Em primeiro lugar, toda a estratégia de Serra para a escolha de seu vice deu errado quando caiu o castelo de José Roberto Arruda, ex-Governador do Distrito Federal, em Dezembro do ano passado. É sabido que Serra mantinha relações próximas com Arruda, o via como um bom sujeito de boa capacidade gerencial, leal e que resolveria o problema da montagem de chapa com o DEM: Serra tinha alguém de confiança e, ao mesmo tempo, alguém que era do partido aliado. No entanto, o staff político de Serra errou o cálculo e não sabia exatamente onde estava se metendo. Veio a queda, a crise no DEM - justo na parte que não convinha a Serra - e Dilma prosseguia subindo nas pesquisas.
Depois, vieram todas as sabotagens contra as pretensões de candidatura do governador mineiro Aécio Neves, incluso aí, a tentativa de jogar as prévias - ou um processo de escolha qualquer - mais para frente, quando o cenário já estaria delineado -, o que permitiria a Serra desistir se as coisas estivessem muito ruins, deixando a indicação para Aécio disputar uma eleição perdida. O ex-governador paulista foi posto em xeque pelo rival interno: Aécio desistiu da disputa, centrou suas forças na disputa segura por uma vaga no Senado e se prepara para, quem sabe, assumir a posição de líder do governo no Senado, caso Serra vença, ou, de preferência, ser o líder da oposição e construir, de uma segura cadeira de senador, sua candidatura presidencial em 2014.
Com Dilma em alta, Serra lançou mão de uma estratégia desesperada: Tentou cooptar Aécio como vice para agregar votos. Evidentemente, por mais que isso agradasse aos setores empresariais que apóiam Serra e ao próprio DEM - até pelo motivo de que se Aécio aceitasse, eles pouco poderiam fazer -, Aécio não toparia a empreitada. Nesse sentido, a leitura de Luís Nassif é simples e precisa: Se Serra ganhasse não seria uma vitória de Aécio, se Serra perdesse, seria a derrota da chapa. A negativa de Aécio foi fatal e desencadeou a crise na chapa da Serra, como se não bastassem todos revezes - que nem mais "os pontos fora da curva" do Datafolha ajudavam a esconder -, Serra ainda não tinha um vice.
Eis que surge o nome do senador paranaense Álvaro Dias. Isso tudo logo cima de uma articulação perfeita, do ponto de vista estritamente eleitoral, do PT: O partido da estrela fez uma aliança com o PMDB e o PDT local para montar uma grande chapa, na qual Osmar Dias - irmão de Álvaro - seria apoiado para o governo junto com os nomes da petista Gleisi Hoffmann e do peemedebista Roberto Requião para o Senado. Assim, Serra desfazia o impasse do vice, numa manobra qualquer que poderia ser transformada em uma "defesa estratégica da posição sulista" pelo seu staff - afinal, cooptando o irmão, minaria-se a chapa. Ledo engano. Os problemas de Serra mal começaram.
Rapidamente, o DEM, que sequer tinha sido avisado oficialmente da escolha de Álvaro como vice, insurgiu-se, como relatado aqui. Ronaldo Caiado, vice-presidente do partido, ainda pelo twitter, deu duros golpes na manobra de Serra e fez uma ameaça real de rompimento da chapa. Evidentemente, uma chapa puro-sangue com Aécio seria uma coisa, com Álvaro, um pároco de província, outra - some ao alcance meramente regional do senador paranaense o fato de que sua posição, mesmo nos meios tucanos, não é nada agradável: A vida política de Álvaro Dias, seja no antigo MDB ou no PSDB, é de um considerável desdém às regras tácitas do grande jogo da política nacional; ele sempre teve votos consideráveis em sua região e, talvez por isso, muitas vezes agiu como um verdadeiro franco-atirador contra às estruturas nacionais do seu próprio partido, como no caso em que foi expulso do PSDB nos fins da Era FHC por propor uma CPI contra o Governo, para um ano depois ser readmitido.
A pressão do DEM, com era de se esperar, fez efeito. E rápido. Pressionado, Serra foi obrigado a aceitar um vice demista. César Maia acabou sendo o incumbido da indicação que teria de ser ratificada por Serra. O nome era do obtuso deputado demista carioca Índio da Costa. Disso, primeiro veio a perplexidade geral, depois a possibilidade de ser um mero boato, o que se seguiu da surpresa com a confirmação do nome - bem como do horror em relação as primeiras revelações acerca de sua atuação parlamentar. Passados alguns dias, apurada sua atuação parlamentar, a indagação do NPTO torna-se crível - Índio da Costa: Serra Palin?
Índio já tentou instituir a multa-esmola - isto é, tentar punir os pervertidos cidadãos que tentem dar dinheiro à laia dos mendigos -, foi contra a exploração de petróleo no Pré-Sal (?!) e ainda se ateve a banalidades como a velha questão da proibição da venda de guloseimas nas cantinas das escolas - no entanto, sua atuação parlamentar teve como destaque ter sido um dos parlamentares da Lei da Ficha Limpa, proposta claramente inconstitucional que proíbe a candidatura de cidadãos contra os quais exista algum processo judicial; em suma, falo de um mimo legislativo que foi cinicamente apoiado por boa parte dos candidatos à Presidência por uma questão de "imagem", mas que, como qualquer cidadão bem informado desta República sabe, acabará por ser triturado, no devido tempo, pelo STF, a menos que lhe deem alguma utilidade.
Enfim, isso é um demonstrativo do que venho defendendo já há algum tempo: Serra, mesmo com seu discurso "keynesiano" e "desenvolvimentista" não tem controle sobre nada, tratando-se apenas de uma figura política destinada a realizar o que os grupos de interesse específico que viabilizaram - e formam realmente - sua candidatura querem. Serra não tem controle algum sobre sua própria campanha e estará rifado em um eventual governo seu. Tais interesses que o controlam vão desde os ruralistas à mídia corporativa passando pelo establishment demagógico da direita carioca. Isso não é nada bom.
Hugo,
ResponderExcluirO Serra é um erro ambulante. O coitado quer porque quer ostentar o título de Presidente da República _ mais por vaidade, para mostrar que é capaz, que por qualquer outra coisa _, mas não consegue acertar o caminho que o levaria até lá. Pensando em chegar mais rápido pega carona nos grupos que precisam de uma nulidade como ele para preservar seus interesses mas, sentindo-se perdido, acaba aceitando sugestões que no final das contas acabam por deixá-los _ ele e seus apoiadores _ mais perdidos ainda.
É uma campanha desastrada, sem dúvida (ou melhor, cheia de dúvidas), mas a tragédia poderia ser maior. Tenho ouvido pessoas próximas sobre as eleições e a maioria delas está alheia a essa confusão toda em torno da candidatura demotucana. Para o povão mais simples que pretende votar em Serra _ e é muita gente! _, nada disso faz a menor diferença.
O grande trunfo do Serra é ter a grande imprensa ao seu lado. Por mais atrapalhada que seja sua campanha sem projeto, o Jornal Nacional sempre pode fazer um remendo aqui, outro ali ou, ainda, tentar passar a ideia de que a candidata do Lula é muito mais rota que o rasgado e desgastado do Serra.
Não dá para subestimar a imprensa serrista de jeito nenhum, por mais desastrada que sua campanha esteja sendo. Essa, pelo menos, é a minha opinião.
Edu,
ResponderExcluirContinuando a tabelinha: Sim, a candidatura de Serra é um equívoco em si mesma e sua força reside no apoio da mídia corporativa - qualquer cobertura séria e ponderada, mesmo que trouxesse consigo apoio a Serra, fatalmente decidiria a campanha no Primeiro Turno em favor de Dilma.
Mas também não podemos desconsiderar duas variáveis neste jogo:
(I)A forma como o público médio está saturado pelas mensagens anti-Lulistas da mídia - uma regra básica da propaganda é que existe um limite de assimilação de determinada informação por parte do público-alvo, isto é, o máximo de efeito de vendas de um determinado refrigerante vai ser atingido com 100 placar, qualquer coisa que for adicionado a mais não alterará em nada as vendas e caso se exagere na dose, as pessoas ainda por cima se cansarão; ademais, o apoio ao governo permanece em alta enquanto isso e o eleitorado é pragmático ao extremo.
(II) O impacto desses tiros no pé na estrutura partidária dos integrantes da chapa tem um peso muito significante na mobilização das máquinas, alocação de recursos por parte de apoiadores etc, enfim, dos recursos vitais para manter e conquistar mais apoio, além de abrir um flanco para sofrer críticas.
Não há vitória - nem derrota - sem que as urnas sejam abertas e os votos contados, mas o modo como esses fatos interferem na candidatura Serra é extremamente negativo.
um abraço
Sabem o que é mais engraçado? O "povão mais simples" inclui enorme parte da classe média, média-alta e alta. Falo por experiência, pois transito nesse meio. É gente que, se parasse para fazer as contas na ponta do lápis, veria que o Lula faz muito mais por eles do que o Serra seria capaz de fazer! Por exemplo, imaginem o PSDB no meio da crise de 2008.
ResponderExcluirÉ um verdadeiro ranço o que se criou: odiar o PT pelo mero fato de ser o PT. Odiar o Lula pelo mero fato de sê-lo. As justificativas são absurdas; e. g., é "um partido corrupto", ou "o mais corrupto do Brasil". Santa gonorância! Como se fosse o único partido corrupto! E é realmente incrível como a memória política do povo brasileiro é ridiculamente curta. Obras faraônicas foram o quê, então?
Agora, vem cá, Hugo, por que você acha a Lei da Ficha Limpa "claramente inconstitucional"? É por causa da questão do estado de inocência e do trânsito em julgado?
He Will be Bach,
ResponderExcluirA causa é como certos setores dominantes, para sobreviverem ao fim do ciclo militar, direcionam seu ímpeto anti-iluminista no sentido do desmonte do projeto da Educação Pública - e aqui falo para além da destruição do sistema de ensino propriamente dito, é isso também, não apenas. Antes era é a repressão da expressão, depois, a esterilização da possibilidade de se expressar.
Isso ganha contornos particularmente preocupantes no Sudeste, com o processo de desindustrialização precoce de São Paulo e a crise urbana do Rio, o que logo tornam-se uma bola de neve de degeneração econômica, pela incapacidade das lideranças políticas. As culpas dessa decadência inexplicável e violenta são direcionadas nos bodes-expiatórios que vão desde o estados das outras regiões, os favelados etc.
Nessa cultura o discurso é reduzido ao patético e a filosofia, se muito, vira um mecanismo por vezes dispensável. Não chega a ter a mesma dimensão, claro, mas é o mesmo espírito de todo ultra-direitismo na Europa dos anos 20 e 30: Exarcebar o impulso do baixo-ventre mexendo com certos anseios do sub-consciente social, criando, inclusive, bichos-papões.
Assim, não há mais crítica, discordância, apenas juízos maniqueístas que não se concatenam logicamente. Eu adoro. Eu odeio. Eu acho legal. Eu acho chato. Se resume a isso - ou quando se critica um pouco mais, à esquerda, inclusive, no máximo se aborda o lateral, o subsidiário ou mesmo o banal. O moralismo é a regra geral. E retomo: As linhas gerais são designadas por esse fenômeno do Capitalismo pós-moderno, mas as características gerais são localizadas na política, no tempo e na geografia.
A Lei da Ficha Limpa já foi afastada em certos casos. É só o começo. Mais adiante escreverei com calma sobre ela. De antemão, creio que seja complicado existir uma norma geral e abstrata estabelecer uma vedação que ameace o estado de inocência dessa maneira. Eu não estou condenado em definitivo e tenho meus direitos políticos suspensos. Além do mais, existe outro aspecto jurídico na referida Lei: Cada infração possui sua sanção correspondente, para que e como criar outra punição?
Isso é juridificar a disputa política e trazer para os tapetões, o que deveria ser decidido em urnas. A democracia representativa já tem problemas demais para ainda suportar essa elefantíase do Judiciário. Em outros tempos, as Forças Armadas serviram a esse propósito, hoje, saíram as fardas e parecem ter entrado as togas...
um abraço
E só reforçando: O fenômeno do anti-petismo é bem mais regionalizado do que se imagina.
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