Terminou ontem o mundial da África do Sul, primeira Copa do Mundo a ser disputada em solo africano, com direito a final e campeão inédito - além de um trilha sonora peculiar ao som de vuvuzelas e com jabulanis voando por aí. O título, em mãos espanholas, não foi surpreendente. Muito embora não tenham apresentado até o atual torneio um bom desempenho em Copas, a Fúria teve um quadriênio altamente positivo e agora junta ao título europeu, o título mundial - a última vez que isso aconteceu foi com a França de Zidane que, em situação inversa, venceu o Mundial de 98 e depois a Euro 2000. A Espanha foi mesmo o melhor time da Copa e, ainda que não supere o Brasil de 2002, é uma equipe bem melhor do a Itália de 2006. Na média, esse mundial foi melhor que os dois últimos, ainda que bem inferior ao de 1998 disputado na França e vencido pela seleção local.
O título ficou na mão das quatro melhores seleções dos últimos anos: Brasil, Espanha, Alemanha e Holanda eram as equipes que, salvo uma escorregada ali ou acolá, davam mostras de firmeza. O ponto é que enquanto muito se espera de brasileiros e alemães, escolas historicamente bem-sucedidas em mundiais, espanhóis e holandeses sempre levaram a pecha de frustarem suas torcidas, seja por jogarem menos do que podem ou, mesmo jogando bem, não consiguerem ser suficientemente decisivas. Isso mudou. O Brasil foi eliminado pela Holanda - em um jogo das quartas de final que praticamente decidiu um dos finalistas - e a Alemanha perdeu para a Espanha numa semi-final. Na decisão, deu Espanha contra um futebol holandês que, muito embora não tenha levado sua melhor geração para a Copa, aprendeu a jogar para ganhar.
Italianos e argentinos vinham mal antes da Copa, mas prometiam surpreender, seja pela tradição ou pela animação - em especial da Argentina que levou no banco de reservas, como treinador, seu maior ídolo dentro das quatro linhas, Diego Armando Maradona. Ambas fracassaram. A Itália pelo esgotamento do seu futebol defensivista além de uma dificuldade muito grande de se renovar e a Argentina pela dificuldade de ser algo mais que um amontoado de bons jogadores - o que somado aos problemas na defesa, provocaram um desastre. O Uruguai foi o destaque positivo do torneio. A Inglaterra foi outro destaque negativo; as dificuldades do time jogar de forma séria enquanto Seleção, a previsibilidade tática e a arrogância de alguns atletas foi fatal. A França, time que historicamente vive ciclos onde ora está entre os melhores, ora nem entre o segundo escalão consegue se manter, manteve sua média e foi um desastre. Portugal caminha para voltar a ser o mero coadjuvante de sempre.
Depois de anos ensaiando voltar com dignidade para o cenário das disputas mundiais, o Uruguai fez uma grande Copa do Mundo e ficou em quarto lugar. Para um equipe que nos últimos anos encontra dificuldades absurdas para chegara à Copa, foi maravilhoso vê-los finalmente se acertar e desfilar em campos africanos um ataque como Cavani-Suárez-Forlán. Os paraguaios, sempre subestimados e desdenhados na América do Sul, mantiveram seu futebol de forma ascendente cravando, desta vez, um vaga nas quartas de final vendendo cara a derrota para a futura campeã mundial Espanha. Enquanto os africanos foram mal, se estagnando pela ausência do desenvolvimento de um estilo de jogo próprio - salvo Gana, que foi muito bem nas mãos do sérvio Milovan Rajevac -, os outros foram mal. Dos asiáticos, o mais notável foi a evolução do Japão que se continuar como vai, chegará muito bem no Brasil em 2014 - os coreanos do sul se mantiveram meio que na mesma e a Coreia do Norte sentiu o peso de um mundial.
Aqui n'O Descurvo, cobrimos - isto é, eu e minhas várias personalidades - a Copa de forma incansável e ensandecida. Termino com a Seleção da Copa, no esquema da Copa, o 4/2-3/1, só com um pequena variadinha na frente para se fazer justiça - já adianto: Forlán e Villa se alternando como ponta-esquerda e centroavante para se fazer jus aos dois que brilharam pela ponta num mundial no qual os centroavantes não chegaram a estourar.
1-Casillas (Espanha)_ Na Hora que o bicho pegou foi decisivo, não teve culpa alguma nos dois gols que tomou. [reserva: Neuer (Alemanha)]
2- Maicon (Brasil)_ Não comprometeu na defesa e arrebentou no ataque, foi o melhor do time brasileiro. Pena não ter continuado no mundial. [reserva: Lahm (Alemanha)]
3- Lugano (Uruguai)_A velha categoria de sempre somada à disposição física, sua ausência foi sentida no jogo da eliminação. [reserva: Lúcio (Brasil)]
4- Puyol (Espanha)_Garra, disciplina tática e muita, muita fome de vitória. Foi uma boa surpresa e uma boa mostra de como a vontade serve para superar muitas deficiências no futebol. [reserva: Mertesacker (Alemanha)]
6-Fábio Coentrão (Portugal)_ Numa Copa na qual poucos se destacaram pela posição, foi seguro na defesa e apoiava muito bem. [reserva: Salcido (México)]
5-Khedira (Alemanha)_ Grande marcador e ainda sabia sair jogando. [reserva: Busquets (Espanha)]
8- Xabi Alonso (Espanha)_Toque de bola refinado somado a disposição tática. Um craque. [reserva: Schweinsteiger (Alemanha)]
10-Sneijder (Holanda)_É um camisa dez descomunal, sabe distribuir o jogo, fazer lançamentos e ainda chega bem na frente. [reserva: Ozil (Alemanha)]
7- Thomas Müller (Alemanha)_Foi a revelação da Copa, jovem, veloz e com grande capacidade de definição, fez muita falta na semi contra a Espanha. [reserva: Robben (Holanda)]
9-Forlán (Uruguai)_Que jogador, ofensivo e dono de uma categoria ímpar. [reserva: Klose (Alemanha)]
11- David Villa (Espanha)_ Ainda que não tenha brilhado nos dois últimos jogos, foi simplesmente decisivo em todo o resto. O craque do time espanhol. [reserva: Tevez (Argentina)]
Técnico: Milovan Rajevac (Gana)_Soube como trabalhar com as necessidades do time africano, mexendo no time de acordo com o jogo. [auxiliar: Gerardo Martino (Paraguai)]
Árbitro: Carlos Eugênio Simon (Brasil)_Apitou dois jogos e foi perfeito neles. Voltou à velha forma na Copa e merecia ter apitado a final.
Por fim, fica o agradecimento a todos que visitaram, comentaram ou xingaram o blog desde o começo da Copa, foi um período bem legal ;-)
Parabéns pela cobertura, Hugo. Foi um prazer acompanhar os jogos e, em seguida, checar sua análise por aqui. Melhor foi ler as análises sem ter visto os jogos -- porque foi impossível acompanhar tudo (a exceção, é claro, das partidas do Brasil e da Espanha, que assistia todos os dias por VT, depois do expediente).
ResponderExcluirAbração
Obrigado, João, fico muito honrado pelo elogio do amigo e, sim, foi um esforço danado, mas no fim deu ;-)
ResponderExcluirabração
Beleza de seleção! Fiquei pensando se não haveria nela lugar prum paraguaio, já que eles fizeram uma bela participação nesse mundial. Mas talvez, eles se destaquem pelo jogo coletivo e não pelos talentos individuais, ao contrário da Argentina e da seleção que elencaste.
ResponderExcluirParabéns pela bela cobertura da copa.
Abraços.
Adriano,
ResponderExcluirPois é, a Seleção da Copa acaba premiando mais destaques individuais do que coletivos mesmo. O melhores paraguaios foram, justamente, seu defensores, a começar pelo seu goleiro Justo Villar, mas aquele que chegou mais perto de pegar uma "vaguinha" no meu time foi o lateral-esquerdo Morel Rodríguez.
Eu é que agradeço pela sua companhia!
abração