Sobre o que aconteceu em Minas foi o desfecho de uma novela que começa nos batidores do partido da estrela: Tratava-se da articulação de sua aliança formal com o PMDB para a candidatura Dilma, o que implicaria não apenas na possibilidade de um homem do establishment pemedebista ser o vice da candidata escolhida por Lula como também marcaria uma coordenação mais ou menos conjunta da campanha de ambos os partidos, especialmente no plano estadual - com a centralização dos PT's estaduais pela coordenação da campanha de Dilma, o núcleo duro do PT (o PT lulista, por assim dizer).
Basicamente, essa articulação estadual se daria com o PT dando apoio ao PMDB na disputa por governos estaduais enquanto o partido da estrela focaria na disputa pelo Senado - exceto onde o PT fosse governo e pleiteasse a reeleição, o que parece meio bobo porque o tratam-se de duas vagas para o Senado, mas normalmente o PT acaba tirando algum candidato competitivo da disputa estadual para conseguir vencer no estado, o que agrada ao aos seus aliados. A execeção à regra foi o Rio Grande do Sul pelo fato do seu PT ser composto por tendências à esquerda da Construindo um Novo Brasil, tendência majoritária do partido.
A ideia em si é lagar mão da disputa dos executivos estaduais, deixando-os para seu novo aliado - que por sua natureza oligárquica e regional acaba se interessando fortemente - enquanto o PT foca na representação nacional dos estados, ou seja, mira no Senado. O Brasil é uma Federação bastante peculiar, como bem sabemos: Aqui o poder se concentra brutalmente na União e o PT sabe muito bem disso, tampouco o PMDB é burro de não sacar o que está acontecendo, o ponto é que as máquinas estaduais interessam ao partido.
No caso mineiro, em específico, o candidato do PMDB local é para lá de controverso Hélio Costa, que foi Ministro das Comunicações durante boa parte do Governo Lula quase nos mesmos moldes de Henrique Meirelles no BC. Isso irritou uma figura como Patrus Ananias, que é incluive da tendência majoritária, que ao forçar prévias para disputar a governador do estado, tentou jogar um peso sobre Fernando Pimentel, seu adversário interno, numa tática que poderia desembocar em alguns caminhos na sua cabeça que visavam tirar Costa do jogo: (I) Pimentel não toparia, o que o tornaria candidato ou se topasse e ganhasse as prévias, (II) ele poderia vencer as prévias e ser mesmo o candidato; (III) Caso Pimentel ganhasse, ele estaria numa situação difícil para desistir da candidatura em favor de Costa; não deu, Pimentel ganhou e conseguiu desistir, talvez tenha sofrido certo desgaste com isso, mas caso a candidatura Dilma vingue, o que é bem provável, acabará dando a volta por cima.
Isso afirma o poder de fogo que gira em torno do núcleo duríssimo do PT - ou seja, das pessoas que realmente mandam no partido - e sua capacidade de alinhar e pacificar as coisas em torno da canditura Dilma - afinal, se isso foi feito num estado do porte de Minas, pode ser feito em tantos outros. Isso joga uma responsabilidade imensa sobre a candidatura Genro no Rio Grande do Sul, pois de sua vitória depende os rumos da esquerda petista ou pelo menos da permanência da resistência durante mais algum tempo.
Entrando no mérito da aliança do PT com o PMDB, não resta dúvida que o novo aliado petista nada tem a perder, trata-se de uma confederação de oligarcas que poderá ser representado na Presidência da República e ganhar posições interessantes - não excluindo a forma como pode se beneficiar do lulismo para fazer deputados também. Por outro lado, o PT, eleitoralmente, ganha muito, mas politicamente mesmo, perde - a confiança de alguns petistas é que com isso terão uma coalizão formal que renderá os votos necessários no Congresso para tocar o seu projeto transformador, mas excluem o quanto alianças meramente táticas como essa esvazia mais ainda seu potencial de transformação e como ela esvaziará mais o seu debate interno, afinal, o álibi da aliança com o PMDB será um álibi interessante para sufocar as tendências minoritárias (dentro da própria Construindo um Novo Brasil, inclusive) dele, logo, lhe tira boa parte de sua própria capacidade de reoxigenar tal projeto.
No duro, com um vice lá e um bom número de governadores, o PMDB também terá uma maior capacidade de reivindicação - e notem que ela não é pequena hoje, o que pode claramente se virar até mesmo contra a pequena minoria que tocou adiante esse plano - e pode dar certo no sentido de criar sustança parlamentar, mas nada mais do que isso.
Por outro lado, a divulgação dos dados econômicos atuais colocam lenha na fogueira eleitoral porque se fortalecem a posição do Governo atual bem como a imagem pessoal de Lula - o que favorece duplamente Dilma -, ela também força o debate econômico, especialmente em relação a pontos incômodos à candidata petista. Por exemplo, Já surgem pressões do mercado financeiro no sentido de provocar um aumento da taxa de juros, pois o dito crescimento seria prova de superaquecimento, o que traz luz ao eterno problema da política de juros, afinal, estamos falando de um ótimo resultado pelas circunstâncias, mas que se relaciona a uma comparação feita com um péssimo período do ano passado - levando em consideração, ainda, que os ventos da economia mundial não estão lá muito favoráveis, como bem nos alerta Luis Nassif. Isso pode ser bem usado por Serra, caso ele volte à questão da independência política do Banco Central, o único momento em que ele realmente conseguiu pautar algo eleitoralmente sensato em toda essa campanha porque:
1. Pega no calcanhar de aquiles do atual governo que é essa estranha relação com o BC, que chega a uma certa contradição entre as ações do governo e a política monetária.
2. Dilma e o PT precisam do voto do eleitorado nacional-desenvolvimentista, mas ao mesmo tempo, não conseguem, por n motivos, se imporem sobre o mercado financeiro, sendo que essa incongruência é disfarçada pelo fantasma da ameaça neoliberal do PSDB - e aí uma figura como Alckmin viria a calhar.
3. Serra, acredite ou não no que está dizendo - e eu duvido que ele acredite -, acaba tendo um bom espaço de manobra frente ao seu eleitorado - exceto entre os mais liberais que votam contra o PT por acusa-lo de estatismo - porque aparentemente ele só está fazendo o PT sangrar - em suma, é mais ou menos como quando um petista elogia Aécio...
A bola, óbvio, está com Dilma, mas é questão dela se posicionar com mais firmeza e clareza diante do que ela quer dizer com uma presença forte do Estado na economia, mais ou menos da mesma maneira como Lula refutou as privatizações nas eleições de 2006, jogando Alckmin simplesmente contra a parede. Nesse sentido, viria a calhar, pelo menos, uma fala sensata contra o terrorismo do mercado.
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