Hoje à tarde tivemos quatro partidas pela terceira rodada da Copa do Mundo. Foram concluídos os jogos do Grupo A e B com a classificação de, respectivamente, Uruguai e Argentina na primeira colocação e de México e Coreia do Sul em segundo. Portanto, teremos na oitavas de final os confrontos de Uruguai contra a Coreia e Argentina contra México (repetindo o jogo das oitavas da Copa passada). Do que se pode concluir num primeiro momento, está a ascenção relativa do futebol sul-americano - e latino-americano também, levando em consideração o México -, a afirmação da Argentina como uma das favoritas à Copa - já afirmava isso há muito tempo, ainda que o quadriênio tivesse sido desfavorável, com um técnico carismático e a atual geração, na Copa as coisas seriam outras para los hermanos - e a decadência do futebol da Europa e da África.
Sobre a Europa, fica mais um indicativo da decadência dos grandes times, algo iniciado lá pelo início dos anos 2000, mascarado por uma Copa atípica e agravado agora. Isso se expressa com a classificação de times ridículos como a Grécia - que hoje, mesmo enfrentando uma Argentina com mistão e em ritmo de treino, foi incapaz de levar perigo. As grandes seleções, do seu lado, apresentam dificuldades em se renovar por conta da política simples e prática dos seus clubes contratarem atletas de todo mundo, relegando a dura tarefa de formar jogadores para o segundo ou terceiro plano, além, claro, do superpoder das ligas nacionais e do enfraquecimento das federações, incapazes de comprar brigas e reduzidas à pequenas unidades burocráticas.
Dos africanos, a dona de casa, África do Sul, fez um dos papéis menos ridículos, só deixando de se classificar por saldo - quem sabe pela falta de maturidade contra o México, na estreia ou, quem sabe, segurando um pouco mais o Uruguai - enquanto a Nigéria foi ridícula nos três jogos que disputou. A hipótese que eu levanto aqui é bastante simples: O desenvolvimento do futebol da África Negra foi atrapalhado pela descolonização tardia do continente e das sangrentas guerras civis que se seguiram, quando razoavelmente assentado o processo, vimos times nacionais bons, mas com pouca ou nenhuma organização. Vejo poucas chances de classificação para qualquer um outro time da África.
De repente, os jogadores, ainda muito novos, começaram a ser levados para a Europa e os técnicos europeus começaram a vir treinar as seleções, o que foi nocivo para o futebol africano, pois significou a imposição de um modelo externo, impedindo o desenvolvimento de uma forma de jogar bola própria e mais adequada às singularidades locais. Não me resta muita dúvida que, tecnicamente, os jogadores africanos chegam a estar acima da média dos europeus, mas sua criatividade está sendo pouco a pouco tolhida, o que lhes põe numa zona cinzenta onde seu desenvolvimento enquanto o que são não é possível - seria como, por exemplo, importar o modo italiano de jogar bola para o futebol brasileiro e trazer um técnico de lá para treinar a Seleção Brasileira, suspeito que não iria funcionar. É torcer para que a elite de jogadores africanos atuais se tornem técnicos no futuro e mudem essa realidade.
Seguindo via oposta, segue o futebol do extremo-oriente tem repetido no esporte bretão aquilo que fizeram na economia: Fagocitam instrumentais do Ocidente e os adaptam às suas necessidades. Isso faz como que, apesar de suas ainda consideráveis limitações técnicas, sul-coreanos avancem cada vez mais e conquistem uma vaga nas oitavas - e o mesmo vale para o Japão, que caiu num grupo difícil, mas ainda está na briga por vaga.
Por outro lado, temos o modelo sul-americano que está ultrapassando a Europa. A Argentina segue como uma das grandes forças do mundial e provou, hoje, que além de um belo time, tem um baita elenco, capaz de ser mais forte que a maioria dos times desse mundial caso entre com time reserva. Messi ainda não fez gol, mas é um baita jogador, temos ainda Verón, e reservas de luxo como Máxi Rodriguez, Aguero e Milito. Honestamente, pelo que eu vi do México, os argentinos são bem favoritos nas oitavas. Maradona põe seu time para jogar num 4/2-3/1 que normalmente vira um 4/3/3 mesmo, se mostrando até aqui o ataque com mais recursos nessa Copa e, mesmo que pesem as falhas defensivas, uma das melhores equipes do torneio. Javier Aguirre, por outro lado, tem dificuldades com o time do México, ainda que o miolo de zaga funcione bem, a lateral-direita não é bem assistida, falta qualidade na saída de bola no meio - adoro Rafa Marquez, mas não como volante -, os meias são inexperientes - Dos Santos é um ótimo jogador, mas é muito novo - e um atacante de peso - como, em seu tempo, foram Luiz Hernández e Jared Borghetti -; enquanto isso, seu principal jogador é o veteraníssimo Blanco que não tem condições de atuar um jogo todo. A saída para o México é jogar na retranca esperando por uma falha defensiva argentina no contra-ataque - ainda assim, lhe falta um jogador de ligação para puxar um contra-ataque qualificado.
O Outro jogo, Uruguai e Coreia do Sul, é uma das partidas entre uma das defesas mais sólidas desse torneio e um time disciplinado, com muita vontade e pouca técnica. Para mim, o Uruguai leva. A defesa liderada por Lugano, um meio com bons marcadores e um ataque com o talentoso Forlán e o regular Suárez tornam o time uruguaio muito mais qualificado que o rival - aliás, o Uruguai é um dos times mais inteligentes dessa Copa.
Foto1 Getty Images: Maradona e Palermo
Foto 2: Luís Suárez
Hugo
ResponderExcluirOlhaí um blog legal:
http://apoiototalaodunga.blogspot.com/2010/0/nosso-davi.html#com
Acabo de publicar um comentário lá citando, com a fonte é claro, um comentário resposta seu sobre o Dunga.
Adoro seu blog, Filosofia e futebol.
Beijos
Carolina
Carolina,
ResponderExcluirVou lá ver e muito obrigado. Aqui é assim. Filosofia e futebol na veia, meio tudo junto e misturado - vez em quando, algo sobre economia e política também ;-) Seja bem-vinda.
beijos