sábado, 24 de julho de 2010
Mano Menezes na Seleção
Depois do pastelão envolvendo Muricy Ramalho no dia de ontem, Mano Menezes é o novo técnico da Seleção Brasileira. Sinceramente, eu não entendi nada. As informações apontavam, ao longo da semana passada - e, especialmente, na quinta -, que Mano seria confirmado ontem no cargo - e não Muricy que era apenas um nome distante. As pistas quanto a isso eram boas, falo aqui tanto do fato da diretoria do Corinthians sinalizar que não criaria problemas para que Mano assumisse a Seleção quanto da admiração que Felipão nutre por Mano - dando a entender nas entrevistas que ele era seu favorito - passando ainda, sobretudo, pelo bom momento profissional que vive o treinador.
Mano era a escolha lógica. Dentre os treinadores que surgiram nos últimos cinco anos na grande cena do futebol brasileiro, ele era o mais promissor. Nesse período, enquanto Muricy alcançava o teto de sua carreira, Luxemburgo decaia visivelmente e Felipão seguia fora do país - fazendo um excepcional trabalho na Seleção de Portugal e depois fracassando nas suas aventuras clubísticas -, ele vinha numa ascendente, pegando clubes difíceis de se trabalhar em situações horríveis: O Grêmio, rebaixado e esmagado em 2004, que ele levou para a Série A em 2005 e a uma final de Libertadores em 2007, e o Corinthians, na mesma situação, o qual ele levou também de volta à Série A - sendo campeão da Segundona em 2008 -, além de ter vencido a Copa do Brasil e o Paulistão de 2009.
Uma das suas principais características, para além de ser um soberbo estrategista, é sua capacidade de gerenciar elencos, administrando crises e apagando incêndios como poucos - sem perder as rédeas do grupo. Essa virtude é uma das características marcantes da escola gaúcha de treinadores - e talvez por isso ela seja a melhor do país -, mas ela só se exacerba em seus melhores. E Mano é o melhor treinador dessa escola desde Felipão, superior a Tite e a Dunga.
Aliás, falando no atual técnico palmeirense, suas declarações públicas, meio que como quem não quer dizer nada, apontavam para uma certa simpatia por Mano. A coincidência disso com a escolha demonstra sua relação de amor e ódio com à atual direção da CBF: Se por um lado, ele só treinou a Seleção em condições bastante específicas, largando-a depois da conquista do Penta pela impossibilidade de continuar seu trabalho em termos razoáveis, por outro lado, Ricardo Teixeira sempre se agradou de seu estilo de treinamento e sua capacidade, ainda que entre ter um técnico digno e manter a contestável dinâmica de gestão Seleção Brasileira, sempre opte pela segunda hipótese - uma contradição que só não é indissolúvel pela qualidade do futebol nacional, uma benção que nesse aspecto torna-se praga.
Claro, ainda assim, Teixeira nunca deixou de sonhar de ter um Felipão "domesticado", mas talvez estivesse disposto a aceitar o treinador fazendo concessões grandes porque o problema que se avizinha agora não é dos menores: O Brasil não pode perder a próxima Copa porque aí o esquema de Teixeira estará ameaçado. Mesmo com a recusa, a palavra de Felipão em favor de Mano e a semelhança de seus estilos pesou na escolha.
Outro aspecto não menos interessante é Corinthians: Por suma série de singularidades do clube, trata-se da equipe historicamente mais difícil de se treinar e jogar em São Paulo, quem se destaca especialmente em seu comando técnico é porque tem talento - e Parreira, por mais erros que tenha cometido na carreira, foi um dos poucos que conseguiu isso, saindo de uma campanha vitoriosa no Corinthians na temporada 2002 para a Seleção. Sim, este humilde - e palestrino, sobretudo palestrino - blogueiro que vos escrevinha, considera que ir bem no Corinthians é um ótima credencial para treinar a Seleção porque o grau destrutivo das habituais crises no time da marginal é a coisa mais parecida, em termos clubísticos, com as crises que às vezes se abatem no escrete canarinho.
Reitero e sustento: Foi a melhor escolha, ainda que de uma forma atabalhoada.
P.S.: Sobre o caso Muricy, ele deveria ter se certificado dos seus termos contratuais antes de sentar à mesa com Ricardo Teixeira para negociar algo que não tinha certeza se podia fazer ou não. Sim, ele errou e perdeu mais pontos na minha consideração. Claro, o erro maior, para variar, foi de Ricardo Teixeira, ao negociar publicamente com um treinador que não poderia, por contrato, assumir a Seleção. Todo esse desgaste poderia não ter acontecido se as três partes, CBF, Muricy e Fluminense, tivessem conversado em particular de forma franca antes de mais nada. Mas isso, claro, é pedir demais.
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O presidente da CBF, Ricardo Teixeira, não é bobo. Escolheu para técnico da Seleção, o Mano Menezes, da mesma escola do Felipão e de Dunga, técnicos que montam equipes altamente competitivas, que praticam um futebol moderno, que privilegiam os resultados, mesmo que não exibam espetáculos vistosos aos olhos dos torcedores. Sempre que perdemos uma Copa do Mundo, somos levados a responsabilizar o técnico, seja ele renomado ou não, por ter tido a ousadia de afastar-se das nossas origens futebolísticas, que realçam a criatividade e arte do nosso jogador. Numa Copa do Mundo, como qualquer outro campeonato de alto nível, decide-se o jogo no detalhe, que pode ser um lance genial de um craque, ou mesmo uma falha individual ou coletiva, que no final leva uma equipe à vitória ou derrota no certame. Nesta Copa de 2010, infelizmente, para o Brasil, o detalhe foi a falha do nosso setor defensivo, nas intervenções de Felipe Melo e Júlio César, no confronto contra a Holanda, nas Quartas de Final. O julgamento do trabalho de um técnico é muito difícil, e não faz sentido colocarmos sobre os ombros de um só indivíduo, o resultado de um jogo coletivo. Nos julgamentos que faço dos técnicos dos esportes coletivos, prefiro ressaltar as qualidades de seriedade, dedicação, e liderança sobre o grupo. Que o novo técnico Mano Menezes, conte com a sorte que faltou ao nosso competente Dunga.
ResponderExcluirLuis,
ResponderExcluirConcordo contigo, só discordo de uma pontinha do seu argumento: Não acredito em sorte. Perder é uma possibilidade real no Futebol, o que um bom trabalho técnico faz é diminuir as chances disso. Dunga, mesmo com uma geração inferior a dos últimos anos, fez um grande trabalho - e o Brasil foi eliminado num jogo que poderia ter vencido. Perdemos no detalhe. Mano é um ótimo nome e terá um desafio maior do que o de Dunga, seja pela Copa ser no Brasil ou pelo processo de renovação que a Seleção exige - por uma questão de idade daqueles que hoje são nossos melhores jogadores - é imenso. Torçamos. Teixeira, claro, não é bobo, mas muitas das suas "espertezas" nem sempre são conciliáveis com a manutenção da competitividade da Seleção. Agora, assim como em 2001, ele terá de entregar bons anéis para não perder (todos) os dedos.
abraços
Caro Hugo, você tem razão, ganhar ou perder não se trata de sorte ou azar e sim conseqüência da qualidade do trabalho que se põe em prática. Gostaria, apenas, de levar em consideração o fator psicológico, que naquele dia, assomou negativamente os nossos craques. Os meninos estavam com os nervos à flor da pele, haja vista a truculência do Felipe Melo no lance que provocou a sua expulsão, bem como o gesto grosseiro do Robinho, gritando contra o seu marcador, logo no início da partida. Com isso, não quero dizer que foi o trabalho de Dunga, o responsável exclusivo pela referida catástrofe. Vale ressaltar as provocações e pressões desencadeadas sobre o grupo, por parte da imprensa revoltada com a postura da Comissão Técnica, por ter eliminado privilégios na cobertura das atividades da seleção brasileira. Talvez, devêssemos recorrer aos ensinamentos do sábio Aristóteles, quando disse: “a principal condição para a felicidade, excluídos certos pré-requisitos físicos, é a vida da razão – a glória e o poder específicos do homem. A virtude, ou melhor, a excelência, irá depender de um julgamento claro, autocontrole, simetria de desejos, mestria dos meios; não pertence ao homem simples, nem é dom da intenção inocente, mas a realização da experiência do homem plenamente desenvolvido. No entanto, há um caminho até ela, uma guia que leva a excelência, que pode poupar muitos desvios e demoras: é o caminho do meio, o meio-termo justo”...
ResponderExcluirLuis,
ResponderExcluirSim, sim, a violência com a qual a imprensa - notadamente aquela empresa carioca que é sediada no Rio e detém o monopólio do futebol nacional - agiu contra Dunga foi algo ímpar - pelo menos durante uma Copa do Mundo. Muitas das críticas contra o técnico da Seleção estavam sim completamente desvinculadas do futebol, o que revela que a decadência da imprensa brasileira se abateu, também, sobre o seu maior calcanhar-de-aquiles, seu setor esportivo, o que é perturbador.
abraços