por vias tortas, acertou dessa vez, mas enquanto ataca de crítico às avessas, o governador prossegue sua greve que já dura três anos, dois meses e 28 dias.

Atualização de 28/03 às 20:01: E antes que eu não perca a deixa, até agora nada se resolveu quanto ao mistério da foto. Só causa espécie que o Ministério Público Estadual, que se mobilizou tão arduamente para impedir a mobilização dos professores, nada tenha feito para investigar a existência de policiais infiltrados.


sábado, 27 de março de 2010

A Greve dos Professores

(Foto: Rodrigo Coca/AE, tirada daqui)

A repressão violenta às manifestações dos professores no estado de São Paulo é um fato da maior gravidade. Só para recapitular, certamente uma das das maiores mazelas - se não for a maior - do tucanato em São Paulo é a desagregação da Educação Pública, vítima da péssima remuneração dos professores, das bisonhas condições de trabalho e da escalada da burocratização do sistema - sendo que no cenário atual 25% do orçamento está, curiosamente, alocado no gabinete do secretário. O pior de tudo é a inexistência de qualquer tipo de projeto na área ou qualquer boa vontade dos sucessivos governos tucanos em dialogar de forma honesta com a classe - muito pelo contrário, assim como ontem, a regra geral é a pancada como narrou de perto o Eduardo Prado.

O Edu nos traz alguns outros dados importantes: O último reajuste salarial real que os professores receberam foi em 1996 e boa parte dos elementos componentes da remuneração vem de gratificações que, obviamente, não são consideradas para o cálculo das aposentadorias - além de inexistir qualquer coisa que mereça ser chamado de Plano de Carreira. Ainda assim, esse pessoal se presta a acordar cedo e dormir tarde trabalhando em áreas muito pobres, marcadas pela desagregação familiar e pela violência.

Os interesses que rolam em torno desse quadro vão desde, digamos, a falta de critérios republicanos para admitir pessoas na burocracia de uma Secretaria de Eduacação que tem inchado nos últimos anos, tanto em gastos quanto em contingente - que, veja só, às vezes coincide com certas lideranças de pequeno porte pró-governo desempregadas. Há também o lobby de algumas redes de colégios privados e de cursinhos - sendo que algumas empresas mantém ambos ao mesmo tempo - que se tornaram um negócio promissor dos anos 90 para cá atacando uma clientela de classe média que não pode pagar colégios de elite e não quer os filhos na escola pública.

No entanto, do mesmo modo que nos anos 90, a máquina tucana instalada no Governo Federal vendeu com certo êxito o "senso comum" de que o que é privado funciona melhor - e que estatais são meros cabides de emprego destinadas a dar prejuízo ao estado -, aqui nós vemos algo parecido: A Escola Pública não funciona porque é pública e a Escola Privada é boa porque as pessoas estão pagando - ou pior, que os professores são os verdadeiros culpados por essa situação.

Tais sofismas podem ser facilmente desmascarados com a divulgação de dados concretos - como a ausência de remuneração digna ou de plano de carreira para a classe magisterial ou mesmo o apontamento de que há, nas escolas públicas, muito mais burocracia do que nos colégios privados para resolver as mesmas coisas -, mas isso não quer dizer que eles não estejam funcionando há algum tempo, tocados adiante pela máquina de propaganda.

Por outro lado, temos o que é próprio do Governo Serra: Para além do descaso com os investimentos (próprio dos governos tucanos por todo país em todos os tempos), o confronto de ontem soma-se à Invasão da USP pela Tropa de Choque e à Guerra de polícias no que toca a política serrista de lidar com reivindicações populares -  e todas essas intervenções foram absolutamente desnecessárias mesmo sob um ponto de vista cínico de fazer política, o que não quer dizer que não tenham sido pensadas (ainda que mal pensadas); Serra se mostra alguém completamente despreparado para lidar com situações que exigem uma mínima sofisticação negocial, seja pela sua falta de capacidade ou pelo desequilíbrio provocado pela sua obsessão em ser Presidente da República custe o que custar.

Atualização de 27/03 às 21:31: Há controvérsias se a foto que estampa o post seria de um professor socorrendo uma policial ou se seria de um policial infiltrado na manifestação - como declarou a PM. O fato é que se a PM disse isso para desmistificar a foto, se deu mal porque entregou que havia P2 lá dentro, caso não seja, ela se entregou pior ainda e agravou o que já não era bom.

sexta-feira, 26 de março de 2010

PNDH-3 na PUC: Luta, Substantivo Feminino

Ontem pela manhã rolou o ato do lançamento do livro "Luta, Substantivo Feminino – mulheres torturadas, desaparecidas e mortas na resistência à ditadura”, um livro que reúne os perfis de 45 mulheres assassinadas pela repressão militar e cujo lançamento se enquadra dentro do projeto Direito à Memória e à Verdade - que se encontra previsto no Eixo 6 do PNDH-3  e está sendo tocado pela Secretaria Especial dos Direitos Humanos. Estavam na PUC o Ministro Paulo Vannuchi, a Ministra Nilcéia Freire juntos com as Professores Flávia Piovesan, Silvia Pimentel, Flávio Croce, o diretor da Faculdade, Professor Marcelo Figueiredo além de uma representante do movimento dos torturadas, Rosalina Santa Cruz, e um representante do nosso CA, meu amigo Leo Danesi - assim com a plateia estava cheia de ex-presos e presas políticos.

Foi um ato muito bonito - e fico chutando minha própria canela por não ter corrido atrás de uma câmera, já que a minha tá com problema. Por mais que eu tenho participado de eventos como esse, eu ainda me impressiono com a coragem daquela geração: A turma foi para o pau contra uma máquina de matar insaciável e até hoje luta, se movimenta, contesta - mas ai fica uma provocação minha: Mas por que será que ela não conseguiu passar isso para as outras gerações? Eu tenho minha tese de que isso tem muito a ver com a forma como sistema de mídia foi desenhado no pós-ditadura e como as universidades brasileiras ficaram burocratizadas. Mas não sei, pode até ter mais coisa aí.

O livro em si ficou muito bem feito - ele pode ser baixado no próprio site da SEDH, é só entrar no link lá em cima. Trata-se de uma obra que apesar de ser bastante pungente e chocante, é muito bonito - o que, ao meu ver, casa bem com o espiríto do projeto; são 45 Antígonas a nos contar sua história.

Do que foi dito pelos no ato, as falas de Áurea Moretti, uma enfermeira de Ribeirão Preto que militou contra o regime e foi barbarizada na prisão, no sentido de não apenas narrar o que sofreu e o que foi aquela época, mas também de se posicionar corajosamente em relação a temas como liberalização das drogas e aborto foi sensacionar. O Ministro Vannuchi também mostrou uma postura corajosa ao defender o PNDH-3 - aliás, poucas pessoas politizaram tão bem a pauta dos direitos humanos quanto ele nesse país - e ao criticar a mídia, principalmente a Globo, que gravou uma palestra inteira sua e depois mostrar apenas uma filmagem sua sem voz, alegando que "o ministro recuou em tudo sobre o PNDH-3" - evidentemente, o fato dele ter sido pressionado pelos altos escalões do Governo a remendar o texto do PNDH-3, é questionável, mas a crítica a forma como isso tem sido coberto pela mídia nunca deixa de ser valida, até porquê a Globo certamente fez essa afirmação em caráter de comemoração. Também foi maravilhosa a fala de Rosalina Santa Cruz agradecendo a Jobim por ter politizado a questão.
 

Enfim, em que pese qualquer turbulência no processo, o PNDH-3 está sendo um instrumento importantissímo no debate político atual, pois forçou a direita a se posicionar e assim delinear o cenário político brasileiro real - e também mostrou os velhos recuos desnecessários do Governo, que não errar em conciliar, mas que, não raro, concilia no momento e da forma errada. As diretrizes e eixos ali tirados não são de jogar fora, muito pelo contrário, se constituem em importantes nortes para a nossa luta.

quarta-feira, 24 de março de 2010

Refletir para Lutar

Eu cresci num lar onde sempre se falou bastante de política - principalmente papai, um nacional-desenvolvimentista extemporâneo - e estudei numa escola onde as pessoas faziam o mesmo. Lembro quando eu ouvi pela primeira vez o termo "comunismo" e, de pronto, perguntei o que era isso para mamãe: Ela, estarrecida com a pergunta me disse que era "uma forma de se organizar diferente do que vivíamos onde ninguém era dono de nada e todos trabalhavam para o Governo que, em troca, os sustentava", eu perguntei como isso era possível e ela me respondeu que não sabia.

Na escola,eu me interessei muito cedo por estudar História e Geografia e sempre relacionava isso com o que acontecia na Política - tão logo desenvolvi simpatias pelo Socialismo, aquilo que eu via como um modo de organização alternativa a todo o descalabro que me cercava, ainda que eu não soubesse bem o que era o aquilo. Depois entendi melhor e uma perguntava que não calava era como e porque a União Soviética acabou: Meus professores, em geral esquerdistas, davam um sorrisinho amarelo; uns se saiam com raciocínios circulares e outros diziam que aquilo não era um socialismo verdadeiro.

O tempo passou-se e minha crítica ao que era e o que poderia ser foi se desenvolvendo. Foi na Faculdade que eu conheci, pela primeira vez, a política por dentro, em especial, os movimentos de esquerda. Isso trouxe à baila uma torrente de sentimentos que, de certa forma, já estavam lá nas minhas reflexões da adolescência: O fracasso do Socialismo, transformado em um sistema totalitário e ineficiente que simplesmente implodiu, seria culpa dele mesmo ou de uma distorção sua? 

Mais assustador do que isso é que na Faculdade, tomei contato com o pensamento anarquista - diabos, nossos pais nos mandam para a Faculdade de Direito e vamos estudar anarquismo! - e Bakunin, de forma enfática, antevê o formidável desastre que se anunciava - e, um pouco mais tarde, Kropotikin anteviu como a própria perspectiva bakuninista da revolução violenta estava fadada ao fracasso como a sombra profunda do netchaievismo nos prova até hoje.

O pensamento liberal, ainda que tenha produzido as linhas gerais da democracia contemporânea, não consegue dar respostas para as demandas gravissímas que afligem a humanidade hoje, impedindo a consubstanciação de uma verdadeira democracia; Se por um lado, os americanos, ao optarem pela via liberal, conseguiram conquistas importantes no que toca a liberdade de expressão, por outro, estão decadas atrasados nas demandas sociais - que não são piores ou melhores do que as demandas individuais, mas sim perfeitamente complementares. Tanto é verdade que o debate sobre a implantação de um sistema universal de saúde pública naquele país foi permeados por falácias de toda natureza - quando "não há a almoço grátis" é um dos principais argumentos num peleja, há pouco o que se dizer a respeito.

A Europa contemporânea, construída sobre os escombros da Segunda Guerra Mundial em cima dos ideais da social-democracia e da democracia-cristã, pelo seu lado, fracassa igualmente, pelos motivos inversos: A incapaciade em absorver os imigrantes devido a um ululante etnocentrismo é deveras preocupante. O Estado de bem-estar consegue prover, ainda, políticas públicas inimagináveis nos EUA, ao mesmo tempo em que as pautas ligadas ao indivíduo estejam mais atrasadas do que no outro lado do Atlântico - isso sem falar no que restou da Europa Oriental depois de décadas sob o julgo de regimes socialistas autoritárias que necrosaram diante da total opressão sobre seus cidadãos.

Esses itens levantam reflexões importantes sobre como a luta social é conduzida no Brasil. Seguimos a tradição intelectual europeia com alguns enxertos americanóides, mas, apesar dos avanços notáveis, ainda estamos longe de nos organizarmos como um Estado Legal burguês organizado. Por outro lado, a esquerda tropeça ainda nas falácias do vanguardismo e num idealismo mais ou menos acentuado - como se vê agudamente nas fileiras esquerdistas paulistanas - que faz um movimento pendular entre o voluntarismo e a crítica fácil, próprias de quem assiste a questão social de longe. Será que em muitos momentos não buscamos apenas caiar o Leviatã de vermelho? Por que não criar conceitos e formas de ação mais condizentes com a nossa realidade? É necessário a esquerda brasileira fazer uma reflexão séria sobre as demandas do nosso tempo e assumir um posicionamento francamente libertário e realista - do contrário a luta contra o liberalismo particulamente decadente do país perderá, em si, o significado.

domingo, 21 de março de 2010

Palmeiras Fora

O Palmeiras massacrou, pressionou um jogo inteiro, criou lances, finalizou, mas não marcou e no futebol, me perdoem o clichê, quem não faz leva e a Ponte venceu. E a defesa palmeirense provou novamente fragilidade, bastou o adversário pressionar e o ataque não marcar - seja por infelicidade ou displicência de seus atacantes - que ela entregou. Danilo não consegue marcar e Léo é instável, Pierre não começou tão bem a temporada quanto nos anos anteriores e Edinho não consegue dar a consistência devida na marcação. Por mais que Diego e Cleiton produzam mais a frente, pouco importa, o resultado é tão pálido quanto a expressão dos torcedores que saíam do Palestra ontem quando retornava do GE de Ciência Política do 22 de Agosto - a PUC, para quem não conhece São Paulo, fica a alguns quarteirões ao sudeste do Palestra Itália, quando você desce a Monte Alegre em direção a Barra Funda, fatalmente cruza com a torcida palestrina, pela expressão dela, nem precisa chegar em casa e ver o que se deu no jogo para ter ideia do resultado. De todos os cinco jogos que o Palmeiras tinha pela frente, esse era sem dúvida o mais perigoso, e foi perdido. Não vejo mais possibilidades para o Palmeiras que tropeçou diante de pequenos apesar dos bons clássicos feitos.

sábado, 20 de março de 2010

A Reta Final do Paulistão 2010

O Paulistão 2010 entra na sua 15ª rodada e se aparentemente tudo parecia definido para a próxima fase até a última rodada, com a classificação de Santos, São Paulo e Corinthians e do surpreendente Santo André - com o Botafogo apresentando alguma chance -, a ascenção do Palmeiras esquenta as coisas. É verdade que a tarefa verde não é das mais fáceis, não lhe basta apenas ganhar todos os jogos, mas ele tem de trocer também contra seus adversários, só que a atuação contra o Santos é no minímo alentadora: Não resta dúvida, se o Palmeiras jogar razoavelmente como jogou no último domingo, certamente fará a sua parte. Sua tabela tem apenas um jogo um pouco mais complicado, justamente hoje contra a Ponte Preta em casa, os demais jogos são perfeitamente vencíveis. O São Paulo é o fiel da balança porque tem confrontos diretos contra Corinthians e Santo André e ainda que isso não faça o Palmeiras depender de si mesmo, pelo menos, lhe facilita as coisas. O Santos deve passar em primeiro e ser o time a ser batido - com muita dificuldade, afinal, entrar na segunda fase com a vantagem de placares iguais com uma equipe como essa é uma vantagem grande demais. De qualquer forma, esse campeonato será mais divertido do que o anterior, seja na fase de classificação ou no mata-mata.

sexta-feira, 19 de março de 2010

As Eleições 2010 e as Regiões

O Brasil é um país muito complexo, não apenas pelo seu tamanho populacional e territorial, mas também por suas peculiaridades históricas e econômicas que se expressam uma profunda heterogeneidade étnica e uma distribuição territorial extremamente desequilibrada - assim como a própria existência de uma desigualdade econômica muito forte entre as regiões. Em um país como os Estados Unidos que, em que pese toda sua diversidade, é muito mais homogeneo que o nosso, as diferenças regionais já produzem enormes diferenças de perspectivas nas eleições, imagine só aqui. Entender o comportamento médio dos eleitores das variadas regiões brasileiros, é fundamental para antever o andamento da campanha para as eleições do fim do ano e também compreender o debate nacional em toda sua complexidade.

As regiões Nordeste e Norte do país, historicamente as mais pobres e desiguais, submetidas ao coronelismo descarado, assistiu depois de 1988, uma série de avanços econômicos e políticos que se retroalimentam e provocou uma enorme mudança na forma de ver as eleições e mesmo de praticar a cidadania. O sucesso das políticas do Governo Federal na região, seja a política de desenvolvimento mesmo ou as políticas sociais, ainda que longe do esperado, produziram avanços sem par na história recente do Brasil. O eleitorado submetido à vassalagem de tiranetes locais, geralmente partidários de agremiações conservadoras, para conseguir assistência hospitalar, acesso à luz elétrica ou, até mesmo, alimentos, de repente se viu diante de programas republicanos de inclusão social e desenvolvimento econômico - e, novamente, em que pese as críticas que possam ser feitas, eles inauguram uma nova forma de tocar tais políticas. 

A nova perspecitiva majoritária dos eleitores do Norte-Nordeste se relaciona a uma defesa de um Estado social-desenvolvimentista e republicano que não se vê, majoritariamente, representado pelo PSDB e seu social-liberalismo demasiadamente provinciano (leia-se: paulista) - como, na verdade, nunca se viu, haja vista que era o esquema político de Antônio Carlos Magalhães e do ex-PFL para quem o Governo FHC terceirizou a administração da região. Em que pese todas as diferenças regionais nessa enorme faixa de terra, a convergência em torno dessas linhas gerais é muito massificada e profunda, o que representa um sério perigo para a candidatura Serra e um ponto para Dilma (ou mesmo Marina na Amazônia) e demais candidatos mais à esquerda.

Isso poderia ser contrabalanceado pela enorme popularidade que o PSDB tem em São Paulo, principalmente no interior, onde se tornou o partido das lideranças da cidades pequenas e médias do interior - lugares onde, na maior parte das vezes, a incapacidade dos demais partidos em entenderem as realidade locais cria um hegemonia artificial -; mesmo que se verifique nas regiões metropolitanas do estado - ou mesmo em cidades maiores do interior - onde há uma organização maior dos partidos que se opõem ao projeto tucano - principalmente por parte do PT -, não há uma ação contra-hegemônica suficientemente estruturada para vencer o enraizamento da ideologia tucana nos meios de comunicação e na burocracia do estado. Trocando em miúdos, a incompetência da oposição somada à capacidade tucana de ocupação de determinados espaços nevrálgicos - muito menos sua capacidade projetiva que é facilmente desconstruível - em São Paulo produz um cenário favorável a uma provável candidatura Serra no fim do ano. 

O Centro-Oeste é uma região profudamente difusa, até pela natureza de seu crescimento econômico nos últimos anos, marcado por um avanço muito rápido e até voraz do agronegócio, o que dá um ar de imprevisibilidade do eleitorado - o câmbio desvalorizado, no entanto, pode provocar danos consideráveis a economia de certas regiões, o que pode se reverter negativamente para a candidatura Dilma, mas não necessariamente. O Distrito Federal, que é uma realidade à parte naquela região, tende a não referendar o PSDB, até pela tragédia Arruda, mas nada é tão certo quanto parece em relação àquele peculiaríssimo ente federado. 

O que decidirá mesmo as eleições presidenciais desse ano será, sobretudo, o que vai ocorrer em Minas, Rio Grande do Sul e no Rio de Janeiro - em especial nos dois primeiros, haja vista que o Rio, levando consigo o Espiríto Santo, tende a não votar no PSDB e se soma ao eleitorado do Norte-Nordeste. Isso, portanto, obrigará Serra a ir particularmente bem em São Paulo e não apenas vencer nos dois primeiros estados, mas sim vencer bem

O Rio Grande do Sul, mesmo tendo um eleitorado menor do que o Rio de Janeiro, acaba sendo um centro de irradiação que influencia o voto de Santa Catarina e no Paraná (exceto no norte daquele estado) - e lá, o desastre Yeda é um balde de água fria no PSDB, o que somado com a aliança do PT com o PMDB, deixará o candidato tucano sem palanque, pelo menos dos dois partidos com chances reais de conseguir o governo do estado. Pesa em toda a região Sul, entretanto, o mesmo fenômeno que se opera no Centro-Oeste no que concerne ao câmbio devido a dependência de regiões inteiras da atividade agroexportadora ou da exportação industrial, o que cria focos de insatisfação que favorecem discursos conservadores, ainda que os programas sociais e a estabilidade econômica ajudem a absorver o impacto.

Em Minas, um estado onde o PSDB é particularmente mais forte do que no Sul - e não apenas uma opção mais aceitável para os conservadores no que envolve a polítca nacional -, vê-se a influência pesada do nevismo nesse movimento - o que dá uma característica muito diferente do que em São Paulo, onde o tucanismo não é personalista, mas apenas faz uso, temporariamente de certas personalidades; ainda assim certos bordões como "choque de gestão" são comuns em ambos os estados - e uma força maior do PT do que em São Paulo - apesar do racha. O Ponto é que a candidatura Dilma une os eleitores/militantes do PT mineiro e, ao mesmo tempo, o golpe desferido por José Serra contra a candidatura de Aécio pode ter consequências mais graves do que se imagina contra o governador paulista, mas isso é uma hipótese ainda a se avaliar.




quarta-feira, 17 de março de 2010

A disputa pelo Governo de São Paulo - Parte 2

 (alguém se habilita?)

Reitero aqui uma velha preocupação minha: Os holofotes estão demasiadamente focados na sucessão presidencial - e mal focados, porque o que mais se discute são pesquisas e não programas - e isso tá produzindo efeitos politicamente ruins como o desenho das candidaturas para os governos dos estados de forma mecânica e displicente - baseados não no debate interno nos partidos e em prévias (como deveria ser), mas sim numa lógica de "acordões" norteados pelas alianças decorrentes da corrida presidencial. Isso está se verificando em Minas de uma forma aguda, mas o caso paulista é, repito, muito grave e certamente me incomoda mais, talvez pelo fato de que eu sou um reles mortal e é aqui onde eu vivo.

O PSDB se mostra um partido cada vez mais degenerado e a simples possibilidade de uma nova candidatura Alckmin além de ser muito ruim, é um proposta requentada. Não, o ex-governador paulista nunca teve nada a acrescentar no debate político do estado, mas enquanto era apenas o vice low profile de Covas, alguém ainda poderia alegar o benefício da dúvida, hoje em dia não dá mais. Mercadante, pelos lados do PT, é uma proposta também com sérias limitações; trata-se de um político que foi promissor, mas depois tornou-se meramente um sujeito que se mantém no seu partido graças ao fato de ser "bom de voto" (tirando o fiasco da última corrida para o governo do estado, ele sempre foi bem votado para o que disputou) e de ser amigo das pessoas certas nos lugares certos em um partido onde o poder é cada vez mais centralizado. Dos demais partidos, não ouvi falar nada ainda, mas duvido muito que surja algo novo - se até o PSOL está preocupado apenas com as eleições presidenciais, que posso esperar eu?

Do PSDB, eu, honestamente, não espero mais nada. Do PT, ainda resta a possibilidade, ainda que remota, de um Suplicy ser seu candidato - pode ser um sonho, mas seria maravilhoso vê-lo disputando isso; em que pesem eventuais defeitos, ele é disparadamente o político mais íntegro de São Paulo e se houver ainda um pingo de razoabilidade no PT paulista, ele será o candidato. Também gostaria de ver o PSOL olhando com mais carinho as graves questões regionais do estado, lançando um olhar um pouco mais "micro" ao invés de ficar se preocupando em disputar alguns espaços esteréis e distantes da povo ou em abocanhar a Presidência de uma vez. Seja como for, me preocupa muito o futuro de São Paulo.

segunda-feira, 15 de março de 2010

O Crescimento, a SELIC (ainda) e o Câmbio

 (imagem retirada daqui)

Que o governo atual conseguiu bons resultados na economia, não resta dúvida. Ele rompeu com a mesmíce dos anos 90, quando o Governo FHC optou por uma estabilização do país por meio de uma ancoragem cambial e monetária desconectada de uma política fiscal séria ao mesmo tempo em que tocou um projeto de privatizações de índole duvidosa - cujos defensores defendem pela ótica de como serviços como telefonia, por exemplo, se tornaram imensamente mais acessíveis, escondendo, no entanto, que seus valores são muito mais caros do que a média mundial. Depois da quebra dos anos 90, passaram a pensar numa política fiscal, numa mudança do sistema cambial (ainda que este último tópico se deva mais à pressão dos nossos credores do que qualquer outra coisa).

A desvalorização do valor do Real - moeda brasileira desde de 1994 - foi uma consequência direta das condições macroeconômicas do período somada à especulação selvagem - o câmbio livre é a lei do mais forte, ou melhor, de quem tá mais reservas. Isso, lateralmente, produziu um impacto positivo ao possibilitar o crescimento das nossas exportações - travadas naquele momento por uma cotação completamente desvinculada da realidade -, o que por si só não dizia muita coisa. Se o Governo Lula tem algum grande mérito, sem dúvida, foi a habilidade da nossa diplomacia comercial conseguir acesso a novos mercados para além do eixo EUA-UE, em especial, aportando em mercados que experimentavam um crescimento radical (na Ásia) bem como fortaleceu a integração latino-americana como ninguém.

Em cima de superávits gigantescos na balança comercial, somadas às políticas de responsabilidade fiscal - de conotação contraciclíca, o que garantiu a estabilidade nos anos das vacas gordas e a manutenção da vida durante a crise -, o Brasil se viu diante do melhor cenário em décadas. Foi em cima dessa conjuntura que o PAC foi construído: Uma política dura de aceleração do crescimento bancada e coordenada pelo Estado, o que somada às políticas redistributivas, produziu um novo cenário interessante. O Governo, entretanto, passou batido pela questão cambial: Não construímos ao longo do tempo uma política estratégica para a área e continuamos funcionando de acordo às intemperíes do mercado. A valorização da moeda nacional ocorrida há quatro anos atrás, interferiu pouco na economia real devido ao crescimento dos precessos das commodities - ainda que tenha provocado um impacto acentuado em umas determinadas regiões exportadoras, em especial do ramo calçadista e têxtil.

No atual momento da economia mundial, no entanto, retraiu-se no ano passado, o que provocou, por tabela, queda no processo das commodities. O governo americano, tendo em vista a crise, ajusta sua moeda - por sinal, a moeda hegemônica - de modo a acertas suas próprias contas, o que joga uma pressão gigantesca sobre as demais economias - a europeia, principalmente, mas não a chinesa, que mantém sua moeda atrelada ao dólar -, o que, graças ao nosso modelo de sistema cambial, produz uma deformação com a valorização demasiada da moeda nacional. Por outro lado, outro fator não menos importante, que é a taxação dos juros de curto prazo (mediante a taxa SELIC), ainda que encontre números mais razoáveis do que no governo anterior, permanece em patamares elevados (8,75% ao ano), o que ajuda a esfriar a demanda ao mesmo tempo em que atrai capital especulativo que ajuda a "valorizar" o câmbio.

O resultado é bastante claro, depois de assistirmos uma queda natural do comércio exterior no último trimestre de 2008 e no primeiro de 2009, vimos a retomada da atividade com um adendo interessante: As exportações estão crescendo muito menos do que as importações (no último trimestre de 2009, as exportações cresceram 3,6% contra 11,4% das importações), o que reduz o saldo na balança comercial, diminuindo o saldo em conta corrente, o que, no duro, é o que fundamenta os investimentos públicos no desenvolvimento econômico. A política ainda muito conivente nos juros não ajuda, ainda que produza baixa inflação, mas como a economia mundial funcionando mal, a tendência aponta para danos maiores do que os vistos na valorização de 2006. Só uma atuação mais dura do Governo na área econômica evitará a abortagem do crescimento. Usar como desculpa a inflação do início do ano, um claro efeito da retomada da atividade econômica, como bem nos lembra o João Villaverde, trata-se de um grave erro, pois não pondera as implicações sistemáticas do uso desse instrumento. Temos, tecnicamente, a faca e o queijo na mão é questão de querer (e enteder porque) cortar.


Atualização 17/03 às 19:56: O João Villaverde acaba de anunciar a manutenção da taxa de juros em 8,75% a.a.. Dos males o menor, mas ainda um problema grave.

domingo, 14 de março de 2010

Santos 3x4 Palmeiras


Nos anos 60, a única equipe do Brasil que conseguia fazer frente ao Santos de Pelé era o Palmeiras da primeira Academia. O Santos atual pode não ser tão bom quanto aquele, mas é o melhor elenco que o alvingero litorâneo desde de 2002 - e com potencial para supera-lo inclusive. Além de Neymar, Ganso e André, chega Robinho, depois de alguns anos na Europa, e Dorival Jr. se afirma como um dos melhores treinadores do Brasil. Hoje, assistimos a um jogo memorável entre as duas equipes na Vila Belmiro, digno dos grandes clássicos de antigamente. 

Depois de um início equilibrado, a defesa palmeirense saiu errado e em um lance articulado por Robinho, Pará fez um golaço. O Santos dominava o jogo, atuando ofensivamente e assim Ganso enfiou uma bola para Neymar que pegou a zaga verde saindo e ampliou. A vitória santista parecia inevitável: Enquanto os comentaristas da TV e do rádio teciam loas para o time da Vila, a zaga palmeirense estava dominada, os laterais não funcionavam, os volantes davam espaços, Diego e Cleiton nada faziam - tanto é que Robert e o estreiante Ewerthon voltavam o tempo todo. No fim do primeiro tempo, algo mudou: Diego fez jogada na ponta-direita, foi derrubado e o juíz marcou falta - batida por Cleiton...na cabeça de Robert que diminuiu. Saída de bola, o Santos ataca, o Palmeiras contra-ataca e Diego fez um linda jogada, dominando no peito, girando e entregando para Armero que penetrava na ponta-esquerda em velocidade para enfiar para Robert girar e empatar o jogo.

O Segundo Tempo começa e um Santos incrédulo do que aconteceu na primeira etapa se deixa dominar pelo Palmeiras. Ewerthon não aproveita falha de Wesley e perde uma chance óbvia de virar o jogo. Logo em seguida, Diego sofre falta na frente da área, Cleiton bate, rola um bate e rebate na área, Leo cabeceia na trave e o rebote volta para Diego que cabeceia para virar. Palmeiras poderia ainda ter virado em outro ótimo lance de bola parada de Cleiton para Robert, mas a cabeçada passa para fora. O Santos, em contra-ataque, pressiona e Ganso dá outra bela enfiada de Madson, que entra pela esquerda e conclui perfeitamente em diagonal para empatar. A alegria santista dura pouco com a expulsão de Neymar. No finzinho, Robert arremata de longe e marca o quarto verde. Aí foi só administrar a vitória heróica.

Foi o segundo clássico de Zago a frente do Palmeiras e a segunda vitória. Aliás, o time, pior colocado na tabela entre os quatro grandes, é, curiosamente, aquele que tem melhor desempenho em clássicos: Venceu Santos e São Paulo jogando muito bem e perdeu para o Corinthians por 1x0 jogando melhor que o rival. A desgraça verde se explica por partidas deploráveis contra médios e pequenos, em especial, as duas derrotas vergonhosas, em casa, para os times do ABC - São Caetano e Santo André. Isso sem falar nos empates ridículos - que deixaram o time numa situação tão ruim que o verde era obrigado a vencer hoje.

O Santos, diga-se, é mesmo o melhor time do Brasil hoje - seja tática ou tecnicamente - e deve se classificar em primeiro lugar para a fase posterior do torneio. Nesta tarde, ele jogou muita bola, o problema é que pela primeira vez se deparou com um adversário capaz de derrota-lo jogando bem, naquele que foi o melhor jogo da temporada. Muita água vai rolar ainda, mas se o Palmeiras passar, será um problema para os seus adversários. Aconteça o que acontecer, nada apagará o belo espetáculo que tivemos hoje em Santos.

Paulistão 2010: Santos x Palmeiras

O Paulistão 2010 continua rolando com o Santos de Dorival Jr., Neymar, Robinho e Ganso simplesmente sobrando em campo, enquanto São Paulo e Corinthians sofrem para se fixar no G-4 devido as boas equipes do Santo André e do Botafogo-SP e, o Palmeiras, bem, o Palmeiras amarga uma campanha muito ruim, onde, mesmo depois da sua excelente estreia como treinador, Zago não conseguiu fazer a equipe chegar lá. Hoje, Santos e Palmeiras se confrontam na Vila Belmiro em clima de decisão, afinal, uma vitória santista praticamente classifica o primeiro para a fase posterior, enquanto uma derrota muito provavelmente elimina o Palmeiras. O favoritismo está com o mandante, mas nada indica que será um jogo fácil, historicamente, Robinho nunca foi tão bem contra o Palmeiras e Neymar não chega a ser um estouro - apesar das semi do Paulistão 09. O Palmeiras, por sua vez, fez dois bons clássicos - perdendo para o Corinthians por 1x0 jogando bem e depois ganhando do São Paulo por 2x0 - e estreia hoje Ewerthon e Lincoln. Equipe por equipe, seja tática ou tecnicamente, o Santos é melhor mesmo, mas que a equipe do Palmeiras passa longe de merecer estar nessa situação, isso também é verdade. De qualquer modo, será um belo jogo.

A Fórmula Indy e Kassab

O governo Kassab é um senhor fracasso. O obsucuro político demista de origens malufistas sempre foi o joguete das brigas internas tucanas, mais especificamente, nas lutas entre os projetos pessoais de Alckmin e Serra pela Presidência da República. Nesses sete longos anos, assistimos a degenerescência da política nas subprefeituras (o que já era complicado no governo petista) e o esgotamento das políticas sociais de Marta, chegando aos níveis atuais de inépcia, onde basta chover e a cidade literalmente pára - e a culpa, naturalmente, é do povo que "joga lixo nos rios" e não de forças políticas que jamais apostaram em políticas de desenvolvimento sustentável além de sequer estarem investindo nos paliativos que inventaram (fazendo as devidas manutenções nos piscinões, por exemplo). Pois bem, ontem de manhã estava na casa de uns amigos meus e estávamos a assistir a gloriosa etapa brasileira da Fórmula Indy, eis que para minha surpresa a prova era disputada no Sambódromo (?!!) e os carros simplesmente patinavam num asfalto ridículo. Enquanto isso a equipe da reportagem da Band entrevistava um Kassab sorridente e orgulhoso pela sua obra - não obstante o fato de que para constrastar ainda mais com as imagens, a narração ufanista e aduladora de Luciano do Valle beirava o ridículo, mais do que isso, mais parecia um filme de ficção científica de um futuro pós-apocalíptico onde a discrepância entre aquilo que a própria mídia mostrava e o modo como era narrado era tão discrepante que chegava a ser gritante. Tristes tempos. Da mídia e da política brasileira - se é que ainda podemos distingui-los.

sábado, 13 de março de 2010

O Brasil e a Crise Mundial - O Resultado de 2009

A Crise Econômica Mundial de 2008 foi o mais grave acontecimento da era da mundialização do Capitalismo e o mais sério desequilíbrio desde 1929. Sua deflagração trouxe uma única certeza: Após a poeira baixar, a ordem econômica - e por conseguinte o próprio equilíbrio geopolítico - da era pós-sovietica seria drasticamente alterado. No nosso país, isso ascendeu luzes amarelas justamente no momento em que o país voltava a se desenvolver depois da longa noite que foi da falência do Estado Varguista até o PAC. A sensação de termo sido atropelados por circunstâncias exteriores a nós e o histórico negativo do Brasil em crises nos anos anteriores deixaram os ânimos em polvorosa.

O fato é que nos saímos relativamente bem: Pelos dados divulgados a dois dias atrás, registramos uma queda de apenas 0,2% no ano todo e cravamos um crescimento de 2% no último trimestre. Foi o terceiro melhor desempenho dentre as dez maiores economias do planeta, perdendo apenas para China (8,7%) e Índia (5,6%) e dentre as economias do G-20,o país só perdeu para Indonésia (4,5%), Austrália (2,4%) e Coreia do Sul (0,2%) - segundo o Instituto Nacional de Estatísticas da Argentina, sua economia da Argentina cresceu 0,9%, mas existem questionamentos a esse respeito. Estados Unidos (-2,4%), Japão (-5%) e União Europeia (- 4,2%), os aclamados centros de poder do período em que a história teria acabado, se deparam com sérias crises, em especial o último deles que além de se deparar com o desafio de uma complexa integração econômica, agora também se vê às voltas com o dilema de como se inserir enquanto conjunto - ainda inacabado - neste novo momento da economia globalizada.

Honestamente, eu não apostava numa queda, por menor que fosse, do PIB brasileiro em 2009, mas esperava que o resultado ficasse mesmo em torno de zero; ainda assim, não esperava que os impactos reais dessa crise sobre as pessoas fosse tão brando: O país assistiu, em plena crise, a um aumento do consumo das famílias na ordem de 4,1% e o desemprego fechar em apenas 6,8% - menor nível dos últimos 6 anos, segundo a serrista Folha de São Paulo -, em suma, os trabalhadores não pagaram pela Crise neste país. Enquanto nuvens negras ainda se encontram bem presentes no horizonte próximo da economia americana - que requer um reforma urgentemente - e a tempestade esteja simplesmente desabando na Europa, o Brasil saiu incólume do processo.

Outro indicativo é o deslocamento cada vez mais acentuado -e voraz - do poder econômico mundial para a Ásia - o que beneficia até mesmo países de cultura majoritariamente ocidental que ficam para aquelas bandas como a Austrália -, o que aponta para um ponto fundamental: Como o fato da diplomacia brasileira ter rompido com a lógica de alinhamento atlantista nos rendeu não apenas frutos econômicos imediatos como também nos colocou no caminho certo nas relações políticas e econômicas; o exemplo mexicano não pode ser ignorado; aquele pais fez basicamente tudo aquilo que a direita brasileira defende caninamente - alinhamento econômico e políticos aos EUA, baixa carga tributária e ausência de políticas sociais - e agora encontra-se quebrado de uma maneira aguda, arrastado pelo turbilhão dos acontecimentos. Ainda há muito o que ser feito no Brasil, mas não podemos ignorar o que aconteceu - e o que deixou de acontecer - no Brasil em 2009.

quarta-feira, 10 de março de 2010

André Singer e o Debate sobre o Lulismo

Já há algum tempo vem circulando pela blogosfera um artigo do ex-Porta-Voz da Presidência da República André Singer: Raízes Históricas e Ideológicas do Lulismo, publicada originalmente no número 85 da revista Novos Estudos da Cebrap. Ontem, rolou um debate na Casa da Cidade, na Vila Madalena com a presença do próprio Singer justamente sobre o artigo em questão. Eu, claro, não perderia esse debate por nada - mesmo com a correria miserável que se tornou a minha vida depois de termos vencido a eleição para o Centro Acadêmico da minha Faculdade -, afinal, a obra de Singer, em que pesem os seus defeitos, é o primeiro trabalho científico sério sobre a questão do Lulismo que eu vi publicado, o que não é pouca coisa. Portanto, mesmo depois de uma manhã de aula, uma tarde de trabalho duro no CA, ainda acabei zarpando à noite para o debate com meu grande amigo Aldo Sauda.

Evidentemente, não podemos esperar algo perfeito a respeito do maior fenômeno político brasileiro desde Getúlio Vargas devido, principalmente, a falta do necessário distanciamento histórico em relação a questão, mas, ao mesmo tempo, a necessidade de compreendermos o momento em que nos encontramos pistas sobre o nosso tempo - para além da pitacaria metafísica do jornalismo panfletário - também se faz presente. O trabalho de Singer, em linhas gerais, expõe o fenômeno do Lulismo enquanto uma vertente de Bonapartismo situado nas idiossincrasias brasileiras e assentado sobre o que o autor denomina de subproletariado - uma fração da classe trabalhadora desorganizada e incapaz de se representar que, portanto, se organizaria em torno de uma figura carismática que bancaria um Estado forte fiador de políticas redistributivas. O Lulismo, portanto, combinaria elementos de direita e de esquerda.

No início do debate, Singer se dedicou a expôr as linhas mestras do seu artigo com a sua habitual tranquilidade e ponderação - que logo revelam um grande orador que se afirma pela capacidade única de encadear de forma lógica, franca e polida sua argumentação ao invés de carregar nas tintas da eloquência pernóstica de muitos dos nossos varões da República. Sim, Singer fala muito melhor do que escreve - ainda o faça muito bem - e palestrando é capaz de explanar de uma forma mais consistente sobre os seus conceitos - como do conservadorismo popular, por exemplo. Assim, ele manteve a atenção de uma plateia de militantes, estudantes e políticos fixa do começo ao fim da explanação assim como a manteve o pique quando começaram as rodadas de perguntas.

Como eu não perderia me furtar de perguntar alguma coisa, tasquei uma pergunta em cima de uma reflexão:  

Se pegarmos a história da esquerda no Brasil, vemos que ela nasce copiando o modelo da esquerda europeia oriental e assim foi por pelo menos seis décadas, até o surgimento do PT, que é um partido com claras influências da esquerda da Europa Ocidental. O PT se mantém desse jeito até a derrota de Lula em 89 e uma série de mudanças que se operam na medida em que o partido começa a se envolver nos embates eleitorais e culmina na Carta ao Povo Brasileiro, quando ele dá uma guinada, finalmente consegue passar a sua mensagem e vence as eleições. Portanto, não será que depois de insisitir tanto em modelos estrangeiros, esse não seja o modo brasileiro de ser de esquerda e o Lulismo que teria aspectos de direita e de esquerda não seja, na verdade, uma forma de esquerdismo genuinamente brasileiro?

Singer, com a calma que lhe é peculiar me disse: A sua pergunta poderia ser resumida da seguinte forma, o Brizola não tinha mesmo a razão? E eu respondi, bem, a Dilma não é a candidata do PT? (Sim, eu sei, fui mais sarcástico do que deveria, mas não podia perder a deixa). O professor seguiu com a explanação de que sim, essa hipótese ainda que ele não considere, ele não a descartaria por conta do próprio enriquecimento e classe e os impactos imprevisíveis no quadro político. Singer é da esquerda do PT - da Mensagem ao Partido, mesma corrente de José Eduardo Cardozo e Tarso Genro - muito provavelmente não concorda com essa assertiva, ainda que compartilhe como a maioria do pessoal que estava ali, em geral, uma plateia amiga como o próprio mediador da mesa, o ex-vereador Nabil Bonduki, uma sensação de desconforto e confusão: Ao mesmo tempo em que o PT chegou ao poder e tocou políticas que inegavelmente geraram ganhos sociais, ele também abriu mão das suas políticas de bases e perdeu muito da sua democracia interna. Para além das deformações que aconteceram no período, que são acidentes e não a causa, algo novo e funcional também está em curso, eis o ponto. Essa inquietação trespassou o debate e estava presente em boa parte das outras falas.

Claro, o teor da minha pergunta não era exatamente esse e também não passa batido por tudo que aconteceu com o PT nos últimos anos, o ponto era que apesar dos pesares, não será que graças ao estabelecimento de uma classe trabalhadora urbana - apesar dos percalços - depois de todo processo migratório do século 20º não estejamos diante de um quadro onde temos as nossas reivindicações próprias e idiossincrásicas à nossa realidade? Que o próprio modo de luta social brasileiro tenha finalmente tomado contornos próprios e exija respostas congruentes dos partidos de esquerda, inclusive contrariando alguns canônes de sua práxis? Claro, Singer compreendeu bem essa questão, pois apesar de elipsar esse ponto, essa pergunta só poderia existir se eu negasse a existência do subproletariado - em suma, eu entendo o tal conceito cebrapista como uma confusão analítica, justificável pela complexidade da nossa realidade, e que se constituiu no momento em que se coloca a classe trabalhadora camponesa que migrou para a zona urbana e está em processo de organização e não desorganizada. No final conversamos um pouco e ele ponderou sobre a minha reflexão.

Mais adiante, sobraram perguntas que Singer respondeu pacientemente, muitas delas refletindo a preocupação de onze em cada dez petistas de hoje, que foi o recuo do governo em relação à sua política basista e, apesar das conferências realizadas no período, um distanciamento dos movimentos sociais, quando deveria ter acontecido o contrário - e o Professor concorda com esse posicionamento - assim como própria necessidade de puxar o PT à esquerda - principalmente tendo em vista o ponto importante que Singer levantou: O exército de reserva diminuiu e está diminuindo, o que aumenta o poder de barganha dos sindicatos e dos movimentos sociais, queira o PT ou não, o obrigaria o partido a tomar posições mais à esquerda para poder até mesmo sobreviver ao momento que se aproxima. Ainda que eu não concorde exatamente, em linhas gerais é isso mesmo, a estratégia petista da Carta ao Povo Brasileiro cumpriu seu papel e ainda nos trará frutos por mais alguns anos - não se três ou quatro -, mas em virtude dela mesma, o partido precisará alterá seus posicionamentos atuais, do contrário, se esgotará inexoravelmente.

P.S.: O grande Paul Singer estava lá assistindo a palestra do filho e eu tive a honra de conhecê-lo, um grande sujeito, sem dúvida - seja como economista ou na sua atuação política.

segunda-feira, 8 de março de 2010

O Segredo dos Seus Olhos

ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro. Uma senhora película que eu tive oportunidade de assistir, meio que acidentalmente e de madrugada, no corujão que acontece toda última sexta do mês no Belas Artes. Foi no finalzinho de Janeiro e eu nem tinha lido nada sobre o filme, sequer sabia que ele tinha sido indicado ao Oscar. Sem dúvida, foi um dos melhores filmes que eu assisti em muitos anos, a melhor produção dentre as excelentes produções da atual safra do cinema argentino. Roteiro bem amarrado, direção harmônica de Juan José Campanella e grandes atuações individuais - tanto de Soledad Villamil quanto de Ricardo Darín, mas especialmente de Guillermo Francella - de um elenco que mostrou uma química interessante. Ainda que não seja uma produção apenas argentiina - ela também tem um relevante aporte espanhol -, o filme, em sua essência traz o melhor do que tem sido produzido pelos nosso hermanos em termos de cinema, seja a construção psicológica complexa dos personagens ou a leveza no modo de narrar. Vale realmente muito a pena dar uma olhada.

domingo, 7 de março de 2010

O Futebol em Ano de Copa

Muito em breve teremos a Copa do Mundo da África do Sul, a primeira ser disputada naquele continente. O Brasil de Dunga prossegue sendo meu favorito - sem ufanismos -, ainda que eu não despreze a Argentina de Maradona numa Copa, nem a Espanha e a Inglaterra. Brasil adentro, o Santos de Neymar, Robinho e Ganso sobra no Paulistão e é a melhor equipe do Brasil de longe - a mais bem armada também, ponto para Dorival Jr. que vive uma ascendente na carreira; O Palmeiras, quando parecia que ia, não foi, engasgou e São Paulo e Corinthians alternam demais - enquanto isso times como Santo André e Botafogo-SP vão somando pontos preciosos. No Rio de Janeiro, O Botafogo ganhou inesperadamente o Primeiro Turno, frente a adversários que lhe são superiores, mas sofrem da irregularidade que marca o futebol do Rio há anos. Minas e o Rio Grande do Sul estão com belos times, ainda que em BH o Cruzeiro se sobressaia - em Porto Alegre, o equilíbrio já é bem maior.

sábado, 6 de março de 2010

Panorâmica sobre as Eleições 2010

Depois de alguns dias bem sobrecarregados com a calourada na PUC, volto à labuta aqui no bom e velho Descurvo (uma dureza, sem dúvida, seja organizar as palestras quanto trabalhar na festa de recepção). No entanto, o curso das coisas na cena política brasileira se modificou muito pouco de lá para cá. A crise na candidatura Serra se comprovou com as pesquisas apontando tanto o crescimento da candidatura Dilma quanto mais queda sua - e, como se não bastassem todos esses problemas, o seu maior aliado, o DEM, viu sua situação piorar seja pela decisão do STF que manteve Arruda preso quanto pela declaração infeliz do Senador Demóstenes Torres sobre a escravidão no Brasil (como até a Folha deu) numa audiência sobre cotas étnicas. 

Agora, Serra tenta se apresentar, sem muito sucesso, como um candidato propositivo, coisa da qual se absteve há tempos, preferindo se omitir dos grandes temas nacionais e se apoiar na retórica antilulista da mídia corporativa - que de tão paranóica e maniqueísta, se perde em seus próprias excesso de tal modo que nem consegue mais pautar qualquer espécie de crítica ao governo atual por falta de credibilidade (a velha síndrome de Pedro e os lobos). O Brasil está longe de ser o país que poderia ser, mas como a própria eleição de 2006 provou, com o fim do efeito pedra no lago, as coisas mudaram bastante nesse sentido; não há mais como apoiar uma candidatura na muleta midiática e dispensar a construção de uma substância programática - não, um novo Collor não teria chances hoje na medida em que mesmo um Serra perde terreno pela falta de conteúdo...

A aliança PT e PMDB prossegue se firmando duramente. Do ponto de vista eleitoral, será interessantíssimo porque dará muito tempo de TV para Dilma, ainda que as consequências disso serão imprevisíveis; uma coisa é o PMDB como um aliado informal no Congresso, outra é ele muito possivelmente com um vice. Isso muda completamente as coisas, ao mesmo tempo em que a dependência do PT em relação aos partidos menores diminui, por outro, ele terá de dividir uma boa cota de ministérios realmente importantes - bem, a maioria dos ministérios pouco importa mesmo -, o que traz dúvidas acerca do que pode acontecer - afinal, de lá pra cá, o PMDB ainda não forjou um programa sólido ou algo parecido. Como ocorrerá essa divisão em um eventual governo Dilma depende muito também do que acontecer nas eleições parlamentares, que no Brasil são sempre uma incógnita.

Ademais, a aliança PT/PMDB produzirá impactos mais imprevisíveis nas correntes mais à esquerda do primeiro e nas alas mais à direita do primeiro - que, curiosamente, entrarão em confilito no Rio Grande do Sul no embate entre Tarso Genro e José Fogaça. O que acontecerá com correntes como a Mensagem de Tarso Genro e José Eduardo Cardozo no PT e que diabos se dará com o PMDB serrista são boas perguntas a serem feitas - assim como o que acontecerá com o PSDB caso o partido não leve a Presidência novamente.