sexta-feira, 9 de julho de 2010

Breve História Econômica de São Paulo e a Intolerância

(Monumento às Bandeiras - Não estariam frouxas as cordas?)

Fiquei estarrecido com uma notícia que recebi via Azenha: Um blog está promovendo um manifesto contra a "opressão cultural" que os paulistas sofrem dos nordestinos e em favor de uma "São Paulo para os paulistas". Trata-se de um caso mais extremado e absurdo de um fenômeno que, infelizmente, se repete na São Paulo contemporânea:  Enquanto a classe dominante e seu partido dirigente são incapazes, por um evidente questão projetiva, de resolver a estagnação econômica, social e política do estado - que decorre de um esgotamento do seu próprio modelo -, ergue-se uma cortina de fumaça ideológica mediante a qual as causas e razões da crise são direcionadas para bodes expiatórios cômodos. O resto do Brasil e os imigrantes pobres são bons alvos.

Essa estratégia, convanhamos, não é nova no mundo, mas nem por isso ele deixa de ser dotado de certa singularidade. A São Paulo contemporânea é fruto de um processo gradual  que tem muito a ver tanto com o fluxo imigratório europeu - dos fins do século 19º até o pós-Guerra - e com a chegada em massa de camponeses de todas as partes do Brasil, praticamente expulsos de sua terra natal por um processo de "desenvolvimento" autoritário que coordenava o interesse dos coronéis - de impedir qualquer Reforma que alterasse o status quo no campo - com o dos capitães da indústria - de ter mão-de-obra barata para a nascente indústria. A chegada dos europeus, por sua vez, como em qualquer parte do Brasil, atendia ao desejo de nossas elites pelo embranquecimento do povo.

São Paulo foi o foco desse processo de industrialização porque aqui foi realizado o mais profundo e relevante processo de acumulação material pré-capitalista do Brasil somado ao advento industrialista da Era Vargas: decorrência clara da produção de algodão para exportação e, sobretudo, da produção de café - antes disso, essa região do país vivia um cenário de pobreza e insignificância econômica. Movendo os ponteiros da história paulista para trás, chegamos no paradoxo central da história paulista: A cidade de São Paulo foi construída  sob o marco de uma Escola, o projeto civilizador - e de certa maneira includente - do ocidente cristão na figura dos jesuítas, convivendo com a lógica de colonização particularmente genocída e inescrupulosa dos bandeirantes. Esse paradoxo que torna-se cidade, engloba os assentamentos urbanos já existentes do litoral e converte-se, mais tarde, no maior e mais rico estado da Federação nos tempos atuais.


O plantio do algodão foi bem-sucedido por conta da independência de umas Treze Colônias da América do Norte. Acabou-se o abastecimento de algodão para a Inglaterra, feito pelas colônias do Sul, e restaram aos ingleses procurarem novos mercados fornecedores. Depois, o café, torna-se uma via, graças ao clima propício e um salto qualitativo da agronomia nacional, nos anos que se seguem à chegada massiva de italianos, espanhóis, portugueses e japoneses - nem sempre com muito dinheiro, mas com um acúmulo de saberes técnicos. É aí que os grandes fazendeiros paulistas assumem o controle da jovem República, tocando uma política contrária aos seus próprios nascentes industriais. É do colapso de produção de café com a Crise de 1929 que São Paulo entre em choque, a República Velha cai e Getúlio Vargas, burocrata probo e capaz do velho regime, chega ao poder, confrontando-se diretamente desde o primeiro momento com a antiga oligarquia paulista, ciosa para retornar ao poder.


Muito embora não haja nenhuma "avenida Getúlio Vargas" em São Paulo e até se comemore um feriado em homenagem a um levante contra ele - que por coincidência é hoje -, seria muito difícil imaginar uma São Paulo industrializada sem Vargas para catalizar o processo. Ninguém colaborou tanto para retardar a industrialização do Brasil quanto os velhos pioneiros da República brasileira, em grande parte fazendeiros bandeirantes, que sempre defenderam a sua área específica na economia e souberam como ninguém, transformar essa luta no discurso de união dos paulistas, ainda que tal regime incluísse tão poucos dessas terras. Do processo de industrialização nacional-trabalhista, ao qual, posteriormente adere parte da elite paulista até os anos do Regime Militar, São Paulo se desenvolve brutalmente, tornando-se a cidade mais importante do país.


É como o Primeiro de Abril de 64 que temos uma nova inflexão: A chegada ao poder dos militares marca a aliança da burguesia industrial do Sudeste com as elites retrógradas do Nordeste, as conquistas da era Vargas são revertidas -  uma industrialização anômala, com a chegada de multinacionais, inicia-se; o fechamento dos sindicatos somado à lógica pau na máquina de crescimento leva um quadro insustentável.  O design da cidade que cresce em ritmo alucinante obedece às concepções não só individualistas como anti-coletivas de um Maluf e seus aliados. A desindustrialização é apenas questão de tempo, uma consequência óbvia do processo ensandecido dos anos 60 e 70. Os focos de reação ao bandeirantismo estão, veja só como é a História, nas Comunidades Eclesiais de Base e nas Pastorais - retomando o projeto jesuíta -  junto com o pensamento de uma Nova Esquerda que vem da Academia - que toma o lugar do velho vanguardismo. É daí que saí os novos sindicatos e o PT, infelizmente, apanhando em seu nascedouro por um momento de crise da cadeia industrial, cujo trabalho ele visava defender.


A alteração na paisagem econômica de São Paulo nas duas últimas décadas do Século 20º é brutal. As indústrias fecham vítima da política dos anos 90 ou migram para fora do estado - algumas, vão para o Interior mesmo -, a passagem do vetor da economia da Indústria para o Terceiro Setor é turbulento e excludente, marcado por índices de desemprego altos. A soma da hegemonia do malufismo na capital, do social-liberalismo tucano - nas esferas federal e estadual - que entrega o saneamento dessa crise nas mãos de Deus - um deus que não é o da bíblia e atende pelo nome Mercado - criam um pandemônio nesse período. Trata-se de um período de estagnação, no qual o sucateamento dos serviços públicos, o déficit habitacional e a hegemonia de uma classe economicamente parasitária - cuja máscara política é o PSDB - se enraizam profundamente na coletividade, corrompendo as mínimas relações humanas.


A economia de São Paulo se estrutura por meio das matérias-primas vindas de todo país - e, inclusive, da mão-de-obra que vem de toda parte -, dependendo não apenas do seu mercado consumidor, mas de tudo que ela exporta para o Mundo e, acima de tudo, daquilo que ela vende para todo o Brasil, seja em produtos agrícolas, industriais ou - hoje em dia, principalmente - serviços. A ideia da autosuficiência paulista é tão crível quanto a possibilidade de uma parte do fígado sobreviver fora do corpo. A ideia de uma pureza paulista, com toda ideia de pureza, é hedionda, mas aqui ganha contornos particularmente perturbadores. 


Apesar do multiculturalismo ser marca da cultura paulista desde o primeiro momento, é construído em um certo setor uma identidade político-cultural em cima de um certo estilo de vida de "classe-média", no qual o inimigo é o Outro que vive nas distantes periferias, que tem a cor da pele mais escura e estudou na Escola Pública - isso, somado aos bárbaros do resto do Brasil que exploram o estado. É esse Outro, oprimido em cada fibra do seu ser, que torna-se o alvo, sobretudo por sua fraqueza, mas o único modo do opressor lidar com o seu sentimento de culpa  é buscar justificativas para racionalizar tal processo, invertendo a situação de opressão. É o que vemos nesse referido manifesto.


Esse discurso que corre a boca pequena e é radicalizado por uma minoria, o que é tanto menos fruto de alguma liderança demagógica do que da omissão de civilizados políticos liberais, incapazes - seja por falta de criatividade, interesse ou pelos círculos de interesse que o sustentam politicamente - de bater de frente com um modelo de organização burocrático e econômico falido. Pior ainda, voltam suas baterias para a disputa da hegemonia do poder central - o que implica, fatalmente, na necessidade de se aliar com os setores mais anacrônicos da elite do Norte-Nordeste do país, deixando-os executar seu projeto como se fossem ainda os senhores temporais de sua região, fato que atrasou todas aquelas regiões nos tempos do Império e que, nos anos 90, viu-se curioso exemplar do mesmo, sob a batuta do bestial FHC - o maior falante de javanês da República - e sua aliança com o não menos glorioso Antônio Carlos Magalhães. É isso que está em jogo neste exato momento.



14 comentários:

  1. Fiquei abismado com essa história também, Hugo. E chateado. Mas, lendo os comentários no blog do Azenha fui me convencendo que esse assunto é favorável somente para tirar a luz da política que se realiza nacionalmente, agora.

    Grande abraço.

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  2. Adriano,

    Olha, não sei até que ponto é uma cortina de fumaça para tirar a luz da política nacional, talvez, para tirar a luz da política estadual e das eleições vindouras em São Paulo - um modo de produzir inimigos cômodos para fora e dentro do estado e assim manter o controle do governo do estado na mão do mesmo clubinho. Ainda assim, o movimento, infelizmente ilustra algo que é sim recorrente em São Paulo e escapa ao momento político-eleitoral. É algo que, inclusive, pode piorar bastante ainda.

    abração

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  3. Desde o início da industrialização do Brasil que a relação entre São Paulo e o resto do país é colonial. Só que esse sistema tende a desmoronar e sabe-se lá qual será a reação deste pessoal a isso, eles começam pedindo simplesmente para os nordestinos ficaram quietinhos no seu canto, não sei onde vai terminar.

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  4. Pepino,

    São Paulo detinha mais da metade do PIB do Brasil nos anos 70. Hoje, tem algo em torno de 30%. Trata-se de uma queda que se deu justamente em um momento no qual a economia brasileira foi mal - anos 80 e 90, quando crescíamos a taxas de 2,5% ao ano, o que significa que São Paulo foi muito mal. Isso tem a ver com políticas fracassadas do Governo Federal que acertaram em cheio o coração econômico do país, mas, sobretudo, com políticas desastradas dos seguidos governos estaduais.

    Paradoxalmente, foi em terras paulistas que surgiram as duas principais forças que se degladiam pela hegemonia do país, hoje. A diferença é que o PT nunca teve planos formais para alcançar a hegemonia paulista, enquanto o PSDB, até por ser o partido de um parte pensante da elite paulista, trazia consigo aquele pensamento de 32, a condução do país - no qual a ideia de que São Paulo é uma "locomotiva que puxa vagões vazios", legitima o estado a fazer o que quiser, quando na verdade, a história é completamente outra. Ter o controle de São Paulo, portanto, sempre foi prioritário para o PSDB e a conquista da hegemonia nacional só foi possível com um PFL forte que controlava parte do país e contava com as bases que o bolsa-família, pelo menos, alimentou.

    Claro, o governo do PSDB em São Paulo, muito embora o ufanismo bandeirante que ele use para se legitimar, é tanto dos paulistas quanto a Revolução de 32 foi revolucionária; se há 78 anos algumas centenas de jovens morreram pelo interesse da oligarquia local em retomar o poder, hoje, sob a égide de uma paulistanidade, o PSDB é a faceta técno-burocrática de uma minoria que pode pagar boas escolas e hospitais.

    Essa intolerância que cresce pela omissão de alguns e pela ação desses malucos é sim perigosa e eu também não sei onde pode parar.

    um abraço

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  5. Matou a pau, Hugo.

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  6. Hugo,

    A existência desses grupos de intolerância não me espanta em nada. Talvez porque ouço falar deles há quase três décadas. De certa forma, embora nunca fizesse parte de qualquer grupo de intolerância, já estive próximo de alguns deles durante o final da minha adolescência, nos anos 90.


    Tem de tudo: Separatistas paulistas homofóbicos e moralistas, mas não racistas; nacionalistas moralistas, homofóbicos e não racistas, mas contrários a qualquer ideia separatista _ estes são a amioria _ e os racistas propriamente ditos, simpatizantes do nazismo alemão. A mídia costuma reduzir todos eles a uma coisa só, mas eles mesmos gostam de deixar muito claras as diferenças nutrem rivalidades sérias entre eles. A maior parte da violência relacionada a esses grupos se deve mais as brigas entre eles (os diferentes grupos) _ quando se encontram em shows de punk-rock _ que entre eles e outros grupos sociais.


    No geral esses grupos crescem a partir do "embalo", quer dizer, da adesão momentânea por influencia de amigos, principalmente de jovens, quando estão na "moda". Embora um núcleo continue fiel por vários anos, a maioria deixa de participar dos encontros em pouco tempo, entre alguns meses e dois anos, quando muito. É um tipo de organização socialmente perigosa, com toda certeza, e as autoridades devem manter especial atenção sobre eles especialmente por ameaçarem determinados grupos, mas eu diria que estão longe, muito longe, de representarem uma grande ameaça, mas repito, não devem ser subestimados.


    Recentemente, enquanto conversava com um amigo num barzinho da paulista, em frente ao Masp, vi um grupo grande de jovens usando uma camiseta com os dizeres: São Paulo para os Paulistas, dentro de um mapa do estado. Não intimidaram ninguém, mas sem dúvida a presença deles deixou muita gente intimidada.

    Não acho que uma suposta decadência econômica de São Paulo tenha a ver com isso. A desindustrialização pode explicar fenômenos parecidos na Europa, mas aqui acho que tem mais a ver com uma reafirmação de identidade, ou a busca por uma. Aqui na periferia enquanto alguns procuram se reafirmar adotando o discurso do Rap, do Hip Hop , ou uma identidade, sei lá, do oprimido que se volta contra o sistema que o oprime e explora, outros se aproximam desses grupos de intolerância.

    O curioso é que ambos elegem seus inimigos e se consideram vítimas. Não estou tentando comparar as duas coisas, mas eu acho (e só acho, mesmo, por pura dedução minha) que não é por acaso que tanto os carecas quanto os grupos ligados ao rap e ao hip hop se desenvolvem nas periferias, onde o futuro é mais incerto e as relações sociais são mais frágeis.

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  7. Edu,

    Existem sim essas pequenas gangues de jovens e "tribos" das mais variadas espécies - expressões máximas do nosso tempo e do esgarçamento da vida pública, que proliferam nos espaços onde o processo de degradação normal da nossa época, praticamente uma constante, é aprofundado por algum processo subsidiário de crise produtiva.

    O ponto que eu foquei na minha análise, mais do que essas "bolhas juvenis" - e aqui não vai um julgamento, afinal, muitos desses movimentos, como você analisou bem, possuem comportamentos parecidos, ainda que acabem se diferenciando, e muito, na medida que os fins que cada um procura vem à tona -, são movimentos mais amplos - e perigosos - de construção de identidade política com possibilidade sim de intervenção na grande política - ainda que de maneira mais atenuada por conta do impacto dos instrumentos da 'democracia' e do 'direito'.

    É o caso desse movimento que gerou esse manifesto: Muito embora não vá interferir diretamente na condução da política nacional, é um ponta de lança meio absurda e exótica de um senso comum - isto é, parte da ideologia de dominação já naturalizada -, cujo efeito que produz tem capacidade para realizar uma interferência mediata no plano do governo. Esse é o problema.

    A derrota de movimentos como esse passa pelo crivo de uma organização maior da esquerda local - e uma articulação de políticas locais também -, além de uma efetiva atuação na reversão desse processo de degeneração econômica do estado - o que demanda atuação combinada no plano federal também. Enfim, é um quadro complexo, mas que pode evoluir mal se nada for feito, isso sim.

    abração.

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  8. Hugo,

    Eu concordo, só não acho que manifestos como esse, ou mesmo organizações como essa, venham ter alguma relevância no cenário político paulista, seja hoje ou mesmo num futuro próximo.

    Acho isso porque defendem ideias que, até pelo tempo em foram gestadas, andam um tanto desgastadas. O grande momento dessas ideias de defesa da cultura e do modo de vida paulista contra os "bárbaros" migrantes nordestinos ocorreu lá pelos anos 70 com um recrudescimento nos anos 80. houve um revival no início dos 90, com destaque para 1992 quando vários ataques de grupos de intolerância ocorreram pela cidade de São Paulo, os principais foram a depredação do Centro de Tradições Nordestinas, um atentado a tiros contra a Rádio Atual _ com programação voltada a colônia (estranho chamar de colônia) nordestina e explosão de bombas em trens da CPTM e agreções contra negros e nordestinos, também nos trens.

    Lembro bem dessas episódios e da repercussão deles na cidade. A impressão que se tinha era de que uma onda neonazista havia se formado e ganharia cada vez mais força até engolir a sociedade. Ações parecidas em vários países da Europa e o acirramento dos conflitos étnicos nos EUA _ que provocou até uma intervenções militar em Los Angeles com toque de recolher por vários dias _ , só reforçavam esse temor. No fim, passado alguns meses, não se ouviu mais falar da atuação desses grupos em São Paulo. No final da década, acho que em 98, apareceram vários cartazes racistas e emancipacionistas colados em postes e muros, mas logo desapareceram também. O mesmo vai acontecer agora.

    Os anos 80 e particularmente os 90 foram, sim, de crise, tanto econômica quanto social e política. Os jovens desse período _ e essa é a minha geração _ viviam a frustração de ser a primeira geração pós milagre, convivendo com desemprego em massa e violência crescente. A geração que tem seus 15 ou 20 anos, hoje, vivem num momento bastante diferente. A realidade das condições de vida melhoraram um pouco, mas a principal mudança é a perspectiva de futuro.

    Quem cresceu entre 1980 e 2000 assistiu o país passar por um ciclo descendente, decadente, os que vieram depois disso assistem o país passar por um período de recuperação, e isso inclui a cidade e o estado de São Paulo. Se a região vê diminuída sua participação na economia nacional não é porque está decadente, como muitos imaginam, mas porque outras regiões, antes marginalizadas do desenvolvimento econômico começam a aumentar sua fatia do bolo.

    O processo de desindustrialização da região metropolitana, que a meu ver é inevitável e irreversível, está acontecendo ao mesmo tempo que o crescimento do setor de serviços e tecnologia. A fábrica muda de lugar, mas as decisões sobre o que e como produzir continuaram a ser tomadas aqui.

    Porque estou escrevendo isso: Não vejo relação entre uma suposta (suposta pra mim, que fique claro) decadência econômica paulista e o crescimento de grupos de intolerância ou emancipacionistas. Isso vem de longe e eu não acredito que possa evoluir para alguma coisa muito mais séria. É preciso atenção porque esse tipo de gente representa séria ameaça as pessoas, especialmente negros, homossexuais, judeus e nordestinos. Mas crescer politicamente? Isso eu não acho possível. Não em São Paulo.

    Claro que esse é meu ponto de vista, posso estar errado, mas espero que não. Por esses e outros temas é que eu sinto falta da faculdade. Em termos de informação você está mais privilegiado que eu.

    Um forte abraço!

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  9. Edu,

    Concordo que o ápice da crise econômica já passou, mas os resultados dela deixaram marcas como, por exemplo, a violência urbana, o que puxou parte considerável da chamada "classe-média" - o setor particularmente mais exposto a esse fenômeno - mais à direita.

    Outro ponto é que, sim, a desindustrialização pela qual São Paulo passou era consequência quase inevitável da forma como o estado foi industrializado nos anos 60/70. O que causou a decadência econômica - fenômeno relacionado, mas que não se confunde a ele - foi o somatório das políticas de abertura e eliminação do espaço - e do governo público - no plano federal nos anos 90 somado a políticas congêneres na esfera estadual - com o agravante também, da ausência de políticas de integração regional e de gestão de serviços públicos no plano estadual.

    A recuperação do crescimento da economia nacional nos anos Lula - com políticas redistributivas que bem ou mal funcionam - tem uma eficácia menor em São Paulo por conta da ausência de políticas urbanísticas - o número de favelas aumenta no estado enquanto diminui no país, num momento em que o fluxo migratório é negativo no estado.

    A gestão de políticas de saúde, segurança e educação, por sua vez, prosseguem ruins. Também existe um vazio para saber como lidar com determinados efeitos dessa desindustrialização. As coisas foram se ajustando meio que no estilo "terapia de choque" mesmo.

    Muito embora focos de violência de grupos extremados tenha diminuído, não é essa violência direta que foi ou é o mais perigoso - aliás, os piores casos de violência no mundo contemporâneo passam ao largo de se darem por surtos de violência desse tipo, isso se dá muito mais pela maneira como certos grupos de interesse com visões extremistas se unem e interferem politicamente nos rumos dos governos, favorecendo políticas que de certa forma ameaçam a vida.

    Foi mais ou menos isso que aconteceu na Rússia dos anos 90 e é isso que me preocupa nessa onda paulista - em relação a qual, reitero, o caso em tela é um absurdo e um pouco acima da média, ainda que ilustre uma tendência.

    É mais ou menos esse 'senso comum' que serve de combustível da parte mais extremista do PSDB em São Paulo, a ala mais autoritária do Serrismo que, por exemplo, acha normal todas as polítcas de criminalização de movimentos de reivindicação - greves também - ou a ingerência do grupo do ex-governador na TV Cultura.

    um abraço e valeu por elevar o nível do debate - com a elegância e a honestidade de sempre ;-)

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  10. Devemos repudiar qualquer tipo de discriminação e um manifesto contra os nordestinos é de uma ignorância tamanha que nem vou comentar, porém no tocante a questão do dia 9 tenho e devo comentar, primeiro os grupos separatistas de São Paulo não são racistas. Vocês devem até perguntar como eu sei disso, bem já li alguma coisa a respeito e o G1 comentou sobre o MRSP( Movimento República de São Paulo)O tal grupo pretende que São Paulo se torne um país independente, talvez por entender que nosso estado não recebe a atenção que deveria ou outros motivos, contudo a reportagem não se aprofundou, mas procurou o Ministerio Publico para saber se haveria algum tipo de repressão, contudo como a manifestação é legal o interesse acabou. Abraços.

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  11. Anônimo,

    Existem muitos grupos separatistas, a maioria, bastante pequenos e desorganizados. A minoria não têm mesmo um viés racista - e só uma outra minoria é abertamente racista -, a maioria é racista em certo grau e expõe isso de maneira mais ou menos velada.

    O separatismo paulista, em si, é insignificante. Como os grupos neonazistas também. O ponto é que esses fenômenos são casos absurdos que ilustram uma ideologia maior - ou mesmo lhe são involuntárias pontas de lança - que, mesmo de maneira menos radical, propõe coisas dessa espécie.

    Nenhuma pessoa em sã consciência, com mínimo conhecimento de economia e da conjuntura, acredita que a separação de São Paulo do resto do Brasil seria boa para o estado. O ponto é que essa argumentação e esses balões de ensaio servem para encampar de forma acessória determinados argumentos que se encaixam no discurso oficial de parte da elite paulista que tem projeto nacional, pensa o Brasil a partir de São Paulo e por meio do vidro de uma janela na Avenida Paulista.

    Essa espécie de projeto nacional com centro de gravidade no centro-sul do Brasil foi a coisa mais danosa que já existiu na nossa História. Primeiro, porque para evitar o secessionismo e permitir a exploração das outras regiões, ele necessita da formação e manutenção de uma elite pára-colonial no Norte-Nordeste - e isso explica muito sobre o atraso de partes do país.

    Quanto ao Ministério Público se envolver nisso, eu sou bastante cético. Creio que determinados discursos, por mais falaciosos e ofensivos que sejam, não devam ser censurados pelo Estado, isso não é questão de tolera-los, mas sim de que o combate no plano das ideias deve ser travado na esfera do debate público e não por mecanismos coercitivos - com o agravante que eu sou mais cético ainda na atuação do Ministério Público, mesmo em caso desse discurso sair da esfera política e de forma direta, imediata e cabalmente comprovada instigar a violência, quem deveria atuar é a Polícia. Não gosto do MP funcionando como Ministério da Verdade. Isso é perigoso.

    um abraço

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  12. Prezado Hugo
    Divulgar as raízes históricas do atual quadro econômico e político do Estado de São Paulo torna-se fundamental nesses tempos pré-eleitorais, quando os paulistas terão que parar para refletir profundamente.
    Por essa razão,considero esse seu ótimo artigo muito oportuno e farei por divulgá-lo e debatê-lo com colegas e amigos.
    Hoje li um outro artigo que analisa dados históricos do nosso Estado e que me pareceu sério e bem interessante:
    http://pedroayres.blogspot.com/2010/07/esfinge-ou-medusa-da-politica.html
    Penso que seria oportuno que mais artigos sobre esse tema surgissem, para que pudéssemos travar aqui em São Paulo um sério e profundo debate que permitisse analisar saídas para os impasses eleitorais e ultrapassar o atrelamento aos partidos elitescos,que não apresentam propostas esperançadoras para o enfrentamento dos reais problemas do nosso Estado.
    Parabéns pelo seu blog!
    Leandro

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  13. Leandro,

    Muito obrigado, vou dar uma olhadinha no link quando puder. Aliás, sim, eu creio que hoje, mais do que nunca, o debate sobre a política local de São Paulo é muito importante, mas ele está sendo negligenciado não somente pelo enfoque midiático desproporcional na corrida presidencial como também pelo fato de que o estado é praticamente a sede do sistema partidário nacional. Mas é bom abrir o olho, se tudo dependesse apenas do bom desempenho e de conquistas em escala federal, não estaríamos com tantos problemas por aqui - por exemplo, enquanto a população favelada de São Paulo aumenta, a do Brasil diminui, sem uma política de moradia séria, as próprias conquistas do desempenho de economia e dos programas sociais acabam neutralizadas.

    Um abraço

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