Há um ano atrás, a possibilidade de uma vitória de Dilma já no Primeiro Turno até poderia ser levada em conta, contudo, ela era consideravelmente remota. Ainda que fosse público e notório que o país sairia incólume da onda de choque da Crise Mundial, o que manteria a popularidade de Lula nas alturas - e, quem sabe, ainda a ampliasse - , os analistas, via de regra, não conseguiram ponderar qual o impacto concreto disso sobre as intenções de voto para a candidata petista. A hipótese de uma vitória apertada de Dilma, numa eleição cruenta de dois turnos, era o mais provável mesmo. A vantagem de Dilma repousa no fato dela ser a candidata de Lula, e de um projeto bem-sucedido, enquanto Serra seria o conservador hábil com o apoio do esquema da grande mídia.
O ponto é que se o cenário continua mais ou menos esse, o peso dos fatores se alterou. Primeiro, fale-se o que quiser de Dilma, mas ela não é um poste; ainda que não tenha se saído tão bem no primeiro debate, ela foi firme no JN, precisa no segundo debate, seu programa de TV está bom e sua campanha não tem sido marcada por erros ou deslizes. Enfim, dentro das regras desse jogo, que pode e até deve ser criticado, a candidata petista está conseguindo consolidar o processo de transferência de voto de Lula para sua campanha, numa proporção que não se supunha ser possível. Por outro lado, a influência da mídia corporativa é menor a cada dia que passa e sua militância beira a irrelevância, como se pode notar pela grave crise da candidatura Serra - que sofreu duros golpes que vão da queda de José Roberto Arruda, seu provável vice e ex-governador do DF, por corrupção até o troco dado por Aécio Neves, passando, claro, pelo desastre que foi a escolha de Índio da Costa como seu vice.
O resultado prático disso é que ela abriu mais de 18 pontos percentuais em relação a Serra segundo apurou a pesquisa CNT/Sensus, o que reforça a sensação de uma provável vitória de lavada que já se podia captar no sábado quando o Datafolha falou em uma diferença de 17 pontos percentuais pró-Dilma. Na democracia de representação da nossa sociedade do espetáculo, é bom olhar para o que se esconde por trás das cortinas de fumaça várias; para além da eliminação do debate, as pesquisas ilustram certas tendências de bastidores fundamentais, embora o CNT/Sensus tenha feito um trabalho bom ao longo da atual corrida, é o resultado do Datafolha que nos interessa: Seus valores, que nos meses começaram a destoar dos outros institutos, de repente voltaram a coincidir com todos eles, expressando uma larga vantagem da candidata petista, tudo isso no mesmo momento em que a própria Folha, jornal que por um ano e meio fez das mais baixas e violentas oposições ao Governo Lula, desembarcou da candidatura Serra.
A gravidade da crise é tão grande que publicaram um artigo do filósofo uspiano Vladimir Safatle sobre a crise do PSDB. Safatle é contundente e logo na primeira frase diz que "o caráter errático da campanha é o último capítulo da dissolução ideológica do partido" - um artigo como esses jamais seria publicado há um ou dos meses na Folha e isso não se deve porque a candidatura Serra está desmanchando, ao contrário, ela é bem antiga, o próprio Safatle fala em "último capítulo" e não em "deflagração" da dissolução ideológica do partido - muito embora, eu entenda que se trate de uma dissolução dos próprios instrumentos de produção ideológica do partido. A pergunta que fica é: o que fizeram do espaço para que outros pudessem nos ter narrado os outros capítulos dessa crise? Certamente, não interessava narrar isso, mas agora já não é mais possível tapar o sol com a peneira. Sim, a crise não é só na candidatura Serra, mas é em todo o partido.
Considerando o tamanho da derrota que pode vir pela frente, o jogo muda. O PSDB trabalhava com duas possibilidades, a primeira era a de eleger Serra, a segunda era, em caso de derrota, começar imediatamente os preparativos para emplacar Aécio em 2014, mas dependendo do tamanho da derrota, as coisas podem se complicar severamente, pois de repente o PSDB pode deixar de ser uma alternativa viável, o que empurraria a direita para buscar outra saída - o que teria desdobramentos imprevisíveis. Eleições só decidem de uma maneira: Quando as urnas são abertas e os votos são contados - as pesquisas são parte da corrida, nada mais -, mas se a atual tendência se confirmar, Dilma vencerá bem em o3 de Outubro e o tamanho dessa vitória pode alterar o equilíbrio de forças políticas que dura há pelo menos 16 anos.
Oi Hugo!
ResponderExcluirA um ano atrás o índice de aprovação de Lula já era altíssimo. Foi fruto de seu governo a diminuição do desemprego e a valorização do salário mínimo e essas coisas se sente no bolso. A aposta do PSDB era, creio, fiar-se no repetir do PIG que não era bem assim e atrasar Lula de declarar apoio à Dilma.
Acho que, se pudermos analisar o montante de assinaturas de jornais, revistas durante um ano, veremos que mais que PSDB, o PIG é o grande perdedor das eleições 2010.
Abraços.
Adriano,
ResponderExcluirCreio que a esperança da mídia corporativa, que teve sim papel político-partidário e eleitoral, era de que ela ainda tivesse o mesmo poder de anos atrás para pautar a agenda da eleição e radicalizar o discurso para fazer Lula sangrar. Ledo engano. Isso teve pouco a ver com qualquer estratégia petista - afinal, os petistas compreendem pouco a mídia - e muito mais com a mudança radical pela qual nossa sociedade passou nos últimos anos - em parte, em virtude do próprio PT. Acabou o poder de alguém monopolizar o discurso e as pessoas se tornaram mais pragmáticas e céticas com muito mais acesso à informação. Poucos teóricos pensaram que isso iria acontecer tão rápido - e os tucanos não estavam entre eles.
abraços