Ontem, falava aqui sobre as chamadas Terapias de Choque. Esse é o nome pelo qual ficaram conhecidas as famosas políticas econômicas de cunho "ortodoxo" nos anos 90: Diante de uma crise qualquer, certos teóricos - de um projeto segundo o qual o humano não passa de uma mera unidade de uma planilha - surgiram no palco, fazendo com que o investimento social - em suma, falo aqui de perfumarias como Educação, Saúde, Previdência ou Assistência Social - tornava-se "gasto" e era nivelado ao custo dos copinhos plásticos de uma repartição pública, podendo ser perfeitamente diminuído ou simplesmente cortado de acordo com as contingências do Capital. Esse processo implicava em um movimento no qual tais serviços eram repassados, gradualmente, para o controle do Mercado - ou melhor, ao oligopólio que controla a esfera de trocas econômicas - com seus serviços eficientes, pagáveis pelos indivíduos produtivos, produzindo um verdadeiro darwinismo social. Essa ideia tem algum pé na Escola Austríaca, mas certamente sua influência maior está no pensamento de Milton Friedman e seus asseclas nos anos 70.
É frequente a reminiscência de Thatcher e Reagan - bem como de Fujimori, Menem e o nosso FHC por uma questão geográfica -, mas o grande responsável por elevar o status dessa espécie de política foi o recém-falecido Yegor Gaidar, proeminente ex-ministro russo - durante o governo Yeltsin - que da passagem do Socialismo autoritário soviético para uma "economia de mercado" pôs fim a toda rede de proteção social sob os auspícios da "liberdade" - curiosamente, a nova economia russa foi construída por ex-burocratas que se apoderaram dos meios de produção estatais, tornando-se rapidamente bilionários em dólar. Aqui não é uma questão de Estado mínimo ao contrário do que se diz, mas de Direito mínimo. Sobre isso falarei mais adiante. Por ora fiquemos com esse vídeo que uma querida amiga me enviou. Ele trata de uma das consequências mais visíveis do processo de desmonte do sistema soviético: As crianças de rua. Filhos de uma geração que perdeu seus empregos, viu sua vida se desagregar em um instante, caindo na depressão, no álcool e nas drogas, esse sem número de crianças russas parou nas ruas, fugindo de lares desagregados. É sobre isso que o filme trata:
Outro exemplo é a brutal queda na esperança de vida dos russos.
ResponderExcluirPatrick,
ResponderExcluirSim, sem dúvida. Hoje na Rússia a esperança de vida é de 65,5 anos, menor até do que a da nossa vizinha Bolívia (65,6) e 6,9 anos a menos do que o Brasil. Poucos analistas tiveram coragem de ir a fundo nos estudos acerca dessa hecatombe. Dentre os grandes, um dos poucos que se presta a denunciar os reais impactos dessa política é Joseph Stiglitz.
Recentemente, uma revista de medicina chamada Lancet - daquela ilha comunista conhecida como Grã-Bretanha - publicou um estudo no qual era detalhado os efeitos da Terapia de Choque sobre a esperança de vida russa e de algumas outras ex-RSS, o que causou uma alvoroço danado - tanto que eu não consegui achar o estudo novamente, aparentemente ele foi tirado do ar.
O que esse estudo se prestava a destrinchar era bem óbvio: Todos os dados apontavam para uma queda em espiral da esperança de vida na Rússia, os pesquisadores foram lá e idenficaram as doenças que surgiam, acidentes mais comuns, os níveis de alcoolismo etc e o que está fazendo o sistema de saúde russo naquele momento, a previdência como funciona e qual o impacto do desemprego naquilo tudo. É claro que como dois mais dois são quatro, eles chegaram na questão da Terapia de Choque.
O mais impressionante em tudo isso, são figuras como um Jeffrey Sachs atribuindo esse fenômeno - que tem marcas como a queda da esperança de vida em cinco anos no período de cinco anos - a surtos de alcoolismo que vem do nada e a uma dieta ruim - em suma, há uma crise de tuberculose e na certa a culpa é desse maldito vento.
um abraço