(Foto: Evaristo Sa - AFP)
Enquanto transcorre, ainda mornamente, a Copa da África, as movimentações visando às eleições de Outubro prosseguem - se é que em algum momento movimentações eleitorais realmente param no Brasil. Dilma Rousseff, candidata governista e líder das pesquisas, teve sua campanha oficializada nesta tarde na Convenção do PT realizada em Brasília. Em suma, trata-se de um movimento já previsto, no qual a candidata, que seguiu uma trajetória segura de crescimento nas pesquisas desde dezembro, é lançada às vésperas da estreia do Brasil na Copa do Mundo e, mais importante do que isso, o nome de Michel Temer foi oficializado de vez como vice da chapa - nenhuma novidade para quem tem acompanhado essa campanha, mas vale pelo registro histórico da formalização da aliança PT-PMDB, o que não é pouca coisa.
Dilma Rousseff jamais disputou um cargo eletivo na vida, mas ocupou uma posição de proeminência no Governo Lula na área administrativa - primeiramente nas Minas e Energia, topando com o desafio da questão do Apagão e, depois, atuando na articulação política propriamente dita na Casa Civil. Na prática, sua candidatura significa que o PT optou por não mover nem um milímetro para a esquerda ou para direita o que foi feito nos últimos sete anos, sua candidatura segue uma linha técnico-administrativa de manutenção do projeto lulista - para o bem e para o mal, o que significa em outras palavras que continuará a se executar as políticas atuais, mas não haverá espaço para a reoxigenação necessária no PT, depois de sete anos de justificadas crises existenciais quando seu projeto foi posto à prova com a conquista do poder.
Um Governo Dilma seria uma continuação do Governo Lula com menos criatividade e mais precisão administrativa, ou seja, a promoção de uma melhora na condição de vida da população usando, pragmaticamente, os instrumentos do Estado tal como ele é - sem explorar sequer algumas das muitas potencialidades da própria Constituição - e do Capitalismo nacional. Trata-se de um projeto que tem pelo menos mais quatro anos de vida útil ainda. Trata-se de um projeto que, em si, não é instrumento anti-capitalista, muito embora abra flancos para seu questionamento e possível superação - o que demanda a construção de outro movimento, por fora do sistema partidário e, por tabela, contrário à falsa concepção da disputa eleitoral como fim e não meio que, veladamente ou nem tanto, Kautsky nos legou.
A escolha de Temer como Vice nada mais significa do que a formalização da coalizão tácita que sustentou o Governo Lula no parlamento - ou seja, daquilo que sustentou seu governo mesmo, haja vista que ele fez a opção de limitar sua governabilidade às instituições. De certa forma, Temer é um vice diferente de Alencar, que, muito embora possuísse uma enorme fortuna, se auto-declarava de esquerda e incorporava a figura do nacional-desenvolvimentista - e, portanto, da aliança entre petistas e nacional-desenvolvimentistas como frente ampla à estagnação promovida por FHC. Temer entra como homem que detém as chaves do Congresso, herdando a tradição de Ulisses Guimarães de ser a figura que goza da mais profunda organicidade nas instituições - apesar de ser figura controversa, cujo histórico como Professor de Direito Constitucional da PUC-SP era o de defesa intransigente da Constituição de 88 e o de Presidente da Câmara nos anos FHC era o de realizar as articulações necessárias para a realização das emendas que deformaram grande parte do noso texto consitucional. Depois de ser constitucionalista e fernandista, agora Temer é lulista.
A sobredita aliança entre PT e PMDB, aliás, só pode ser criticada caso se refute também a via institucionalista que o PT optou por exercer a hegemonia - sem isso, a conclusão necessária é que esse é o único modo do PT não apenas vencer as eleições como também de manter a governabilidade. Aliás, com os palanques estaduais e o tempo de televisão conquistados por essa aliança, a candidatura Dilma se torna praticamente imbatível se levarmos em conta, ainda, a enorme popularidade de Lula - assim como o primeiro ano de governo seria da mais perfeita tranquilidade política. Sua candidatura é uma proposta modernizadora dentro do sistema atual, fundada na ideia de construção de consensos que visam transformar contornando a tensão existente em nossa sociedade desde os fins da Ditadura - em suma, falo da tensão dialética marcada pela necessidade de uma tranformação que subverta a enorme desigualdade e opressão presentes em nosso meio e a tradição política que se assenta sobre os setores que lucram com essa (i)lógica (e sos que podem ter ganhos com isso bem como aqueles que pensam que poderão lucrar com tanto também). A candidatura Dilma é, portanto, uma candidatura institucional com um pé dentro e outro fora desse tensão, localizando-se na centro-esquerda política e, por fim, possuindo como adversário um Serra enfiado até o pescoço na outra ponta, que só admite uma mudança desde que ela mude tudo sem mudar nada.
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