domingo, 23 de agosto de 2020

Steve Bannon: o antagonista

 



Live de ontem que eu mediei no canal da Autonomia Literária sobre Steve Bannon: o estrategista e ideólogo de Trump.

sábado, 22 de agosto de 2020

Em Defesa do Livro! (Live da Rede Emancipa)


Ontem, em uma live em defesa do livro, contra o ataque Bolsonaro-Guediano ao mercado editorial, ao lado de Ivana Jinkings (editora Boitempo), Flávia Lago (Coletiva Virginia), Luana Alves (Rede Emancipa) e mediação de Dani Haj Mussi. 

sexta-feira, 21 de agosto de 2020

A Encruzilhada Bielorrussa


(Foto: SERGEI GAPON / AFP)

O levante da Bielorrússia tem a ver com democracia e liberdade ou é apenas uma intervenção Ocidental? Isso não tem uma resposta simples, pois envolve questões internas e geopolíticas bastante dúbias e ambivalentes. Vamos a um fio grandinho (mas necessário)

Das antigas repúblicas soviéticas de maioria eslava, A Bielorrússia era uma das mais pobres nos tempos da URSS. Detalhe: quando falo isso, me refiro à Rússia, com toda sua diversidade, e à Ucrânia. Lituanos e letões são apenas primos distantes que são, contudo, vizinhos.

Quando acabou a URSS, a Bielorrússia assim como a Ucrânia e a Rússia voltaram a adotar símbolos nacionais antigos e a preparar reformas neoliberais. Os comunistas se levantaram em todos os três, mas na Bielorrússia surgiu um movimento nacional-populista forte pelo meio.

Em suma, Lukashenko ganhou as eleições de 1994 e reverteu muitas das reformas neoliberais e travou todas que vinham em curso, retomou a bandeira dos tempos soviéticos e manteve o Estado forte na economia, contradizendo Moscou e Kiev.

Lukashenko era o típico dirigente de cooperativa agrícola soviética: um tipo secundário em qualquer parte da URSS, jamais politizado, mas talvez justamente por isso popular: um homem médio soviético, mas muito esperto politicamente a ponto de criar um movimento.

O resultado é que, embora do ponto de vista econômico Minsk discordasse de Moscou, geopoliticamente ela inclusive se reaproximou do Kremlin -- ao contrário da Ucrânia, que seguia o mesmo modelo neoliberal, mas rifava a Rússia em prol de uma aproximação com o Ocidente.

Ao contrário de ex-repúblicas soviéticas que passaram a afirmar um nacionalismo antirrusso, que levou a desconsiderar os direitos das minorias russas em seus territórios, o governo de Lukashenko reconheceu a língua russa e o aspecto binacional do país.

Fontes ocidentais enxergam nisso uma "sujeição a Moscou", o que significa que eles esperam que um governo de Minsk deveria oprimir a minoria russa para ser "democrático".

O resultado do governo Lukashenko, 26 anos depois, é que o país cresceu proporcionalmente MUITO mais do que a Ucrânia e tem um IDH semelhante ao russo, mesmo sendo mais pobre do que a Rússia, embora junto tenha problemas da era soviética.

Para falar a verdade, a Bielorrússia tem, hoje, mais do que o dobro do PIB per capta da Ucrânia, mas para os analistas ocidentais, certamente foram os ucranianos que fizeram "tudo certo" nas reformas e na geopolítica. A desigualdade na Bielorrússia é ínfima.

A Bielorrússia, por sinal, é mais rica do que o Brasil e perde por pouco para Argentina e Uruguai. Tudo isso sem ter se quedado ao Ocidente, se desindustrializado, privatizado ou desnacionalizado suas empresas. A prova de que se pode funcionar de outra forma.

Isso é diferente da Rússia, mesmo sob Putin, onde ao contrário do que se pensa no país, a gestão da economia nunca deixou de ser neoliberal e austera -- ainda que autônoma nacionalmente.

Putin gosta de Lukashenko pela geopolítica alinhada, multilateral e não sujeita ao Ocidente, mas não gosta do fato de saber que, na medida das suas forças, Minsk adota uma linha bastante própria, vide seu modelo econômico.

Esse nacional-estatismo econômico cria problema, p.ex., para as empresas privadas russas adentrarem na Bielorrússia *na forma como elas gostariam* -- e, igualmente, faz de Minsk um agente autônomo para negociar com Pequim a Nova Rota da Seda.

Isso explica por que na última eleição Lukashenko deu declarações se diferenciando de Putin, que, imagino, se irritou. A Bielorrússia quer uma aliança com a Rússia, não ser englobada por Moscou novamente.

Lukashenko é um socialista? Evidentemente, não. Ele manteve coisas boas e ruins do modelo soviético e desenvolveu um mercado, criando um tipo híbrido entre o socialismo de mercado chinês e um capitalismo de Estado.

Igualmente, há restrições das liberdades e uma incapacidade do governo sequer imaginar uma hegemonia guiada para uma uma transformação radical. Lukashenko é o que os eleitores ingênuos de Bolsonaro pensam que "nosso" presidente é, mas que Jair nunca nem seria.

Lukashenko é isso, um líder comunitário, um paizão, fazendo às vezes de um líder nacional, incapaz de destruir os ganhos sociais soviéticos, mas igualmente incapaz de resolver o beco sem saída que, afinal, atravessou e colapsou a URSS.

Os bielorrussos o apoiaram todos esses anos, não por burrice, mas porque nunca caíram na cantilena de que seriam recebidos e desenvolvidos pela Europa, nem que reformas neoliberais iriam melhorar suas vidas, muito pelo contrário

Mas vejam, Lukashenko igualmente jamais criou um partido político organizado, sempre se cercando de uma miríade de políticos "independentes", todos unidos por um senso comum "nacional" e sob sua liderança.

O movimento contestatório atual na Bielorrússia, obviamente, conta com apoio de operativos externos (é a geopolítica!), mas igualmente existe uma certa fúria popular pelo desgaste do governo e, possivelmente, a maneira como Lukashenko está lidando com a pandemia.

Os gritos e as bandeiras lá não têm nada de revolucionário, apenas um nacionalismo fake e sujeito ao Ocidente. Lukashenko vai sofrer sim para se segurar e caso continue, dependerá mais do Kremlin do que gostaria.

A questão é que a Bielorrúsia é central para Pequim na estratégia da Nova Rota da Seda, e por isso o Ocidente quer um líder seu no poder lá, mas Putin tampouco quer um Lukashenko fortalecido para negociar diretamente com Xi.

O resultado disso será a queda de Lukashenko nas próximas semanas ou meses, *menos por falta de apoio e mais por falta de um partido organizado ainda que nacionalista*, ou sua manutenção com largas concessões a Moscou.


P.S.: Vou começar a postar essas coisas aqui, para não se perderem nas brumas do Face ou do Twitter. E trazer arquivos de outras mídias.