sábado, 3 de julho de 2010

O Pós-Dunga: Felipão



O Ciclo de Dunga a frente da Seleção Brasileira, como já era sabido, terminou. Com ou sem o hexa, o treinador da seleção já havia adiantado que sua participação na Seleção Brasileira se encerraria nessa Copa. E ele termina com um senhor aproveitamento de 76,66% dos pontos a frente da Seleção principal, dois títulos e a sexta colocação na Copa do Mundo da África do Sul. Agora, a CBF tem uma missão dura pela frente: Trazer um técnico capaz de tocar o insano trabalho da próxima Copa, em relação a qual, por coincidência, seremos o país-sede - e se em uma situação típica as expectativas em torno da Seleção já são absurdas, imagine só daqui a quatro anos...

As especulações, claro, passaram imediatamente a girar em torno do nome de Luís Felipe Scolari, seguramente o melhor treinador brasileiro em exercício e comandante brasileiro do Penta. Agora há pouco, Felipão, que está de retorno ao Brasil para treinar o Palmeiras, declarou que está focado no time paulista e que, pelo menos até 2012, não pensa na Seleção Brasileira. A decisão é óbvia. Primeiro, Felipão jamais descumpriria sua palavra com a direção do Palmeiras, isso nunca foi do seu feitio. Segundo, dividir-se enquanto técnico da Seleção e, ao mesmo tempo, de um clube seria uma tarefa esquizofrênica e insuportável - a experiência de Vanderlei Luxemburgo, em 1999, no Corinthians e na Seleção nos prova disso bem.

Outro aspecto da negativa é que Felipão pensará bem em aceitar o convite da Seleção. O treinador tem uma experiência no mínimo radical com o time nacional: Quando o assumiu, no distante ano de 2001, a equipe vivia a fase mais negra de sua história, arriscado a não conseguir, sequer, a vaga para a Copa da Ásia. Nada funcionava, a ferida causada pela derrota na final de 98 ainda estava aberta, o trauma pelas desditas nos dois anos anteriores estava bloqueando qualquer iniciativa, o modelo de gestão da CBF - disfuncional até na bonança - colapsava diante do impasse - e o futebol do país, ainda por cima, vivia um período de entre-safra.

A pressão que pesa sob a cabeça do treinador do escrete canarinho estava potencializada e as derrotas no início tornaram a situação insustentável. A imprensa esportiva nativa, limítrofe e presunçosa como só ela, já acendia suas tochas numa tentativa prévia de racionalização de um fracasso - que sequer havia acontecido -, escolhendo a via da caça aos bodes-expiatórios - no caso, de um grande e único bode-expiatório: Felipão, que, ainda por cima, tomou duas decisões racionais que serviram para botar mais lenha na fogueira ao colocar o time para jogar no 3/5/2 - tendo em vista a inexperiência dos zagueiros do time e a aptidão dos laterais para apoiar e criar jogadas - e não convocar Romário, ídolo e responsável pelo Tetra que vivia uma crise aguda-extrema de marra, que o tornava fator de desestabilização.

Como apanhou Felipão.O que Dunga passou não foi nada perto daquilo. Pelo menos uma coisa ele teve de vantagem: A crise era tamanha na seleção que sua autonomia como treinador foi uma das maiores desde que o Regime Militar tirar João Saldanha do comando do time nacional nos idos dos anos 70. Suas apostas deram rigorosamente certo. O único erro, a marcação do meio-de-campo, foi acertado durante a própria Copa com a troca de Juninho Paulista por Kléberson. Ganhamos a Copa. Felipão não continuou. Seu último jogo, aliás, foi um amistoso que perdemos para o Paraguai. As exigências da CBF e o modo como o trabalho deveria continuar dali em diante não lhe pareciam incentivos para continuar. Foi o que aconteceu e para seu lugar veio Carlos Alberto Parreira, homem de confiança do poder.

Felipão conhece muito bem os interesses que gravitam em torno do time nacional e de como tudo que ele construiu pode ir por água abaixo facilmente. Sua volta é possível no prazo em que ele estipulou, mas apenas numa situação minimamente digna, o que eu tenho minhas dúvidas se essa CBF será capaz de - ou estará disposta a - produzir.

5 comentários:

  1. Paz e bem!

    Duvido
    que a CBF cogite o Felipão;
    ele só foi técnico da seleção
    porque como você disse
    na época corremos o risco de eliminação;
    veio a FIFA e disse pros cartolas:
    "Resolvam isso,
    não queremos perder dinheiro!"
    Só assim chamaram o Felipão.

    Com o próprio Dunga foi similar:
    precisavam do Felipão,
    mas não queriam o Felipão;
    acharam um Felipão,
    que não era o Felipão:
    o Dunga.

    Na ocasião
    achei que o Dunga
    cederia mais à CBF,
    mas neste aspecto errei.

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  2. Eugenio,

    Mas é por um desespero parecido que voltaram a cogitar o nome dele: Em quatro anos, e quatro anos voam, teremos uma Copa no Brasil e precisamos de um técnico de ponta para ganhar o torneio. Uma derrota em casa é tudo que Ricardo Teixeira e sua turma não querem. Com isso, o nome de Vanderlei Luxemburgo volta a ficar forte, mas existe uma resistência muito grande contra ele (felizmente) por parte de alguns setores futebolísticos. Esperemos.

    um abraço

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  3. Bom post.

    Sobre o Dunga, falando francamente, prá além do desempenho BOM, como você citou, não diria que a seleção apresentou uma evolução, um sequenciamento sob seu comando, o que você acha?

    Prá mim, os grandes jogos da seleção nesse período foram a conquista da copa América contra a Argentina e o jogo com a Itália na copa das confederações. Afora esses dois, não lembro do Brasil jogando daquela forma, solto, incisivo, no ataque.

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  4. Vou dar mais um pitaco. O pós-Dunga deveria ser a reforma no campeonato brasileiro, uma babel do jeito que está. Como torcedor, me sinto agredido com um campeonato em dois turnos, no meio do qual, as equipes mudam completamente prá que se possa "vender" os craques prá Europa. Ora, vamos alinhar nosso campeonato com eles, então!

    Outra coisa, direitos de transmissão. Se houvesse mais de um jogo transmitido na mesma hora, haveria maior incentivo para o torcedor e mais dinheiro de patrocínios.

    Uma campanha vitoriosa passa pelo fortalecimento do campeonato local, na minha opinião.

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  5. Adriano,

    Evolução frente à segunda era Parreira sim. Acho que o modo como nos impusemos na Copa América e do meio do primeiro turno das eliminatórias em diante foi positivo - incluso aí, a célebre vitória contra a Argentina em Rosário. Houve falhas na construção do sistema de marcação do meio e as apostas foram erradas - todo treinador tem o seu estoque de apostas arriscadas, mas acho que Dunga errou - e um pouco de azar na composição do time porque certas posições apresentam uma escassez estranhamente grande em nosso futebol.

    Do ponto de vista tático, não foi nenhuma revolução, mas seu 4/2-3/1 sem pôr a zaga para jogar em linha, procurando ter volume de jogo só que de forma propositiva, eram bons - inovação tática mesmo só com Felipão, que apanhou bastante pelo que fez e só não execrado porque voltou com o caneco. Também acho que faltou Dunga olhar um pouco para quem tava jogando aqui, o nível das competições nacionais melhorou muito de um ano e meio para cá.

    Sobre o Brasileirão, estamos plenamente de acordo. Embora as saídas para as ligas europeias tenha diminuído e tendam a diminuir mais ainda - porque nossa economia está em alta e bolha futebolística europeia já esteja estourando -, é necessário arrumar o calendário. Só que temos de ponderar o seguinte: Nosso período de férias, como dos europeus, coincide com o verão, só que estamos no hemisfério sul. O que eu proponho são estaduais mais curtos, o primeiro turno do Brasileirão terminando antes de Junho e retomando em Agosto. Poderíamos regulamentar uma janela de transferências também, para que não sei vire uma casa de mãe Joana, onde se o time quiser, negocia um jogador em Outubro.

    De um modo geral, é tudo questão de organizar melhor o campeonato nacional, mas a articulação para isso teria de ser estatal e clubística, pondo a CBF no seu devido lugar - pois foi ela, sob a égide de Ricardo Teixeira, que construiu esse modelo de futebol nacional para exportação, quando poderia ser diferente, como nos provam as ligas de países emergentes como México e Turquia. Também entra aí a questão dos direitos de transmissão, em tese, um liga de clubes deveria ter, diretamente, o controle sobre ele, isso deveria passar por fora de federações, confederações e o seu "jogo" junto a certos impérios midiáticos - para assim explorar mercados como os da América do Sul, África, Oriente Médio, China e Índia. Bem, é isso.

    abraços

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