sábado, 31 de julho de 2010

Os Vampiros

Poucos músicos incorporaram com tamanha precisão o espírito do Portugal do pós-Guerra que apesar dos pesares produziu a Revolução dos Cravos - um feito num país, cuja tradição medievalista sempre o tornou aparentemente imune aos avanços e transformações da Europa que o cercava ao Oriente. Pode ser que o os percalços da História tenham reduzido os efeitos do Abril de 74, mas, certamente, depois daquele mês, Portugal foi um lugar melhor. Uma geração que tinha Saramago na literatura e um Zeca Afonso na música não era pouca, seja em capacidade ou intenção. Qualquer homenagem nossa àquela geração lusitina é pequena. Segue, uma música do saudoso Zeca - que nos deixou tão cedo de maneira tão desditosa -, tão atual no Brasil de hoje que parece brincadeira - ainda mais com a sombra de um Serra pairando.





No céu cinzento sob o astro mudo
Batendo as asas Pela noite calada
Vêm em bandos Com pés veludo
Chupar o sangue Fresco da manada





Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]




A toda a parte Chegam os vampiros
Poisam nos prédios Poisam nas calçadas
Trazem no ventre Despojos antigos
Mas nada os prende Às vidas acabadas






Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]



Se alguém se engana com seu ar sisudo
E lhes franqueia As portas à chegada


Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]




No chão do medo Tombam os vencidos
Ouvem-se os gritos Na noite abafada
Jazem nos fossos Vítimas dum credo
E não se esgota O sangue da manada





Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]



São os mordomos do Universo todo
Senhores à força Mandadores sem lei
Enchem as tulhas Bebem vinho novo
Dançam a rondam No pinhal do rei


Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo e não deixam nada [bis]


Se alguém se engana Com seu ar sisudo
E lhe franqueia As portas à chegada
Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada


Eles comem tudo Eles comem tudo
Eles comem tudo E não deixam nada [bis]

sexta-feira, 30 de julho de 2010

Reflexões sobre a Lei da Ficha Limpa

(Fruto Proibido - Michelangelo - a Ideia de Pecado) 

A Lei Complementar n. 135, mais conhecida como Lei da Ficha Limpa, é um dos grandes temas da campanha eleitoral em curso - além dos factóides diários e das pesquisas eleitorais - porque ela institui mecanismos normativos que facilitam a invalidação da candidaturas - fundamentado na "ficha" do candidato, isto é, o seu histórico judiciário. Mudanças nas regras eleitorais não são espantosas no Brasil, FHC, por exemplo, modificou as regras do jogo no meio dele aprovando a famigerada emenda da reeleição, por outro lado, a enorme confusão não só do Código Eleitoral - um monstrengo criado nos anos de chumbo e que cujas emendas ao longo do tempo o transformaram numa colcha de retalhos - como de toda a legislação eleitoral dão aos juízes eleitorais uma enorme margem de discricionariedade, o que é perigoso - como no caso Jackson Lago, derrubado por uma alteração na interpretação de um dispositivo vago. Se uma Democracia princípios e regras eleitorais claras e simples, então temos graves problemas por aqui.


A referida Lei Complementar foi fruto de um Projeto de Lei de "iniciativa popular", isto é, sua proposição teve origem na "sociedade civil  organizada" e, a partir da necessária coleta de assinaturas, foi levada à Câmara dos Deputados e ao Senado, seguindo aí todos ditâmes do Processo Legislativo. Claro, falar em "iniciativa popular" significa tudo ou nada, afinal, Povo nada mais é que a unidade representativa da coletividade, um conceito meramente ideológico - na prática, temos uma multidão -, usado em tempos como nosso, onde a maioria das pessoas são mantidas em um sufocante estado de alienação que as reduz a espectadores ou, no máximo, instrumentos ou obstáculos frente a vontade organizada de uma minoria em busca de legitimação. A questão, portanto, é examinarmos quem - ou o que - realmente está articulou isso. Aí chegamos no Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral, uma construção heterogênea que reúne desde a CUT e a CNBB  até a OAB passando pelos Baha'i. Em suma, temos associações e até autarquias ligadas a grupos religiosos e a sindicatos. Tudo junto e misturado. A maioria com grande influência nos corredores do poder, outras com enorme capacidade de mobilização. No Congresso, entre as várias propostas de emendas, comissões, o relator oficial na Câmara  foi o deputado petista José Eduardo Cardozo - e, sim, Índio da Costa foi um dos que passaram pela função mesmo, mas não foi o relator final - e no Senador o indefectível Demóstenes Torres do DEM.


A aplicação pelos tribunais eleitorais da referida Lei tem causado certa celeuma na mídia. Alguns figurões que seriam enquadrados pelo Ficha Limpa acabaram podendo se candidatar e, ao mesmo tempo,  alguns candidatos ligados aos movimentos sociais estão ameaçados. Evidentemente, a discussão não é essa. O problema é como essa Lei em questão frauda a Democracia aumentando o arbítrio da Justiça Eleitoral sobre quem pode ser candidatar e como os fundamentos dessa medida violam desde a ampla defesa, a presunção de inocência até um ponto que anda sendo muito pouco debatido: A função ressocializadora da Pena. Pela nova Lei, um cidadão que cometeu certo crime, foi devidamente sancionado por ele pode ficar mais oito anos depois do cumprimento da Pena sem poder se candidatar. Mais do que o risco iminente disso ser usado apenas contra candidatos contrários ao sistema - em um país onde se criminaliza sim movimentos sociais e a própria pobreza -, a Lei é eivada de duas falácias centrais: O moralismo cristão e a lógica mecanicista do Positivismo - caracterizada tanto por um esforço sublimador da Democracia quanto pela paranóia coercitiva.


A questão do Pecado e de um ética idealista está claramente impregnada na participação dos sem-número de organizações e parlamentares cristãos na referida Lei - inclusive na participação da esquerda católica, responsável por muitas das melhorias do país nos últimos anos, mas que em certos casos como esse encontra seu teto - assim como a perspectiva mecanicista, que reduz a questão democrática à aristocracia eletiva: Eleições tornam-se um modo não de escolher meros representantes para levar as demandas públicas a uma instância deliberativa mais ampla, mas sim "melhores", que devem ter sua pureza atestada previamente, e cuja função é conduzir a massa do Velho para o Progresso, numa marcha incessante. Os mecanismos formalmente democrático usados para a aprovação dessa Lei foram todos usados esvaziados de seu conteúdo material, não se promoveu um debate real esclarecedor junto as pessoas, apenas uma parcela delas foi conduzida por uma série de sábios dotados de uma razão que só lei conhecem para aumentar mais ainda o poder de outros sábios. No fundo, estamos falando mesmo da roupa do Rei, aquela que só os inteligentes veem.



quinta-feira, 29 de julho de 2010

O Quatro Grandes de São Paulo no Pós-Copa

Ontem, o São Paulo perdeu por 1x0 para o Inter pela semi-final da Libertadores, enquanto isso o Santos venceu por 2x0 o Vitória na final da Copa do Brasil. Nem Palmeiras nem Corinthians jogaram, mas enquanto o primeiro está animado com sua reconstrução, o segundo, apesar de liderar o Brasileirão, vive um fase de incertezas devido a perda de Mano Menezes para a Seleção. No ano, o Santos despontou com a chegada de Dorival Jr., o crescimento de Neymar e Ganso e a volta de Robinho, o time venceu o Paulistão e está às portas do título da Copa do Brasil; o São Paulo segue jogando um futebol morno, perdeu o Paulista sem vencer um único clássico - apesar de que tenha sido o único grande, além do Santos, a chegar na semi-final - e surpreendeu ao chegar na semi da Libertadores; o Corinthians arrumou-se mal para o ano do seu centenário, foi eliminado precocemente do Paulistão e parou nas oitavas da Libertadores; o Palmeiras, por sua vez, foi um desastre no Paulistão e na Copa do Brasil, sendo eliminado na primeira fase de um e nas quartas do outro frente ao glorioso Atlético-GO

(foto retirada daqui)

De todos os quatro, o Palmeiras é aquele que mais investiu para a segunda metade de 2010, visando, inclusive, um projeto maior. A volta de Kléber e Valdivia para o elenco nada mais é que a correção dos graves erros cometidos por Vanderlei Luxemburgo no segundo semestre de 2008: Ambos eram jogadores que além da boa qualidade, ainda tinham uma grande identificação com o clube e que não deveriam ter sido negociados. Felipão, além de ter sido o maior técnico palmeirense de todos os tempos, depois de sua saída alçou voos mais altos, ganhando até mesmo uma Copa. Falta muito para o time ainda, o título do Brasileirão dependeria de uma reação muito forte, mas a Sul-Americana - que vale vaga para a Libertadores este ano - está aí. Com a devida paciência da torcida e a continuação do trabalho da diretoria, creio que em 2011 o time tem belas chances de entrar com muita força. Confesso que me surpreendi bastante com isso, a gestão Beluzzo parecia-me completamente confusa até este ano, empreender um processo de reestruturação desses foi espetacular - muito embora o fracasso do ano passado se devesse mais ao colapso que o time sofreu pelo superpoder dado a Luxemburgo pela gestão anterior e a contratação errada de Muricy, um erro que custou caro.

(Lancenet)

O Corinthians, de agora para frente, precisa se reconstruir. Adílson é um bom técnico, ainda está em crescimento, mas não é Mano Menezes - aliás, mesmo Mano já encontrava duras dificuldades para montar o time depois do desmonte que se seguiu ao título da Copa do Brasil. As contratações para o ano do centenário foram fartas e sem critério. O tipo da coisa para inglês ver; demorou até as coisas serem arrumadas e quando finalmente foram, o trabalho foi interrompido. Eu não apostaria numa queda livre da equipe, mas creio que o desempenho tende a cair um pouco até (e se) as coisas voltarem a ser como antes - isso tudo depende do quanto Adílson queira alterar o trabalho anterior. Aliás, um ponto a se repensar é o ataque da equipe.


(foto retirada daqui)

O São Paulo estava desgastado no fim da era Muricy e Ricardo Gomes não ajudou a reverter o processo - que, ao contrário, se agravou. Não vejo o elenco do São Paulo como fraco, mas Gomes é. A defesa do São Paulo não tem a mesma excelência de outros tempos e o ataque não se arruma, isso tem muito a ver com tática, trabalho psicológico etc. É muito difícil que o time reverta o placar do primeiro jogo, mas mesmo que o faça, entra em uma posição desfavorável para a final. No Brasileirão, as coisa são mais complicadas.

(Julyana Travaglia - Globoesporte)

Do lado santista, Robinho e André vão embora, Keirrison vem. Neymar e Ganso continuam com a responsabilidade de fazer o time voltar a jogar bem como no começo do ano - e como não faz desde o início do Brasileiro. Claro, se conquistada a Copa do Brasil, tudo fica mais fácil para o decorrer do Brasileiro. Keirrison, aliás, foi um dos melhores centroavantes que o futebol brasileiro revelou nos últimos tempos, ma caiu na conversa fácil dos empresários, saiu prematuramente do Palmeiras e fracassou na Europa. Agora, ele recomeça no Santos do mesmo ponto em que se encontrava há um ano e meio atrás. Se colocar a cabeça no lugar, aprender a ter mais vibração e jogar para o time é jogador para disputar a camisa 9 em 2014 - a questão é saber se ele e o comando técnico do Santos conseguirão operar essa mudança ou se teremos um novo Dodô.

quarta-feira, 28 de julho de 2010

Sobre Capitalismo e Humanismo

Agora há pouco, por meio dos itens compartilhados pelo Allan Patrick no Google Reader, li um post trágico e, ao mesmo tempo, terrivelmente ilustrativo do Eduardo Guimarães: O Capitalismo Ainda Vai te Pegar. Tratava-se da narração do martírio pelo qual ele passa devido à grave doença de uma de suas filhas, agravado pelo fato da seguradora estar se negando a autorizar de um procedimento médico necessário por motivos burocráticos. Isso ilustra bem o que é o Capitalismo. Claro, o enredo dessa história é um disco riscado na nossa sociedade, mas não só dela. Em maior ou menor grau, o mesmo ocorre em qualquer país capitalista. 


Para além das considerações tecidas pelo Eduardo, não, eu não acredito que um sistema perfeito venha a ser concretizado algum dia. Não por alguma implicância com qualquer projeto em si, mas pelo simples fato que a perfeição é irrealizável historicamente. Buscar isso, no máximo, vai lhe tornar um esquizofrênico ou um desiludido ranheta. O ponto é que isso, em si, também não justifica o conservadorismo, o conformismo ou seu decorrente egocentrismo - que nada mais são do que o outro lado necessário de qualquer forma de idealismo. A meta que eu miro, portanto, é a busca pela construção de um sistema mais efetivo para a garantia da vida humana e a posterior conquista da felicidade geral. 


O Capitalismo - que mesmo em crise ainda paira hegemônico - sob aspecto algum foi, é ou poderá ser esse sistema. O motivo é igualmente simples: A essência  do Capitalismo aponta claramente que o seu fim não é a garantia da vida, mas sim a marcha incessante visando sua própria expansão, isto é, falamos de um cão que corre atrás do próprio rabo, além de girar em círculos, corre o risco de se auto-mutilar caso atinja seu objetivo - e esse peculiar processo se dá por meio de uma radical exploração do trabalho realizado no interior de cada unidade de produção, da própria base econômica que permite aprioristicamente o surgimento de cada meio de produção seu e, sobretudo, da base social e ambiental da qual ele depende.


Há quem aceite isso e por uma espécie de hedonismo doentio ainda o defenda. Há quem o saiba e busque argumentos cândidos para racionalizar esse processo - para os outros e, sobretudo, para si mesmo. Há quem acredite que se possa, permanentemente, se usar da inigualável capacidade de produzir do Capitalismo para desviar parte dos seus recursos para "o bem comum" - como se fosse possível civilizar de forma permanente o referido sistema. Eu discordo. As crises e as idas e vindas da vida política apontam que nenhuma construção civilizatória no capitalismo, que vise seu adestramento, possa ser tão sólida que não desmanche facilmente no ar. Sempre descobrimos que pode ser pior quando caímos doentes ou vemos entes queridos numa situação dessas e não resta a quem recorrer, pois simplesmente eles, no fim das contas, são reduzidos a um número em alguma planilha esquálida.


Serviços essenciais no Capitalismo são prestados de forma mercantil pelo empresas privadas ou formalmente pelo Estado. No primeiro caso, eles são meros componentes do sistema, submetido à sua peculiar lógica, no segundo, surgem de algum abalo na ordem vigente, que se vê forçada a ceder certos pontos - diante de pressão nem sempre pequena - que se tornam válvulas de escape - o problema, é que esse movimento não é irreversível, o Capitalismo necessita da maior quantidade de energia possível para sua expansão, não podendo prescindir de nada a menos que seja dada uma utilidade a certa espécie de serviço, o que pode ser mantido de certa forma com sua mercantilização.


O fracasso de "socialismo real" não pode ser apontado como argumento contrário a essa crítica. Aqueles regimes, eivados de deformações positivistas, o que se manifestava desde a forma de produção autoritária - embora pró-sistêmica - e a organização política aristocrática. Nada disso foi fruto de necessidade, mas de decisões racionais de algumas figuras-chave. Dizer que não havia escolha para Lenin ou Mao é uma inteira mentira. O primeiro construiu um modelo equivocado e o colocou em prática, certamente baseado em uma ideia reduzida de homem e uma visão estreita de Economia. Ainda assim, mesmo aquele enorme equívoco conseguia com menos dinheiro proteger mais a vida humana. Cuba pode um PIB per capta menor do que a metade do PIB per capta brasileiro, mas lá se vive seis anos a mais do que aqui. Trata-se do fim certo concretizado da forma errada. 


A luta contra o Capitalismo, essa formidável máquina de fagocitose e de produzir loucura, não é simples. Exige senso tático e estratégico - sem jamais confundir um com o outro, nem transformar certos meios em fins cômodos como fez a social-democracia europeia do pós-Guerra. Também não podemos achar que caiando o leviatã de vermelho, acharemos a solução. A luta é dura, mas sem ela, não sairemos do lugar e a degradação ambiental, por si só, ameaçará a vida humana sobre a terra de forma irrecuperável.

terça-feira, 27 de julho de 2010

A Economia Enquanto a Banda Passa

Neste exato momento, enquanto as atenções no Brasil se voltam para o debate eleitoral - ou isso que classificamos como tal -, a roda da economia continua a girar. Sim, a Crise Mundial segue. Seu movimento sinuoso é também singular. O movimento inicial, que veio à tona em 2008 era a concretização de uma tragédia anunciada, decorrência necessária da esquizofrenia das desregulamentação desvairada dos anos 80 e 90 e da irresponsabilidade americana durante os anos Bush. O aporte trilionário feito pelos Estados, refreou a crise - sem implicar em expropriações (pelo menos de parte) ou, ao menos, punição de executivos das grandes corporações. Por outro lado, políticas de contenção fiscal passaram a ser novamente defendidas, enquanto os atores políticos são incapazes - por uma série de motivos - de examinar a natureza dos gastos públicos, não distinguindo assim o joio do trigo, o que é fundamental para saber o que deve ser cortado e no que deve ser investido.


Confusões e hesitações como essas são normais em momentos nos quais a ordem dominante - por sinal, capitalista - se vê em xeque, suas válvulas de escape estão entupidas e não há para onde direcionar a pressão produzida. Algumas saídas são muito simples, mas ela se contrapõe a interesses de grupos - cuja influência na esfera política é certamente maior do que a produtividade econômica delas. É mais ou menos como a questão da indústria bélica americana, que necessita de guerras para funcionar, muito embora tais conflitos nem sempre tragam retorno para o sistema - muito pelo contrário, no atual momento. A ordem capitalista tem às mãos saídas que resultariam em seu próprio suicídio - o que em outra palavras, seria um suicídio inverso, pois tal sistema, em si, constitui-se em um Programa Suicida como bem anota Paulo Arantes -, o que está fora de cogitação, portanto, rumina-se saídas dentro do próprio sistema.


Caso retomemos o primeiro link, leremos o liberal Krugman falar na raridade de momentos como este, falando que embora recessões sejam normais, as depressões são fatos completamente excepcionais na "história econômica" - claro, na história capitalista. Certamente são essas depressões os momentos que devem ser chamados crises: O momento da decisão e da diferenciação, quando, diante de uma bifurcação, a Ordem precisa se reorganizar para voltar a responder à maior parte das demandas sem deixar de se auto-sustentar - ainda que possa, e até precise, fazer concessões para tanto -, o que nem sempre é instantâneo ou retíleneo. A pressão dos setores explorados constitui outra variante na planilha - especialmente caso se organizem, levando em consideração ainda o seu grau de consciência e compreensão conjuntural. Ordem capitalista, compreenda-se, nem sempre se confunde com o próprio Governo do Estado


O Brasil não está fora desse mundo. Em que pese ter saído mais rápido do momento incial da crise, ela descreveu uma curva. Ademais, temos alguns descompassos. Se por um lado, fizemos, ao longo do tempo, uma política inteligente de estabilidade fiscal desde o início do Governo Lula, com a adoção de superávits e de uma política contraciclíca, por outro, a regulagem da taxa de juros pelo Banco Central sempre esteve descalibrada ao longo dos últimos anos - ainda que no atual governo se pratique taxas menores do que no Governo FHC, não resta dúvida que seu valor excede o nível de aquecimento da economia - bem como a política cambial esteve à deriva. Se de um lado o crescimento aumentado pelas políticas do PAC - e depois o aporte bilionário junto ao setor produtivo durante a Crise - provocaram uma absorção dos impactos, do outro, a demora do BC em cortar as taxas de juros, oneraram a economia - pelo gasto que ela provoca e pela maneira como colabora para a valorização da moeda, o que de uma vez só, reduz o superávit comercial e aumenta o gasto público. Isso é péssimo. 


Primeiro, depois de uma retomada aguda do crescimento, vem uma desaceleração provocada pela nova oscilação do mercado externo. Para além do catastrofismo, essa matéria do Estadão, ilustra a situação de deterioração das contas externas - no entanto, ela simplesmente não explica de onde veio o gasto público. Parece que falamos de algo que surgiu do nada, citar que existem problemas é normal, afinal, a culpa é atribuída ao atual governo - no entanto, silencia-se a respeito desses fatores, pois eles favorecem precisamente alguns interesses que o referido jornal está junto. Um ponto lateral, mas de relevo foi, entretanto, surpreendentemente lembrado: O aumento agressivo das remessas das multinacionais para seus países-sede como forma de cobrir balanços. Isso, no entanto, nutre uma relação com o próprio valor do câmbio apreciado.


E política cambial é matéria de controvérsia na teoria econômica. Grosso modo, os defensores do dito "câmbio livre" partem do pressuposto que as interferências do Estado na cotação cambial - como no caso mais radical de fixação do valor da moeda nacional - provoca distorções, postulando que a função do câmbio é servir muito mais como um transmissor de informação para o Estado regular suas políticas econômicas em cima do valor dado - que seria a expressão real das necessidades econômicas. O câmbio flutuaria, portanto, naturalmente. Os opositores dessa tese afirmam que nunca haverá a expressão real dessas necessidades econômicas, pois a construção do dado cambial é uma decorrência da atuação de determinados agentes visando o estabelecimento do seu valor - ou produzindo efeitos sobre ele em decorrência de decisões suas -, deixado livre, o valor cambial poderia, portanto, ser facilmente distorcido por  certos agentes, o que pressupõe uma descrença na auto-regulação do mercado e a ideia da construção do dado cambial como forma de alavancagem do desenvolvimento. Se para os primeiros, ele é praticamente um indicador, para os segundos, ele se trata de um instrumento. Como a primeira hipótese pressupõe a neutralidade dos agentes no processo de construção do valor cambial, logo, tendo a discordar dela.


A divergência em tela, entretanto, passou batida porque momento da economia mundial produzia um efeito interessante, onde os liberais poderiam dizer que a estabilidade era fruto do equilíbrio natural produzido pelo câmbio livre enquanto seus variados opositores podiam dizer que a estabilidade era fruto do aquecimento do mercado mundial que mascarava os efeitos do câmbio valorizado. Os atuais movimento apontam para a segunda hipótese. Evidentemente, o câmbio livre sempre chega a um equilíbrio, mas esse ajuste por se dar por bem ou por mal: Todo avião que levanta voo, desce, não importa como, caindo ou pousando. Isso é o que está em questão aqui. Construir uma política cambial clara e por fim ao descompasso entre as necessárias políticas de aceleração de crescimento e a política monetária são itens urgentes ainda do atual governo - e do próximo. 


Por si só, não bastará, claro, o desenvolvimento econômico demanda aumento da gestão social do patrimônio econômico e uma ação propositiva acerca do impacto da produção sobre o equilíbrio do meio-ambiente - o que se encontra dentro de um agenda reformista, o que não é solução para o problema central, o que, até a criação de uma vontade organizada revolucionária de novo tipo, é o que nos resta, embora a primeira seja tática e a segunda dificilmente possa ser construída por dentro do Estado. Seja como for, a saída para o Capitalismo não é, certamente, o descapitalismo. Nesse sentido, a candidatura Serra vociferando contra o descompasso da política econômica soa estrepitosamente falso, seja porque não tenha força para empreender um tensionamento com o setor financeiro ou por suas declarações estabanadas acerca de política externa possam ter resultados econômicos negativos imediatamente. Isso não isenta Dilma de ir além do Governo Lula, o que será necessário não só na campanha como também em seu eventual Governo. A candidatura Marina se perde nas divagações liberais de sua equipe enquanto a de Plínio acerta na coisa, mas erra nas proporções e na velocidade por subestimar a complexidade do processo e das variáveis. Em suma, trata-se de uma questão que exige uma resposta no curto prazo dos candidatos e o PT prossegue menos distante nesse assunto.

domingo, 25 de julho de 2010

O Esvaziamento do Debate Eleitoral e as Pesquisas

Sim, meus caros, para além do império dos factóides, essa eleição também é marcada por um jogo duro no mundo das pesquisas. Não existe debate, sem dúvida. Quando o PT era oposição havia uma crítica à esquerda da política tradicional brasileira e, em um segundo momento, o confronto praticamente polar com o PSDB, quando o partido da estrela se posicionava fortemente contra as privatizações, a liberalização econômica e a ideia de um mercado dotado de design inteligente que em tudo põe ordem - justamente aquilo que seu rival colocava pautava - propondo uma reconstrução do Estado e de uma lógica pública, social e solidária de economia - além de uma política externa verdadeiramente independente.


Isso acabou. Primeiro, porque diante do alto nível de desemprego e do sucateamento do setor público, as propostas do PSDB se tornaram justificada e incrivelmente impopulares sem que isso provocasse uma mudança de rumos interna ou uma explicação decente sobre as causas desses problemas, criando um discurso simulado e confusa seja com Serra em 2002 - que para uns se punha como tucano diferente, anti-malanista e "desenvolvimentistia", enquanto que para sua base se afirmava como a continuidade necessária e, para todo o resto, apenas insuflava um pânico anti-lulista e anti-petista - ou com Geraldo Alckmin 2006 - que apareceu como uma espécie de candidato que, para além da fobia anti-petista (o discurso de lei dos candidatos tucanos), calava sobre a agenda impopular do seu partido, descolava-se da figura de FHC e, sobretudo, vendia a ideia de que a "política" faliu e era hora de se eleger um "gerente" - em suma, esqueçamos essa história de democracia e de "muita conversa" e vamos funcionar como uma tecnocracia. Lula no primeiro caso foi o candidato da esperança, enquanto no segundo, foi o candidato que dizer que a "política" - isto é, a democracia - ainda valia a pena e venceu ambas, adotando, entretanto, um discurso mais centrista que nas campanhas anteriores.


Enfim, foram duas campanhas péssimas, porque seja enquanto situação ou oposição, os tucanos não sabiam o que fazer para explicar as falhas do Governo FHC: Por convicção politica, Serra e Alckmin não viam muitos problemas nas políticas dos anos 90, seja porque não sabiam porque elas deram errado, porque viam outras tantas coisas como "mal-necessário" ou porque, como via de regra era uma opção de continuidade ao Fernandismo dentro do partido, não julgavam prudente fazer críticas frontais a um ou outro ponto que poderiam discordar - Serra talvez tenha feito isso, quando disputava a indicação para a Presidência em 2002, talvez por uma questão de afirmação interna, nada mais. Nesse sentido, ambos elogiaram algo que ainda restava como popular e calavam sobre todo o resto, mesmo o que consideravam certo, porque isso depunha contra sua ambições políticas. Isso produziu momentos engraçados como, por exemplo, em 2006 quando Alckmin foi jogado na parede por Lula sobre a questão das privatizações, entrou em pane porque não tinha coragem de defendê-las nem de crítica-las.


Nessa campanha eleitoral, no entanto, as coisas pioraram. Como debatia quando discutia a questão de Serra e das FARC, a quantidade de factóides por minutos que são produzidas é absurdo e eles surgem, fundamentalmente da campanha serrista, Em 2010, depois do bem-sucedido mandato de Lula, onde o país cresceu muito bem, resistiu à crise sem punir a população, desenvolveu mais ainda os programas sociais e reduziu o desemprego gradativamente - Junho deste ano  foi o mês de Junho com a menor taxa de desemprego em anos -, o candidato da oposição tomou uma rota confusa e muitas vezes desequilibrada: Em um primeiro momento, tentou se lançar com a tese de que não é o candidato oposicionista, mas sim aquele candidato "mais preparado" para governar o país no pós-Lula, mas sempre alternou isso com críticas vulgares ao que foi feito nos últimos sete anos - principalmente em matéria de política externa - e depois destrambelhou-se com a escolha, a despeito de sua vontade, de Índio da Costa como vice.


Serra acusa paranoicamente a todos, A Bolívia, o PT, o Mercosul e até as camisinhas chinesas, mas, por pura diletância, pergunto: Onde estariam as provas? A resposta recorrente é o velho "todos sabem". Vergonhosamente, a blindagem que ele sofre da mídia corporativa é enorme. Ali, ninguém o cobra de nada que diz. Aliás, enquanto balões de ensaio são, tragicomicamente, produzidos acerca da forma como o atual governo ameaça a liberdade de imprensa, a própria liberdade de imprensa, ela mesma, é atacada em São Paulo, como se vê no caso da TV Cultura, o canal público paulista, que é simplesmente bombardeada pela intervenção política do Palácio dos Bandeirantes.


Marina Silva, candidata do PV, pondo-se ao centro dessa questão, pauta uma mistura de ambientalismo, uma agenda de direitos civis candidato democrata-cristão dos anos 70, com uma pegada liberal no programa econômico.Frente a isso, a candidata da situação, Dilma Rousseff, segue a orientação de campanha de não entrar em divididas, mesmo quando acusada infantilmente, a ideia, claro, é não entrar na briga e tratar de colar sua imagem na figura de Lula, que persiste altamente popular, propondo-se como candidata da continuidade. Plínio de Arruda Sampaio, candidato do PSOL, foi seguidas vezes boicotado pela mídia, sob a alegação de que não pontua nas pesquisas. Aliás, encontramos o gancho para um dos principais fenômenos  que compõem o conjunto desse processo de esvaziamento do debate: As pesquisas eleitorais e o modo como os candidatos se relacionam com elas.


Sim, de repente, o debate político nacional se viu engessado pela figura das pesquisas eleitorais. De repente, as considerações do eleitorado sob temas polêmicos são avaliadas - sob uma metodologia nem sempre bem avaliada - por pesquisas de opinião, logo, os principais candidatos se orientam por aí, elas se tornam uma baliza de uma espécie de doutrina de ação eleitoral. O dado que vem dali parece que se torna uma verdade universal imutável e, logo, ninguém se arrisca numa das funções mais elementares da política que é o convencimento público em relação a temas polêmicos - mesmo que acredite no que está defendendo. E fazem isso sob bases pantanosas. Outro problema, e aí sim a porca torce o rabo, é da efetividade das pesquisas eleitorais. Não faltam estatísticos que, justificadamente, as critiquem. Por outro lado, temos uma verdadeira guerra entre os institutos de pesquisa, que conflitam, como nunca, nos resultados das pesquisas. Poderíamos falar em erro por parte de ninguém há meses atrás, mas a persistência do fenômeno nos leva a crer que alguém está mentindo.


Fosse o caso de divulgar pesquisas eleitorais, eles deveriam ter uma metodologia oficial uniforme - e, de preferência, elas deveriam ser produzidas por um instituto oficial e não por um emaranhado de empresas privadas, dotadas de interesses próprios. Isso, ao meu pensar, funciona como as famosas "agências de risco", as famigeradas empresas privadas que avaliam o "risco" de investir nos países pelo globo, sendo decisivos, em especial para os países pobres, dotados de gigantescas dívidas. As pessoas tomavam aquele dado como um verdade, mas se esqueciam que, na verdade, aquelas agências eram empresas privadas como qualquer uma outra, com interesse privados e, sobretudo, com a possibilidade de ter interesse direto e efetivo na negociação de dívidas com alguns países - não à toa, boa parte das agências quebrou na Crise Mundial que segue, tão envolvidas estavam no jogo da especulação. O mesmo ocorre com nossos institutos de pesquisa de opinião, em especial, no que toca às pesquisas eleitorais: Antes de avalia-las é necessário saber que aquelas empresas podem ter sim interesse direto na eleição de um candidato - e isso, ainda que condenável eticamente, não é uma anormalidade econômica, convenhamos.


Até março deste ano, os institutos coincidiam em suas análises: A candidata governista, Dilma Rousseff, crescia inercialmente e o candidato da oposição, José Serra, via sua liderança diminuir. Depois, enquanto Vox Populi e Sensus anotavam a manutenção da tendência, o Datafolha - instituto do Grupo Folha, dono do jornal Folha de São Paulo, conhecido por suas posições pró-PSDB - dizia o contrário: Quando os dois primeiros diziam que Dilma se aproximava, ele apontava que ela ainda estava longe, quando os dois primeiros diziam que houve empate, ele apontava para uma liderança menor de Serra, quando os dois primeiros diziam que Dilma ultrapassou Serra, ele insiste na tese do empate. Curioso. Enquanto isso, o Ibope, fica no meio-termo entre os dois movimentos - com seu proprietário sob particular suspeição, depois de declaração públicas ano passado.


As últimas pesquisas do Vox Populi e do Datafolha são emblemáticas. Enquanto o primeiro afirma a tendência inercial de crescimento de Dilma - o que não teria motivos para ter cessado, afinal, não houve fato novo e relevante sobre o Governo Lula ou ela no período -, o segundo insiste que houve empate. A distância é gigantesca, o primeiro diz que Dilma está oito pontos na frente e o segundo diz que ela está um ponto atrás. Marina Silva, curiosamente, está com a mesma margem de pontos em ambas. Dilma lidera ambas as pesquisas espontâneas - isto é, aquela onde o entrevistado é perguntado diretamente em quem vai votar, enquanto na segunda, ele é informado sobre quem concorre. Evidentemente, a maneira como ocorre a exposição dos candidatos está fazendo toda a diferença. Não só isso, a metodologia de seleção dos entrevistados e distribuição do eleitorado pelo país é diferente. Quem aponta isso é Brizola Neto, deputado federal pedetista que disputa a reeleição, e é crítico do Datafolha.


Pode se discutir aqui que ambas as metodologias são corretas, mas um ponto que me intriga particularmente é como o Vox e o Sensus - que ainda não saiu - estão antevendo os movimentos enquanto o Datafolha mostra os mesmos movimentos com efeito retardado. Também é curioso como ambos coincidem nas intenções de voto de Marina. Por isso, entendo que o Datafolha precisa se explicar do mesmo modo que o Grupo Folha, jogando na ofensiva já fez com os outros institutos, por muito menos, o fizessem. Seja como for, a lúgubre democracia brasileira, para não esmorecer de vez, precisa de uma reforma urgente no regime jurídico-eleitoral e a abolição das pesquisas eleitorais ou, no mínimo, sua racionalização mediante a instituição de metodologia uniforme, deveriam ser itens postos em debate. Para além disso, em termos factuais, não deixa de ser perturbadora a forma como o processo de esvaziamento do debate eleitoral tem sido catalisado, particularmente, pela oposição tucana.



sábado, 24 de julho de 2010

Mano Menezes na Seleção

( Foto retirada do lancenet)


Depois do pastelão envolvendo Muricy Ramalho no dia de ontem, Mano Menezes é o novo técnico da Seleção Brasileira. Sinceramente, eu não entendi nada. As informações apontavam, ao longo da semana passada - e, especialmente, na quinta -, que Mano seria confirmado ontem no cargo - e não Muricy que era apenas um nome distante. As pistas quanto a isso eram boas, falo aqui tanto do fato da diretoria do Corinthians sinalizar que não criaria problemas para que Mano assumisse a Seleção quanto da admiração que Felipão nutre por Mano - dando a entender nas entrevistas que ele era seu favorito - passando ainda, sobretudo, pelo bom momento profissional que vive o treinador.


Mano era a escolha lógica. Dentre os treinadores que surgiram nos últimos cinco anos na grande cena do futebol brasileiro, ele era o mais promissor. Nesse período, enquanto Muricy alcançava o teto de sua carreira, Luxemburgo decaia visivelmente e Felipão seguia fora do país - fazendo um excepcional trabalho na Seleção de Portugal e depois fracassando nas suas aventuras clubísticas -, ele vinha numa ascendente, pegando clubes difíceis de se trabalhar em situações horríveis: O Grêmio,  rebaixado e esmagado em 2004, que ele levou para a Série A em 2005 e a uma final de Libertadores em 2007, e o Corinthians, na mesma situação, o qual ele levou também de volta à Série A - sendo campeão da Segundona em 2008 -, além de ter vencido a Copa do Brasil e o Paulistão de 2009.


Uma das suas principais características, para além de ser um soberbo estrategista, é sua capacidade de gerenciar elencos, administrando crises e apagando incêndios como poucos - sem perder as rédeas do grupo. Essa virtude é uma das características marcantes da escola gaúcha de treinadores - e talvez por isso ela seja a melhor do país -, mas ela só se exacerba em seus melhores. E Mano é o melhor treinador dessa escola desde Felipão, superior a Tite e a Dunga.


Aliás, falando no atual técnico palmeirense, suas declarações públicas, meio que como quem não quer dizer nada, apontavam para uma certa simpatia por Mano. A coincidência disso com a escolha demonstra sua relação de amor e ódio com à atual direção da CBF: Se por um lado, ele só treinou a Seleção em condições bastante específicas, largando-a depois da conquista do Penta pela impossibilidade de continuar seu trabalho em termos razoáveis, por outro lado, Ricardo Teixeira sempre se agradou de seu estilo de treinamento e sua capacidade, ainda que entre ter um técnico digno e manter a contestável dinâmica de gestão Seleção Brasileira, sempre opte pela segunda hipótese - uma contradição que só não é indissolúvel pela qualidade do futebol nacional, uma benção que nesse aspecto torna-se praga. 


Claro, ainda assim, Teixeira nunca deixou de sonhar de ter um Felipão "domesticado", mas talvez estivesse disposto a aceitar o treinador fazendo concessões grandes porque o problema que se avizinha agora não é dos menores: O Brasil não pode perder a próxima Copa porque aí o esquema de Teixeira estará ameaçado. Mesmo com a recusa, a palavra de Felipão em favor de Mano e a semelhança de seus estilos pesou na escolha.


Outro aspecto não menos interessante é Corinthians: Por suma série de singularidades do clube, trata-se da equipe historicamente mais difícil de se treinar e jogar em São Paulo, quem se destaca especialmente em seu comando técnico é porque tem talento - e Parreira, por mais erros que tenha cometido na carreira, foi um dos poucos que conseguiu isso, saindo de uma campanha vitoriosa no Corinthians na temporada 2002 para a Seleção. Sim, este humilde - e palestrino, sobretudo palestrino - blogueiro que vos escrevinha, considera que ir bem no Corinthians é um ótima credencial para treinar a Seleção porque o grau destrutivo das habituais crises no time da marginal é a coisa mais parecida, em termos clubísticos, com as crises que às vezes se abatem no escrete canarinho.


Reitero e sustento: Foi a melhor escolha, ainda que de uma forma atabalhoada.


P.S.: Sobre o caso Muricy, ele deveria ter se certificado dos seus termos contratuais antes de sentar à mesa com Ricardo Teixeira para negociar algo que não tinha certeza se podia fazer ou não. Sim, ele errou e perdeu mais pontos na minha consideração. Claro, o erro maior, para variar, foi de Ricardo Teixeira, ao negociar publicamente com um treinador que não poderia, por contrato, assumir a Seleção. Todo esse desgaste poderia não ter acontecido se as três partes, CBF, Muricy e Fluminense, tivessem conversado em particular de forma franca antes de mais nada. Mas isso, claro, é pedir demais.