sexta-feira, 13 de agosto de 2010

O Debate entre os Candidatos a Governador de São Paulo

(William Volcov - AE)

Ontem, a TV Bandeirantes promoveu uma rodada de debates eleitorais em 14 estados - e no Distrito Federal. Eu acompanhei o debate paulista, mediado pelo glorioso Boris Casoy. O NPTO, numa iniciativa muito legal, usou o Cover It Live para fazer um chat, colhendo as impressões dos seus comentaristas Brasil adentro - e eu comentei um pouco lá além de ter deixado algumas ideias no Tweeter também. Pois bem, cá, em terras bandeirantes - e de jesuítas bem-intencionados também - participaram do debate o candidato tucano Geraldo Alckmin, o senador petista Aloíso Mercadante, o agora socialista brasileiro - além de líder empresarial nas horas vagas - Paulo Skaf, o deputado Celso Russomano - cândido herdeiro do malufismo ou do que restou dele -, o verde Fábio Feldman e o psolista Paulo Búfalo.


O debate, em termos de conteúdo foi, se muito, médio, mas creio que não deve ter destoado muito do nível dos outros debates realizados simultaneamente - principalmente pelo que ouvi a respeito dos demais. Formalmente, isto é, em termos de confronto de ideias mesmo, eu não gostei do início, mas do meio para o final ele foi bom - no fim das contas, ele foi bem melhor do que o debate entre os presidenciáveis. De um lado, tínhamos Alckmin defendendo o projeto do PSDB/DEM que já dura 15 anos no poder em São Paulo - seu argumento central foi o de que não devemos mudar porque está tudo bem -, Mercadante, por outro lado, foi bastante incisivo nas críticas se colocando como alternativa de oposição, Celso Russomano se colocou ao centro atacando preferencialmente Alckmin, Fábio Feldmann gastou seu tempo fazendo divagações confusas, Paulo Búfalo tentou se colocar como alternativa à política tradicional e Paulo Skaf se colocou como o candidato da direita que cortava para o centro - parecia até um democrata-cristão europeu dos anos 80 tardios.


De todos os participantes, Mercadante e Skaf - que não dividiram bolas entre si - foram os candidatos que se saíram realmente bem do confronto; ambos pontuaram de forma firme e clara suas agendas e fizeram boas críticas ao projeto do PSDB, cada um do seu lado do espectro político, apelando, no entanto, para um eleitor insatisfeito; Alckmin foi surpreendentemente bem ao expôr a defesa do projeto - ele esteve consideravelmente melhor este ano do que há quatro anos, nos debates para a Presidência -, mas não foi propositivo e teve dificuldades quando foi questionado pelos rivais - sobretudo, porque não resta a menor dúvida que o projeto que defende tem inegáveis falhas; Paulo Búfalo foi bem, esteve firme e surpreendeu para quem é um novato na disputa de majoritárias, colocando-se como alternativa mais à esquerda, ainda que, em termos de conteúdo, se perca bastante ao propôr uma agenda ambiciosa sem apresentar meios claros e concretos para a sua execução; Celso Russomano, odeie ele ou não, tem experiência em televisão e saiu-se bem como já era esperado, pondo-se como um perfeito centrista anti-tucano até o momento em que soltou a franga e elogiou Maluf; de todos os candidatos, aquele que se saiu pior foi o verde Fábio Feldmann que falava besteiras como propor ciclovias para resolver problemas de transporte - não, isso não é uma forma séria de pautar uma questão tão central quanto o ambientalismo.


O debate, como sempre, acaba tendo uma influência apenas razoável sobre o andamento da campanha. O famigerado horário eleitoral gratuito tem um peso enorme assim como a questão do corpo-a-corpo dos cabos eleitorais e/ou da militância - nesse segundo quesito, os petistas estão se saindo particularmente bem. Ainda que Alckmin leve alguma vantagem, o debate de ontem prova que não tem nada tão decidido quanto parece; as falhas do longo governo tucano são várias e o telhado é de vidro mesmo. Mercadante está pautando de forma equilibrada sua agenda e pode crescer; Skaf está vivendo uma grande aventura político-partidária assim como Antônio Ermírio de Moraes o fez nos anos 80 - com mais qualidade programática, é verdade -, se ele fala bem, por outro lado, falta programa, mesmo um projeto que às vezes é sim bem idealista como o do PSOL de Paulo Búfalo é juridicamente mais executável do que o seu - dizer que pode pensar na cobrança de mensalidades na USP é uma falácia, pois isso é flagrantemente inconstitucional - ou criticar o preço dos pedágios sem propor, ao menos, a renegociação de contratos - tratando o pacta sunt servanda como princípio absoluto e esquecendo-se que não se tratam de contratos entre particulares, nos quais um pequeno elemento chamado interesse público pesa mais ainda - são erros crassos, sobretudo, de conhecimento de causa. Búfalo saiu-se bem na medida das limitações de seu projeto e de sua inexperiência, pode marcar pontos sim na eleição, ainda que não consiga se mostrar como alternativa à esquerda do PT - e sim muito mais uma oposição dentro da esquerda de todo um grande espectros de consensos. Russomano ganhará votos com sua habilidade televisiva, mas nada espetacular. Fábio Feldmann é café com leite.


Seja como for, o debate de ontem só reforça mais ainda duas ideias que eu alimento há um tempo: A primeira diz respeito à maneira como o grande capital bandeirante atua de forma descoordenada - a ideia de locomotiva do país ainda perpassa o imaginário dele e de seus candidatos, como nos lembrou Alckmin - do grande capital brasileiro, o que enfraquece sim um projeto legitimamente de direita para o país, a segunda é que as coisas estão mais voláteis do que parecem nessa eleição em específico - ela está me lembrando muito mais 2002 do que 2006, o que é bom para Mercadante - aliás, o mimimi dos jornalões de hoje foi um belo exemplo disso, com a Folha destacando a liderança de Alckmin e como ele foi "alvo único" no debate, colocando-o de vítima para aliviar a sova que tomou em tópicos centrais como educação, saúde, transporte e segurança. Por aqui, seguimos de olho no processo.

5 comentários:

  1. Hugo,

    Infelizmente não consegui acompanhar o debate. A Band não pega aqui em casa (não tenho cabo) e o site da band não sustentou a audiência (acho que foi isso) caindo a toda hora. O pouco que li a respeito foi no Estadão de Hoje que, assim como a Folha (que eu geralmente não leio)apontou vantagem para Geraldo Alckmin. É interessante a análise do jornal a respeito do desempenho dos outros candidatos já que o candidato do PSDB é a medida de todas as coisas. O Geraldo é a referência para o desempenho dos outros, que vão melhor ou pior em comparação a ele, quase um Daniel na cova dos leões.
    Sobre o Feldmann, no Twitter o compararam a "uma Marina sem saias". Achei engraçado. A proposta dele sobre as ciclovias é bastante antiga. Foi uma das suas promessas durante a sua campanha para a prefeitura de São Paulo no início dos anos 90 (acho, sem certeza, que na eleição vencida pelo Maluf). Talvez ele não tenha mudado tanto nos últimos 20 anos.

    Abraço!

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  2. Edu,

    Pois é, inclusive eu anotei a curiosa análise - que constava na capa da Folha de hoje - sobre o debate. Fizeram questão de lembrar que Alckmin está em primeiro e que ele foi "vítima" dos seus adversários - para desviar o foco do muito que ele não conseguiu responder. Ele mentiu sobre os salários dos médicos - e Celso Russomano, deusmeu, o desmentiu com um holerite da pagamento! -, tergiversou sobre os pedágios e não disse nada com nada sobre Educação - além de ter tomado uma feia sobre o metrô - no confronto direto, ele perdeu para Mercadante e Skaf. Claro, os jornalões...ora...os jornalões.

    abraço

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  3. Até agora só assisti o primeiro bloco do debate paulista, que está na internet. Pelo que pude ver, o nível foi assustadoramente mais alto que o daqui do Paraná.

    Fiz meus comentários: http://andreegg.opsblog.org/2010/08/13/o-debate-entre-os-candidatos-a-governador-do-parana-na-tv-band/

    Já as ciclovias - isso é proposta séria pra valer. Curitiba tem muitas e são bastante usadas. Um dos pedidos da população é para que aumentem mais. Compare com o uso da bicicleta como meio de transporte em países europeus.

    Do trecho que assisti achei o Feldman o melhor de todos. Mercadante também me pareceu bem. Mas o Alckmin acho que agrada bem certo tipo de eleitorado, que desconfio ser a maiora.

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  4. André,

    Ciclovias são importantes por uma série de motivos, mas é pauta muito mais de uma campanha municipal do que estadual; mesmo em uma cidade como São Paulo, se eu propusse a construção delas - e certamente eu o faria -, seria usando o argumento de que é, sobretudo, uma medida em favor da saúde pública que pode ajudar a aliviar lateralemente a sobrecarga do trânsito e do sistema de transporte público - afinal, estamos falando de uma estado, cuja capital abriga trabalhadores que residem entre 20 e 50 quilômetros de distância do seu emprego. Ali, o erro foi de planejamento, construiu-se a cidade para o carro e aí não tem jeito. Por uma perspectiva estadual, no entanto, o buraco é muito mais embaixo. Falamos na necessidade de desenvolver um sistema ferroviário decente capaz de integrar as metrópoles interioranas, que estão a 100/200 km de São Paulo capital, com certa eficiência, de resolver os problemas dos pedágios absurdos etc etc. É muito mais complexo do que isso. O Alckmin escorregou bastante, acho que alguns setores da esquerda têm de deixar de ser tão catastrofista quanto ao eleitorado paulista e aprender a fazer política - isso é desculpa para racionalizar a própria incompetência, nisso, eu concordo bastante com o Alon.

    abraços

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