quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Algumas Reflexões sobre a "Blogosfera Progressista"

A Blogosfera, nossa musa
Em Agosto deste ano que está às vésperas de se encerrar, aconteceu o primeiro encontro de blogueiros progressistas. Sim, eu estive lá. Apesar das minhas ressalvas a certos itens da organização e ao próprio nome do evento - como eu ressaltei à época e anotei aqui mesmo -, eu não deixei de ir porque considerei importante um encontro de porte entre blogueiros do país inteiro. Isso fazia parte daquilo que esse blog se propõe, de ser um instrumento crítico à avalanche de informações que nos soterra e, ao mesmo tempo, tentar dar uma utilidade prática a essa pequena máquina no sentido de produzir alguma intervenção social útil, em meio a essas tristes tempos que testemunhamos - embora, claro, soubesse das limitações objetivas óbvias do evento. Agora, com o caso de Luís Nassif e as feministas - narrado nesse bom post da Cynthia Semíramis - algumas contradições vieram à tona e é necessário pontuar algumas outras coisas por aqui.

Antes, cabe uma recapitulação. Este meio no qual escrevo era, no nosso país, um espaço profundamente incipiente há menos de dez anos. A pequena Internet brasileira, quando debatia, o fazia em listas de e-mails, fóruns e alguns poucos blogs, enquanto o grande debate transcorria na grande mídia tradicional. A expansão da Internet por meio do crescimento econômico dos últimos anos proporcionou um ingresso massivo de público na rede. Gente ciosa pela informação em tempo real e por interatividade que, no caso nacional, também gente que não aguentava mais uma mídia que deixava cada vez mais o jornalismo de lado para se pôr no papel de oposição. Nesse momento, alguns jornalistões copiam o modelo de blog americano, não mais como um diário virtual qualquer, mas algo que tem uma função clara no debate público.

Ainda assim, os blogs que aparecem nessa época ainda tinha fortes ares de artigos de periódicos apesar do meio virtual, até mesmo na linha editorial que seguiam em seu conteúdo - um Noblat, por exemplo. Para além de pequenos blogs, passam a surgir blogs de jornalistas famosos, muitos dos quais defenestrados da grande mídia por não seguirem a linha oficial. Paralelamente, acadêmicos e intelectuais começam a escrever um material de bom nível, independente e crítico pela rede. Tudo muito embrionário, antes do grande boom do segundo mandato de Lula. Essa blogosfera da intelectualidade, em muitos momentos, concorda com essa blogosfera jornalística "não-alinhada" - até pelo fato de ambos os espaços ser majoritariamente esquerdista, ainda que não apenas -, embora não se misture com ela, seja em linguagem, perspectivas ou mesmo em propósitos. 

Ambos, no entanto, são simpáticos a Lula - ou pelo menos não o perseguem com tochas - em um momento em que a mídia nacional, na contramão da sociedade e até da comunidade internacional, assume uma posição amplamente negativa. A aproximação entre ambos os espaços se dá com a aproximação do processo eleitoral. É mais ou menos nesse clima que sai o encontro de "blogueiros progressistas", organizada pelo núcleo duro da blogosfera jornalística pró-Dilma, por um Nassif, Azenha, Rodrigo Vianna e um Paulo Henrique Amorim. Gente com boa quantidade de acessos fruto da popularidade obtida na grande mídia que facilitou o (bom) trabalho que fizeram na rede - e aqui não entro no mérito do trabalho, mas na sua eficiência de difundir notícias e atrair público. Em seus defeitos e virtudes, esses jornalistas não se confundem com acadêmicos que construíram suas carreiras na blogosfera e ainda que defendam o voto no PT - e até militem em favor disso como fizeram na campanha -, exercem uma função crítica como é o caso do Idelber Avelar ou do Celso de Barros

O nome, na verdade, foi uma saída política dentro do próprio comitê organizador para manter gente como PHA que, como todos sabem, não é homem de esquerda nem dado a esquerdismos - ao mesmo tempo em que, na costura vertical de sua organização buscava ser mais plural possível, o que, convenhamos, destoa da esquerda, mas não deixa de ilustrar um pouco do que o governo de Lula, em seu amplo arco que vai da direita popular evangélica - e da direita nacional-desenvolvimentista - até as alas esquerdas do PT. Nesse sentido, o encontro foi positivo porque ele foge ao modo como se estabelece a hegemonia midiática - patrimonialista e oligárquica - em um novo meio que está, econômica e politicamente ainda em disputa, e com limitações sérias quanto ao grau de mudanças que esse acordo é capaz de estabelecer (sobretudo aquilo que ele pode ceder).

O termo "progressista", em um país de forte influência positivista como o nosso, é antes de tudo agregador.  Quem é contra o progresso, afinal? Eu duvido que até mesmo a direita atual se diga contra - talvez essa tenha sido uma das poucas brigas ganhas na história do debate político brasileiro, afinal, pelo menos parte da direita monarquista do século 19º era contra (os conservadores), depois isso virou tema superado. A doutrina de progresso e desenvolvimento nacional foram de tal forma inseridas no inconsciente brasileiro que isso contaminou a própria esquerda nascente; se uma leitura vulgar no materialismo já leva ao desenvolvimentismo, como advertiu Marx na Crítica ao Programa de Gotha e Benjamin em suas Teses sobre o Conceito de História, o viés positivista, a marcha incessante pelo caminho reto da História  em direção à evolução, nunca deixou de ser um fantasma presente na história, até mesmo, da nossa esquerda.  Trata-se de uma concepção naturalizada em nossa ideário que marca uma oposição ao Atraso - à inércia do Brasil coronelístico que não consegue pensar a economia para além da escravidão ou similares. A questão do Progresso continua posta porque esse Atraso continua a existir, embora o primeiro seja apenas uma linha de fuga em relação ao segundo, com seus problemas todos como bem sabemos. O enorme desafio da esquerda brasileira é resolver essa questão e, ao mesmo tempo, se livrar da tradição do progressivismo, o que passa antes de mais nada, pela sua reflexão.

O problema aqui não é que o comitê organizador deliberou conscientemente em favor desse equívoco histórico, mas é que ele só referendou algo que está inscrito no desejo,  no inconsciente de nossa sociedade, e, ao mesmo tempo, constitui-se em um equívoco histórico em relação ao qual já pagamos um preço alto. É justamente a inconsciência do gesto o fato que constitui o grande erro da questão em específico, é ainda estar sujeito a esse desejo e alheio a essa reflexão, o que mostra que o projeto em questão não reconhece a natureza e o tamanho do desafio real que se apresenta. No fim das contas, não há um blogosfera progressista, existe um grande arco de blogs cujos editores, no calor causado pela maneira como o debate político foi estabelecido nos últimos anos - sobretudo o último debate eleitoral -, tenderam a um apoio à continuidade do projeto do PT por meio da eleição de Dilma Rousseff, mas isso é um acordo político, o que cria aliados, mas não faz companheiros; talvez isso seja a expressão de uma faceta do projeto lulista sobre a sociedade civil. A própria falta de identidade entre os atores levou a isso, a uma representação de algo tão natural quanto o símbolo do progressivismo. 

Chegando ao caso concreto, temos a peleja de Nassif com as feministas. Antes de mais nada, repito aqui o que disse no Twitter, ele está errado e ponto final. Ainda que tenha recuado no fim das contas, fez mal, deu desculpas ruins e sai manchado dessa conversa toda. A questão aqui não está em criticar o feminismo - ou ter transformado em post o comentário de um leitor que o fazia -, mas de fazê-lo em bases infantis, leigas e ofensivas como o post em questão e ter reagido mal às críticas, seja pelo Twitter ou no blog. Isso não é novidade em certos temas que Nassif tenha posições fixas em matérias que ele não tem conhecimento de causa. Basta relembrar como ele polemiza em questões das cotas raciais ou em relação à revisão da Lei de Anistia - temas que, ao contrário da maioria de seus leitores, ele é contra. Sobre esse seu modo de polemizar, aliás, o caso em tela não é nenhuma novidade, como já tratei aqui mesmo há quase um ano. É uma falta de conhecimento de causa, somado a problemas estruturais do blog - transformar comentários de leitores, em meio a polêmicas, em post sem publicar um contraponto, publicar muito material de fora, às vezes sem link etc etc - e sua profunda incapacidade autocrítica.

A questão despertou uma série de outras tantas, a inquietação quanto ao significado dessa blogosfera progressista e gerou críticas para quem é contra ela - pelos motivos certos ou errados. O que, convenhamos, é um debate bizantino. Não existe essa unidade e mesmo que existisse, Nassif responde pelo que faz e não uma hipotética rede de blogs. O fato ocorrido também não me causa muito espanto, quem chegou na blogosfera ontem deve imaginar que Nassif é algum petista histórico, quando, na verdade, ele é um jornalista da área econômica que nutre posições historicamente centristas e se afastou do PSDB na medida em que esse se afastou do próprio centro político - enquanto o PT preenchia também esse espaço. Isso não justifica as atitudes dele de modo algum, mas ajuda a entender como se desenrola o jogo pela análise de suas matizes. Desse modo, há quem esteja usando-se da oportunidade para atacar o "bloguismo progressista" e há quem em nome desse fantasma esteja blindando o Nassif. Ambos estão errados. Enquanto os primeiros devem tentar entender do que se trata a conversa toda, os segundos tem de entender que a crítica é central nesta atividade aqui. Nassif não é um personagem sem suas matizes e contradições e seu papel histórico na blogosfera não se confunde com os erros que comete - e vice-versa. Neste meio, não divinização que resista, nem demonização que persista. Critica-lo aqui é, antes de mais nada, saudável, mas é preciso determinar o campo. Eu, da minha parte, espero que todo o potencial da Internet sirva para a construção de movimentos mais orgânicos e colaborativos, mas é uma luta difícil.


20 comentários:

  1. Muito boa a análise...a questão é o machismo de pessoas que se dizem pela igualdade de direitos humanos. Nada a ver com a briga interna dos blogueiros progressistas (coisa q me parece um tipo de "PMDB" kkkk)

    acrescento apenas que to rindo muito até agora da frase: "Ambos, no entanto, são simpáticos a Lula - ou pelo menos não o perseguem com tochas - em um momento em que a mídia nacional, na contramão da sociedade e até da comunidade internacional, assume uma posição amplamente negativa. "

    imaginando Merval e cia com tochas nas mãos perseguindo lula até a fogueira final !
    kkkkkkkkkkkkkkkkkkk

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  2. Obrigado, aiaiai. Sim, é uma discussão sobre machismo e também sobre ética na blogagem, seja no procedimento com os nossos blogs ou no relacionamento com os demais. E o grupo que está envolvido com o Encontro não é um PMDB, mas ele é amplo, bem amplo.

    P.S.: Foi algo do gênero que eu imaginei mesmo ;-)

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  3. Eu nunca li o Nassif. Assim, já achei estranho ele ter dado um "copy-paste" num comentário e torná-lo post, de modo tão solto. Achei pior ainda ele ter usado as respostas mais furiosas de feministas radicalóides ("mulher braba") como desculpa para não responder às críticas educadas.

    Agora, Hugo, fico pasmo de ver que o modus operandi dele é esse mesmo, de sair transformando comentário em post sem o mínimo de contextualização.

    A propósito, boas as considerações sobre o termo "progressista". Eu sem pre olhei "meio assim" essa terminologia. Acaba sendo uma variante do "esquerda = pró-Lula = progresso = BELO E VERDADEIRO X direita = anti-Lula = retrocesso = MAL ABSOLUTO".

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  4. HWB,

    Eu já li o Nassif bastante, aliás, o primeiro blog que eu acompanhei na rede foi o dele. Nassif, nos anos 90, cometeu um grande acerto de análise e um grande erro: O primeiro foi antever como o malanismo ia acabar com qualquer chance do Governo FHC dar certo, enquanto a bola fora foi a sua avaliação geral do PT. Depois, ele voltou atrás quanto ao PT, mas prefere encarar isso como fruto das mudanças apenas do PT - não é bem por aí. Embora tenha lá minhas concordâncias, eu discordo dessa visão nacional-desenvolvimentista dele - que é uma forma de progressivismo sim, embora ele próprio não tenha concordado com a escolha desse nome para o Encontro inicialmente, nem possa (nem deva) ser colocado na vala comum de um PHA. Nesse episódio, ele foi terrivelmente arrogante em relação às boas críticas vindas de blogs menores, o que decorre de toda uma atmosfera de visão verticalizada da blogosfera - o que não corresponde à sua realidade -, alimentada por toda uma tietagem sem hora nem lugar, que agora trabalha em favor de sua blindagem.

    E a questão aqui é aquela que foi posta lá nos anos 1870-80, enquanto parte da intelectualidade e dos grandes políticos brasileiros ainda eram fisiocratas, uma parte já ecoava um desenvolvimentismo avant la lettre como, p.ex., um Mauá. Esses últimos apontavam a situação que o Brasil se encontrava não como algo "natural", mas a expressão do Atraso civilizacional que só seria superado com o Progresso - uma política firme de desenvolvimento industrial, a locomotiva incessante do progresso. Isso despertou o interesse de parte da elite brasileira, especialmente uma parte dela que foi estudar na França e viu no Positivismo a resposta acabada para essa questão toda. Isso deu na República.

    Entre idas e vindas, esse progressivismo, entranhado em nossos corações e mentes, produziu um Estado de Emergência permanente que se esconde por detrás dos golpes e da nossa contínua instabilidade institucional - sim, bem diferentes de processos similares na América Hispânica. A primeira crítica a essa visão, em termos de um movimento político organizado - ou mais ou menos - foi a candidatura e o Governo Collor, depois sucedido pelo Governo FHC - que vindo de uma tradição histórica, a traiu aderindo a uma concepção de economia não-histórica e naturalística; FHC pegou os escombros do Estado Varguista (e a própria concepção de progressivismo presente nele) e tentou pôr outra coisa no lugar dela, mas voltou ao passado com uma roupagem modernosa e fracassou...de repente, os desempregados se tornaram "inempregáveis" e tudo virou uma decorrência necessária da globalização. Evidentemente, isso estava dentro de um projeto de classe diante de uma concepção idealizada de globalização e de fim da História, mas não se sustentou sobre as próprias pernas.

    A rediscussão do papel do desenvolvimentismo na candidatura de Lula foi um dos itens fundamentais da sua campanha e do seu Governo. Em relação a isso, eu creio que Lula foi bem: Não existe mais um progresso a qualquer custo e isso não confunde com a estática que naturaliza o nosso estado de coisas. Pelo menos não até a página 2 e ela é fundamental. É essa inconsciência - e o modo como se expressou esse investimento inconsciente - em relação ao debate dessa página 2 que a comissão organizadora, na sua costura vertical, acabou reproduzindo um senso comum da nossa sociedade que, de certa forma, está naturalizado no Governo Lula ainda - e em Dilma por tabela. Como vimos, isso acabou mascarando certas contradições óbvias, seja em relação às bases sobre as quis se pensou no arco de alianças e aos próprios fins aos quais ela se prestava. É uma questão complexa, como se vê.

    abraços

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  5. Prezado Hugo, não concordo. As partes boas do seu post são óbvias, importantes para quem não conhece o contexto. Mas óbvias. A parte analítica é simplesmente incompreensível, pelo menos para mim, machista ignorante.

    Mas sobretudo o texto tem um distanciamento egoísta, quase cínico, esse sim o grande problema da intelectualidade, sobretudo acadêmica.

    É evidente que qualquer tipo de organização traz contradições e que há fatores políticos que levam as pessoas a se agregar. E a contradição faz parte da vida e apenas o que é morto não a tem.

    A mesma coisa vale para a política. Neste caso, você vê as coisas de baixo para cima, em vez de tentar ver, como deveria, de cima para baixo. A união de um grupo de blogueiros para defender o governo Lula do ataque dos grandes grupos de mídia inscreve-se num contexto internacional, de uma luta mundial para se libertar a humanidade de grandes grupos midiáticos. Se é para citar Walter Benjamin, você terá textos maravilhosos sobre isso entre os autores da Escola de Frankfurt.

    Além disso, se é para malhar a maneira como Nassif bloga, também deve-se atentar para esse academicismo pedante que no auge duma análise joga tudo para o link de um autor alemão e muda de assunto. As análises de Marx são sempre instrutivas mas é cientificamente um absurdo transplantar uma análise feita no século XIX, ipsis letteris, para a nossa realidade. O próprio marxismo insiste que nossas análises devem evoluir dialeticamente junto com as circunstâncias históricas. De outra maneira, você recairá nos velhos vícios uspianos, nessa esquerda cheia de certezas, erudita - e inútil.

    Percebo, claro, as contradições crescendo no grupo dos blogueiros progressistas, mas elas pedem antes de tudo compreensão, compromisso, tolerância e participação, e não essa gritaria pomposa, eivada de um prazer sarcástico pela destruição, que vejo se alevantar. A esquerda precisa de união, maturidade, pragmatismo, e bondade, para se opor aos grandes grupos midiáticos que representam a direita no Brasil e no mundo, e não dessa postura blasé, maldosa, de indivíduos ultraseguros que ganharão bolsas de estudo e empregos na universidade.

    Abraço,
    Miguel

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  6. Miguel,

    Agradeço que você tenha vindo até aqui expor suas discordâncias, mas tenho de pontuar algumas coisas mais. Primeiro, creio que insistir nesse debate pela via do "expus minha discordância e estou sendo tratado como um machista" é péssimo. Não é isso que está acontecendo e você sabe bem disso, portanto, nem vou ir muito adiante. A questão é que a importância da função do Nassif para a blogosfera não o exime de cometer erros - nem o blinda de ser questionado por isso - e vice-versa - embora, claro que ele sairá menor de toda essa confusão, não tem jeito. Jogar o peso da conduta dele para cima de quem o questionou e se pôr como vítima quando vai para o embate é tão sectário que chega a ser cômico. Parece aquele cinismo próprio dos ébrios no sentido do "não me empurra não".

    Sobre não ter entendido a parte analítica, lamento, creio que desde o começo desse debate você tem passado por cima da pequena questão chamada interpretação. Quem está dizendo isso não é nenhum tucano anti-lulista, é gente como Patrick e eu, insuspeitos de reinaldices e que te leem há algum tempo, portanto, baixe a bola e caia na real. Também não serão clichês como "deixe de academicismos pedantes" ou "não adianta transplantar Marx para a nossa realidade" que vão colar nesse debate. A questão é que você mesmo disse que não entendeu a minha análise, então volte lá, entenda ela e a rebata com argumentos - e tente entender qual conceito de Marx eu trouxe para a nossa realidade para fazer uma objeção ao progressivismo.

    Também não olho o debate de cima para baixo e é justamente a questão da horizontalidade que está posta nesse debate por mim. Há quem pense diferente e trate fulano ou sicrano como ídolos e espere que ninguém faça críticas - e, pior, reaja contra quem fez isso. Isso é lançar uma olhar vertical sobre as coisas e as pessoas. Não é isso que eu faço aqui. Este é um espaço de crítica, não de sectarismo cego que, em nome de um determinado Estado de Emergência, justifique qualquer coisa em nome da "Causa". Insinuar que eu tenha de agir dessa forma, aliás, é apenas confirmar o que eu escrevi no meu post.

    Eu não escrevo um blog para que as pessoas concordem comigo, mas se quiser discordar, venha com argumentos pelo menos. E só volte aqui se os tiver - ou pelo menos se tiver se prestado a entender o que eu escrevi aí do alto.

    abraços

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  7. Hugo, o Patrick se referiu a um comentário meu lá no Idelber, não a esse. E sobre essa questão de machismo, eu respondo no meu blog. O assunto aqui é outro.

    Quanto a parte analítica daqui, eu poderia entender, se você tivesse a bondade de explicar o que é esse progressivismo e o que ele tem de mal. Digo, o que ele é, agora, e não segundo disse Marx no século XIX. Eu conheço a obra de Walter Benjamin e Marx. E também conheço essa crítica ao progressivismo, que já achava errada em Marx (como muita coisa em Marx) e mais ainda hoje.

    Mais especificamente, tive dificuldade de entender esse trecho: "O problema aqui não é que o comitê organizador deliberou conscientemente em favor desse equívoco histórico, mas é que ele só referendou algo que está inscrito no desejo, no inconsciente de nossa sociedade, e, ao mesmo tempo, constitui-se em um equívoco histórico em relação ao qual já pagamos um preço alto."

    Entendi sintaticamente, mas não entendi o propósito. Você sabe muito bem que a questão do nome "progressistas" foi debatida e votada e ninguém conseguiu dar uma idéia sobre um outro nome. Então foi uma decisão democrática de mais de trezenas pessoas.

    As críticas que você faz ao termo progressista, vale para "esquerda" também. Ela também se agrega em torno de agentes políticos.

    Eu também não gosto de progressista. Quebro a cabeça com isso, mas não consigo encontrar outro nome. O substituto "esquerda", de fato, talvez fosse melhor, mas teríamos as dificuldades que você mesmo apontou, de agregar determinados quadros políticos. Mas se o resultado foi bom, se se conseguiu agregar, então acho positivo. Negativo seria se reuníssemos meia dúzia de pessoas e nenhum quadro político.

    Quanto aos ídolos, a questão não é essa. Quem é ídolo? O Nassif? De quem? Ele é apenas uma peça numa delicada conjuntura midiática que conseguimos construir no Brasil. Pode-se criticá-lo à vontade, ele erra, é humano, mas permita-me também defendê-lo porque sei muito bem as forças terríveis que perseguem o Nassif. A questão não é o valor do Nassif, é um cenário desolador, onde uma categoria inteira de jornalistas, milhares e milhares, se curvam submissos às truculências antidemocráticas da Veja.

    Pior, o debate inchou e acabou descambando para uma crítica aos blogueiros progressistas que não tinham nada a ver com isso.

    Eu não trouxe argumentos? Cada frase que eu escrevi é um argumento. O egoísmo dos intelectuais, mormente do pessoal de academia, é algo muito presente na luta política. Não estava me referindo a você e sim a um modelo de intelectual presente em todos os momentos da história, sempre ligados ao status quo, mesmo quando eram de esquerda, ainda mais porque eles também são dependentes da mídia.

    Há um Estado de Emergência sim no mundo, a meu ver. O Wikileaks mostrou que vários estados árabes e Israel pediam ataques ao Irã. Não quer dizer que devamos tomar decisões apressadas. Mas temos que tomá-las!

    Acho apenas que você fez uma análise superficial e rasa de um movimento que foi o Encontro de Blogueiros Progressistas. Não avaliou o esforço e o sentimento de centenas de pessoas que se deslocaram para São Paulo, muitas vezes sem dinheiro, algumas vezes pessoas que nunca se ligaram a partido ou movimento (como eu), e que ali encontraram semelhantes. Aquilo foi um evento marcante na história da América Latina, e acho lamentável que você não enxergue o seu aspecto revolucionário. Mesmo que o movimento acabe, se extinga, até pela incompreensão e egoísmo dos intelectuais, ele estará inscrito na história.

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  8. Miguel,

    O Patrick se referiu à sua postura nesse debate e é exatamente sobre isso que eu estou me referindo. A mesma coisa, meu velho. E de antemão, já respondo uma questão que você colocou no meio do seu último comentário: Não, você não trouxe argumentos, se pôs novamente como vítima e ironizou parte do que eu escrevi, saindo de antemão colocando uma pecha. Agora, pelo menos, está tentando escrever alguma coisa. Só por isso eu estou te respondendo.

    1.Em um primeiro momento, qual o mal que esse progressivismo tem? A insistência em enxergar a História como uma linha reta, em relação a qual temos de marchar de maneira incessante e inequívoca, custe o que custar - justifique-se o que tiver de justificar.

    2. É claro que o trecho que você copiou não está em Marx ou em Benjamin, nem é isso que está escrito. Isso é uma análise minha de acordo com uma perspectiva deleuziana - que poderia ser de Reich também. É bem simples, isso não está mais na nossa consciência, está no nosso inconsciente e é tido por perfeitamente normal. Não é uma crítica moral, a moral sequer existe nessa instância. É uma constatação do que aconteceu.

    3.Pouca gente gostou de "progressista". Isso foi dado pela comissão e foi mantido numa votação do "mantém ou não", quando exigia uma discussão para chegar numa votação. Isso não aconteceu. E ficou por isso mesmo. Mas isso só é revelador da maneira como foi construído e da própria falta de identidade do grupo, fato do que decorreu essa decisão tão...natural. E agregar por agregar, convenhamos. Ainda mais colocar um nome porque fulano não quis, já é, por si só, sintomático.

    4. Agora, o Nassif. Não, o fato dele ter sido perseguido pela Veja não muda o fato do modo errado como ele agiu, nem o fato do caso de machismo dele não diminui o fato dele ter sido perseguido por ela. É o velho "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa". É isso que está escrito desde o começo. Vir com essa defesa é idolatria sim, goste ou não.

    5.Por fim, existe um Estado de Emergência e uma justificativa de lado a lado da criação dos mesmos, em múltiplas circunstâncias, de lado a lado, hegemonicamente ou não, para justificar o seu modo de agir. Estamos em 2010, quase em 2011, nem é mais uma questão filosófica, é histórica mesma a de perceber como o movimento contra-hegemônicos, não raro, se assemelham com aquilo que combatem e no fim das contas acabam dando no mesmo. O que define isso são os meios e não os fins.

    E isso aqui independe de ser ou não esse intelectual egoísta que você colocou aqui enquanto fantasma, mas não sou eu. É fácil, aliás, criar um fantasma e nem acusar diretamente - e é mais cômodo ainda desqualificar uma crítica aos fundamentos de algo pela deslegitimação do interlocutor por ser "intelectual".

    6. E, por favor, revolucionário, o que? Tenha noção do que é uma Revolução...menos, menos. Sem megalomanias. Eu não estou deslegitimando o trabalho de ninguém, simplesmente expondo uma questão política em termos políticos. Não tenho porque ficar dourando pílula alguma, como já disse, é uma questão de crítica. O Encontro marcou pontos positivos, mas não adianta olhar para ele de uma maneira idealizada. Simples assim. Antes o egoísmo desses "intelectuais" à incapacidade crônica de quem só sabe reproduzir, obedecer e dar ordens. Isso é o que provocou os grandes desastres do nosso tempo.

    abraços

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  9. Hugo,

    Me desculpe invadir assim e desviar um pouco o foco dos comentários. Cheguei aqui através do blog "O biscoito...", onde fiz um comentário e resolvi não esticar a conversa (no post do Paulo Candido).

    Sua descrição das origens (ideológicas) do desenvolvimentismo no Brasil e sua consagração (ou "inconscientização") me chamou a atenção.

    Se for possível, peço para você "linkar" alguma bibliografia que tenha lhe servido de base.

    Abraços!

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  10. Não precisa se desculpar, Zeca, aliás, você faz até um favor em desviar esse foco dos comentários. Isso é um apontamento meu mesmo, em cima da minha leitura de Marx e de Benjamin no que toca à crítica ao progresso - recomendo uma leitura atenta dos dois links do post -, enquanto sobre a questão do inconsciente, trata-se do Anti-Édipo da dupla Deleuze/Guattari - o qual eu recomendo fortemente a leitura. Sobre estado de exceção em termos biopolíticos, tem um post muito bom do Murilo Corrêa, recém-publicado no seu A Navalha de Dalí. Seria interessante procurar alguma coisa sobre o Positivismo - e de História Nacional, existe uma vasta gama de publicações.

    abraços

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  11. Hugo, obrigado pela resposta.

    Sim, reconheci o Anti-Édipo. Aliás, é impressionante a quantidade de bons estudos nacionais influenciados por Deleuze e Guattari (Eduardo Viveiros de Castro, Suely Rolnik,...). É o caso de sua descrição de nossa história.

    E lembrei-me de Lévi-Strauss na sua crítica ao desenvolvimentismo te(le)ológico que nos fascina desde sempre. Acontece que, apesar de minha formação em História, Marx e Benjamin são lacunas a serem preenchidas em minha estante. Inclusive para compreender melhor os italianos ligados à revista Multitudes, que estou começando a ler.

    Agora, vou correndo ler o texto do Murilo Corrêa.

    Abraços!

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  12. Leia e sinta-se sempre bem-vindo nesta Casa, Zeca. A obra da dupla Deleuze/Guattari é uma chave interessante para compreender esse estado de coisas que estamos a testemunhar - e tem muita coisa a ser explorada ali.

    abração

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  13. Euclides F. Santeiro Filho18 de dezembro de 2010 às 23:25

    Praticamente impecável!
    Parabéns.

    Mas quero repetir aqui o que comentei no blog do Alex Castro para incrementar a discussão sobre a famigerada "blogosfera progessista":

    "Olá,

    O negócio tá piorando, amigo.
    Começam a cair as máscaras da "blogosfera progressista".

    Agora o Rovai, do blog do Rovai e da Revista Fórum, resolveu ser orgulhoso também e dizer que achar a opinião de outro equivocada e esperar um reposicionamento ante argumentos contestadores é chatice.

    http://www.revistaforum.com.br/blog/2010/12/13/nem-bloco-homogeneo-de-feministas-nem-quadrilha-de-blogueiros-progressistas/comment-page-1/#comment-21521

    "Já me posicionei em relação à última resposta dele, estou aguardando moderação de meu último comentário.

    De qualquer forma sinto que é importante atentar para esse meu debate com o Rovai, pois ele demonstra como os argumentos devem prevalecer sobre os argumentadores.

    Ele já escreveu coisas muito interessantes, com opiniões bem inteligentes, mas dessa vez pisou na bola feio comigo.

    É bom colocar as coisas no devido lugar e começar a tirar do pedestal certas pessoas e grupos. Não é só porque alguém defende idéias fundamentais para uma convivência em sociedade mais democrática e libertária que essa pessoa está alheia à fiscalização, a cobranças.

    Espero que o debate continue pela blogosfera, porque lá no blog da Revista Forum acho improvável.

    Gostaria de uma opinião sua sobre essa postura vaidosa tanto do Nassif quanto do Rovai.

    Abraços."

    http://www.interney.net/blogs/lll/2010/12/17/feminazi/#c689528

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  14. Obrigado, Euclides, a gente se esforça. Bem, essa conversa é uma confusão muito grande. Primeiro, o Nassif faz tudo aquilo lá. Sofre crítica educadas e consegue reagir de maneira terrível dando uma repercussão negativa maior ainda ao caso. Há quem tenha criticado isso e há quem tenha tentado imputar a toda um lado da blogosfera que, na verdade, é mais heterogêneo do que qualquer coisa. Daí, surgem as defesas corporativistas que, na verdade, reforçam quem quer bater no amplo espectro da blogosfera que é simpático, em algum grau, ao PT. Isso é péssimo porque pode estimular comportamentos ruins por parte de blogueiros e é completamente irracional - sim, é o velho defender o indefensável. Ou se encara essa questão honestamente ou é melhor nem entrar no debate, agora tocar no assunto para dizer que, na verdade, não era para ninguém ter tocado, ou tocado de forma carinhosa ou mais ou menos isso, não. Acredito que o esforço do encontro de blogueiros progressistas, apesar dos pesares, foi válido, mas certos pontos precisam ser repensados e se até uma análise crítica como essa minha causa escândalo, é porque tem algo errado - e isso, sublinhe-se, vem de alguém que esteve lá, que discorda do modo como isso está sendo pautado, mas que apóia a grande maioria das pautas propostas e que inclusive polemizou em favor da legitimidade da entrevista de Lula aos blogueiros independentes. Mas que o pessoal precisa larga mão de estrelismos e idolatrias, isso sim.

    abraço

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  15. Euclides F. Santeiro Filho19 de dezembro de 2010 às 01:10

    Concordo.
    Mas voltando pro maldito "feminazi", acho que o pessoal tá precisando refrescar a memória um pouco, já que perspectiva histórica está em falta em muitas análises. Quanto maior a distância para um realidade, maior a tendência de achar que certas reações são exageradas. Não percebem que o que se está tentando evitar é uma perpetuação de uma desigualdade arraigada, que se estabeleceu através de séculos e passou a ser contestada para valer há apenas algumas décadas.

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    Abraços.

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  16. Euclides,

    Eu creio que o termo "feminazi" é auto-explicativo - assim como as desculpas esfarrapadas por tê-lo usado.

    abraços

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  17. Hugo
    Só agora li este post.
    Acompanhei de longe a polêmica entre o Nassif e as feministas. Final de ano, correção de provas, fechamento de notas, preparação para o próximo ano etc. e tal me tomaram bastante tempo na época da referida polêmica.
    Bom, sendo curto e grosso: odeio quando colocam no mesmo balaio pessoas como PHA, Eduardo Guimarães, Nassif e Azenha e um Emir Sader por exemplo.
    Os quatro primeiros chegaram ao cúmulo de tornar Dunga herói só porque ele brigou com a rede Globo, como se Dunga não fosse autoritário no trato com os jogadores, como se sua comissão técnica não tivesse colocado a questão religiosa no centro de algumas discussões (o que por si só é um absurdo dentro do esporte!!!) e adepto fervoroso da retranca e de jogadores de (sic) técnica questionável . Também defendem sempre que podem a Record como se Edir Macedo e seus bispos fossem cristãos perseguidos pela tirania de Nero!!! (não discutem o charlatanismo da IURD). E o pior, parecem nutrir um amor bandido por Aécinho porque ele é o arquirrival de Serra, o que apenas denota o quanto são paulicêntricos.
    Pra encerrar, semana passada esses "blogueiros progressistas" ficaram quietinhos em relação ao estupro à democracia cometido por Aécinho e seu boneco de ventríloquo (Antonio Anastasia). Os dois impuseram a Minas Gerais a nefanda Lei Delegada e nossos próceres blogueiros progressistas não escreveram uma vírgula.
    Durma-se com um barulho assim!!!

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  18. Hudson,

    Eu creio que é problemático colocar qualquer um no mesmo barco. Entre os quatro, inclusive, existem diferenças consideráveis. PHA é um sujeito de direita que trabalha na Record e defende seus patrões com afinco no debate público, Nassif é um centrista que se coloca ao centro do centro - e que muito se agrada do modo de Aécio fazer política, mas não concorda com sua plataforma econômica -, Azenha é um cara de esquerda, que viveu de fazer entrismo na grande mídia - e cuja única coisa da qual eu discordei feio dele foi sua postura nesse debate todo, onde ele agiu com certo espírito de corpo, por assim dizer - enquanto o Eduardo Guimarães é um militante que enxerga o mundo em tons maniqueístas e já perdeu o prumo em uma série de polêmicas em que se envolveu. Entre os méritos e os deméritos de todos eles, está o grande problema de pensar em fazer um movimento na blogosfera que em nome de uma cibermilitância jornalística - seu dogmas, seus procedimentos -, se silencie a crítica e o debate por essas bandas. Isso está errado. Isso é perigoso. Creio que grande parte das cutucadas que eles receberam na ocasião, entre posts com sugestões e críticas mais ácidas, foram, acima de tudo, um convite à reflexão, mas eles preferiram agir na ofensiva, o que é um mau sinal. Eu direi o que disse o Idelber eu sou blogueiro é de esquerda - e estarei com aqueles que certamente não estarão votando em Aécio

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