quarta-feira, 30 de junho de 2010

E o Vice de Serra é...hã?!!...Quem?

Sim, Índio da Costa, um deputado obscuro do DEM-RJ, protegido de César Maia, genro de Salvatore Cacciola e cuja relação com merendas escolares parece por demais exótica para os ouvidos deste humilde sertanejo. Descobri isso por tweet do NPTO em que ele fazia mais uma de suas piadas infâmes sobre o Víveros de Castro e a Veja. Em outras palavras, a candidatura Serra descambou e consegiu produzir um fato político negativo no último dia de Julho, primeiro dia desde o começo da Copa a não ter jogo. Depois do que aconteceu com seu favorito a vice, o glorioso José Roberto Arruda, Serra tentou trazer para sua chapa Aécio Neves - aquele mesmo, o governador mineiro que ele usou de todos os expedientes e artifícios para bloquear sua candidatura -, depois pensou em cooptar Álvaro Dias - tucano paranaense, irmão do pedetista Osmar Dias que encabeçará o chapão PT-PMDB-PDT no Paraná, verdadeiro alvo de Serra que buscava impedir uma escalada lulista no Sul, desmontando a boa manobra eleitoral no Sul. A essa atitude, como sabemos, seguiu-se a famosa divulgação do nome de Álvaro por Roberto Jefferson via twitter, sem que o DEM que tivesse sido avisado, gerando aquele famoso bate-boca entre o eminente varão da República Ronaldo Caiado e Bob Jeff. O DEM bateu o pé e ameaçou romper com o PSDB, elas por elas, a escolha do vice coube a outro glorioso estandarte da democracia brasileira, César Maia, que empurrou goela abaixo o vice de Serra. Há quem especule que o DEM fez isso já tendo em vista as eleições para a prefeitura carioca em 2012, suspeitando daiinente derrota serrista, ou que se trata de uma manobra dos Maia para humilhar o candidato tucano, mas o resumo da ópera é que a nau da candidatura Serra está à deriva e se o DEM queria fazer o Temer parecer um vice razoável, conseguiu...

As Crianças de Leningrado

Ontem, falava aqui sobre as chamadas Terapias de Choque. Esse é o nome pelo qual ficaram conhecidas as famosas políticas econômicas de cunho "ortodoxo" nos anos 90: Diante de uma crise qualquer, certos teóricos - de um projeto segundo o qual o humano não passa de uma mera unidade de uma planilha - surgiram no palco, fazendo com que o investimento social - em suma, falo aqui de perfumarias como Educação, Saúde, Previdência ou Assistência Social - tornava-se "gasto" e era nivelado ao custo dos copinhos plásticos de uma repartição pública, podendo ser perfeitamente diminuído ou simplesmente cortado de acordo com as contingências do Capital. Esse processo implicava em um movimento no qual tais serviços eram repassados, gradualmente, para o controle do Mercado - ou melhor, ao oligopólio que controla a esfera de trocas econômicas - com seus serviços eficientes, pagáveis pelos indivíduos produtivos, produzindo um verdadeiro darwinismo social. Essa ideia tem algum pé na Escola Austríaca, mas certamente sua influência maior está no pensamento de Milton Friedman e seus asseclas nos anos 70.

É frequente a reminiscência de Thatcher e Reagan - bem como de Fujimori, Menem e o nosso FHC por uma questão geográfica -, mas o grande responsável por elevar o status dessa espécie de política foi o recém-falecido Yegor Gaidar, proeminente ex-ministro russo - durante o governo Yeltsin - que da passagem do Socialismo autoritário soviético para uma "economia de mercado" pôs fim a toda rede de proteção social sob os auspícios da "liberdade" - curiosamente, a nova economia russa foi construída por ex-burocratas que se apoderaram dos meios de produção estatais, tornando-se rapidamente bilionários em dólar. Aqui não é uma questão de Estado mínimo ao contrário do que se diz, mas de Direito mínimo. Sobre isso falarei mais adiante. Por ora fiquemos com esse vídeo que uma querida amiga me enviou. Ele trata de uma das consequências mais visíveis do processo de desmonte do sistema soviético: As crianças de rua. Filhos de uma geração que perdeu seus empregos, viu sua vida se desagregar em um instante, caindo na depressão, no álcool e nas drogas, esse sem número de crianças russas parou nas ruas, fugindo de lares desagregados. É sobre isso que o filme trata:

terça-feira, 29 de junho de 2010

Notas da Copa: Paraguai e Espanha

Hoje, as quartas de final da Copa foram encerradas. Paraguai, nos pênaltis, eliminou o Japão. A Espanha, pelo placar mínimo eliminou Portugal. Com esses resultados, das equipes que se classificaram em primeiro lugar nas suas chaves, apenas os EUA foram eliminados. Ademais, a América do Sul colocou quatro times entre os oito melhores do mundo e sua quinta equipe, o Chile, foi eliminado pelo também sul-americano Brasil nas oitavas. A África, muito embora seja o continente sede da Copa, só emplacou Gana, terceira seleção africana na História a chegar nas quartas-de-final - na esteira de Camarões (90) e Senegal (02) -, repetindo a boa atuação da última Copa, quando parou nas oitavas, vitima do Brasil. A Europa decaiu, mas as três equipes que o Velho Mundo emplacou entre as oito não foram fruto de nenhum acidente: A Espanha é a atual campeã europeia e fez uma grande campanha nas eliminatórias, Alemanha e Holanda foram regulares ao longo de todo quadriênio. O que muda no mapa da bola é que a seleções médias da América do Sul - incluso aí o bicampeão Uruguai que há quarenta anos era simplesmente um zero à esquerda - são capazes de jogar de igual para igual com as médias e até os bons times nacionais da Europa. Brasil e Argentina sempre foram potências do futebol mundial.


Pela tarde, o Paraguai enfrentou um time animado do Japão. Ambas as seleções chegaram com méritos nas oitavas, mas jogaram pouco. Os paraguaios conseguiram cravar a primeira colocação no grupo da atual campeã, a Itália, os japoneses caíram no complicado grupo da Holanda e conseguiram superar os bons times de Camarões e da Dinamarca - mostrando uma obstinada trajetória de evolução ao longo das quatro copas consecutivas que disputaram. O time do Paraguai marca muito, tem um bom goleiro, Villar, dois laterais que no papel defensivo são ótimos, Bonet e Morel Rodríguez, uma boa zaga, Da Silva e Alcaraz, mas seu meio-de-campo, ainda que marque bem se ressente de uma crônica falta de criatividade, enquanto seus atacantes, Barrios e Santa Cruz, jogam por característica enfiados, o que resume seu jogo ofensivo à bola parada e aos lançamentos. O Japão, nesse sentido, já tem um leque de opções melhor: Pontas rápidos, Okubo e Matsui (alternando com Hasebe) e um bom centroavante, Honda, além de chutar bem de fora da área. As equipes, no entanto, se anularam o jogo inteiro e o jogo foi para a prorrogação, onde o Paraguai foi ligeiramente melhor, mas não definiu. Nos pênaltis, vitória paraguaia no gol de Cardozo (foto:AP).


(Espanha comemora - Marca)

No outro jogo, Espanha e Portugal fizeram o clássico ibérico, jogo que não se repetia desde 2004 quando o time lusitano treinado por Felipão eliminava a Espanha pela Euro. A Espanha jogou num 4/4/2 contra o 4/3/3 luso. Depois de um bombardeio espanhol durante os primeiros dez minutos - nos quais a fúria, comandada por Villa, só não chegou ao gol pelas intervenções de ótimo goleiro português Eduardo -, Portugal equilibrou o jogo na marcação, mas só conseguia criar algo com nas subidas de Fábio Coentrão pela lateral-esquerda - suprindo a nulidade que atuava pela ponta-esquerda chamada Cristiano Ronaldo - e mais nada. Os espanhóis, com a entrada de Iniesta não se aproveitavam das constantes subidas do lateral português, pois com a entrada de Iniesta, não tinham jogava por aquele setor. A zaga portuguesa anulava Fernando Torres e não houve como o placar sair do zero. Na segunda etapa, o jogo da Espanha melhorou, sempre pelos pés de Villa enquanto Portugal restava travado. O miolo de zaga português falha por duas vezes e Llorente que entrara no lugar de Torres cabeceia para Eduardo fazer um milagre e depois, na base da linha-burra - que não falhou, mas sim milimetricamente o bandeirinha - Villa fez no sufoco o gol da vitória. Amargaram os portugueses a dura realidade de jogar fazendo linha, afinal, como já dissemos por aqui, não basta acertar, mas rezar para que os bandeirinhas também o façam. Os lusos, mesmo com a queda de produção do time espanhol não foram capazes de empatar e caíram eliminados. Foram embora tendo enfiado uma ilusória goleada na Coreia do Norte - a maior diga-se - e sem ter feito gol em ninguém. A Espanha provou qualidade, mas precisa de solidez, sua sorte é que só precisará mostrar isso na semi, pois no jogo contra o Paraguai será um novo jogo de ataque contra defesa - o que tem lá os seus riscos como nos lembra a Suiça.

O G-20, a Ordem Mundial e o Aniversário de Honduras

(Cristina Kirchner na Cúpula do G-20 - Página 12)

Ontem, deparei-me com a declaração final do G-20 sobre mais esse capítulo da Crise Mundial. Esse peculiar clube dos Estados que, juntos, praticamente, monopolizam a produção econômica mundial. Sou do tempo quando ainda se falava em G-7. Os americanos, os japoneses, o Canadá e os quatro grandes da Europa - Alemanha, França, Reino Unido e Itália. Era um tempo de fim de festa - e de História - quando a União Soviética fez-se pó - com a fragmentação do país e uma crise aguda nos países recém-nascidos que apostavam numa transição absurda, para a felicidade de certos teóricos ocidentais -. a Iugoslávia se consumia no Guerra Civil sanguinolenta os holofotes ainda não se voltavam para China e Índia, enquanto o Brasil era apequenado pelos seus líderes.

A evolução do processo de mundialização do Capitalismo alterou profundamente a relação do sistema de produção com os Estados-nação, o que se configurava por uma nova configuração da divisão internacional do trabalho e do consumo, na qual o Estado deixava de ser a estrutura necessária para a manutenção do Capitalismo para se tornar instrumentos cômodos. Isso muda tudo. A informática é responsável em grande parte por isso, seja nas linhas de produção ou de comunicação. Nada de novo sob Sol, computadores e suas redes integradas são como as velhas alavancas, aumentam a eficiência do Trabalho, a sua peculiar natureza sob o sistema capitalista é como isso se relaciona com um sistema cujas unidades de produção, por excelência, funcionam de forma anti-sistêmica. Falo, portanto, de desemprego e avanço da desigualdade material.

Por outro lado, a alteração na relação de produção e comércio mundial nos leva a uma nova conjuntura que altera a relação de poder entre os Estados: Em dado momento, as potência ocidentais controlaram nacos consideráveis do mundo por meio do seu sistema financeiro e de instrumentos cambiais. Muito embora não produzissem mais, tinham moedas mais fortes, o que servia como mecanismo de controle. A mundialização das empresas as fez notar para outros fatores: O poder de comprar real das moedas. Se você instala uma empresa na China e aufere seus ganhos em dólar, não será nada animador, no entanto, caso o cálculo seja feito em cima do que aquilo pode comprar no mercado interno chinês, a história muda. Essa internacionalização fez economistas e analistas voltarem seus olhares para o tamanho real da produção ainda que, paradoxalmente, a dita economia financeira, tenha sofrido uma elefantíase, mas advirto: Nunca de forma descolada da realidade produtiva, talvez como sua parasita, mas o sistema financeiro não passa, como nunca passou de um instrumento político de realocação da mais-valia, ideologicamente legitimado .

O crescimento econômico mundial fez com que a China se destacasse. Comandada por uma tecnocracia que se corporifica no Partido Comunista, algo como uma imensa corporação monopolista nacional, o Trabalho é explorado - e a renda do trabalhador cresce em níveis muito abaixo de sua potente economia - e o país funciona como o fígado do mundo, recebe matéria-prima, processa exporta. A China mantém dessa forma boa parte do consumo mundial: Ela garante preços baixos e, ao mesmo tempo, usa parte desses ganhos para comprar títulos da dívida americana e papéis de todo tipo como forma de garantir mercados consumidores. Os trabalhadores, alienados da simples ideia do produto do seu trabalho são mal-remunerados, os tecnocratas, enriquecem.

Hoje, o chamado BRIC - grupo formado por Brasil, Rússia, Índia e China - detém mais de um quinto da economia mundial e dois quintos das reservas econômicas mundiais. A China é grande responsável por isso. Os quatro, juntos, formam um grupo deveras heterogêneo, mas que quando concordam em algo, possui um pode imenso para pautar o item na agenda mundial. A reservas monetárias, mais do que as bombas atômicas russas, chinesas e indianas. Isso esvaziou o poder desse G-7 - que no meio do caminho foi transformado em G-8, absorvendo a Rússia de Putin, suas bombas atômicas e seu Capitalismo de Estado. Mas ao invés de um G-11, fez-se um G-20 para completar todos aquele que realmente controlam o Capitalismo Mundial, restando uma fração pequena.

Ao meu pensar, o cerne da Crise Mundial é bastante simples: Trata-se de um esgotamento de um sistema econômica que, na prática, constitui-se como um projeto suicida - como bem define Paulo Arantes - e que, portanto, anda mesmo de mãos dadas com a esquizofrenia - se permitem o deleuzianismo. O modelo é um natimorto, uma tentativa de construção de um Capitalismo Mundial sobre as velhas estruturas nacionais, desprezando a lição de Lord Keynes, sem embargo, o maior defensor do Capitalismo que já existiu, que apontava para a construção de instituições internacionais e, inclusive, uma moeda mundial - para servir como referencial de troca. Sem isso, o Capitalismo Mundial teve de orbitar em torno da potência americana, mas seus líderes, incapazes de resistir aos acintes dos grupos de interesse específicos internos, viu-se incapaz de corresponder a tal tarefa.

George W. Bush antecipou aquilo que aconteceria em quinze ou vinte anos com suas políticas belicistas. Nem mesmo toda boa vontade do Partido Comunista Chinês em financiar suas aventuras bélicas, seria capaz de financiar a ponto de anular seu déficit nas contas pública que, junto ao déficit comercial - crônico, devido ao modelo consumista - corrói, dia após dia, a economia central. A tentativa de reequilibrar tudo com uma desvalorização do dólar representa uma saída simples no curto prazo, mas que só aumenta as nuvens negras no horizonte: Mesmo que os eurolíderes aceitassem tal medida covardemente, como aceitaram, isso só representaria uma transferência do desarranjo e não sua solução - pelo menos aqui parte-se do princípio que tirar a bomba do próprio colo para repousa-la no colo de quem está imediatamente ao lado não me parece estratégia viável.

A Europa merece um parágrafo à parte. Quando muitos analistas falavam na falência do modelo americano e a ascensão do modelo europeu, não restava outra coisa senão rir. O modelo europeu nada mais é que uma construção astuciosa das potências europeias para submeter as pequenas economias do continente - tudo sob os auspícios de lemas vazios envolvendo um dita solidariedade continental. Uma moeda única como instrumento geral de trocas para economias diferentes, com condições de equiparação falsas. Cedo ou tarde, os países periféricos ruiriam. Com os ajustes americanos, uma sobrevalorização do Euro - muito embora com um PIB capta alguma coisa maior do que a metade do americano, a moeda europeia ostenta, neste exato momento, uma taxa de câmbio 21% mais valorizado do que o dólar. A válvula de escape do comércio exterior à Europa é comprometida e traz à tona uma série de problema fiscais de países que nunca tiveram mecanismos reais para de equiparação.

A fagocitose fica clara. Euroautoridades aparecem com suas faces rosadas e escarnecidas culpando gregos, portugueses e espanhóis por sua irresponsabilidade. O programa de "ajustes" proposto para a Grécia, sem medo de exagerar, se coaduna com a mesma lógica genocída das terapias de choque do Leste Europeu nos anos 90 - e não deixa de ser ilustrativo de como o Capitalismo anda de mãos dadas com a esquizofrenia mesmo, até mesmo "terapias de choque" ganham seu lugar em momento de crise dependendo da escola do analista. Nouriel Roubini nos dá a real dimensão do choque quando compara a crise grega com a argentina de nove anos atrás. Voltemos à declaração final do G-20: É essa mesma lógica europeísta agora elevada ao cubo. Nada mais preciso do que a resposta da Presidenta da Argentina Cristina Kirchner sobre a tal lógica de ajustes: A Argentina é maior prova do desastre que a ortodoxia financista realmente é, seja pela hecatombe produzida nos anos Menem ou pela forma como o país escapou à sua falência, achando soluções diametralmente opostas a certo receituário.

Aqui não reside qualquer apologia à heterodoxia. Ambas, como os nomes suscitam, pertencem ao império da opinião e fazem jus ao seu nome. Ao menos os heterodoxos, por definição, não se pretendem os senhores da verdade e sabem que a real tarefa deles é achar as linhas de fuga que o Capitalismo necessita no campo da Política Econômica. Enquanto a ortodoxia é uma aguda forma de idealismo destinada a produzir contradições indissolúveis, a heterodoxia é uma forma de resolução das mesmas dentro da ordem, sem, no entanto, cogitar superar as causas - portanto, falo de uma máquina esquizofrênica de resolução de problemas pelas consequências.

Frente a isso, o sistema americano permanece incapaz de produzir saídas. O sistema político-partidário americano é incapaz de construir sequer resoluções para as consequências dos problemas, pois a flexibilização para se adequar a certas demandas parece impossível. Estamos às voltas com o primeiro ano do Golpe em Honduras, dia em que qualquer possibilidade do Governo Obama poder representar uma sobrevida ao modelo virou vapor. A História, portanto, vive - e estamos em um período de grandes e bruscas mudanças, comparável até aos anos 80.

segunda-feira, 28 de junho de 2010

Notas da Copa: Brasil 3x0 Chile

(Juan comemora o primeiro gol com Lúcio e L. Fabiano - Der Spiegel)

Agora há pouco, o Brasil venceu por 3x0 a Seleção Chilena. Foi o melhor jogo do Brasil na Copa, superando a má atuação contra Portugal - em um jogo onde, apesar de qualificado, o time brasileiro poderia ter atuado muito melhor. Como essa vitória, Dunga coloca a Seleção nas quartas-de-final, onde ela travará um jogo contra a poderosa Holanda, em um dos melhores confrontos já agendados. A Seleção venceu com propriedade e sem qualquer ajuda da arbitragem, chegando bem firme na reta final da Copa, justificando porque foi a melhor seleção nacional do último quadriênio.

O Brasil entrou em campo no seu esquema 4/2-3/1 que se transmutou para um 4/4/2 no decorrer da partida: Júlio César foi o goleiro, Maicon foi o lateral-direito, Lúcio pela direita e Juan pela esqurda formaram o miolo de zaga, Michel Bastos foi o lateral esquerda; no meio de campo, Gilberto Silva e Ramires atuaram como volantes e Kaká foi armador central - mais adiante, Daniel Alves foi um pseudo-ponta-direita que depois retraiu e virou aquilo que os espanhóis chamam de "exterior-direito" -; no ataque, Luís Fabiano jogou como centroavante e Robinho atuou pela ponta-esquerda, com alguma liberdade para se movimentar.

O Chile de Marcelo Bielsa entrou com ousadia em campo, jogando num invocado 4/3/3 para intimidar o Brasil: Bravo era o goleiro, enquanto Isla pela lateral-direita, Contreras e Jara pelo miolo de zaga e Fuentes na lateral-esquerda formavam a defesa para pegar os respectivos pontas e conter Luís Fabiano pelo centro; pelo meio de campo, Carmona e Vidal marcavam e Gozález armava; no ataque, da direita para esquerda, víamos Sánches, Suázo e Beusejour - Suázo como centroavante batendo de frente com os dois zagueiros brasileiros, enquanto os dois outros atuavam pelas pontas, jogando em cima dos laterais.

No início de jogo, o Chile fazia uma intensa marcação sob pressão, tentava lances e jogava o Brasil para trás,  mas rapidamente, o esquema de marcação brasileiro reverteu o quadro: Maicon acabou com Beausejour pelo seu setor, Lúcio e Juan, em sua melhor partida, anularam Suázo, e Michel Bastos conseguiu marcar Sánchez, Gilberto Silva encaixou bem a marcação e Ramires conseguia fazer o que Felipe Melo não fez durante toda a Copa: Marcar e fazer a saída de bola.

O primeiro lance de ataque, um bom lançamento de Daniel Alves para Luís Fabiano frustrou-se por incompetência do avante brasileiro. Gilberto Silva logo depois experimentou de fora da área para bela defesa de Bravo. A partir dali, o Brasil tenha total domínio do jogo. Faltava encaixar uma jogada de ataque: Robinho parecia não estar bem fisicamente e o mesmo podia se dizer de Kaká. Em cobrança de falta perfeita de Maicon, Juan, em linda cabeçada, abriu o placar para o Brasil aos 34 minutos. O Chile se desesperou, foi para o ataque e tomou um contra-ataque fatal, lance de Robinho para Kaká que, molemente, enfiou para Luís Fabiano concluir com facilidade. Fim do primeiro tempo.

Na segunda etapa, o Brasil prosseguiu dominando absurdamente o jogo. Dunga mexeu no esquema e o time ficou definitivamente no 4/4/2, com um meio-de-campo onde Kaká estava aberto pela esquerda, Daniel Alves pela direita, os volantes pelo meio e Robinho e Luís Fabiano ficavam mais a frente. Marcelo Bielsa fez o óbvio ao tirar um zagueiro para pôr um meia e botar Valdivia no lugar do apagado González, passando seu time para um 3/4/3, mas os buracos na marcação eram abissais, o que é fatal contra o Brasil: Aos 14, Ramires, puxando belo contra-ataque, entregou para Robinho que, de chapa, mandou a jabulani para o fundo das redes no seu primeiro gol.

Com 3x0 no placar e o time chileno - que habitualmente joga duro, mas não é desleal - se comportando com dignidade em campo, o Brasil adminstrava. Teve a Seleção outras oportunidades, mas não aproveitou. Entraram ainda Nilmar no lugar de Luís Fabiano e depois Kléberson e Gilberto para segurar o jogo. Infelizmente, Ramires tomou outro cartão e está suspenso. Brasil vai para uma bela disputa contra a Holanda, em um jogo de onde eu suspeito que sairá um dos finalistas.

Atuações do Chile

Bravo: Sem culpa nos gols, defendeu o que pôde. 6,0
Isla: Perdeu o confronto para Robinho. 4,0
Millar: Pouco produziu. 5,0
Contreras: Não conseguiu antecipar Luís Fabiano nos lances cabais. 4,0
(Tello): Entrou para modificar o esquema, mas não melhorou a marcação no meio nem o jogo. 4,0
Jara: Igual á Contreras. 4,0
Fuentes: O mesmo que o resto da zaga. 4,0
Carmona: Não conseguiu encaixar a marcação, apesar do esforço. 5,0
Vidal: Esforçado na marcação, ainda tentou sair pro jogo. 5,5
Mark González: Não conseguiu armar a equipe. Não era pra ter entrado como titular. 3,5
(Valdivia): Deu mais vida à armação chilena, poderia ser titular. 6,0
Sánchez: Não soube aproveitar-se da fragilidade da marcação brasileira pela direita. 4,0
Suázo: O melhor do time chileno. Lutou bastante contra uma zaga adversária praticamente perfeita. 6,5
Beausejour: Foi anulado por Maicon. 5,0
Nota Média: 4,75
T. Marcelo Bielsa: Errou feio ao querer encarar uma equipe bem superior à sua com três atacantes, quando deveria ter privilegiado fortalecer o meio-de-campo. Valdivia poderia ter sido escalado para explorar a esquerda brasileira. 3,5

 Atuações do Brasil

1. Júlio César: Pouco exigido, quando foi, mostrou muita segurança. 6,5
2. Maicon: O grande lateral-direito da Copa, bateu um escanteio perfeito no lance do primeiro gol e foi preciso na marcação. 8,0
3. Lúcio: Sua melhor partida na Copa, sem desatenções. 8,0
4. Juan: O mesmo que Lúcio, ainda fez um belo gol, 8,0
6. Michel Bastos: Demonstrou a velha fragilidade de sempre, mas se saiu relativamente bem. 6,0
8. Gilberto Silva: Fazendo dupla com um volante que complementa seu estilo de jogo, fez sua melhor partida na Copa. 6,5
18. Ramires: O melhor do Brasil hoje, correu, marcou, armou e ainda fez a assistência do terceiro gol. Infelizmente, está fora do jogo que vem por um cartão bobo. 8,5
13. Daniel Alves: Voluntarioso, hoje errou bem menos do que no jogo passado e ajudou na marcação. 6,0
10. Kaká: Coordenou e articulou o time bem, deu o passe para o segundo gol. 7,0
(20. Kleberson): Entrou para segurar o jogo. sem nota.
11. Robinho: Não estava muito bem fisicamente, mas deu a arrancada que originou o segundo gol e fez o terceiro. Foi sua melhor partida na Copa. 7,5
(16. Gilberto): Entrou no fim para segurar o jogo também. sem nota.
9. Luís Fabiano: Errou alguns lances bobos, mas fez o segundo gol. 7,0
(21. Nilmar): Entrou para correr e puxar contra-ataques, mas não obteve êxito. 5,0
Nota Média: 6,46
T. Dunga: Postou bem a equipe para se aproveitar do ofensivismo de Bielsa e deu um nó tático no técnico rival. Mexeu para segurar o jogo e poupar alguns jogadores. 7,5


A Rival: Não gostei da Holanda hoje contra a Eslováquia, como não gostei dela nos outros jogos da Copa. O time jogou num 4/2-3/1 - afinal, ela inventou essa joça -, onde os laterais ficavam presos e os volantes, sincronicamente, voltavam para marcar. Sneijder era o único meia, de um baita lançamento para Robben - de longe o melhor do time pela ponta-direita -, mas ficou só nisso. Ainda teve um belo lance de Kuyt, que pouco fez, que resultou no segundo gol. Não tenho dúvidas que eles vão crescer para cima do Brasil, mas como o próprio Robben admitiu, eles terão de jogar muito melhor - e como mais seriedade, acrescento.



domingo, 27 de junho de 2010

Notas da Copa: Raio X do Brasil

Amanhã a Seleção Brasileira enfrenta o Chile pelas oitavas de final da Copa. Trata-se do maior freguês do Brasil na era Dunga, mas é necessário ponderar a boa primeira fase realizada - a única derrota que sofreu foi fruto de falha infeliz de seu goleiro. Da primeira fase brasileira, o que se pode dizer é que o time estreou nervoso, teve a melhor atuação da segunda rodada da Copa e depois desperdiçou o terceiro jogo com testes mal-feitos.

A estreia ocorreu dentro da margem da normalidade, ainda que abaixo das expectativas; o time esteve muito nervoso durante todo o primeiro tempo contra a Coreia do Norte (2x1) e só entrou em campo no Segundo Tempo, quando Kaká - visivelmente no sacrifício físico - passou a participar mais e Elano e Robinho passaram a se movimentar pelas pontas - além da memorável atuação de Maicon. Ainda assim tomamos um gol por distração.

No jogo contra a Costa do Marfim (3x1), onde o único placar que interessava era a vitória, o time brasileiro fez seu melhor jogo, cozinhando o galo, procurando espaços na  marcação e tocando a bola - Luís Fabiano fez uma partida memorável na frente e Kaká, mesmo com as limitações físicas e a forte marcação, desequilibrou no meio, compensado ainda pelas boas atuações de Robinho e Elano pelas pontas.

Contra Portugal, Dunga fez bem em poupar Robinho, mas errou ao entrar com Júlio Bapstista na posição de Kaká - injustamente expulso no jogo anterior - e como Daniel Alves no lugar de Elano, ambos foram muito mal e as substituições tardaram a acontecer - notadamente a presença do curinga Ramires. Nilmar, no entanto, foi bem no lugar de Robinho e é um reserva de luxo.

Das atuações individuais - segundo as notas que eu atribui nos três jogos - tivemos o seguinte:


1. Júlio César: 6,83
2. Maicon: 7,50
3. Lúcio: 5,50
4. Juan: 5,66
6. Michel Bastos: 4,00
5. Felipe Melo: 4,66
(17. Josué):5,00
8. Gilberto Silva: 5,33
7.Elano: 7,25
(13. Daniel Alves: 4,16)
10. Kaká: 7,25
(19. Júlio Baptista:4,00)
(18.Ramires: 6,50)
11. Robinho: 6,50
(21.Nilmar: 6,00)
9. Luís Fabiano: 6,16
T. Dunga: 6,16


Evidentemente, analisar um time de futebol de maneira atomizada diz menos do que pensa, apenas aponta para certos detalhes. O que conta é o conjunto mesmo. O ponto é que analisado individualmente, o time está abaixo das suas potencialidades. O esquema 4/2-3/1 depende muito do armador central, ou seja, Kaká, um jogador que não chegou bem fisicamente, mas quando foi exigido, conseguiu se superar e foi bem. Os outros dois jogadores que completam o trio de armação, Elano e Robinho foram bem - especialmente Elano, autor de dois gols, e dono de uma movimentação inteligente. Luís Fabiano foi muito bem contra a Costa do Marfim e atuou apenas medianamente nos outros dois jogos. O problema mora atrás: A dupla de volantes brasileira é lenta, Gilberto Silva não me parece em grande forma e Felipe Melo, uma das convocação mais contestadas de Dunga, esteve abaixo da média - o que é particularmente complicado, pois na medida em que Felipe é o volante pela esquerda, as coisas se complicam mais ainda pelos setor, haja vista que Michel Bastos vai muito mal pela lateral-esquerda. Pela lateral-direita, Maicon é o melhor jogador da Copa na posição, a zaga formada por Lúcio e Juan é boa, está em forma, mas foi displicente demais ao longo da primeira fase. Júlio César está soberbo no gol.

É fundamental que o time corrija seu problema pelo lado canhoto; Gilberto poderia entrar no lugar de Michel e Ramires poderia entrar como segundo volante no lugar de Felipe Melo - pela direita, com Gilberto Silva trocando de lado -, isso daria mais segurança para Robinho avançar e também protegeria o time de uma jogada particularmente forte do time chileno por ali - Valdivia várias vezes atuou como ponta-direita no 3/4/3 chileno, esquema que eu duvido que se repita, embora Bielsa deva escalar pontas, seja para para segurar Maicon ou para explorar as deficiências de Michel, portanto o Chile deve entrar num 4/2-3/1, mas as dúvidas são muitas, com vários jogadores suspensos, Bielsa, que em situações normais costuma ser surpreendente, certamente tirará um coelho da cartola amanhã.








Notas da Copa: Alemanha e Argentina, em Tarde Negra da Arbitragem

Alemanha e Argentina confirmaram seu favoritismo e chegaram às quartas da Copa. O que surpreendeu foram os erros de arbitragem que os beneficiou, algo bem triste numa Copa onde os erros de arbitragem foram raros e, infelizmente, começam a pipocar justamente quando não poderia acontecer - e aqui falo do gol não marcado de Lampard, que bateu na trave e depois entrou meio metro, e depois do gol absurdo de Tévez contra o México, justamente o primeiro, no qual o jogador estava mais de meio a frente dos zagueiros adversários. Apesar das vitórias largas - respectivamente 4x1 e 3x1 -, os erros serviram para desequilibrar os adversários - que abriram a porteira depois disso. Pode-se argumentar que o erro faz parte do jogo e que é preciso saber se comportar diante dele, Inglaterra e México ficaram com a cabeça fora do lugar, mas não é fácil correr atrás do placar.

No jogo da manhã, Fábio Capello armou a Inglaterra no velho e repetitivo 4/4/2 de sempre: Duas linhas com quatro jogadores, enquanto na frente Rooney se movimentava um pouco e Defoe ficava preso na área; o time alemão jogava no seu 4/2-3/1. O confronto, pela perspectiva alemã era o seguinte: Neuer era o goleiro, Lahm era lateral tendo de marcar Milner - que fazia o extremo-direito no meio inglês -, Mertesacker e Friedrich eram os zagueiros e enfrentavam Defoe - Rooney se movia por fora da área enquanto Khedira ficava como volante pela esquerda e também voltava para fazer a sobra -, Boateng era lateral-esquerda e deveria marcar Gerrard -; no meio Schweinsteiger era volante pela direita - saindo mais para o jogo - enquanto Khedira ficava pela esquerda e voltava às vezes para a sobra, o que os fazia bater de frente com Lampard e Barry no time inglês - e o que segurava Özil mais pelo meio mesmo; no ataque três atacantes alemães, Müller (foto: Reuters) pela direita - contra Cole na esquerda -, Klose como centrovante - contra a dupla Upson/Terry - e Podolki pela esquerda - contra Johnson lateral-direita. James era o goleiro inglês.

Elas por elas, a Alemanha, mesmo sem muito esforço, dominou a Inglaterra de maneira absurda na primeira metade do Primeiro Tempo: Bastava tocar um pouco a bola e a defesa inglesa já entrava em pane. Não à toa, o gol alemão saiu de um lançamento feio em um tiro de meta, que Klose apanhou contra uma zaga incapaz de antecipar o lance desses; depois, tome domínio - muito embora a zaga alemã tenha dado espaço para Defoe, ligeiramente a frente, cabeçar com perigo -, depois veio um contra-ataque bom e Podolski - que até ali pouco tinha feito - arrematar. O que parecia uma barbada para o a seleção germânica começou a complicar: O time inglês foi para cima e a sua defesa passou a falhar. Em cobrança de falta, Gerrard colocou na cabeça de Upson. Isso deu velocidade no jogo, a Alemanha sentiu o gol e ficou desorientada até que Lampard chutou de fora, a bola bateu na trave entrou, mas o assistente Mauricio Espinosa não viu e não validou o gol. O time inglês entrou no segundo tempo desesperado e desequilibrado emocionalmente pelo gol e tomou mais dois em contra-ataques: O comezinho do esquema alemão, Müller vindo da ponta-direita entrando em diagonal na área, o primeiro com passe de Klose, o segundo, com passe de Özil. Fim de papo. A Alemanha foi mesmo melhor - a Inglaterra fica pelo caminho com uma má campanha nas costas e uma postura de time arrogante e exageradamente festejado -, mas o erro da arbitragem não sai da cabeça de ninguém.

(Verón comemorando com o resto do time ao fim do jogo - reuters)

No outro jogo, Javier Aguirre modificou consideravelmente a forma do México jogar: Entrou no 4/3/3 com Perez no gol, passou Osório da lateral-direita para a zaga e Juárez do meio para essa lateral, colocou Rodríguez na zaga pela esquerda e manteve Salcido no esquerda; no meio emplacou Rafa Márquez, Torrado e Guardado; no ataque colocou Dos Santos pela direita, Hernández pela esquerda e Bautista pelo meio - voltando para dar o combate; a Argentina seguiu no seu 4/2-3/1 com Romero no gol, uma linha com Otamendi, Demichelis, Burdisso e Heinze; o meio com Mascherano na cabeça de área - um pouco mais pela esquerda - e Maxí Rodríguez pela direita saindo e um trio de armadores que se movimentava bastante: Tévez pela esquerda enquanto DiMaria e Messi se alternavam entre a direita e o meio; na frente, Híguaín ficava isolado.

A verdade é que o México anulou o meio argentino, encaixando a marcação e só não abriu logo o placar diante de um nervoso time argentino porque não acertava o último passe - ainda assim, os mexicanos colocaram uma bola na trave em falha de Romero. Eis que num contra-ataque, em lance armado por Messi, deu um bate e rebate na área em que Tévez, cm flagrante impedimento, empurrou para o fundo das redes. O assistente Stefano Ayroldi ao ver o lance pelo telão, muito embora não tenha erguido a bandeirinha também não correu para o meio e travou, o árbitro italiano Roberto Rosseti conversou com ele e tomando pressão de ambos os lados, validou o gol. O México perdeu o jogo naquele momento. A equipe ficou com os nervos à flor da pele e Osório falhou feio, em lance que Higuaín aproveitou. No Segundo Tempo, Tévez aproveitou-se bem das peculiaridades da Jabulani e enfiou a bola no ângulo. 3x0 e mesmo que os mexicanos, com a entrada de um monte de atacantes, tenham pressionado muito, e até achado um golzinho depois, era tarde demais para qualquer coisa.

Enfim, tivemos outro jogo marcado pela sombra negra de um erro crasso de arbitragem. Aqui o erro teve mais influência sobre o resultado do que no jogo anterior. Os argentinos saíram amplamente beneficiados naquele que seria o seu maior desafio até agora. As quartas de final entre Argentina e Alemanha prometem. Os alemães tiveram dificuldades sérias quando foram marcados e os argentinos até agora, sempre quando iam se complicando, foram beneficiados - o gol de Heinze, na estreia, também foi ilegal -, resta saber, agora que se enfrentam, o que dará. A priori o equilíbrio impera. Nos últimos quatro últimos anos os alemães foram mais regulares, mas os argentinos chegaram com um astral acima da média nesta Copa. Esperemos que essa igualdade seja resolvida no campo de forma legítima.

sábado, 26 de junho de 2010

Notas da Copa: Uruguai e Gana

Hoje, o Uruguai bateu a Coreia do Sul por 2x1 no tempo normal e, logo depois, Gana bateu os EUA pelo mesmo placar só que na prorrogação. O Uruguai, com mais dificuldade do que eu supunha inicialmente, confirmou seu favoritismo, já Gana reverteu a pequena vantagem americana - seja vantagem em termos de qualidade técnica ou de ânimo - e manteve o continente africano vivo na competição.


Do jogo uruguaio, uma grande atuação do centro-avante Suárez (foto: Getty Images) com dois gols e outra bela atuação do trio de ataque como um todo, também formado por Forlán - hoje abaixo da sua média nesta Copa - pela esquerda e Cavani pela direita. O time do Uruguai, em uma falha da defesa sul-coreana, abriu o placar aos oito minutos do primeiro tempo, o ataque funcionava, o meio mesmo sem muita criatividade atuava bem - Pérez e Arévalo na marcação e Álvaro Pereira armando -, a zaga formada por Lugano e Godin continuava firme, Maxi Pereira voava pela latera-direita apesar de Fucile ir mal pela esquerda. A Coreia do Sul buscava compensar sua fragilidade técnica com lances de velocidade em seu 4/4/2, mas só levou vantagem no Segundo Tempo, quando a celeste além de ter recuado, demonstrava cansaço físico;  Chu Yung comandava bem o ataque, os laterais funcionavam e o meio tocava bem a bola. De repente, a Coreia do Sul passou a apresentar o seu melhor futebol na Copa e o gol era iminente. Lugano, matando contra-ataque, fez falta e na falha de Muslera, que saiu mal do gol, a Coreia empatou. Aí, o Uruguai resolveu voltar para o jogo, Oscar Tabárez mexeu bem ao tirar Álvaro Pereira para colocar Lodeiro e o time foi para o ataque. Suárez fez mais um em lindo lance de ataque. Quando tudo parecia definido, Muslera não segurou e Lugano salvou em cima da linha. Mas fim de jogo. O Uruguai chega às quartas de final numa Copa que marca seu renascimento bem como a ascenção do futebol sul-americano. Vitória merecida.

No outro jogo, os EUA vinham com toda a empolgação de uma primeira fase muito bem jogada, um grupo unido e entrosado contra Gana, única equipe africana no torneio, treinada pelo sérvio Milovan Rajevac. Enquanto os americanos desfilavam seu clássico 4/4/2 à inglesa - com duas linhas de 4 jogadores e armação sendo feita por meias abertos -, Rajevac armou seu time para anular esse jogo: Kingson era goleiro e junto aos dois Mansah, Pantsil atuou como zagueiro pela direita (ao invés de lateral-direito) para pegar os dois atacantes americanos, Altidore e Findley; no meio, Inkoom era ala-direito e marcava Dempsey - que jogava invertido pela esquerda - e Sarpei era ala-esquerda para pegar Donovan - invertido pela direita -, enquanto Boateng e Annan ficavam pelo meio batendo de frente com Clark e Bradley; na frente Ayew e Asamoah eram pontas e batiam de frente com os laterais Cherundolo e Bornstein enquanto Gian era o centro-avante brigando contra De Merit e Bocanegra (hoje, zagueiro-esquerdo). O pulo do gato do esquema é que Boateng (foto: Reuters) marcava e  vinha de trás quebrando a sobra de bola americana. Foi assim que Gana fez o primeiro gol logo no começo do jogo.

Na segunda etapa, os americanos melhoraram, Feilhaber, atacante nascido no Brasil, entrou no lugar de Findley e deu mais velocidade ao ataque. Donovan e Dempsey cresceram e a entrada de Edu no lugar de Clark, realizada ainda no primeiro tempo, surtiu efeito. Os americanos passaram a mandar no jogo e empataram em cobrança de pênalti, realizado por Jonathan Mansah sobre Dempsey, batida por Donovan. O problema é que chegada metade do Segundo Tempo e as equipes passaram a administrar o placar, mais preocupadas em não tomar gol do que em definir o jogo. Deu prorrogação, claro. No comecinho dela, Gyan recebeu lançamento longo de Ayew, entrou em profundidade, a zaga não alcançou e ele definiu. Bem que os EUA tentaram empatar em lances de desespero, mas não criaram nada de produtivo enquanto os ganenses se defendiam com destreza. Vitória merecida.

Amanhã

A Argentina é favorita diante do México. O time treinado por Maradona vem contagiado pela força de vontade e alegria de seu treinador, tem um leque de opções absurdo para o ataque e, apesar dos defeitos defensivos, enfrenta uma equipe que se ressente da falta de criatividade no meio-de-campo - seja para armar ou para fazer a transição. Alemães e ingleses já fazem um confronto bem mais complicado; a Alemanha foi o único grande a estrear bem e depois comeu bola na derrota para a Sérvia e não me convenceu contra Gana, enquanto isso a Inglaterra jogou apenas um tempo convincente em toda Copa - o primeiro, contra a Eslovênia -, mas elas por elas vem crescendo. Aposto na Alemanha, mas por um placar apertado num jogo desgastante - o que seria ótimo para a Argentina.

O Prólogo de uma Eleição

(Tarso Genro junto aos eleitores no Sul -foto retirada daqui)

A Copa do Mundo, como é sabido, trata-se de um período movimentado na política nacional. Os holofotes mirados para outro canto do planeta e uma capital que fica no meio de um deserto ajudam a completar esse script. Desde que as eleições gerais voltaram a ser disputadas de quatro em quatro anos, o que passou a coincidir com o ano da Copa, mais do que movimentações astuciosas do cotidiano do poder, passamos a assistir também às articulações eleitorais que demandam ausência de holofotes. Em suma, a campanha acelera e depois congela em Junho - os movimentos agora, meu caro leitor, são meramente inerciais -, enquanto se decide  agora os últimos - e muitas vezes principais - detalhes do pré-campanha para a entrada definitiva em cena.

Isso se torna particularmente interessante se levarmos em conta as peculiaridades dessa eleição. Antes de mais nada, é o pós-Lula; boa parte do que aconteceu na esquerda e na disputa pelo poder desde o início da Ordem de 1988 girou em torno da figura desse ex-líder sindical, dessa vez, ainda que ele seja um dos principais agentes, ele está pessoalmente fora da disputa. Segundo, as relações na comunicação social sofreram uma verdadeira revolução com a Internet ganhando uma importância nunca antes vista na nossa História  enquanto, por outro lado, a capacidade da mídia tradicional - corporativa, oligárquica e adepta do monólogo - influenciar decisivamente o voto virou fumaça.

O ponto é que o Governo Lula, apesar dos seus muitos erros, triturou o PSDB ao longo desses últimos anos, deixando aos setores conservadores da sociedade apenas o espaço dos meio de comunicação corporativo para reagirem, partindo para uma tática suicida de desqualificação e demonização da sua figura, do PT e de seu governo. Evidentemente, isso estava fadado ao fracasso, mas antecipou em pelo menos um ano as eleições. Do lado da esquerda, a formalização da aliança tácita com o PMDB de Temer - aquela mesma que serviu como sustentáculo do Governo Lula durante um período superior a sua metade - apenas ampliou sua perplexidade - e não há termo melhor para definir o sentimento atual do que perplexidade, como bem anota o Professor André Singer.

O ponto é que o Lulismo diminuiu consideravelmente a miséria do país com uma conjugação de políticas de desenvolvimento econômico com políticas redistributivas, o que fez com que a eficácia eleitoral do clientelismo diminuísse - mesmo que pela via da assistência - e, por tabela, poderosos esquemas eleitorais - como do DEM - virassem poeira. Simultaneamente, isso serviu para o fortalecimento de um núcleo duro, um centro de poder invisível e evidente que sempre existiu no PT ganhasse uma força descomunal e mesmo com o abalo dos primeiros anos do Governo, ele continua aí. Isso explica a aliança com o PMDB: Ela se encaixa com o projeto de poder desse núcleo duro seja no aspecto extrínseco - a disputa pela hegemonia do Estado - ou intrínseco - a disputa pela manutenção da hegemonia interna do Partido -, além, claro, de se coadunar com o interesse dos milhares de párocos de província que formam os quadros peemedibistas.

Se a direita foi desestabilizada em meio à sociedade civil pelo Lulismo, a aliança PT-PMDB marcou um novo equilíbrio nas estruturas do establishment político nacional. As formações dos palanques estaduais seguindo os ditames estratégicos-eleitorais arrebentaram com o PSDB. A formação do bloco PT-PMDB-PDT no Paraná com a candidatura Osmar Dias para o governo e a chapa Gleisi/Requião para o Senado ameaçam diretamente o único front onde o PSDB ainda leva vantagem além de São Paulo: O Sul do país. Somando isso com a última pesquisa do Ibope apontando Dilma seis pontos percentuais a frente de Serra e temos um problema. A única exceção à regra é o êxito inicial da candidatura Tarso Genro no Rio Grande do Sul, afinal, ela passa por fora do interesse do PT nacional, seja em termo de política de alianças ou política estratégica do núcleo duro, o que representa um movimento importante para a esquerda do PT na sua luta homérica - ingrata? - contra a conversão do partido em uma agremiação institucionalista e de centro.

Serra tentou dar um golpe de mestre escolhendo Álvaro Dias, senador tucano e irmão do pedetista Osmar Dias, como seu vice. O cálculo de poder era simples: Assim ele desestabilizaria a articulação do PT no Sul, formava uma chapa puro-sangue sem muitos riscos - e se livraria de uma associação com o DEM, mantendo-o na chapa pela necessidade de sobrevivência do referido partido. O resultado inicial foi que Serra desestabilizou sua própria - e pequena - base aliada. Ontem, Roberto Jefferson do PTB - aquele mesmo - anunciou, pelo twitter, que Dias seria o vice de Serra, o que provocou a ira de Ronaldo Caiado, estandarte da extrema-direita e vice-presidente do DEM, que passou a detonar a aliança com o PSDB - como se percebe pela suas últimas tuitadas -, o que fez o nosso inefável Bob Jeff reagir - "O DEM é uma merda", antológica - para depois se desdizer.

Enfim, as coisas vão mal para Serra e ele entrará Julho pior do saiu em Maio. O andamento das coisas também revela a acentuada crise do sistema partidário, cada vez mais incapaz de fazer outra coisa senão se retroalimentar e garantir o grosso da política econômica - com suas restrições, claro. Mais do que nunca, é hora para a Reflexão.

Atualização: O João Villaverde publicou uma interessante análise sobre a composição da chapa do PSDB

sexta-feira, 25 de junho de 2010

Notas da Copa: Enfim, definidas as Oitavas de Final

Agora há pouco, a Espanha meteu 2x1 no Chile atuando com um jogador a mais. Foi um bom início de jogo do time espanhol frente a um Chile afobado que, ainda por cima, acabou prejudicado pela arbitragem. Os dois gols tomados puseram dúvidas quanto à classificação chilena, mas depois o time diminuiu e equilibrou o jogo - enquanto no conflito de retrancas, Suíça e Honduras acabaram terminando no previsível e justo 0x0. Sim, Honduras merece um prêmio da FIFA por ter deixado a Suiça de fora das oitavas, até porque isso implicou na classificação de duas equipes que jogam um futebol ofensivo, leve e veloz, coisa rara na Copa sul-africana. Pena o Chile não ter ficado em primeiro, mas de qualquer modo, sua classificação já se constitui numa grande vitória para o futebol sul-americano, cujas cinco seleções se encontram nas oitavas.

A melhor seleção da primeira fase foi a Argentina de Maradona e Messi, seguida da Holanda - a outra equipe a fechar com 100% de aproveitamento -, Uruguai e Brasil. Vamos à análise dos confrontos:

Uruguai x Coreia do Sul
A Copa que os uruguaios estão fazendo surpreende (positivamente) a todos; o time marca com firmeza e tem um belo poder de fogo nos contra-ataques com Forlán. Os sul-coreanos caíram num grupo onde a Argentina sobrou e a Nigéria sumiu, souberam jogar com inteligência, mostrando um futebol veloz e disciplinado, mas lhes falta muita coisa ainda. Aqui, para o Uruguai não se classifica não basta a carruagem virar abóbora, mas também um milagre do lado de lá.

EUA x Gana
O time americano é bom: Joga há muito tempo junto, tem jogadores experientes, um bom condicionamento físico e até certa qualificação técnica - com jogadores como Donovan, Dempsey e Bradley. A equipe encarou bem a Inglaterra, arrancando um empate e depois, mesmo sendo vítima de erros de arbitragem, empatou com a Eslovênia e venceu a Argélia demonstrando superioridade. Gana estreou mal contra a Sérvia, mas foi beneficiada pelos erros do rival e venceu o jogo, depois empatou com a Austrália jogando pouco e perdeu para a Alemanha em seu melhor jogo no campeonato - sim, é o único time africano que restou no torneio; trata-se de uma equipe forte fisicamente e com boa técnica. O confronto será parelho. A vantagem está como os americanos, mas ela é pequena.

Holanda x Eslováquia
A Laranja Mecânica não encantou, mas venceu todos os jogos da primeira fase e foi a segunda melhor equipe naquela fase. O time está junto há algum tempo, Robben está voltando, Sneijder está jogando, Van Persie está por aí. Em outros tempos, o time holandês voava em campo e era surpreendido logo mais, será que dessa vez a falta de brilho esconda finalmente o prenúncio de uma chegada firme? Os eslovacos são a maior surpresa da Copa, ainda mais depois de terem eliminado a Itália, atual campeã mundial. Não os vi jogando grande coisa, sofreram empatando com a Nova Zelândia, perderam para o Paraguai e ganharam de um time esgotado que não sabe atacar - apesar de sua grandeza. Aposto firme na Holanda.

Brasil x Chile
No confronto entre sul-americanos, o Brasil vem de uma campanha oscilante na primeira fase, embora tenha jogado quando realmente precisou. Kaká, Elano, Maicon e Robinho dão a tônica do time nacional que ainda tem Júlio César no gol e Luís Fabiano no ataque, mas ainda persistem problemas graves no setor de marcação do meio-de-campo e na esquerda da defesa. O Chile atual é a melhor geração do futebol daquele país desde Salas e Zamorano, conta com jogadores como Suazo, Valdivia, Beausejour, Sánchez e Paredes além do técnico argentino Marcelo Bielsa, ao meu ver, o melhor treinador da primeira fase - a equipe joga bem e joga para frente como já adiantei. Será um belo jogo, mas o Brasil é favorito sim.

Argentina x México
A Argentina foi o melhor time da primeira fase devido à estrela de Maradona no banco, às estrelas do setor ofensivo - Messi, Higuaín, Tévez e Di Maria - e ao banco privilegiado, tudo isso somado a um sorteio que lhe  jogou num grupo fraco o suficiente para não saber explorar o seu calcanhar de aquiles: A defesa. O México pode até ser superior a qualquer equipe que a Argentina já enfrentou no torneio, mas demonstra problemas no meio de campo - falta gente para executar a saída de bola e a armação não funciona bem - assim como o seu ataque não encanta - sua classificação, a rigor, se deve a um bom segundo tempo contra a morta-viva França. É pouco e los hermanos devem seguir aqui também.

Alemanha x Inglaterra
A Alemanha teve uma estreia arrebatadora ao enfiar uma goleada com propriedade na Austrália, mas depois foi imprudente demais para um time que quer ser campeão contra a Sérvia, protagonizando um dos jogos mais estranhos dessa Copa. Depois, veio a classificação suada e sem brilho contra Gana. A Inglaterra empatou com os EUA jogando melhor que o adversário, foi horrorosa contra a Argélia e melhorou contra a Eslovênia. Por ora, o time alemão mostra mais consistência tática - seja pela variabilidade ou pela disposição em campo -, capacidade técnica - Gerrard e Lampard estão bem na Inglaterra, mas o resto do time ou não é bom ou está quebrado, enquanto a Alemanha tem Ozil, Podolski, Muller, Klose - e até mesmo banco. Não será fácil, mas eu creio que a Alemanha é favorita.

Paraguai x Japão
Os paraguaios são outra boa surpresa do torneio ao se classificarem em primeiro no grupo da atual campeã - e veja só, eliminada - Itália. O time mantém as linhas-gerais do futebol de seu país, a precisão defensiva e a robustez na marcação somada, dessa vez, com um poder de fogo razoável na frente, com Lucas Barrios e outros bons atacantes. O Japão, por sua vez, prossegue crescendo. O time atual fez partidas táticas contra Camarões e Holanda - ganhando o primeiro por 1x0 e perdendo o segundo pelo mesmo placar - e teve um jogo simplesmente luminoso contra a Dinamarca, na última rodada. Se a trajetória de crescimento do time nipônico se mantiver no torneio, ele deve se classificar, mas o Paraguai é inteligente o suficiente para anula-lo. Situação complicada, mas eu aposto nos sul-americanos.

Espanha x Portugal
A Espanha era apontada como uma das favoritas ao título, mas não teve um desempenho lapidar: Perdeu para o glorioso ferrolho suíço na estreia, sofreu para furar a retranca hondurenha e teve lampejos contra o Chile - muito embora deva se considerar que administrou o placar em vários momentos. O ataque, especialmente David Villa, se destacou assim como a dupla de meias de criação, formada por Xavi e Xabi Alonso - a defesa, assusta. Portugal, por sua vez, se classificou em segundo sem ter um jogado nem levado um gol sequer - o que não significa que tenha jogado bem, pois foi pior do que Costa do Marfim, pegou uma Coreia do Norte arrasada e um Brasil desfalcado e acomodado. Clássico é clássico como diz a máxima do futebol, mas a Espanha me parece favorita aqui.





 

Notas da Copa: Brasil OxO Portugal e o Grupo G

(Maicon vs. Coentrão - Reuters)

Hoje, o Brasil finalizou a sua participação na primeira fase da Copa e garantiu a primeira colocação de seu grupo, muito embora tenha feito seu pior jogo no torneio. De um jogo contra Portugal, no qual o empate servia para as duas equipes, não era de se desconfiar que tal placar se concretizasse. O mistério mesmo ficava por conta do que se daria no jogo. Sem Kaká, injustamente expulso no jogo anterior, Elano, se recuperando da entrada violenta sofrida no jogo anterior, e Robinho poupado, Dunga escalou respectivamente Júlio Baptista, Daniel Alves e Nilmar mantendo assim o esquema 4/2-3/1 de todo dia contra um adversário que jogava no 4/3-2/1 - o esquema oposto, portanto.

Maicon marcava Coentrão, Lúcio e Juan marcavam Cristiano Ronaldo - que flutuava pelo centro do ataque -, Michel Bastos topava com Danny, Felipe Mello e Gilberto Silva batendo de frente com Tiago e Raul Meirelles, Daniel Alves aberto pela direita contra Duda, Júlio Baptista pelo meio contra Pepe, Nilmar pontado pela esquerda marcado por Ricardo Costa e Luís Fabiano na área contra Ricardo Carvalho e Bruno Alves. No gol, Júlio César defendia a meta brasileira e Eduardo a lusitana.

No primeiro tempo, o Brasil, com as subidas de Nilmar, alguma jogada de Luís Fabiano como pivô e Maicon subindo. As outras modificações de Dunga, no entanto, não funcionam: Daniel Alves erra praticamente tudo e Júlio Baptista, incumbido de armar, fica perdido. Os volantes demonstram dificuldades para sair jogando - e algum desassossego no caso de Felipe Melo. Michel Bastos novamente vai mal pela esquerda. No meio de tanta confusão, Lúcio sobe para o ataque coberto para Gilberto Silva, mas suas chegadas, sempre conduzindo demais a bola - e o fazendo pelo meio -, resultam em muito pouco. Com Felipe Mello discutindo às raias de uma expulsão, Dunga, acertadamente, o substitui por Josué ainda no Primeiro Tempo. Os portugueses, pelo seu lado, se defendem mal e não conseguem articular jogadas de contra-ataque muito coerentes. Júlio César mostra segurança. O jogo é nervoso e mais violento do que poderia se supor.

A segunda etapa vem e o Brasil se mostra mais confuso. Portugal segue a tônica da etapa anterior e não consegue criar. Se Josué equilibra a marcação, por outro lado, erra muitos passes. Cristiano Ronaldo faz boas poses para fotos, mas erra. Dunga fica nervoso à beira do gramado - e, na mesma medida, sem timing para mexer no time. As coisas não fluem de lado a lado. Maicon e Nilmar estão cansados demais para qualquer coisa. Ramires entra, com pelo menos vinte minutos de atraso, no lugar de Júlio Baptista e faz mais do que o colega durante todo o jogo. Grafite substitui Luís Fabiano, mas não aparece.

Termina o jogo, um 0x0 insosso, insípido e inodoro que classifica o Brasil em primeiro, tirando-o do caminho de uma Argentina - mas colocando-o na rota de uma Holanda. O Brasil fez um jogo ruim, depois da estreia razoável contra a Coreia do Norte e o bom jogo contra a Costa do Marfim. Fica claro que o time depende bastante de Kaká, Elano e Robinho. Portugal, chega a cinco pontos e se classifica a depeito da vitória de Costa Marfim por 3x0 contra a Coreia do Norte, mas não convence: Fora o 7x0 contra a Coreia do Norte - uma anormalidade que teve mais a ver com a instabilidade psicológica dos rivais, do que necessariamente com sua ruindade -, muita pose e pouca bola.

Atuações do Brasil:

1. Júlio César: Não trabalhou muito por conta dos rivais, mas mostrou segurança toda vida. 7,5
2. Maicon: O melhor lateral-direito da Copa, um grande primeiro tempo, mas não conseguiu manter o mesmo ritmo, técnico e físico, na segunda etapa. 8,0
3. Lúcio: Subiu muito para o ataque para tentar suprir as deficiências de armação, mas falhou na empreitada e ainda deixou espaços na marcação. 4,0
4. Juan: Pode até ter ficado sobrecarregado pelas subidas de Lúcio, mas deu espaços além do necessário. 4,5
6. Michel Bastos: Tímido, não consegue apoiar nem marcar. É o oposto de Maicon no time. 3,5
5. Felipe Melo: O mesmo de sempre, lento e impreciso, acabou sacado no Primeiro Tempo para não ser expulso. 3,0
(17. Josué): Ágil na marcação, mas errou mais passes do que deveria. 5,0
8. Gilberto Silva: Marcou bem, mas demonstrou muita lentidão. 5,0
13. Daniel Alves: Errou quase tudo que tentou. 3,0
19. Júlio Baptista: Não conseguiu armar a equipe, mas merece um desconto por ter sido escalado numa posição que definitivamente não é a sua. 4,0
(18.Ramires): Na falta de sua não escalação como titular, poderia ter entrado bem antes. Nos quase quinze minutos que esteve em campo, fez bem mais do que Júlio. 6,5 
21.Nilmar: O jogador de ataque mais perigo do time no primeiro tempo. Depois cansou. 6,0
9. Luís Fabiano: Fez boas jogadas no Primeiro Tempo, mas sumiu na segunda etapa. 5,0
(23.Grafite) Ficou pouco tempo em casa. sem nota.
Nota Média: 5,00

Dunga: Acertou ao poupar Elano e Robinho - assim como no que toca a escalação de Nilmar como titular -, mas errou feio ao escalar Daniel Alves pela direita no meio e na entrada de Júlio Baptista na armação. Durante o jogo, mexeu bem ao tirar Felipe Melo antes que ele fosse expulso, mas errou ao demorar nas demais substituições - embora tenham sido tecnicamente corretas. 5,0

Notas da Copa: Definição dos Grupos E e F


(Dois azuis, dois destinos - fotos da AP)







Com certo atraso, mas com igual disposição, comento aqui as surpresas de ontem: A vergonha da desclassificação italiana frente a gloriosa Seleção da Eslováquia e a pancada que o Japão deu na Dinamarca. Sim, eu queimei a língua, no entanto, não por ter negado, algum dia, que a Itália é uma fraude ou que o Japão - e o futebol do extremo-oriente - estão em processo de evolução, mas por ter subestimado os dois fenômenos. Acertei, no entanto, quanto ao Paraguai, que confirmou a tendência de ascenção do futebol sul-americano na esfera global de seleções - tome outra classificação em primeiro, fenômeno que se manifestou no Grupo A e B e agora se repete agora no Grupo E. A Holanda confirmou o favoritismo e manteve a primeira colocação do Grupo F.

A desclassificação italiana se deu num jogo dramático, com cinco gols - algo raro numa Copa que não fosse pela bola teríamos batido o recorde de placares em zero -, o que demonstrou as graves limitações do futebol italiano, escravo de uma mentalidade defensivista que veda a formação de jogadores ofensivos - em especial para a armação de jogo - e que só é capaz de produzir times campeões em situações atípicas, o que é decepcionante - e também alentador, se visto pelo lado bom -, pois não resta dúvida que falamos de um futebol tradicional e com know-how para fazer mais do que isso. O Paraguai, por sua vez, controlou a fraca Nova Zelândia, garantiu a primeira colocação e demonstrou seu bom e velho pragmatismo - dessa vez amadurecido.

Claro, de longe o melhor jogo foi entre japoneses e dinamarqueses na disputa pela última vaga do Grupo F: Um jogaço no qual a seleção do país do sol nascente dominou o adversário, soube aproveitar as idiossincrasias da jabulani e, sob o comando do técnico Takeshi Okada, desenvolveu uma forma de jogar própria às suas necessidades - além do contar com jogadores como um Honda. Foi a melhor partida do Japão numa Copa do Mundo e, depois da surpresa, eles travaram um confronto duro - e igualmente inesperado - contra o também surpreendente Paraguai. A Holanda, que teve ontem a volta de Robben, venceu o já eliminado Camarões e passou em primeiro com 100% de aproveitamento, ainda que sem lá muito brilho.

quarta-feira, 23 de junho de 2010

Notas da Copa: Definição dos Grupos C e D

Hoje, mais dois grupos da Copa foram definidos. Agora, metade dos jogos das oitavas de final foram definido. Pelo Grupo C, passaram, na ordem, EUA e Inglaterra - enquanto Eslovênia e Argélia rodaram - e, pelo Grupo D, classificaram-se Alemanha e Gana, enquanto Sérvia e Austrália voltam para casa. Portanto, teremos EUA x Gana e Alemanha x Inglaterra na próxima rodada.

Dos jogos de hoje, os EUA fizeram um jogo emocionante contra a Argélia: Os americanos pressionaram, jogaram o adversário no campo de defesa, novamente foram prejudicados pela arbitragem e, no último minuto, definiram a classificação com um gol de Donovan. EUA 1x0. Merecido. Aliás, se classificar com Bill Clinton torcendo para você nas arquibancadas não é para qualquer um - isto é, sem o devido trabalho espiritual, descarregos e banhos de arruda para não se contaminar pela notória urucubaca clintoniana, não é fácil. No outro jogo, os ingleses jogaram tudo o que ainda não tinham jogado na Copa contra a Eslovênia e, apesar de terem diminuído o ritmo nos segundo tempo, também passaram como uma vitória pela placar mínimo - a composição do time com Gerrard indo para a armação com Barry entrando como volante ficou melhor, Rooney vai recuperando aos poucos sua forma física assim como Cole e, apesar dos pesares, os ingleses estão lá, mas ainda precisam melhorar muito.

(foto retirada daqui/ foto de cima, festa de Donovan/reuters)

Pelo Grupo D, a Alemanha travou um jogo nervoso contra Gana. No Primeiro Tempo, ainda demonstrasse uma técnica mais apurada do que o rival, os alemães viram seu esquema 4/2-3/1 se anular com o esquema 4/4/2 ganense, depois, os alemães voltaram melhor no segundo tempo e fizeram um belo gol com Ozil. Gana não sabia se administrava ou se ia para ataque e acabou assistindo ao domínio germânico ao longo da segunda etapa. Alemanha 1x0. A Alemanha foi o melhor time da primeira rodada, depois fez um jogo onde, num misto de incompetência e azar, acabou derrotado pelo Sérvia e agora teve problemas para furar o esquema defensivo de Gana, a única seleção africana classificada até o momento - mas que demonstra problemas ofensivos, ainda que seu balanço defensivo e seu esquema de marcação funcionem relativamente bem. A Sérvia dominou o primeiro tempo contra a Austrália, mas não converteu domínio em gols, tomou dois gols logo no início do segundo tempo e quando acordou para reagir já era tarde demais. Os australianos, aliás, tomaram uma sapecada dos alemães na estreia - perderiam de qualquer modo, mas isso foi agravado pelo desequilíbrio do time - e depois empataram com Gana desperdiçando chances - e novamente mostrando destempero.

A única equipe que chama a atenção nos dois grupos é o time alemão mesmo, mas ele provou ser oscilante, foi imprudente contra a Sérvia e depois teve dificuldades par jogar sob pressão contra Gana. Pega a Inglaterra que, em tese, vem numa crescente. Será jogo duro, mas eu aposto dos alemães. EUA e Gana é uma partida entre times médios do futebol mundial que já há alguns anos tentam se afirmar. Ambos os times jogam juntos há algum tempo e demonstram não apenas bom entrosamento como uma boa sinergia. É jogo para triplo, mas o time americano parece ter mais recursos ofensivos que o rival e isso, no limite, pode fazer toda a diferença.

A Copa do Mundo, o Patriarcalismo e o Nacionalismo

(foto retirada daqui)

A Copa do Mundo pode ser vista como o melhor torneio futebolístico do mundo, mas ela não é exatamente isso; os jogadores que lá estão, em grande parte, podem estar entre os melhores, mas eles não estão lá por esse motivo: A Copa reúne, a priori, as melhores seleções nacionais do planeta, portanto, não basta ser bom, é necessário ser considerado bom pelo treinador de uma seleção nacional que está entre as melhores. Se o maior jogador do mundo estiver no Suriname, ele dificilmente estará na Copa do Mundo. O critério inicial de escolha é nacionalidade não o mérito técnico. Portanto, por mais que se enalteça a Copa enquanto competição futebolísitica, ela é, sobretudo, uma competição política.

O cerne de tudo é a ideia de nação. A palavra natio em latim era o equivalente, grosso modo, ao helênico etnos, um grupo humano unido por uma certa identidade comum assentada, sobretudo, em relação ao seu nascedouro. A ideia de nação já nasce, portanto como uma extensão da família e de uma maximização de sua relação doentia. O termo muda ao longo do tempo até chegar à formulação atual. Nação torna-se, portanto, uma organização humana, cujo fundamento de sua união reside na interconexão de indivíduos por símbolos políticos comuns que criam uma identidade comum entre eles, fazendo com que se reconheçam como parte de uma família maior. É pura ideologia. Portanto, enquanto a etnia conserva razoavelmente o mesmo significado do helênico etnos, a nação ganha uma conotação diferente, podendo se confundir com uma determinada etnia, com várias delas ou nega-las a todas, tudo ao sabor do que diz a ordem estabelecida - ainda que a etnia seja, em si, também ideológica, muito embora se assente sobre critérios reais, ainda que usados de forma direcionada à dominação. 

Como toda produção ideológica, isso não vem do nada. Ela se encontra no processo de afirmação da burguesia enquanto classe dominante, onde, para legitimar sua dominação foi elaborada a ideia - tão astuciosa quanto falaciosa - de uma grande família unida por figuras e rituais comuns, onde se reproduziria a estrutura de dominação das famílias nucleares patriarcais, com o burguês assumindo-se como o Pai, isto é, aquele responsável pela condução do grupo e pela determinação do que não pode ser feito, estabelecendo as vedações e tabus. Trata-se de um conceito mesquinho, pois por detrás do elemento de união, paira, soberana, a ideia de exclusão, o fundamento real de todo esse movimento. Embora não seja tão excludente quanto o conceito de etnia - pois este se refere ao nascedouro, ao genótipo e ao fenótipo, portanto, algo via de regra imutável -, ela põe para fora também: Aqui quem está de fora não é aquele que não pertence à semente fundante, mas aquele que é estranho à estrutura formal de organização, o que possibilita, via de regra, sua inclusão com o tempo desde que se pague um preço em troca - lealdade, bons serviços, algo normalmente conquistado por uma contínua e exploração realizada por aqueles que estão dentro.

A ideia de nação é mesquinha porque, mais do que excluir, ela monopoliza os afetos daqueles que fazem parte dela, tal como a família - e sim, é uma ideia de Negri - de modo a direcionar essa força, sob os auspícios do bem comum, para a manutenção de uma ordem hierárquica - que como todo hierarquia, se assenta sobre o truísmo primeiro, o "porque sim", única explicação discursiva possível para o "isso é meu" -, o que tem por consequência prática a construção de mais um instrumento que serve como obstáculo da realização do indvíduo; se eu devo amar mais a minha nação - e o que vem dela - do que outra - e do que vem da outra -, logo, não posso amar plenamente e assim não poderei efetivar a potência do meu ser - pois o amor serve para fazer com que finalmente nos tornemos quem somos, ao mesmo tempo, que faz isso com o ente amado, no caso dele ser (poder ser) consciente disso. A divisão provocada pelo nacionalismo impede a realização dos seres humanos porque hierarquiza a distribuição do amor, o que o esvazia.

Pois então, voltemos à questão dos símbolos. Podemos falar em bandeiras, hinos, datas comemorativas, monumentos, exércitos e suas paradas militares, mas algo mais vivo pode ser pensado e efetivado: O esporte.  Uma sublimação da violência militar, sujeita a regras que normalmente não levam à morte - só uma eliminação simbólica. A figura simbólica do patriarca é assumida pelo Treinador - num esquema de delegações que também é visto na política, no caso dos representantes do Estado. Ele é aquele responsável pela condução do grupo, da produção de discursos que servem como critérios para legitimar as inevitáveis vedações e exclusões. Em países grandes e, ao mesmo tempo, sem tradição militar como o Brasil, o esporte coletivo torna-se a mais importante esfera de representação da nação, no caso, falamos aqui de futebol. A seleção nacional assume o papel de personificar a ideia de nação e, por conseguinte, de ser a família na qual os indivíduos buscam concretizar as frustrações de sua própria vida familiar, profissional e política. Tudo sob os olhos do grande Pai-Treinador, o infeliz cidadão a quem cabe a desditosa tarefa de organizar aquilo que não passa, na prática, de uma equipe de futebol que foi criada para ser muito mais do que jamais poderá ser - e essa ilusão é vendida pela máquina de propaganda do poder, especialista em vender falsas expectativas -, condenado, portanto, ao escárnio da insatisfação geral, aplacada, às vezes, pelo gozo gerado por um título. 

A isso, paradoxalmente, opõem-se a alegria libertadora provocada pelo futebol em si, pois desde que se passe a atribuir significado à Copa pelo torneio esportivo que é - e do esporte como uma saída astuciosa para a Guerra - em detrimento do nacionalismo, encontraremos o caminho da superação dessa armadilha pela via do esvaziamento do discurso dominante. Enxerguemos o futebol, pois é isso que, mesmo por vias tortas, é do que se trata.

terça-feira, 22 de junho de 2010

Notas da Copa: Definição dos Grupo A e B


Hoje à tarde tivemos quatro partidas pela terceira rodada da Copa do Mundo. Foram concluídos os jogos do Grupo A e B com a classificação de, respectivamente, Uruguai e Argentina na primeira colocação e de México e Coreia do Sul em segundo. Portanto, teremos na oitavas de final os confrontos de Uruguai contra a Coreia e Argentina contra México (repetindo o jogo das oitavas da Copa passada). Do que se pode concluir num primeiro momento, está a ascenção relativa do futebol sul-americano - e latino-americano também, levando em consideração o México -, a afirmação da Argentina como uma das favoritas à Copa - já afirmava isso há muito tempo, ainda que o quadriênio tivesse sido desfavorável, com um técnico carismático e a atual geração, na Copa as coisas seriam outras para los hermanos - e a decadência do futebol da Europa e da África. 

Sobre a Europa, fica mais um indicativo da decadência dos grandes times, algo iniciado lá pelo início dos anos 2000, mascarado por uma Copa atípica e agravado agora. Isso se expressa com a classificação de times ridículos como a Grécia - que hoje, mesmo enfrentando uma Argentina com mistão e em ritmo de treino, foi incapaz de levar perigo. As grandes seleções, do seu lado, apresentam dificuldades em se renovar  por conta da política simples e prática dos seus clubes contratarem atletas de todo mundo, relegando a dura tarefa de formar jogadores para o segundo ou terceiro plano, além, claro, do superpoder das ligas nacionais e do enfraquecimento das federações, incapazes de comprar brigas e reduzidas à pequenas unidades burocráticas.

Dos africanos, a dona de casa, África do Sul, fez um dos papéis menos ridículos, só deixando de se classificar por saldo - quem sabe pela falta de maturidade contra o México, na estreia ou, quem sabe, segurando um pouco mais o Uruguai - enquanto a Nigéria foi ridícula nos três jogos que disputou. A hipótese que eu levanto aqui é bastante simples:  O desenvolvimento do futebol da África Negra foi atrapalhado pela descolonização tardia do continente e das sangrentas guerras civis que se seguiram, quando razoavelmente assentado o processo, vimos times nacionais bons, mas com pouca ou nenhuma organização. Vejo poucas chances de classificação para qualquer um outro time da África.

De repente, os jogadores, ainda muito novos, começaram a ser levados para a Europa e os técnicos europeus começaram a vir treinar as seleções, o que foi nocivo para o futebol africano, pois significou a imposição de um modelo externo, impedindo o desenvolvimento de uma forma de jogar bola própria e mais adequada às singularidades locais. Não me resta muita dúvida que, tecnicamente, os jogadores africanos chegam a estar acima da média dos europeus, mas sua criatividade está sendo pouco a pouco tolhida, o que lhes põe numa zona cinzenta onde seu desenvolvimento enquanto o que são não é possível - seria como, por exemplo, importar o modo italiano de jogar bola para o futebol brasileiro e trazer um técnico de lá para treinar a Seleção Brasileira, suspeito que não iria funcionar. É torcer para que a elite de jogadores africanos atuais se tornem técnicos no futuro e mudem essa realidade.

Seguindo via oposta, segue o futebol do extremo-oriente tem repetido no esporte bretão aquilo que fizeram na economia: Fagocitam instrumentais do Ocidente e os adaptam às suas necessidades. Isso faz como que, apesar de suas ainda consideráveis limitações técnicas, sul-coreanos avancem cada vez mais e conquistem uma vaga nas oitavas - e o mesmo vale para o Japão, que caiu num grupo difícil, mas ainda está na briga por vaga. 

Por outro lado, temos o modelo sul-americano que está ultrapassando a Europa. A Argentina segue como uma das grandes forças do mundial e provou, hoje, que além de um belo time, tem um baita elenco, capaz de ser mais forte que a maioria dos times desse mundial caso entre com time reserva. Messi ainda não fez gol, mas é um baita jogador, temos ainda Verón, e reservas de luxo como Máxi Rodriguez, Aguero e Milito. Honestamente, pelo que eu vi do México, os argentinos são bem favoritos nas oitavas. Maradona põe seu time para jogar num 4/2-3/1 que normalmente vira um 4/3/3 mesmo, se mostrando até aqui o ataque com mais recursos nessa Copa e, mesmo que pesem as falhas defensivas, uma das melhores equipes do torneio. Javier Aguirre, por outro lado, tem dificuldades com o time do México, ainda que o miolo de zaga funcione bem, a lateral-direita não é bem assistida, falta qualidade na saída de bola no meio - adoro Rafa Marquez, mas não como volante -, os meias são inexperientes - Dos Santos é um ótimo jogador, mas é muito novo - e um atacante de peso - como, em seu tempo, foram Luiz Hernández e Jared Borghetti -; enquanto isso, seu principal jogador é o veteraníssimo Blanco que não tem condições de atuar um jogo todo. A saída para o México é jogar na retranca esperando por uma falha defensiva argentina no contra-ataque - ainda assim, lhe falta um jogador de ligação para puxar um contra-ataque qualificado.

O Outro jogo, Uruguai e Coreia do Sul, é uma das partidas entre uma das defesas mais sólidas desse torneio e um time disciplinado, com muita vontade e pouca técnica. Para mim, o Uruguai leva. A defesa liderada por Lugano, um meio com bons marcadores e um ataque com o talentoso Forlán e o regular  Suárez tornam o time uruguaio muito mais qualificado que o rival - aliás, o Uruguai é um dos times mais inteligentes dessa Copa.

Foto1 Getty Images: Maradona e Palermo
Foto 2: Luís Suárez