Agora, o jogo muda. Se antes estava relativamente fácil para acertar os jogos, agora, longe disso. Tirando Espanha x Paraguai, partida na qual a diferença entre as equipes é relativamente grande, acertar pelo menos um dos outros três confrontos é tarefa para quem entende de bola. Ainda que se deva comemorar as quatro vagas sul-americanas nas quartas, é bom abrir o olho, porque os europeus que continuam no torneio são justamente os três melhores times daquele continente. Vamos às análises:
Uruguai x Gana
Pois bem, os uruguaios são a grande supresa da Copa, seja pela eliminatória que fizeram, os resultados na Copa América e demais amistosos - a previsão mais otimista em relação ao time de Oscar Tabárez era de que chegasse, com algum esforço, às oitavas. Pois bem, chegou às quartas em plenas condições de avançar mais. Muslera, apesar das falhas contra a Coreia do Sul, faz uma boa Copa, Máxí Pereira é um dos três melhores laterais-direitos, Lugano e Godín estão em grande fase, Fucile tem se esforçado, os Areválo e Pérez marcam muito no meio, os dois Álvaros (o Pereira e o Fernández) sabem articular o jogo e, no ataque, o time se segura bem: Como Forlán pela esquerda, Cavani pela direita e Luís Suárez no comando de ataque, a equipe segue marcando gols - normalmente, Forlán volta e complementa o meio de campo, mas Cavani também pode fazer isso. Em suma, trata-se de um time que alcançou se ápice no momento exato em precisa fazê-lo. Pelo seu lado, Gana é o único time africano que restou no torneio, faz sua segunda Copa e avançou em relação à primeira: Se em 2006 o time parou nas oitavas de final frente ao Brasil de Parreira, agora a seleção avança uma casa e disputa as quartas. Para mim, Milovan Rajevac é, até o presente momento, melhor técnico da Copa - em uma competição marcada pela mesmíce tática e pela incapacidade dos treinadores trocarem algo um pouco diferente de seis por meia dúzia, Rajevac foi um dos poucos a conseguir adaptar a forma de sua equipe jogar às necessidades, saindo do seu habituall 4/2-3/1 para enfiar um 3/4/3 em e assim dar um nó tático em Bob Bradley, o hábil treinador americano. A seleção africana tem um bom goleiro, Kingson, e deve voltar ao seu esquema habitual frente a um Uruguai que joga com três na frente: Pantsil que quando necessário vira zagueiro volta para a lateral-direita, os dois Mansah formam uma zaga forte, Sarpei marca bem pela esquerda, embora não apóie e, no meio, encontramos os destaques do time: Annan é fundamental para o time jogando na marcação, Boateng marca e chega de trás, Asamoah arma e sabe atacar pela ponta-direita. Na frente, Ayew, pela esquerda, é a revelação do time, Gyan é preciso no comando de ataque e Tagoe, eventualmente, quebra o galho pela ponta-direita. No duro, o ataque uruguaio leva vantagem sobre a defesa de Gana, mas a briga pelo controle do meio promete ser boa e nela, fisica e até tecnicamente, os africanos são um pouco superiores - enquanto na briga entre o ataque de Gana e a defesa uruguaia, a celeste leva ligeira vantagem. Há quem diga que ser capaz de controlar o meio é o diferencial para a vitória, mas veremos no que dá num jogo onde a equipe que perde no meio é superior nos dois extremos. Honestamente, é jogo para triplo, a ligeira superioridade técnica da celeste é compensada pela motivação do adversário - que deve contar com a torcida a seu favor. Para não ficar em cima do muro, aposto no Uruguai, na dureza, nem sei se no tempo regulamentar.
Brasil x Holanda
Falamos aqui do confronto de duas das melhores seleções dos últimos quatro anos. O Brasil venceu tudo. A Holanda, pos sua vez, teve o quadriênio que só não foi perfeito pelo desastre frente a uma imprevisível Rússia nas quartas da Euro 08 - o time liderado por Arshavin jogou tudo o que jamais jogou (nem voltou a jogar) contra a Laranja e a despachou de forma doída. Na Copa, o Brasil chegou com dois dos seus melhores longe da excelência fisíca - casos de Júlio César e Kaká -, enquanto outros jogadores tiveram problemas ao longo da competição - casos de Robinho, Felipe Melo e Júlio Bapstista, além de Elano, criminosamente vitimado por um jogador marfinense dois minutos depois de feito seu gol na vitória brasileira por 3x1. Apesar disso, Dunga consegue fazer um bom trabalho, com alguns eventuais deslizes, mas que, até agora, funcionou nos momentos decisivos: Seu time joga num 4/2-3/1 como a maior parte dos times já a algum tempo, Júlio tem pegado bem no gol, Maicon é o melhor lateral-direito da Copa, Lúcio e Juan formam uma dupla de zaga primorosa - que teve algumas desatenções na primeira fase, mas tecnicamente é mais capaz do que qualquer miolo de zaga nesta Copa -, Michel Bastos é o ponto fraco da equipe pela lateral-esquerda; no meio, Gilberto Silva compensa com inteligência as sus limitações físicas - e rendeu melhor quando no lugar do travado Felipe Melo atuou ao seu lado Ramires, o que infelizmente não pode se repetir pela suspensão do bom camisa 18 do Brasil - e Kaká, ainda que pareça não estar 100%, sempre que entra no jogo, faz toda diferença; na frente, Elano era um peça essencial ao esquema, atacando pela direita e voltando para compor o meio, sua saída foi suprida por Daniel Alves, que apesar da partida razoável contra o Chile não correspondeu contra Portugal - nem quando entrou antes -, Luís Fabiano não estourou, mas soube marcar gols nos momentos decisivos e Robinho finalmente desencantou na última rodada, mas tem feito partidas taticamente corretas. A Holanda de Bert Van Marwijk não tem o brilho de outrora, tentando jogar de forma mais eficiente do que bela para ganhar o título que sua bela tradição de jogo bonito nunca foi capaz de levar - ainda que muito do futebol opaco da equipe nesta Copa se deva menos a alga tática em especial do que ao desempenho dos seus jogadores; o o mal dessa equipe está numa disposição morna dos atletas que alternam entre o feijão-com-arroz e alguns lampejos. A equipe venceu os três jogos da fase inicial sem muito esforço - o primeiro contra uma Dinamarca pesada, o segundo com a ajuda da Jabulani contra o Japão e o terceiro contra um já eliminado Camarões - e sofreu mais do que o esperado frente a Eslováquia nas oitavas. Stekelemburg é bom nome no gol, Van der Wiel é sóbrio, mas lhe falta um tanto de arte pela lateral-direita, a zaga é baixa e se não compromete também não acrescenta, Van Bronckhorst é aquele velho poço de vontade; no meio, De Jong e Van Bommel marcam bastante e tocam rápido a bola, mas não tem grande qualidade, dedicando-se a carregar o piano para Sneijder jogar - o meia, ainda que não tenha estourado nesta Copa, é o maestro do time, com seus passes precisos, belos lançamentos e boas chegadas; na frente, Robben voltou ao time pela ponta-direita e é o outro destaque, Van Persie no comando de ataque e Kuyt pela direita são bons jogadores, mas longe de ser craques. Diante de seus enormes desfalques, Dunga deve manter Daniel pela direita até para liberar Maicon para o ataque, o que aumenta a responsabilidade de Kaká pelo meio e Robinho pela esquerda, o problema está mesmo com o fato de Robben atacar pelo setor que Michel Bastos defende e do time, depois de ter arrumado Ramires pelo meio, tê-lo perdido, restando poucas opções no elenco. Setor por setor, o defesa brasileira leva vantagem sobre o ataque holandês - apesar desse pequeno detalhe que pode acabar decidindo o jogo -, a meia-cancha de ambos se equivalem - pelas contingências - e o ataque brasileiro é melhor que a defesa laranja. Jogo duro, aposta numa vitória apertada do Brasil.
Alemanha x Argentina
Único jogo que envolve dois campeões mundiais, trata-se da maior atração das quartas. O time alemão dirigido por Joachim Löw é um dos melhores do quadriênio, a equipe, depois de uma das suas maiores crises de renovação da história, usou o mundial passado, o qual sediou, como forma de projetar jovens jogadores e começar a seleção do zero. Deu certo. O time arrancou uma terceira colocação e depois fez um bom quadriênio - sendo vice da última Euro - e fazendo boas campanhas nas últimas duas eliminatórias. Nesta Copa, a Alemanha caiu num grupo bem disputado, surpreendeu a todos jogando o fino da bola contra a Austrália, depois, mais surpreendemente ainda, foi anulada pela Sérvia que lhe derrotou para depois, num jogo tenso, vencer por 1x0 Gana e se classificar - nas oitavas, eliminou a Inglaterra sendo superior em campo, embora tenha sido favorecida pela arbitragem. A Argentina, já há muito se ressente da falta de títulos, sendo que na última Copa foi eliminada, nos pênaltis, por essa mesma Alemanha, iniciando um ciclo doloroso, onde Alfie Basile fracassou no comando da equipe, cedendo lugar para que o astro maior do seu futebol assumisse o time: Maradona voltou e conseguiu contornar momentos difíceis, emplacando uma classificação dura em quarto lugar nas eliminatórias - para uma Copa onde foi premiado com um grupo relativamente simples, onde venceu os três jogos sem muita pressão dos adversários e, quando finalmente topou com um desafio, também acabou ajudada pela arbitragem que validou um gol ilegal de Tevez contra o México - o que além da vantagem no marcador, desestruturou o time adversário. Equipe por equipe, a Alemanha joga num 4/2-3/1 muito parecido com o Brasil: Neuer, seguro, é o goleiro, a defesa tem Lahm pela lateral-direita - disputando com Maicon o título de melhor jogador da posição -, Mertesacker e Friederich formando uma zaga bem concisa, Boateng (o alemão) marcando bem esquerda, ainda que não seja nenhuma virtuose; no meio, Khedira e Schweinsteiger são os volantes - combinando força física, bom toque de bola e inteligência tática - enquanto Özil é o maestro do time - forte candidato a melhor armador da Copa; pelas pontas, Müller, técnico e veloz, é presença forte pela direita e Podolski, com sua categoria e precisão, domina a esquerda e, no comando de ataque, Klose continua sendo matador, eficiente por baixo e muito bom por cima. Já a Argentina, atua também num 4/2-3/1, com algumas peculiaridades: Romero, não muito seguro é o goleiro, Otamendi quebra o galho pela lateral-direita e o mesmo faz Heinze pela esquerda, enquanto Demichelis e Burdisso formam a zaga depois da contusão de Samuel; no meio, Mascherano faz uma excepcional Copa como primeiro volante e Maxí Rodríguez disputa a outra vaga na marcação com o experiente Verón; mais adiante, Tévez joga mais fixo na ponta-esquerda, mas Messi e Di María se alternam entre o meio e a direita, abastecendo Higuaín. O ataque ainda não jogou o (muito) que pode, mas a defesa dá sustos e faltam laterais. No confronto, o ataque alemão leva vantagem ampla sobre a zaga argentina, no meio, será travado uma das mais qualificadas disputas dessa Copa, o ataque argentino é capaz de infringir dor a qualquer defesa desse torneio e isso vale também para a boa defesa alemã. Em suma, o time germânico parece mais equilibrado, enquanto a Argentina é superior nas individualidades - e no carisma de Maradona -, falamos de duas seleções vencedoras que há muito amargam um jejum em Copas, jogo para quádruplo - um palpite para cada possibilidade, outro para o improvável -, mas já que estamos no inferno, então que ousemos dar uma tapa no diabo: Ainda que eu torça para a Argentina , a Alemanha é favorita por um fiozinho de cabelo, mas não duvide de prorrogação ou pênaltis aqui.
Espanha x Paraguai
A Espanha é o segundo melhor time do mundo dos últimos quatro anos. Venceu a Euro para a qual se classificou depois de boa eliminatória, fez uma boa eliminatória para a Copa, mas rodou na Copa das Confederações contra o time americano. Na atual Copa, tomou um susto logo de cara ao ser neutralizada pelo ferrolho suíço - e derrotada por um gol de contra-ataque -, mas recuperou-se ganhando de Honduras - outra gloriosa retranca, em relação a qual não conseguia golear apesar do amplo domínio - e depois venceu o Chile, em jogo duro, que garantiu sua classificação em primeiro no grupo para confrontar seu arqui-rival Portugal nas oitavas - jogo que venceu como nos demais: Amplo domínio, mas poucos gols, placar magro de 1x0. O Paraguai é, desde os anos 90, um futebol em franca ascensão, joga defensivamente, marca muito é organizado em campo e, mesmo não formando meias criativos, tem lá seus atacantes - time do técnico argentino Gerardo Martino liderou o início das Eliminatórias Sul-Americanas, mas depois perdeu duas posições, para Brasil e Chile, ainda que tenha ficado apenas um ponto abaixo do líder. Time por time, a Espanha de Vicente del Bosque joga num 4/3/3, com Casillas no gol - grande goleiro, ainda que não esteja no auge -, uma defesa modesta porém esforçada formada por Sergio Ramos pela lateral-direita, Puyol e Piqué pela zaga, Capdevilla pela lateral-esquerda; no meio, Busquets é volante, Xabi Alonso é o segundo volante - homem das saídas rápidas - e Xavi é o armador; pela frente já jogara Navas, como um legítimo ponta-direita, e Iniesta, fazendo um misto de ponta e exterior-direito, David Villa é o craque do time pela ponta-esquerda - e, por ora, é ele quem tem efetivamente feito o ataque espanhol funcionar - e Fernando Torres no comando de ataque = contestado e em má fase, o que abre espaço para Llorente na frente. O Paraguai joga num 4/4/2 que se torna 4/3/3, mas que no jogo em questão deve se resumir às duas linhas de quatro mesmo - para tentar fazer com que o raio caia duas vezes no mesmo lugar, depois da vitória suíça -, com Justo Villar, muito bem, no gol, dois excepcionais laterais defensivos que apóiam mal - Bonet pela direita e Morel Rodríguez pela esquerda -, uma zaga tecnicamente qualificada e bem postada - formada por Alcaraz e Da Silva -, um meio com Cárceres fazendo o primeiro volante e Riveros mais adiante, Vera fazendo um extremo-direito - meia-armador aberto dos 4/4/2 europeus - recuado, Barreto ou Benítez fazendo o mesmo, só que mais avançados, pela esquerda e um ataque variante, com a figura de Lucas Barrios enfiado na zaga adversária e algum outro nome por fora da área, seja ele Cardozo, Roque Santa Cruz ou Haedo Váldez. No duro, será mais um jogo de ataque contra defesa, onde a Espanha se manda para o ataque e o adversário planta duas linhas de quatro para se defender e achar o contra-ataque salvador. Três das quatro equipes que enfrentaram a Espanha fizeram o mesmo, mas só a Suíça levou a melhor. Por mais que um milagre paraguaio fosse um espetáculo, é difícil que ocorra.
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